Em 1968, o rei Roberto Carlos, tinha o mesmo físico de homem médio, que tem agora. Mas, já era espadaúdo nos umbrais da CBS, a gravadora que o lançou pro estrelato, que certamente o acompanhará por séculos seculorium.
Pontuava este mapa de amorosidades e admiração, alguns países como México, muitos da América central, a América do Sul por inteiro e na Europa, lhes rendia dividendos de beijinhos e revirada de olhos, a gloriosa Itália, pois no festival de San Remo daquele ano, nosso Ragazzo D’oro e o grande Sérgio Endrigo, haviam abiscoitado o primeiro lugar com a canção “Canzone per te”. A vencedora, devo confessar, até hoje não me faz morrer de amores. Questão de gosto mesmo.
Aninhado neste panteão de poucos moradores, o jovem milionário, famoso, deferenciado, bonitinho, poderia apontar qualquer donzela deste mundo para trocar alianças doiradas ou diamantadas, mas, foi uma jovem senhora desquitada, tendo a tiracolo uma filhinha de 3 anos, que o deixou em enlevo de amores. Romântico, adepto do só vou se você for, Roberto Carlos exemplifica aos 27 anos, que o amor verdadeiro desconhece dogmas, tabus e conceitos pré-estabelecidos. Foi à Santa Cruz de Lá Sierra na Bolívia e se casou com a linda jovem senhora Cleonice Rossi. Um dia de felicidade plena já Valeria a pena. 10 anos de amores vividos, foi o tempo em que ficaram juntos.
Edward Vlll, transitava pelo palácio de Buckingham ora de chinelos, para estar mais a vontade, ora com uma renca ou um séquito nos seus calcanhares, para lhes servir ou pedir a benção. Podia ser favores também. Ele era curiosamente Imperador da Índia e também legitimado rei da Inglaterra. O ano é 1936. Edward, tio da rainha Elizabeth ll, tutela os destinos do reino britânico, com a lisura que caracterizava a linhagem da família real, mas sem a mão de ferro necessária em cargos dessa magnitude. Era boêmio, romântico e de olhos brilhantes quando lhes chegava aos ouvidos, uma linda história de amor.
E uma linda história de amor lhes chegou. Não para os ouvidos e sim palpitando acelerado no seu peito de aventureiro sonhador.
Wallis Simpson, uma jovem frequentadora da alta sociedade americana, com dois divórcios nos costados, com mãos limpas de pistolas e sem qualquer outro tipo de beretas, levou às cordas o poderoso império britânico. Metaforicamente, evidentemente é claro, entrou pelas narinas do rei Edward, passou pelo cantinho do cérebro onde ficam as alcovas amornadas e se aninhou no coração do amoroso monarca. De lá não saiu, até o dia 11 de dezembro do mesmo ano, quando o apaixonado mandante sucumbiu aos seus encantos e resolveu abdicar do trono da Inglaterra, para levá-la ao altar. Casar com uma jovem divorciada, era contra os regulamentos do império da terra do “fog”. Acuado, feliz e enamorado, preteriu o prestígio e as honras nobelescas, para ter em dias e noites, os carinhos da jovem senhora americana. Só quem ama de verdade, consegue entender este gesto de maviosa alucinação.
Obras literárias, tendo como pano de fundo o aconchego de almas de homens e mulheres de olhinhos brilhantes, rendem dividendos de paixão em corações amorosos, cérebros curiosos e evidentemente no tilintar necessário das máquinas registradores. O dinheiro, infelizmente, ou seja, lá o que quisermos pensar, é a alavanca que nos cutuca pra levantarmos cedo a cada manhã. Sem grana, sem a faina que arranha. Foi e será sempre assim. Mentes fantasiosas, contam em letrinhas amorosas, desditas romanescas coroadas de renúncias, tristezas e ilusões perdidas, até o virar da página final, quando o amor que antes lhes matava de saudade, vem trazer de volta a esperança e o sabor da vida.
Romeu e Julieta, arquétipo dos amores impossíveis, tem a assinatura santificada de William Shakespeare apesar dos rumores de adaptação de obras anteriores. O certo é que o dramaturgo inglês é considerado o pai da criação letradura e pelo conjunto da obra, as honras são merecidíssimas. Romeu E Julieta, já foi encenado, filmado, declamado e decantado trocentas vezes mundo afora. Sempre há uma versão diferente pra se dizer “Eu te amo”, trocar um beijo cheio de ternura e ganhar aplausos demorados. O amor é isso, perde o juízo quem ousar contesta-lo. Em Verona, quando os amantes trocavam beijos escondidos nas varandas enfeitadas de rosas e trepadeiras, tinha só um montinho de gente na espreita, hoje, porém, um quarto de milhão de almas, diariamente degustam pizzas e dançam a tarantela. A Itália, talvez no rastro da paixão de Romeu e Julieta, continua sendo o cenário preferido dos enamorados, a terra dos grandes amores.
Outra fantasia encantada, agora tupiniquim,
Peri e Ceci, do romance O Guarani de José de Alencar, traz a fidalguia de uma jovem moçoila rica, belíssima, em amores pelo índio Peri. Os conflitos são esperados, pois as diferenças sociais, raciais e econômicas, impõe tapas e empurrões, numa sociedade do Brasil ainda colônia de Portugal.
Ainda hoje, está história de amor sofreria as agruras do preconceito.
José de Alencar é um dos maiores escritores brasileiros. Meus respeitos a este ilustre cearense.
Joseph Bédier, o romancista francês, que brindou a humanidade com a saga celta Tristão e Isolda, também conta uma história de amor impossível entre uma princesa um cavalheiro. Habitantes do Reino Unido, em extremos geográficos, ela na Irlanda e ele na antiga Cornualha, vão enfrentar também as mazelas das diferenças de quem tem mais ou menos dinheiro nas algibeiras.
Não é possível traçar paralelos ou paradigmas, quando o amor em segredos ou de portas abertas, nos segura pelas mãos. É como se tivesse um passaporte do supremo, para criar, para fazer ou esperar acontecer. O jugo é suave, mas não há negociação. O absolutismo do amor é definitivo.
Por tudo isto, amem-se. Não deixem que suas noites sejam repletas de sonhos que nunca os farão felizes. As aparências são apenas números soltos numa equação de dízima periódica permanente. O que é verdadeiro, fecha a conta com a, simplicidade que nos encanta.
Mãos amorosas são profícuas, pois a natureza do amor é de gerar riquezas.
Corações amorosos, também pela sua natureza, não se importam com riquezas. Querem apenas ser felizes, enquanto lhes pulsar a vida. Não hesite em dar o último salto, quando o final do teu arco-íris, estiver do outro lado da ponte.
Assim falou Zaratustra.
Carlos Karoá, amante de música e cinema, também tem paixão pelo universo das letras. Em 1970, deixou Morro do Chapéu com destino a Salvador, como fazia todo jovem interiorano daquela época. Hoje aposentado, retorna à nossa cidade em busca de uma vida mais tranquila. Gosta de escrever crônicas e pequenos contos, sejam eles verdadeiros ou não.
3 comentários em “Carlos Karoá escreve: ‘O AMOR’”
Mais um texto genial do Carlos Karoá.
Seus textos são sempre prazeroso e informativos.
Meus respeitos continuam, Carlos Karoá!
Carlos você é realmente genial e consegue mexer com os corações
É sempre um privilégio ler seus textos! São maravilhosos e nos alegram a alma e o coração! Além de conter inúmeras informações! Parabéns!!!!