Encontro mundial vai promover o debate sobre novas tecnologias para o setor
A Bahia é o estado que mais produz fibras de sisal no Brasil, segundo dados da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa), com uma produção média de 140 mil toneladas por ano. Este montante atrai investidores de outros estados e países para o território baiano, que estarão reunidos no Encontro Mundial de Fibras Naturais para discutir novas aplicações e tecnologias para o setor de fibras naturais, com ênfase nas mudanças climáticas e no setor industrial. O evento ocorrerá nos dias 26 a 30 de maio, na sede da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Faeb), em Salvador.
O evento, organizado pela Câmara Setorial de Fibras Naturais do Ministério da Agricultura e Pecuária (CSFN/MAPA) em parceria com demais entidades privadas ligadas ao setor, ainda é impulsionado por estimativas positivas da Discover Natural Fibres Iniative (DFNI), que prevê um aumento de 900 mil toneladas na produção mundial de fibras naturais de em 2024, passando de 31,5 milhões de toneladas em 2023 para 32,4 milhões.
Além de representantes destas entidades, participarão das reuniões os membros da International Fibres Organization (INFO) e delegados dos países membros dos Grupos Intergovernamentais de Fibras Naturais da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Especialistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também estarão presentes.
“Nós estamos fazendo uma coisa inusitada. Estamos reunindo países que são naturalmente concorrentes, que produzem a mesma fibra, e colocando esse pessoal junto para trocar ideias, compartilhar experiências, técnicas e patentes. (Estamos) envolvendo o setor empresarial, o acadêmico, o (setor) de governo”, ressalta Wilson Andrade, presidente da INFO, da CSFN e do Sindicato das Indústrias de Fibras Vegetais do Estado da Bahia (Sindifibras/Fieb).
Inovações sustentáveis
Wilson Andrade relata que algumas empresas já estão implementando medidas sustentáveis que aproveitam completamente as plantas utilizadas na produção de fibras naturais. A petrolífera Shell, por exemplo, está conduzindo uma pesquisa para produzir etanol através do sisal, em parceria com o Senai Cimatec, a Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Esta iniciativa tende a beneficiar os produtores brasileiros em larga escala, já que o Brasil é o país que mais exporta sisal no mundo, segundo dados da DNFI. Outro relatório da organização ainda aponta que as exportações brasileiras de sisal aumentaram em cerca de 10 mil toneladas de 2022 para 2023, passando de 35 mil toneladas para aproximadamente 45 mil.
“(As exportações) geram US$ 100 milhões por ano, com um preço médio de US$ 1500 por tonelada. Essa atividade econômica gera renda e benefício para cerca de 300 mil pessoas. Isso não é só emprego (direto), é (também) emprego indireto e renda”, conta Andrade. Ele ainda relata que essa cadeia produtiva beneficia principalmente as pessoas que vivem no semiárido baiano, onde a planta do sisal se adapta bem.
João Paulo Saraiva, pesquisador da Embrapa, também conta que as fibras naturais podem ser utilizadas na fabricação de aviões, carros e outros meios de transporte. “Neles, você coloca fibras naturais para conferir maior leveza ao material, diminuir a densidade. São peças mais fáceis de se fabricar. Fibra de vidro desgasta muito as máquinas, já a de carbono é muito cara. Então, dependendo da aplicação, você pode usar fibras naturais, aí você consegue reduzir o custo do material e ainda ganhar valores diferenciados”, explica.
O presidente do Sindifbras ainda conta que a vinda da Greencoco, empresa europeia, também pode beneficiar a produção baiana de coco. “Eles vão utilizar pela primeira vez no mundo a casca do coco verde no processo industrial, que a gente vê aí rolando nas barracas e hotéis sem nenhuma utilização”
Além da apresentação e contextualização destas iniciativas, Wilson Andrade destaca que um dos principais objetivos do evento é discutir como os produtores de fibras naturais podem ingressar nas políticas de incentivo climático, responsáveis por compensar financeiramente as produções que absorvem mais carbono do que liberam na atmosfera. Esta compensação também se daria através de juros nulos ou reduzidos para os produtores, assim como oportunidades privilegiadas de financiamento.
Porém, segundo João Paulo Saraiva, pesquisador da Embrapa, estas políticas ambientais de compensação financeira ainda estão em fase embrionária em todo o setor agropecuário, justamente pela falta de consenso entre diferentes organizações sobre os padrões de mensuração para determinar quantias de carbono absorvido e emitido, assim como quais seriam os critérios para precificar a diferença entre estes dois fatores.
“Por exemplo, um produtor que faz há 10 anos uma prática que beneficia o solo, consegue capturar carbono, mas passou todo esse tempo sem ter (essa prática) precificada. Ele tem que receber pelo que já fez ou (a gente) começa a contar a partir de agora? E quanto ele vai receber por tonelada de carbono por hectare? Qual é a metodologia que vai ser utilizada? Metodologias diferentes medem coisas diferentes e resultam em números diferentes”, pontua o pesquisador.
*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló
Fonte: atarde.com.br