No final dos anos 50, evidentemente do século passado, eu beirando 09 ou 10 anos, era o controlador oficial dos chiados e zunidos do rádio lá de casa.
A gente chamava de “descargas” e para poder resolver o problema, tinha que reservar pros dedos, um pouco de habilidade na hora de girar o ” dial”, aquele botãozinho que do lado dele, vinha escrito a palavra “sintonia”.
O rádio chegou ao Brasil, mais especificamente em 1922, numa comemoração do centenário da independência e pra uma data tão festiva, o governo não mediu esforços para que houvesse esta primeira transmissão radiofônica no país.
Um ano depois, Edgar Roquete Pinto e Henrique Moriza, fundaram a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a primeira estação de ondas médias do Brasil.
Era uma novidade das mais inebriantes.
Uma caixinha de madeira, iluminada por válvulas incandescentes lá nas partes dos fundos, tendo na frente luzinhas coloridas de design futurista no seu visor e que ainda falava e cantarolava as músicas da época. Era demais pra resistir.
A sua massificação foi galopante, como também galopante, e apaixonante os preparativos para a sua programação do o dia a dia. Milhares de emissoras pontearam a nação de norte a sul, com relevância justificada para as duas maiores capitais, Rio e São Paulo, que pelo poder econômico que desfrutavam, podiam atingir quase todo o território nacional, com seus potentes transmissores de longo alcance. Nestes termos, diversificaram a grade de programação, com a preocupação de não deixar de fora o humorismo, aqueles momentos piegas, que ajudavam e ajudam a gente a mostrar os dentes.
Naquele tempo, conhecido nos dias de hoje, como o tempo do atraso, o rádio era um luxo permitido a poucos e por associação, a belezura elétrica da casa. Repousava em exposição encima da cristaleira ou numa peça de madeira chamada móvel, encostado na parede, num cantinho da sala, toda brilhosa untada com óleo de peroba. No rádio, se usava um paninho cobrindo boa parte dele, pra não sujar de poeira.
A TV, aquela maravilha futurista, ainda não tinha sido apresentada pra maioria do povo brasileiro. A gente sabia que existia, mas não sabia como era, só imaginava. O rádio, na sua faina diária, dizia o que era bom pra gente usar, pra gente comer, pra gente beber e ficar forte, informava o tempo, o clima, o horóscopo, o número de votos dos postulantes a cargos públicos, transmitia jogos de futebol, decisões do congresso nacional e eu acho que ainda hoje o faz, no quase obrigatório programa “A voz do Brasil” e pra mostrar que era mesmo o agente da felicidade, tocava música o dia inteiro. À noite, pelo menos uma vez na semana, havia alguns minutos dedicados ao riso esperado dos ouvintes. Uma horinha reservada pra gente mostrar os dentes, pra sorrir de amenidades.
A demanda, seja ela de qualquer natureza, cria provedores. É a chamada lei da oferta e da procura.
A demanda copiosa de ouvintes de rádio no país, aventou possibilidades de programas humorísticos. Havia bons redatores, bons roteiristas e radio-atores excelentes, que pontificaram o sucesso da iniciativa das emissoras paulistas e cariocas.
No Rio, a Rádio Nacional e depois a Mayrink Veiga, com os programas PRK-30 e o ” Edifício Balança, Mas Não Cai. Em São Paulo, as duplas, Alvarenga e Ranchinho, Jararaca e Ratinho, Mandi e Sorocaba, misturavam canto e piadas nas suas apresentações. A evolução natural de tudo, iria trazer inevitavelmente, um agente auditivo e também visual de comunicação massificada socialmente, chamada Televisão, porque não bastava só ouvir, visualizar tinha o sabor visceral de missão cumprida. E a TV chegou, ainda em preto e branco mas chegou, como redenção da arte de informar, ensinar e divertir.
Um paraibano, da cidade de Umbuzeiros, aventureiro, sonhador, amante das ilusões da alma humana, jornalista, mecenas, porque o prazer da oferta sempre vai valer a pena, decidiu que já estava na hora da Televisão aportar no Brasil. Seu nome: Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, pros íntimos, apenas Château. Inquieto, foi pros States, pra conhecer de perto os melindres que estavam a sua espera, nessa nova empreita. inquiriu, pesquisou tirou uma linha, como se dizia antigamente quando o assunto era sério e finalmente o seu pragmatismo tornou o sonho palpável. Em 18 de setembro de 1950, se fazia a primeira transmissão televisiva tupiniquim. O nome da emissora: Tv Tupy.
Há alguns anos passados e isto não está tão longe assim, haviam emissários do riso, nos segmentos que trabalhavam e ainda trabalham, pra visão e audição pública.
Televisão, Rádio, Teatro e Circo.
O Rádio, como já foi citado, dedicava algumas horas da sua lida, pra oferta gratuita de alegria, de hilaridade fugaz pros seus milhões de ouvintes.
Na Televisão, as emissoras de maior audiência, também cuidavam carinhosamente desta sessão.
A Record, com a pioneira “Praça da Alegria” do velho Manoel de Nóbrega.
A TV Manchete, quando ainda ligava os seus transmissores, tinha no humorista Agildo Ribeiro, uns momentos de gargalhada em oferta gratuita.
A TV Tupy com a “Família Trapo” do Grande Ronald Golias e a TV Globo, com um “Cast” primoroso de “palhaços piegas” liderava nos horários do “Show”.
“Faça Amor não faça a Guerra” capitaneados por Jô Soares e Renato Côrte Real. Tempos depois, Jô Soares estava só, derramando talento no programa “Viva o Gordo”, sem a companhia do colega, porque Renato havia falecido.
Apareceu uma trupe modernista nos idos dos anos 90, chamada “Casseta e Planeta” com um humorismo picante e debochado que durou bom tempo. Também “Os trapalhões” tiveram os seus minutos de fama, quando por lá mostraram o seu humor simplório. Pobres de talento e criatividade mas tinham audiência.
Por muitos anos, o maior ator versátil do planeta, digo isto sem nenhuma dúvida, conhecido por todos nós, o Grandioso Francisco Anísio de Oliveira Paula Filho, cearense de Maranguape, transbordou talento, criatividade e mais adjetivos superlativos que se queiram ou possam utilizar, pra descrever a arte incomparável daquele homem. É impossível compara-lo com qualquer um outro neste universo burlesco, que parece fácil, mas não é. Fazer rir é uma arte que requer um predicado “In natura”, dote natural, sem a necessidade de estudo pra torna-lo lapidado e o condão não pode ser apenas na varinha, tem que ser no corpo inteiro. Não tenho palavras precisas, pra descrever a arte do
Velho Chico Anísio. No seu tempo de Tv Globo, a audiência era de quase cem por cento, só não via, quem estava com a Televisão fora do ar. Quebrada, pifada, ou sem tá ligada na tomada.
A pergunta neste texto, é sobre a supressão dos programas de humor nas emissoras brasileiras e o motivo dela, é simplesmente curiosidade. Porque os programas humorísticos se esfumaram das grades televisivas? As emissoras de Rádio, por razões atreladas a razoabilidade, abandonaram o segmento e é perfeitamente compreensível. Os circos, na maioria mambembes por escassez de público, continuam na luta, mas aos pouquinhos estão perdendo o fôlego. O teatro, com um pezinho na tropa de elite, não vai até o finalzinho da rua. E a nossa mãe, a boa e velha televisão, com uma malha poderosa presente em quase todos os lares, nacionais, capacidade real de grandes produções, porque deixou de oferecer riso gratuito, aos seus habitantes de sofás? Com a certeza de índices invejáveis nas pranchetas, qual é a peça que falta, pra acender o refletor?
Hoje, só o SBT continua na estrada. Num carrinho de pneus carecas, aboletou alguns viajantes que de engraçados não têm absolutamente nada. O claudicante sobrevivente “A Praça é Nossa”, continua ladeira abaixo com um motorista já debilitado, na iminência de qualquer dia desse, largar de vez o volante. Mas, alegrem-se, de hilariante mesmo, ainda nos resta o universo político, pra nos causar frouxos de risos. Degradante, vergonhoso, com a imoralidade legalizada por eles mesmo, é como um circo de horrores. Parece um mini arco-íris, a mandala de decisões que a cada sessão de Câmara ou Senado, nos empurram goela abaixo:
Nos deixam brancos de espanto.
Com um baita sorriso amarelo.
As vezes verdes de fome e na maioria das vezes, vermelhos de raiva. Mas aí convenhamos, a culpa é nossa, adoramos votar em quem não presta.
Carlos Karoá, amante de música e cinema, também tem paixão pelo universo das letras. Em 1970, deixou Morro do Chapéu com destino a Salvador, como fazia todo jovem interiorano daquela época. Hoje aposentado, retorna à nossa cidade em busca de uma vida mais tranquila. Gosta de escrever crônicas e pequenos contos, sejam eles verdadeiros ou não.
1 comentário em “Carlos Karoá escreve: ‘HUMOR RISO’”
Gostei da crônica de um modo geral.
Só discordo da forma com a qual se refere aos “Os Trapalhões” e “A Praça é Nossa” como programas humorísticos pobres de humor, como se fossem considerados de segunda categoria, o que não condiz com a realidade.
O rádio hoje continua sendo um transmissor de alegria, com os lançamentos das novas músicas, mas com programas que também enaltecem a boa música que marcou época.
Apesar do advento da televisão, nos carros, na zona rural e até mesmo nas grandes cidades, o rádio continua a ser um instrumento de diversão e informação muito utilizado por todas as classes sociais.
Enfim, concordo que a política e os políticos brasileiros são uma fonte de inspiração para qualquer programa de humor, quando se trata de decisões que são um prato cheio para incrementar qualquer programação humorística que se preze.