O escritor Joswilton Lima registrou os seus livros na Biblioteca Nacional do Brasil e está de posse dos Certificados. Para aquisição do livro físico ou digital é só clicar na capa:
Mais um livro do escritor Joswilton Lima, autor dos Episódios do Junhão. Com o título de “O Cigano Violeiro” é um conto fantasioso destinado ao público adulto e juvenil que narra as superstições existentes nas comunidades rurais do interior.
O livro relata a vida simples e feliz dos personagens, mas que é totalmente alterada devido a visita inesperada na região de um indivíduo pernicioso.
A ficção da estória irá deixar os leitores surpreendidos por causa do final fantástico.
As ilustrações também são autor. A capa é uma pintura digital com o mouse, experiência nova que mesmo com toda a dificuldade da adaptação, deu um bom resultado.
As ilustrações internas são fotos de pinturas a óleo, também do autor.
A seguir, Episódios do Junhão I e II. Para adquirir basta clicar na imagem:
Joswilton Lima também é autor de ‘Enígmas da Escuridão’ e você também tem acesso ao livro para aquisição, pelo link que está na imagem, basta clicar:
Agora que você chegou até aqui, continuamos a usufruir da criatividade de amigos (as) que, por meio da sua atividade literária, presenteiam nosso leitores com textos de encher os olhos e fazer a alma viajar:
PAPAI É LEGAL?!…
JUNHÃO
Trinta e dois anos de idade. Acorda no horário rotineiro e aparenta estar de bom humor. Depois do banho, senta-se à mesa para o desjejum às doze horas. Durante o seu lauto café da manhã conversa animado com Ceiça que fica radiante de felicidade por causa do papo amigável que estão tendo. Contudo, o filho manhoso fala na falsidade com o único intuito de lograr a mãe que não percebe a estratagema dele. O motivo do diálogo gentil é porque ele tem a esperança de obter uma vantagem para si. Entusiasmado, diz com eloquência:
– Pois é, coroa!… A cegonha me botou na casa certa. Tenho de agradecer muito a Deus, porque sou muito feliz por ser seu filho. Você me trata muito bem, por isso eu sempre digo à galera de amigos que você é a melhor mãe do mundo. Todos eles são seus fãs.
CEIÇA
Cinquenta e dois anos de idade. Fica ruborizada e muito contente com o elogio. Pergunta com a voz minguada, quase choramingando:
– Você acha isso mesmo, Juninho?!… Se o que disse é realmente verdade eu sou a mulher mais feliz do mundo! Estou tão emocionada… Quem diria que o meu filhinho ainda iria reconhecer os meus feitos de uma boa mãe?!…
Estando muito emocionada e enternecida, completa:
– Quem deve agradecer a Deus sou eu, por ser mãe de um menino tão doce igual a você. Um menino de ouro que todas as minhas amigas têm inveja de mim pela educação exemplar que te dou.
Ela se vangloria mentindo, porque sabe que as amigas a criticam por ser permissiva e condescendente em relação à criação do filho.
JUNHÃO
Articulado e bem comedido, mede as palavras para conseguir o seu objetivo. Percebendo que o seu alvo está próximo de ser atingido, fala pausado com os olhos arregalados fixos em Ceiça, como se quisesse hipnotiza-la para obter o que está almejando:
– Olhe “mainha”, eu ando frustrado porque todos os meus amigos possuem um aparelho celular “top de linha”, da última geração. No entanto, eu fico humilhado no meio deles, porque o meu é um modelo antigo, do tipo “tijolão”.
Durante a queixa, percebeu que a mãe ficou atenta ao que falou com os olhos lacrimejando. Nesse momento ele sabe que a mãe caiu na sua lábia e lança o seu pedido:
– Por isso eu gostaria que a minha “mãezona” comprasse um aparelho moderno pra mim. Aí eu vou ficar muito contente.
E prossegue falando demonstrando mágoa para provocar os sentimentos maternais de Ceiça:
– Olhe, “mainha”, eu já não aguento mais eles ficarem fazendo gozação com a minha cara dizendo que sou um pobretão… E também falam que você não liga mais pra mim…
CEIÇA
Ao ouvir essa acusação, para ela infundada, fica exaltada e explode de raiva dizendo quase gritando:
– “Népussivel” uma merda dessa! Eu não vou aceitar que nenhum “fela da puta” fique achando que você é um pé-rapado. Por causa desse “disaforo” eu vou comprar pra você o melhor aparelho que tem na praça.
Muito enfurecida, promete vingança:
– Vai ser um celular bem porreta, daqueles que tem uma goiaba mordida na capa que eu vi na propaganda da tv. Esses “indiotas” vão saber quem é Ceiça e que você tem uma boa mãe!
Jamais Ceiça vai admitir que alguém menospreze o filho dela. Na mesma hora ela fica muito nervosa e a cabeça começa a enfumaçar a ponto de quase explodir de raiva. Ardiloso, Junhão sabe como provocá-la para conseguir o que quer.
Enraivada, ela se levanta da cadeira e vai ligeiro para o quarto. Pouco tempo depois retorna e entrega o cartão bancário dela e a senha para que o filho adquira o precioso celular. Mas, com receio do alto custo financeiro, recomenda:
– Olhe, Júnior, eu não tenho essa dinheirama toda na conta. Esse celular é caríssimo, porque é de uma grife famosa.
Cautelosa com as finanças domésticas, implora:
– Por isso você vai comprar no crédito e peça para dividir tudo em noventa e seis prestações, no mínimo.
No afã em querer agradar o filho além das suas possibilidades financeiras, esquece-se de que a tecnologia avança muito rápido e que em pouco tempo haverá um novo lançamento da marca. Enquanto isso, ela levará oito anos pagando prestações de um celular que já estará fora de moda.
Depois ela pede ao filho:
– E pechinche pra ver se os vendedores da loja dão um bom desconto; mas não se “homilhe” pra ninguém, pedindo demais.
Depois comenta:
– Que goiaba cara da peste!… Mas o meu filho merece ter tudo do bom e do melhor que eu não tive.
JUNHÃO
Estando muito contente com a benevolência da mãe, ao receber o cartão e a senha ele demonstra gratidão. Na mesma hora se ajoelha no chão e fica beijando repetidas vezes o cartão e, enquanto o eleva para o alto, dá urros de alegria em agradecimento pelo presente.
Depois solta beijinhos para a mãe dizendo que a ama e sai correndo para ir comprar o seu aparelho da moda. Ele não vê a hora de poder se exibir como um novo-rico nas noitadas. Está ansioso para ostentar o seu celular recém-comprado perante os amigos. Esse aparelho irá possibilitar que participe de todas as redes sociais, fazer vídeos para postar na internet e, principalmente, arranjar muitas namoradas.
CEIÇA
Quando Junhão sai apressado ela fica exultante por ter agradado o filho com um presente pomposo. Caminha em direção ao sofá para ficar sonhando com o sucesso dele nas redes sociais, quando o telefone fixo toca. Impaciente, enquanto anda para atender a chamada, vai zangada reclamando alto:
– Que zorra! Será que eu não consigo ter um segundo de paz na vida que esse peste de telefone toca nas horas mais inconvenientes?!… Quem será a infeliz que está ligando agora para fazer fofoca?
Contrariada ela pega o aparelho com brutalidade e, quando ouve quem está falando, a sua voz fica adocicada de repente. Gentilmente ela responde:
– Alcebíades, meu amor! Não se preocupe porque aqui está tudo bem. O Júnior é muito comportado; é um menino excelente. Pense num filho adorável que a gente tem?!…
O marido fala algo que não agrada a ela. Repentinamente fica nervosa, cerra as sobrancelhas e exclama raivosa:
– O quê?!… Será possível uma merda dessa?!…
Alcebíades acha estranho o espanto que Ceiça demonstrou e, na mesma hora, inquire com indignação. Percebendo a grave falha cometida, Ceiça se recompõe e justifica-se mentindo:
– Não falei com você, meu querido… Eu reclamei com uma amiga que está aqui em casa. Ela falou alguma coisa que eu não gostei, por isso fiquei “retada” de raiva. A sujeita é a Dinorá; você não conhece essa fulana.
E continua falando com a intenção de tapear o marido:
– Mesmo eu estando falando com você ao telefone, a infeliz fica querendo “mim” vender umas bugigangas. Mas já disse a ela que não vou comprar nada porque a gente está economizando.
Para amenizar a grosseria que fez, continua culpando a amiga inexistente:
– Mas a sujeita é mal-educada e fica insistindo para oferecer os produtos, por isso gritei com raiva. Já estou começando a ficar irritada com essas visitas indesejadas. Não falei com você, ouviu, meu bem?!
Percebendo que havia conseguido enganá-lo, prossegue falando na falsidade:
– Mas, diga aí?!… Quer dizer então, que o meu “maridinho” chega de ônibus amanhã de manhã bem cedo, não é, meu querido? E quer fazer uma surpresa para o Juninho!… Não se preocupe que não direi nada a ele.
Apesar de demonstrar satisfação na conversa, Ceiça está angustiada porque teme que o marido descubra tudo sobre a vida leviana do filho. A sua preocupação é porque não poderá alertar Junhão para tomar as devidas precauções antes da chegada do pai. E o maior temor é que não poderá dar a notícia ao filho, porque ele chega bêbado da farra e ela é proibida de acordá-lo.
Sabe que após a compra do celular o filho irá mostrar a preciosidade aos amigos e depois irá curtir a noitada. Por causa da falta de contato está agoniada, porque sabe que o marido irá dar um flagrante no desmantelo dentro do lar.
No entanto está tristonha e ressentida devido ao descaso e ingratidão do filho que não ligou para ela informando o número do celular. Está sentida porque imaginava que ela seria a primeira pessoa para quem o filho faria o primeiro telefonema. Mesmo estando com a mente conturbada, continua falando com o marido. Apesar da contrariedade, esforça-se em manter a voz melosa:
– Tudo bem, meu amor. Então você está vindo porque tirou folga de uma semana para tratamento de saúde? Nós vamos adorar a sua presença aqui com a gente. Beijos, amado! Não demore pra chegar; boa viagem!
Quando a ligação termina ela explode de raiva. Com a boca espumando, reclama revoltada:
– Mas que merda! Que homem “infarento”, meu Deus! Ao invés de ficar trabalhando pra mandar mais dinheiro pra gente, ele abandona o serviço e vem passear alegando que precisa fazer “inxames” médicos. Até parece que no interior não existe medicina.
De repente faz conjetura, enquanto estica um bico com os beiços, franze a testa e coloca a mão no queixo, indagando-se:
– Será que ele está doente mesmo ou se a vinda é uma invenção pra “vim” bispar sobre a vida de Juninho?
A seguir comenta demonstrando aflição:
– Deus queira que o meu pensamento não seja verdade.
Depois continua falando zangada:
– Todos os dias ele liga e eu informo que o Júnior está indo muito bem nos estudos, graças a Deus. E o que esse sujeito maldoso precisa saber mais do que isso?!…
A seguir vaticina:
– Pois eu acho que ele precisa trabalhar mais, pra não ficar com a mente vazia pensando em besteiras.
Indignada com a vinda inesperada do marido para o lar, continua falando com revolta:
– Parece que o sujeito não acredita no que digo e vem pra cá “curiar” o que não deve. Não sei onde eu estava com a cabeça quando aceitei casar com essa “miséra” que fica suspeitando do meu filho.
E prossegue enraivada:
– Se o que estou pensando for verdade…, aí desse infeliz, porque ele vai se arrombar comigo. Vai tomar um a zero e voltar chispando pro interior com a cara lisa.
Continua cheia de desconfiança:
– Com certeza o peste está com treita. Percebi a maldade dele na hora que “mim” pediu pra não dizer ao Júnior que ele estava vindo.
A seguir exclama com raiva:
– Eu detesto falsidade! Ah, sujeito malicioso! Treiteiro descarado!…
Ainda preocupada com a vinda de Alcebíades, ela para um pouco para analisar a situação. Depois de muito pensar, fica temerosa com a chegada do marido e diz:
– Que estorvo esse homem em minha vida! Quando ele chegar amanhã a nossa vida aqui vai ficar transtornada. Eu e Juninho vamos ter que andar “pisando em ovos”, porque tenho certeza absoluta de que o miserável vai ficar observando tudo pra depois ficar “mim” censurando.
Está se sentindo sufocada, porque a estada de Alcebíades irá causar problemas. Lamenta:
– O menino vai ficar desassossegado se notar a desconfiança do pai. O pobre do Juninho vai ter a vida dele toda alterada.
Ainda revoltada com a visita surpresa do marido, reclama:
– Além disso, o coitado do Juninho vai ficar deprimido, porque não vai poder sair de noite pra ir se divertir. É capaz dele ficar com “pobrema” psicológico por não poder ir namorar. Já estou com pena do meu filhinho.
Depois conclui esperançosa:
– Mas, apesar dessa aporrinhação, eu espero que o Juninho se comporte bem para que o pai não tenha queixas dele. Se alguma coisa der errado, tenho certeza que vou ser crucificada pelo dito-cujo.
NO DIA SEGUINTE – seis horas da manhã
ALCEBÍADES
Cinquenta e sete anos de idade. Chega carregado de uma enormidade de caixas. Nelas, traz uma feira completa e está muito feliz por ter chegado em casa. Além da mala de roupas, trouxe muitos víveres comprados no sertão da Bahia no intuito de agradar a família. Cansado da viagem ele coloca toda a bagagem no chão da sala e se senta no sofá. A seguir fala com entusiasmo dirigindo-se à Ceiça:
– Sabendo que você gosta de produtos do interior, comprei mantas de carne do sol gorda, de dois pelos, de jabá (charque), de toicinho, pernil suíno, capas de costela de bode para assar, carne de carneiro e muitos quilos de linguiça artesanal de porco.
Satisfeito em mostrar que mantém bem a família, ele continua a informar sobre toda a mercadoria que trouxe:
– Também tem farinha de mandioca, aipim-manteiga, abóbora de leite, mel de abelha mandaçaia, manteiga de garrafa, manteiga natural sem conservantes, doces de leite, de goiaba, de banana e de marmelo. E não esqueci de trazer feijão-de-corda e mulatinho.
Ainda empolgado em demonstrar que é um bom mantenedor do lar, continua:
– Aproveitei e comprei carne de bode em Uauá e de carneiro em Juazeiro da Bahia. E também trouxe muitas bolachinhas de goma e pão “pisado de pé”, como o povo diz, comprados em Rio Real.
A seguir fala quase suplicando:
– Gostaria que a minha mulherzinha fizesse as deliciosas comidas caseiras que só você sabe temperar. Já estou enjoado de tanto comer churrasco de carne sapecada em restaurantes de beira de estrada.
Depois conversaram muito sobre as agruras da viagem com tanta bagagem, das dificuldades atuais no trabalho para conseguir novos clientes e dos esforços para continuar vendendo muito devido à concorrência acirrada no comércio. A seguir ele fica curioso e pergunta:
– Cadê o Júnior? Não me diga que ele já saiu tão cedo para ir à faculdade…
CEIÇA
Ceiça fica embaraçada buscando uma resposta. Pouco depois ela responde mostrando um certo desconforto. Fala meio sem jeito:
– O Júnior?!… Ah, o Juninho! Já sei!… Você está perguntando sobre o nosso anjinho. Ah, que tonta eu sou!…
Apesar de estar atrapalhada e ainda buscando um argumento para iludi-lo, mesmo assim ela responde rápido buscando justificar:
– Olhe amado, o nosso filho é um menino muito esforçado. Para não perder tempo nos estudos, ele se reuniu com um grupo de colegas para estudar durante a noite inteira. O coitado chegou com o dia quase amanhecendo; por isso ainda está dormindo.
E complementa lamentando:
– Se ele soubesse que você viria não teria ido estudar, mas você pediu que queria fazer uma surpresa…
Ainda totalmente sem jeito, Ceiça fica de saia justa, porque agora tem a certeza de que Alcebíades está desconfiado de alguma coisa. Sem perder as estribeiras ela comenta:
– Ele vai ficar muito contente quando te vê, porque é fã do pai. Com certeza não vai querer ir frequentar as aulas na faculdade, enquanto você estiver aqui, só pra ficar adulando o “paizão” dele.
ALCEBÍADES
Ouve em silêncio parecendo estar matutando. Pouco depois levanta-se e vai ao quarto do filho, porque está com saudades do tão elogiado Júnior. Não demora muito e ele volta rápido para a sala enojado com o forte odor que sentiu no cômodo onde o filho dorme. Demonstrando estar cismado, pergunta sério:
– Ceiça, você tem certeza de que esse rapaz realmente passou a noite estudando?…
CEIÇA
Fica angustiada com o questionamento. Hábil na defesa do filho, responde de imediato:
– Claro que eu tenho certeza, meu querido. O Júnior puxou igualzinho a você: ele é muito responsável e aplicado. Se ele “mim” disse que ia estudar durante a noite é porque realmente ele foi estudar com os colegas.
Para reafirmar a sua mentira, ela comenta:
– Ontem eles estavam reunidos na casa de Geraldo, um rapaz nascido em Piritiba, que é muito amigo dele. Eu confio em tudo que o nosso filhinho diz.
A seguir ela tem um estalo mental no raciocínio e pergunta curiosa:
– Mas por que você perguntou sobre isso, Binho?! Não “mim” venha com desconfianças sobre a vida do nosso menino. Ele é muito direito, ouviu?!…
ALCEBÍADES
Está decepcionado com o que viu no quarto do filho e informa à Ceiça:
– O quarto dele está empesteado com um fedor desgraçado de cachaça. Não me pareceu que o Júnior esteve estudando. Está evidente que ele passou a noite fazendo farra.
A seguir pergunta demonstrando estar revoltado:
– Você, como mãe, está realmente acompanhando de perto a vida do nosso filho?
CEIÇA
A pergunta aumentou a agonia dela. Desde o momento que ela viu o marido se dirigindo ao quarto do filho que ficou com medo de que Alcebíades descobrisse a verdade. Meio sem jeito ela justifica:
– Ah, você está cismado só por causa disso?!… Claro que eu fiscalizo a vida de Juninho, porque eu sou uma mãe zelosa.
E para reafirmar a sua mentira, diz:
– Ontem de noite ele estava estudando química com os colegas. E nessas aulas eles manipulam muitos produtos no laboratório.
Depois de tomar um fôlego, após ficar ofegante, fala:
– Eu já disse ao Juninho pra tomar cuidado com esse tipo de material porque é muito perigoso. Sempre que ele tem essas aulas chega em casa fedendo a álcool desse jeito.
E aproveita para repreender o marido:
– Você deixe de ser rabugento pra não constranger o menino com essas suspeitas absurdas, ouviu?!… Não fale nada a ele porque desse jeito você vai deixar o Juninho traumatizado do juízo!
ALCEBÍADES
Não está convencido com os argumentos de Ceiça e pergunta demonstrando desconfiança:
– Que tanta aula de química é essa?!… Ele está estudando engenharia civil, ou não?!
Ainda questionando, ele expõe o que pensa:
– Pelo que sei, aula de química tem que ser em laboratório e a faculdade está fechada durante a madrugada.
Aparentando ressentimento ele diz:
– Se ele não estiver no curso de engenharia civil eu estou vendo que todos os meus esforços trabalhando para manter o Júnior estudando estão sendo em vão.
Depois diz em tom de lamentação:
– Eu não sei o que está ocorrendo aqui. Mas estou pressentindo que tem muita coisa errada debaixo do seu nariz.
Depois afirma demonstrando desgosto:
– Tenho amigos que formaram os filhos em muitos cursos e até mesmo em medicina no máximo em seis anos. O Júnior já tem mais de doze anos na faculdade e nada de formatura!… O que você me diz disso?!…
Amargurado, fala com tristeza:
– Por causa dessa demora dele em concluir o curso para poder trabalhar na profissão e me ajudar nas despesas de casa, vivo trabalhando igual a um burro de carga. Que diabo de estudo demorado é esse?!…
Ressentido com a situação, continua a falar sobre o drama familiar que está vivendo:
– Tudo o que eu ganho no trabalho despejo aqui em casa e já vi que não há dinheiro que chegue para vocês. Aqui parece um poço sem fundo.
Demonstrando estar muito amargurado, diz:
– Apesar dos meus esforços não consigo ver o Júnior formado. Por isso eu tenho uma grande frustação em minha vida…
CEIÇA
Sendo coiteira e temendo que a verdade venha à tona, ela interrompe o marido dizendo:
– Olhe, Binho, esse negócio de tempo não importa. O importante é que o nosso filhinho está fazendo um doutorado bem feito. E já está se preparando pra fazer um pós-doutorado.
Para dar mais credibilidade ao que informa, diz quase chorando de emoção:
– O Juninho sempre comenta: “mainha”, eu estudo muito porque quero ser um profissional muito competente!
ALCEBÍADES
Abaixa a cabeça e nada diz. Afinal, para ele, a esposa é digna de confiança. A seguir vai tomar banho e depois o café da manhã. Após o almoço vão para a sala e continuam conversando alegres sobre assuntos triviais. Quando, de repente, às quatorze horas, Alcebíades toma um susto quando vê o filho passar pela sala em direção ao banheiro. Ele anda trôpego, cambaleante, aparentando ainda estar embriagado e não percebe a presença do pai.
Indignado ao ver o filho naquele estado deplorável, aproveita para cumprimenta-lo com deboche:
– Boa tarde, cidadão!… Não está me vendo aqui?!… Ainda sou o seu pai!
JUNHÃO
Está enfezado, com ressaca, descalço, de cueca samba canção de algodão com a pança amolecida pendendo sobre o cós. Os cabelos estão desgrenhados, barba por fazer, olhos vermelhos iguais a brasa e, principalmente, um bafo de onça insuportável, além do corpo estar exalando um odor de cachaça por todos os poros. Ele só notou a presença do pai depois de ouvir a voz de Alcebíades. Mesmo assim continua andando titubeando até chegar na porta do banheiro. Então para e dirige-se ao pai com a voz rouca e fala de modo grosseiro e arrogante:
– “Qualé” velho! Que negócio é esse de chegar sem avisar?!… Aqui tem lei e ordem, ouviu?!… Agora aguarde aí no local que vou “largar um barro” e depois tomar um banho. Quando terminar o desjejum e o almoço a gente conversa, “de boa” …
ALCEBÍADES
Fica horrorizado com o tratamento desrespeitoso que o filho lhe dispensou, porém nada diz. Está em silêncio e apenas observa o filho entrar no banheiro.
CEIÇA
Apressa-se em justificar a atitude e o linguajar chulo do filho. Aflita, diz:
– Olhe, marido, o Juninho vive estressado de tanto estudar. E esse palavreado dele é típico da juventude. Todos os colegas dele na faculdade falam do mesmo jeito.
Na ânsia em querer agradar o marido para desfazer a má impressão deixada pelo filho, ela justifica:
– Não ligue não, viu, Binho?! Ele está assim mal-humorado, porque acordou agora e tanto estudo “deixa ele” desfocado da realidade. Quando sair do banheiro vai ser outra pessoa. Você vai ver que é um menino adorável.
ALCEBÍADES
Ouve em silêncio e fica refletindo sobre a sua vida inglória.
JUNHÃO
Duas horas depois sai do banheiro. Está bem barbeado, cabelos penteados e perfumado. Usa uma bermuda branca e camiseta amarela. Ao chegar na sala, após o almoço colocado na mesa pela mãe, diz sorridente:
– Venha cá “paizão” pra dar um abraço no seu filho: um futuro engenheiro civil!!!
ALCEBÍADES
Fica contente com a notícia e levanta-se rápido da cadeira para abraçar o filho. Depois exclama ansioso em obter uma confirmação:
– Graças a Deus!… Quer dizer que finalmente no final do ano você vai colar grau!
JUNHÃO
Nesse momento demonstra contrariedade e diz raivoso com a voz rouca:
– “Peraí”, velho! Assim não dá!… Que pressa é essa?!… A gente não pode lhe dar um dedinho que você já quer o braço inteiro. Eu falei que sou um futuro engenheiro; mas não dei o prazo para a formatura.
Enganador, afirma demonstrando propriedade:
– Eu estou fazendo um doutorado e não um reles cursinho. O meu estudo com afinco é atemporal. Portanto, “tire o seu cavalo da chuva” com essa pressa desnecessária.
E completa a sua vigarice dizendo:
– Ainda preciso fazer muitas aulas de química, de geologia, estudos de cálculo estrutural e de física quântica. Também tenho que defender tese sobre a fisiologia do solo. Ainda tenho muito tempo de estudos pela frente até concluir o meu curso bem feito.
CEIÇA
Agoniada, ela entra na conversa para apoiar o filho:
– Está vendo aí, Binho? O menino é muito estudioso e ajuizado! É como sempre eu lhe digo. Por causa disso sempre glorifico a Deus pelo filho que temos.
ALCEBÍADES
Finalmente tem a certeza de que está sendo enganado pela família e fica possesso. Enraivado, dá um ultimato ameaçador:
– Pois é, rapazinho!… Você não precisa de fazer nenhuma tese ou que merda for, porque neste final do ano eu vou querer ver você formado nem que seja a pulso!
E conclui ordenando:
– Em dezembro vou tirar férias para poder vir para a sua formatura! E vou convidar todos os amigos, colegas e irmãos da congregação, ouviu bem, moço?!
CEIÇA
Está desesperada com a ameaça de Alcebíades e interrompe a conversa em defesa do filho:
– Alcebíades! Vê se você para de querer ficar constrangendo a criança! Quem cuida dele sou eu!
Depois encerram o assunto e, mesmo Alcebíades estando enfezado, ficam conversando amenidades. Em dado momento o celular de Junhão toca e ele atende satisfeito como se quisesse mostra-lo ao pai.
ALCEBÍADES
Fica observando o filho falar alegremente elogiando o aparelho novo na conversa com um amigo. Nesse momento Ceiça arregala os olhos e fica apreensiva porque não tem como avisá-lo para manter sigilo sobre o celular. Quando a ligação termina, Alcebíades dirige-se ao filho falando com despeito:
– Muito bem… Eu vivo me lascando no trabalho com um celular velho, com a tela toda rachada, enquanto isso, estou vendo o meu filho desempregado esnobando com um aparelho novo, lançamento da marca da goiaba mordida…
E pergunta enfezado:
– Quanto custou esse aparelho?! E onde foi que você arranjou dinheiro para comprar?
CEIÇA
Apressa-se em responder demonstrando aflição:
– Oxente, Binho?! Isso é modo de falar com o filho?!… O aparelho não é roubado! O Juninho ganhou esse celular no sorteio de uma rifa lá na faculdade. Pense num menino que tem sorte!…
A seguir ela bajula o marido para tentar tapeá-lo:
– Você não tem um desse porque é muito mão de vaca! Dinheiro você tem a rojão, porque é o melhor vendedor do mundo!
Depois, assumindo um ar solene, fala aparentando estar desgostosa:
– Querido, infelizmente você não vai poder fazer os seus “inxames”, porque o “éne-pê-ésse” está em greve por tempo indeterminado. Você sabe como é o serviço público…
A seguir fala pesarosa para dar maior crédito ao seu argumento:
– Infelizmente quem não tem recursos sofre na unha desses miseráveis do governo.
Agoniada para despachar o marido de casa com urgência, tenta induzi-lo:
– Por causa desse transtorno é melhor você viajar pra ir trabalhar. Procedendo desse jeito você fica com moral pra pedir outra dispensa do trabalho, quando acabar a greve. Enquanto isso fique tomando uns chás no interior pra melhorar a saúde.
Após muitas considerações a respeito, Alcebíades ouve os conselhos de Ceiça e resolve viajar no dia seguinte. Assim que ele segue viagem a rotina no apartamento volta a ficar dentro da normalidade.
APÓS A PARTIDA DE ALCEBÍADES
CEIÇA
Está aliviada do desgaste psicológico que sofreu durante os três dias que o marido permaneceu em casa. São onze horas da manhã e ela está sentada no sofá da sala se abanando com um pedaço de papelão por causa do calor. Diz para si:
– Que tortura, meu Deus! Pensei que não ia acabar nunca o meu sofrimento. O homem chegou aqui mal-intencionado com o Juninho. Parecia até que tinha bebido na intenção da criança.
A seguir lamenta:
– Fiquei com pena do Júnior sofrendo a perseguição ferrenha dele. O coitado ficou sem poder ir farrear com os amigos durante os dias em que o algoz estava em casa.
Depois se exaspera e exclama demonstrando revolta:
– Misericórdia, meu Deus! Que sujeito falso! Chegou aqui na “sonsidão” trazendo uma ruma de porcarias nas caixas, dizendo ele que era pra agradar. Mas na realidade o tal do Alcebíades estava com a mente cheia de maldade contra o pobre menino.
E conclui espumando de raiva:
– Se eu adivinhasse que ele vinha cheio de más intenções contra o Juninho, teria mentido quando ele telefonou informando sobre a malfadada viagem.
Enraivada diz o que faria para impedir a visita do marido:
– Diria pra ele não “vim” porque a gente “tava” doente com uma virose braba e muito perigosa. Com certeza ele iria desistir da viagem.
Depois conclui:
– Mas graças a Deus eu não sou uma pessoa falsa e tive de aturar aquele indivíduo com a cara de nojo incomodando o meu filhinho.
JUNHÃO
Nesse momento em que a mãe está reclamando, ao meio-dia, ele passa em direção ao banheiro. Havia acabado de acordar. Ao ver a mãe, ele para e dá um sonoro bom dia. Depois comenta:
– Você viu que fulano chato, “mainha”? Não tem quem aguente um sujeito pernóstico daquele. O cara falou até do meu celular, como se ele tivesse alguma coisa a ver com isso. Vou deixar de chamar ele de paizão, porque não merece o meu carinho.
CEIÇA
Está emocionada com a simbiose entre ela e o filho. Continua a conversa com raiva:
– É verdade, meu filhinho. Quem ele pensa que é no jogo do bicho?!… Veio “pracá” na falsidade inventando uma estória de saúde, mas na verdade chegou só pra infernar a nossa vida.
E completa o assunto:
– Eu já estava angustiada com tanta pergunta. Ele chegou parecendo que tinha a autoridade de um inspetor de quarteirão. Que sujeito arrogante!
A seguir fala demonstrando temor:
– E se ele parar de mandar dinheiro pra gente?… Como vamos viver?!
JUNHÃO
Está satisfeito com o desenrolar da conversa. Entusiasmado, aproveita a ocasião para adular a mãe relembrando um fato:
– Você é realmente uma “mãezona” com um alto quociente intelectual. Eu estava empolgado com o celular e realmente dei uma bobeira durante a conversa, mas o velho maldoso estava ligado em tudo.
Para um pouco e depois continua lisonjeando a mãe:
– Quando o mau elemento perguntou sobre o valor do celular eu fiquei sem ideia, mas você é muita esperta e me salvou na hora “agá”; por isso eu gosto da minha “mainha”.
Depois informa para tranquilizar a mãe:
– Não se preocupe que o velho maluco vai continuar mandando dinheiro pra gente. É obrigação dele continuar pagando a minha pensão alimentícia, porque ainda não estou formado na faculdade.
A seguir continua falando:
– Ele não é doido de infringir a lei da alienação parental esquecendo a gente. Além disso tudo, aquele abobalhado é apaixonado por você.
Sorridente, diz enfático:
– Ele é um homem que tem a natureza fraca. Daqui a uns dias ele esquece o papelão que fez aqui e tudo volta a ser “como dantes no quartel de Abrantes”.
CEIÇA
A cada lembrança do ocorrido ela fica revoltada. Enfezada, afirma:
– Enquanto eu tiver vida e saúde ninguém trisca um dedinho em você, meu filhinho. Nem mesmo aquele velho arrogante, o tal do Alcebíades. Ele que não venha “pracá” desacatar você, porque eu dou o troco dobrado. Ou então não “mim” chamo Ceiça. “Ah, rá”!
JUNHÃO
Deixa a mãe conversando sozinha e vai para o quarto dele. Ao chegar, liga o som a toda altura e fala sorrindo:
– Que alívio!… Ainda bem que Ceiça soube enquadrar aquele vagabundo velho. Ele saiu daqui “pianinho, com o rabo entre as pernas”. E não adianta me ameaçar porque “Ceiçona” está aqui pra me defender.
E continua charlando satisfeito:
– Ele chega aqui querendo botar moral, mas é um idiota. Ceiça faz ele de “gato e sapato”.
A seguir fala sorrindo:
– Se o Alcebíades vier em dezembro não vai ver formatura nenhuma. Ele vai “bater com a cara na porta”.
Depois conclui satisfeito:
– Vou mostrar àquele miserável quem é o Junhão. Aí, ele vai ver quem manda aqui na área. Apesar de tudo, lá no fundo, tenho pena dele porque o pobre é um iludido…
Autor: Joswilton Lima
Joswilton Lima é natural de Ilhéus-Ba, mas é domiciliado há mais de vinte anos em Morro do Chapéu. Tem formação em Ciências Econômicas, mas sempre foi voltado para as artes desde a infância quando começou a pintar as primeiras telas e a fazer os seus primeiros escritos. Como artista plástico participou de salões onde foi premiado com medalhas de ouro e também de inúmeras exposições coletivas nos estados da Bahia, Sergipe e Pernambuco. Possui obras que fazem parte do acervo de colecionadores particulares e entidades tanto no Brasil, quanto em países do exterior, a exemplo dos E.U.A, Portugal, Espanha, França, Itália e Alemanha.
Em determinada época, lecionou pintura em seu atelier no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, e foi membro de comissões julgadoras em concursos de pintura. Nesse período exerceu a função de Diretor na Associação dos Artistas Populares do Centro Histórico do Pelourinho (primitivistas e naif’s), em Salvador.
Como escritor também foi premiado em diversos concursos de contos tendo lançado um e-book com o título “Enigmas da Escuridão”, com abordagem espiritualista, tendo obtido a nota máxima de 5 estrelas de leitores do site www.amazon.com.br Outros contos e romances também estão sendo escritos.
Concomitante às atividades artísticas, sempre exerceu funções laboriosas em diversos setores produtivos e, por último, se aposentou na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, onde trabalhou por muitos anos na Fiscalização.
Agora tem o prazer de apresentar aos leitores do site www.leoricardonoticias.com.br o seriado de crônicas intituladas Episódios do Junhão, com as quais espera que tenham uma leitura agradável e de reflexão.