O escritor Joswilton Lima registrou os seus livros na Biblioteca Nacional do Brasil e está de posse dos Certificados. Para aquisição do livro físico ou digital é só clicar na capa:
Mais um livro do escritor Joswilton Lima, autor dos Episódios do Junhão. Com o título de “O Cigano Violeiro” é um conto fantasioso destinado ao público adulto e juvenil que narra as superstições existentes nas comunidades rurais do interior.
O livro relata a vida simples e feliz dos personagens, mas que é totalmente alterada devido a visita inesperada na região de um indivíduo pernicioso.
A ficção da estória irá deixar os leitores surpreendidos por causa do final fantástico.
As ilustrações também são autor. A capa é uma pintura digital com o mouse, experiência nova que mesmo com toda a dificuldade da adaptação, deu um bom resultado.
As ilustrações internas são fotos de pinturas a óleo, também do autor.
A seguir, Episódios do Junhão I e II. Para adquirir basta clicar na imagem:
Joswilton Lima também é autor de ‘Enígmas da Escuridão’ e você também tem acesso ao livro para aquisição, pelo link que está na imagem, basta clicar:
Agora que você chegou até aqui, continuamos a usufruir da criatividade de amigos (as) que, por meio da sua atividade literária, presenteiam nosso leitores com textos de encher os olhos e fazer a alma viajar:
VOLTA, MAMÃE!!!
JUNHÃO
Trinta e três anos de idade. Ao contrário de épocas recentes, quando o bon vivant estaria na rua fazendo farra, ele chega ao apartamento quase às vinte e duas horas muito tristonho e com os olhos inchados de tanto chorar. Está vestido de modo solene, usando o terno preto do pai com o qual Alcebíades ia às reuniões da irmandade fraternal que frequentava. Um engarrafamento terrível no trânsito na hora do rush retardou a sua volta para casa. Durante o tempo em que estava como passageiro do ônibus ficou remoendo o sofrimento da sua enorme dor.
Ao entrar, tranca a porta e retira os óculos escuros do rosto com o qual escondia o seu tormento. Após colocá-lo sobre a mesa, afrouxa o nó da gravata e aproveita para apagar as velas que ainda estão acesas sobre os móveis. Está em estado de choque e anda pausado como se fosse um autômato.
Chegou em casa exausto, porque perdeu a noite anterior no velório e, durante o dia, teve que percorrer por várias repartições públicas repletas de burocracia, para providenciar a documentação necessária para os enterros. Além de estar muito triste e choroso, sente-se sozinho e desamparado, porque não sabe qual será o rumo que a sua vida irá tomar doravante.
Na sua vida desvairada, jamais imaginou que iria acontecer algo tão grave de forma inesperada que irá causar um enorme transtorno em sua vida. O pai, Alcebíades, havia falecido num acidente quando viajava a trabalho. O ônibus no qual viajava despencou num precipício e ele não sobreviveu devido aos ferimentos. A mãe, Ceiça, ao saber da trágica notícia sobre a morte do marido entrou em desespero e teve um infarto fulminante.
Os pais foram enterrados no cemitério às dezessete horas e os corpos foram colocados em covas contíguas para mantê-los unidos na morte. Sem saber como agir e tendo que tomar providências urgentes devido à fatalidade, ele se viu forçado a assumir funções para às quais não estava preparado. Mesmo assim, apesar das dificuldades, conseguiu resolver tudo a contento. Depois de todo o transtorno pelo qual passou, está muito cansado, toma um banho e vai dormir. A mãe não mais está ali para providenciar o seu lauto jantar, por isso ele vai se deitar com fome.
Após se acomodar na cama, passa algum tempo com pensamentos preocupantes povoando a sua mente. Ele está muito decepcionado, porque nenhum dos colegas do pai ou amigas da mãe compareceram aos enterros. Pergunta-se demonstrando mágoa: cadê as amizades deles? Por que não tiveram a consideração de virem dar o último adeus? Está desgostoso com o desprezo dado aos finados pelos conhecidos, porque ele foi a única pessoa presente durante toda a cerimônia fúnebre.
Na realidade, ele foi o único culpado, porque, devido à sua inexperiência, ao providenciar os enterros se esqueceu de comunicar aos parentes e pessoas amigas sobre o falecimento dos pais.
Apesar dos lamentos e preocupações, adormece profundamente por causa do cansaço. Mas tem um sono intranquilo, agitado e cheio de perturbações, revirando-se na cama durante a noite inteira. Quando amanhece, ele acorda assustado de modo abrupto, porque alguém está apertando com insistência a campainha da porta do apartamento com tanta força parecendo querer estourá-la. O som estridente o força a se levantar zangado da cama.
Estando incomodado com a zoada promovida, verifica o relógio na cabeceira da cama e vê que ainda são oito horas da manhã. Veste uma camisa e vai irritado para ver quem está com tanta urgência querendo vê-lo tão cedo. Quando abre a porta toma um susto enorme, porque tem uma fila de credores querendo lhe cobrar um monte de contas devidas pelos funerais.
Fica sem entender como os débitos chegaram tão rápidos, pois havia pouco tempo que os pais haviam sido enterrados. Acha uma petulância muito grande essas pessoas lhe acordarem sem respeitarem o seu luto, apenas para fazerem cobranças. Pretendia dizer um monte de desaforos, mas fica acuado diante dos cobradores.
HIDELBRANDO
O primeiro a se apresentar a Junhão é um homem de idade avançada usando um terno preto. É um senhor branco, alto, muito magro, corcunda, nariz adunco, sobrancelhas fartas e desgrenhadas. Os olhos são fundos, bem negros, com olheiras escuras e acentuadas. Parece ser uma pessoa de outro mundo, porque tem o olhar fixo no vazio. E para completar o visual do sujeito, o mesmo tem cabelos lisos, grisalhos e escorridos sobre a fronte. Os dentes amarronzados são amontoados e encardidos pelo sarro, devido ao uso excessivo de cigarros. Enfim, um elemento que tem um aspecto sinistro.
O homem lhe dá bom dia e estende uma mão esquelética, de veias azuis e salientes no dorso. Cumprimenta-o com a mão mole sem apertar a dele, aparentando não ter emoção ou afetividade, mas apenas por formalidade. – Numa clara e evidente demonstração de ser uma pessoa falsa.
Depois faz a cobrança sem meias palavras:
– Ontem foi ontem, mas hoje a vida continua e eu vim para cobrar o dinheiro que está devendo das urnas funerárias que o senhor comprou para os seus entes queridos. O preço dos dois caixões equivale ao valor de dois automóveis populares novos, porque escolheu os mais pomposos. Aqui estão as notas das despesas e eu quero receber o pagamento de imediato.
Nesse momento o homem magrelo retira do bolso do paletó um lenço branco, amarrotado, que está amarelado e encardido devido ao tempo de uso; ou, talvez, de sujeira acumulada. A seguir limpa nervosamente os cantos da boca, porque estão com uma espuma branca e visguenta. De modo incisivo, diz:
– Não tente se esquivar em pagar o débito, porque eu tenho todos os recibos assinados pelo senhor assumindo a conta… É melhor você cumprir com os seus compromissos porque, senão, vamos ter que acionar o nosso departamento jurídico. Aí você vai sentir a mão pesada da lei!
Ao ouvir isso, Junhão quase desfalece de temor, porque não tem nenhum dinheiro para quitar débitos. Ele foi criado por Ceiça como se fosse filho de família rica, sem saber a origem dos recursos financeiros. Bastava ele precisar de dinheiro que ela o abastecia. Quando estava na funerária providenciando as urnas funerárias, totalmente sem noção, ele foi induzido a escolher e comprar os caixões mais refinados e de maior valor. Estando despreparado para a vida, fica confuso e sem ação por causa da enorme dívida que assumiu.
NIVALDO
Junhão está absorto sem saber como agir, quando um mulato musculoso, aparentando ter uns cinquenta e poucos anos de idade, mas de intenção semelhante ao primeiro cobrador se aproxima dele. Não o cumprimenta, apenas diz-lhe de modo rude:
– Estou aqui representando a administração do cemitério Jardim do Além, onde o senhor sepultou os seus pais para descansarem na vida eterna.
Depois aumenta o tom da voz e diz:
– Vim para receber imediatamente o valor pecuniário referente a dois lotes, dos mais caros, que o senhor comprou para o enterro deles. O valor das áreas equivale ao preço de um grande apartamento luxuoso em um bairro nobre.
A seguir completa de forma ameaçadora:
– Por isso temos urgência em receber a dívida assumida pelo senhor e não vou sair daqui sem o pagamento. Quero lhe avisar que não tente querer dar calote, porque sou faixa preta de karatê. Garanto que deixo todo moído no pau o sujeito que não pagar a dívida.
Junhão continua boquiaberto, paralisado e sem saber como proceder. Não foi ensinado durante toda a sua vida mansa e tranquila a lidar com despesas, dívidas e cobranças. Para ele, essa era a obrigação exclusiva do pai, o mantenedor. E, quando ele precisava de dinheiro a sua mãe sempre o amparava, mesmo que depois ficasse reclamando sobre os seus gastos excessivos. Mas agora, com o falecimento deles e diante desses problemas, está mofino e desorientado. Demonstrando medo, apenas balbucia:
– Eu não entendo o porquê de uma simples cova no cemitério custar um preço tão alto… Na hora eu estava angustiado e vocês me forçaram assinar vários papéis. Não imaginava que um sepultamento atraísse tantos oportunistas.
E conclui com a voz embargada:
– Eu acho que a obrigação de dar a última morada a um cidadão deveria ser do governo, já que o povo vive só para pagar impostos…
LAURITA
Nesse momento em que Junhão está zonzo com as cobranças, uma mulher gorda se aproxima dele sorrindo. Antes mesmo dela chegar perto, o cheiro do perfume barato já denunciava a sua presença. A idade dela é imprecisa, porque tem os cabelos tingidos de amarelo e mostra que foram estirados à custa de produtos químicos para darem uma aparência de lisos, sem cachos.
Apesar desse esforço em disfarçar para ficar com um bom visual, pode-se notar no pé do cabelo que os pêlos são pixains. Contudo, as feições grosseiras demonstram, à primeira vista, que o arremedo não esconde que é uma loura à pulso. Ainda ansiando em ter uma boa aparência, usa brincos, anéis e pulseiras, tudo imitação de ouro. A criatura exótica tem longas unhas, pintadas com esmalte da cor pink, de tamanho exagerado que mais se parecem com garras de um animal feroz de grande porte.
A mulher gorducha anda claudicando para tentar se equilibrar sobre os sapatos de finos saltos altos. Usa um vestido azul marinho muito apertado que não consegue conter o excesso das banhas que tentam escapulir pelas frestas do vestuário mal-ajambrado. Ao chegar junto a Junhão, ela sorri e fala demonstrando uma falsa educação, mas, no entanto, a intenção dela é a mesma dos seus colegas papa-defuntos. Diz com um sorriso insosso:
– Todo o cerimonial do enterro, incluindo o traslado dos corpos, flores, velas, chás de erva-cidreira, aluguel da capela, pagamento da missa de corpos presentes e necromaquiagem para que seus pais ficassem perfeitos no velório custou muito caro.
A seguir informa qual foi o procedimento que fizeram nos cadáveres:
– No seu pai, por exemplo, tivemos de reconstituir a face e o corpo, porque estava irreconhecível; na realidade, todo esbagaçado. Quanto à sua mãe, o trabalho não foi menor para dar uma melhor aparência ao rosto dela.
Ao dizer isso, vira-se para os companheiros e diz baixo, sorrindo, com a mão tapando a boca:
– Aqui pra nós, que velha feia da zorra!… Mesmo estando morta a sujeita deu muito trabalho.
Continua com o fuxico, comentando:
– Tinha hora que ela assombrava os técnicos que cuidavam do corpo, porque ficava resmungando parecendo reclamar de alguma coisa.
E completa exclamando:
– Misericórdia!… Tenho vinte anos na profissão e nunca vi uma defunta tão problemática igual àquela.
Talvez a finada estivesse exigindo que não fosse enterrada para poder continuar cuidando do filhinho dela.
Logo depois, a loura continua a falar dirigindo-se a Junhão:
– Para realizar o serviço gastamos muito dinheiro com o material para que os seus parentes ficassem parecendo que estavam dormindo.
Ainda relatando, afirma:
– Gostaria de salientar que o nosso trabalho foi primoroso, porque foram utilizados produtos importados de maior valor para a maquiagem.
Ao vê-lo inerte, aproveita para fazer a cobrança:
– O valor das notas que você assinou pelos nossos serviços, equivale ao preço de uma casa na praia, num condomínio de luxo.
E completa a cobrança com a cara enfezada:
– O senhor bem sabe dos custos; portanto resta efetuar o pagamento agora.
Junhão está perplexo com essas cobranças e, muito nervoso, encolhe-se no canto com as mãos suando frio. Fala tristonho com a voz trêmula:
– Mas, mas…, eu não mandei vocês fazerem nenhuma despesa… Assinei a papelada sem ler, pensando que era necessário para os enterros. Vocês não me explicaram nada…
Depois balbucia acanhado:
– Pra que maquiar?… Se já estavam mortos, por que parecer que dormiam?
FRANCISVALDO
Assustado com o que está ocorrendo, Junhão não controla mais as reações do seu corpo que começa a tremer por causa das dívidas pavorosas. Percebe que poderá desmaiar a qualquer momento devido à coação que está recebendo. Mas a sua tribulação ainda não havia terminada, quando o porteiro do prédio em que mora chega para cobrar as dívidas pertinentes ao condomínio.
Após conferir a pilha de contas vencidas, fica perplexo ao notar que a mãe não vinha pagando os débitos, porque desviava o dinheiro das despesas para bancá-lo nas farras. O homem de pequena estatura está zangado e fala alto com escárnio para que todos ouçam:
– É melhor você pagar as despesas do condomínio, os recibos de luz, água, telefone e muitas taxas extras que estão “voando” há anos sem pagamento. Inclusive o meu salário está muito atrasado por sua causa. Providencie logo a quitação, porque senão vai ser despejado e virar um sem-teto.
A seguir o funcionário do prédio grita mangando dele:
– Vai ser um triste fim na vida de um playboy curtidor!…
Junhão está aterrorizado com o que está vivenciando. De repente fica assombrado e arregala os olhos quando vê a transformação física daquelas pessoas ali presentes. Está apavorado vendo os corpos dos cobradores inchando e tomando proporções descomunais. As criaturas ficam grotescas e continuam aumentando de tamanho a cada momento. Ele se acovarda ao ver aqueles seres sobrenaturais se agigantarem. Em pouco tempo o volume dos corpos das criaturas monstruosas ocupa todo o espaço do corredor.
Isso faz com que Junhão fique espremido contra a parede e sem espaço para se movimentar. Nesse momento ele está minguado e não mais se parece com aquele sujeito corpulento e arrogante de antes. Enquanto isso, os credores monstrengos estão avançando ainda mais sobre ele, porque inflam aumentando o volume dos corpos. Para assustá-lo ainda mais, as criaturas dantescas começam a gritar uníssonos, com vozes distorcidas e horripilantes, ameaçando-o:
– Vamos desenterrar e trazer os defuntos para ficarem aqui com você, seu caloteiro! Depois nós vamos tomar tudo que herdou! Vamos te deixar na miséria!!!
Após darem gritos medonhos com sons guturais, riem muito alto. São risadas ensurdecedoras e aterrorizantes. Depois falam com vozes embaralhadas, mas que soam como uma repreensão para ele:
– Está vendo o resultado da sua vida desregrada??!… Você é um inútil que nunca quis estudar e nem tampouco, trabalhar. Os seus pais morreram e você está sozinho no mundo! E agora, vai viver de quê?!!!… De que adiantou ser farrista?!!!
Nesse momento ele está desesperado, porque não aguenta a zoadeira infernal. Angustiado, coloca as mãos nos ouvidos para tapá-los, tentando não ouvir as verdades que estão dizendo sobre a sua vida. Apavorado com a situação desesperadora, sente sobre ele o peso daquele amontoado de corpos disformes, sufocando-o.
O sofrimento dele aumenta, porque os cobradores balofos continuam se expandindo, fazendo com que fique com falta de ar. De repente toma um susto quando vê aquelas criaturas começarem a estourar os corpos lançando pedaços de uma gosma gelatinosa que gruda aonde atinge.
Estando quase sem conseguir respirar, ele grita por socorro com toda a força dos seus pulmões, soando como uma súplica:
– Volta Mamãe!!!… Não me deixe aqui sozinho!!!…
CEIÇA
Cinquenta e três anos de idade. Está na cozinha lavando as panelas e os pratos. Ao ouvir os urros apavorados do filho, fica assustada e corre alucinada para socorrê-lo. Entra esbaforida no quarto dele a fim de salvá-lo, seja lá qual for o problema.
No entanto fica atônita ao vê-lo dormindo, se debatendo, demonstrando agonia e todo encharcado de suor. Na hora ela percebe que o filho está tendo um terrível pesadelo. Na pressa em acudi-lo, não havia enxugado as mãos que estavam lavando as louças. Enternecida com o que havia ouvido, senta-se na cama e abraça forte o filho para confortá-lo com carinho. Esquecida de que as mãos estão molhadas e frias, aperta-o, enquanto demonstra carinho murmurando no ouvido dele:
– Filhinho!… Estou aqui, vem pra mamãe!…
JUNHÃO
Ao sentir o abraço gelado, acorda rápido e esbugalha os olhos demonstrando um medo medonho. Fica assombrado ao ver a finada mãe tão próxima dele. Incontinênti, tenta empurrá-la para longe dele e grita apavorado:
– “Peraí” criatura errante!… Lá ele, que eu não vou não!!!…
Arrepiado de pavor, exclama desesperado:
– E tire essas mãos geladas de mim, visagem de Ceiça!
Esperneando para tentar se livrar do abraço da mãe, berra:
– Entenda que você está morta, portanto este mundo não lhe pertence mais!
Assombrado com a proximidade da finada, grita:
– Vá pro cemitério ficar junto do seu coroa!!!… Lá é a morada de vocês agora!
Ainda com a mãe agarrada a ele, ordena:
– Vá logo pro outro mundo, zumbi de mainha!…
Agoniado porque a mãe não o solta, esbraveja:
– Eu não quero morar com uma fantasma pra ficar me assombrando!
E tenta expurgar de vez o espírito da mãe:
– Vade retro, sua alma penada!!!
Mesmo estando com os olhos esbugalhados, não tem coragem de olhar para a mãe falecida. Apavorado porque ela não o larga, começa a rezar o pai-nosso bem alto, enquanto faz repetidas vezes o sinal da cruz, a fim de afugentar aquele encosto. Como ela não o solta, continua tremendo de medo do espírito de Ceiça.
CEIÇA
Irrita-se com a rejeição dele e bradeja:
– Mas que presepada é essa, seu “fela da puta”?!… Quem “tá” morta é a sua madrinha, ordinário!
E continua raivosa esculachando:
– É cada uma que eu vejo… Contando, até parece mentira… E eu feito uma besta, corri pra “vim” acudir esse peste!…
Muito revoltada, inquire:
– Você “tá” desejando a minha morte, “miséra”?!… É isso que você quer, “disgraça”?!!!
JUNHÃO
Ao ver a reação da mãe, percebe que ela está muito bem viva. Fica contente com o fato e entende que estava sonhando. Então comenta meio sem graça:
– Rapaz, eu jurava que era tudo verdade!… Ainda bem que foi um pesadelo da zorra…
CEIÇA
Está irritada porque o filho a chamou de fantasma e sai do quarto “retada” dizendo para ele:
– Já que você acha que “tou” morta, quando quiser “mim” pedir dinheiro “pras” suas farras, vá buscar no cemitério, seu merda!
Ainda enfezada completa:
– Que menino ingrato… Faço “de um tudo” pra ele e olhe o que recebo em troca: o peste mesmo dormindo deseja a minha morte!… Ah, sujeito!…
JUNHÃO
Levanta-se da cama e esfrega as palmas das mãos nos olhos vermelhos para certificar-se de que está bem acordado. Depois comenta sorridente:
– Ufa, que alívio!… Ainda bem que essa velha tonta não morreu. Eu prefiro que ela fique aqui perturbando o meu juízo do que morta e eu arrombado!…
E completa demonstrando satisfação:
– A sujeita é gente ruim, mas eu gosto dela. Está sempre disposta para me defender e ajudar…
A seguir exclama glorioso:
– Viva muitos anos, minha mainha!!!
Depois comenta sorrindo:
– Essa infeliz é um mal necessário. Ainda bem que as minhas farras vão continuar a todo vapor.
Autor: Joswilton Lima
Joswilton Lima é natural de Ilhéus-Ba, mas é domiciliado há mais de vinte anos em Morro do Chapéu. Tem formação em Ciências Econômicas, mas sempre foi voltado para as artes desde a infância quando começou a pintar as primeiras telas e a fazer os seus primeiros escritos. Como artista plástico participou de salões onde foi premiado com medalhas de ouro e também de inúmeras exposições coletivas nos estados da Bahia, Sergipe e Pernambuco. Possui obras que fazem parte do acervo de colecionadores particulares e entidades tanto no Brasil, quanto em países do exterior, a exemplo dos E.U.A, Portugal, Espanha, França, Itália e Alemanha.
Em determinada época, lecionou pintura em seu atelier no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, e foi membro de comissões julgadoras em concursos de pintura. Nesse período exerceu a função de Diretor na Associação dos Artistas Populares do Centro Histórico do Pelourinho (primitivistas e naif’s), em Salvador.
Como escritor também foi premiado em diversos concursos de contos tendo lançado um e-book com o título “Enigmas da Escuridão”, com abordagem espiritualista, tendo obtido a nota máxima de 5 estrelas de leitores do site www.amazon.com.br Outros contos e romances também estão sendo escritos.
Concomitante às atividades artísticas, sempre exerceu funções laboriosas em diversos setores produtivos e, por último, se aposentou na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, onde trabalhou por muitos anos na Fiscalização.
Agora tem o prazer de apresentar aos leitores do site www.leoricardonoticias.com.br o seriado de crônicas intituladas Episódios do Junhão, com as quais espera que tenham uma leitura agradável e de reflexão.