Episódios do Junhão: ‘O REGRESSO DO NOIVO BOMBA’

BRASIL DIA-A-DIA ENTRETENIMENTO INTERNACIONAL MORRO DO CHAPÉU REGIONAL

Mais um livro do escritor Joswilton Lima, autor dos Episódios do Junhão. Com o título de “O Cigano Violeiro” é um conto fantasioso destinado ao público adulto e juvenil que narra as superstições existentes nas comunidades rurais do interior.

O livro relata a vida simples e feliz dos personagens, mas que é totalmente alterada devido a visita inesperada na região de um indivíduo pernicioso.

A ficção da estória irá deixar os leitores surpreendidos por causa do final fantástico.

As ilustrações também são autor. A capa é uma pintura digital com o mouse, experiência nova que mesmo com toda a dificuldade da adaptação, deu um bom resultado.

As ilustrações internas são fotos de pinturas a óleo, também do autor.

O livro “O Cigano Violeiro” já foi publicado pela Editora Amazon.

Basta acessar o site – http://amazon.com – e buscar na pesquisa O Cigano Violeiro que aparece o livro na versão digital e na versão impressa.

É só clicar em cima do link amazon na mensagem acima que já vai direto. Depois é só digitar o cigano violeiro. Quando aparecer o livro, clicar em cima da capa que aparece todas as informações.

Para ver outros livros do autor é só digitar na pesquisa da http://amazon.com: Joswilton Lima.

O autor recebeu e-mail da Editora Amazon informando que seus livros (Episódios do Junhão, Enigmas da Escuridão e O Cigano Violeiro) foram qualificados para participarem no concurso do Prêmio Kindle de Literatura 2024.
Caso seja premiado, o livro terá uma versão impressa publicada pelo Grupo Editorial Record (o maior do Brasil), entre outros prêmios.

 

 

Com a retomada das atividades em nosso site, continuamos a usufruir da criatividade de amigos (as) que, por meio da sua atividade literária, presenteiam nosso leitores com textos de encher os olhos e fazer a alma viajar:

 

O REGRESSO DO NOIVO BOMBA

 

JUNHÃO

Vinte e oito anos de idade. Três dias após voltar do interior onde frustrou todas as expectativas da mãe, ele segue com a sua vida rotineira. Ceiça está inconsolável porque esperava que o filho noivasse na viagem que fez à Floresta Azul. Em seus desejos o casamento viria logo depois. Sonhava com a união matrimonial do filho com uma moça rica e de boa família, porque ansiava que o seu Juninho tivesse um futuro esplendoroso.  No entanto, indiferente à mágoa que causou à mãe, ele dorme o sono dos justos às onze horas da manhã.

CEIÇA

Quarenta e oito anos de idade. Está na cozinha preparando o almoço. Apesar do desgosto que tivera, ela se esmera em pôr na mesa o desjejum para o seu rebento. Coloca diversos tipos de frutas, já descascadas; frita quatro ovos caipiras, usando manteiga de garrafa; coloca dois peitos de frango cobertos de parmesão ralado para grelhar; põe na mesa fatias de queijo, presunto, salame e de pernil de porco; passa manteiga vinda do interior em seis pães “cacetinhos”; frita dois bifes de filé mignon bovino; ferve um litro de leite e faz o café. Ela se esmera ao fazer a comida, porque sabe que o filho é muito exigente e reclama de tudo que não esteja do seu agrado. Depois comenta injuriada:

– E um “fio da peste” desse ainda vai pra casa dos outros parecendo um esfomeado que está passando fome! Ah, que raiva estou sentindo desse sujeito!…

Enquanto prepara o café da manhã dele, olha repetidas vezes para o relógio de parede colocado estrategicamente na cozinha. Depois fica nervosa quando vê o tempo avançar e ele continua dormindo. Está ansiosa para ver a que horas o filho preguiçoso vai se levantar da cama. Na última espiada que dá no relógio, ela esbugalha os olhos e solta fumaça pelas ventas quando percebe que só faltam quinze minutos para o meio-dia. Nesse momento ela fica irritada e bate repetidas vezes com força uma panela de alumínio em cima da pia de inox, fazendo um barulho enorme.

JUNHÃO

Poucos minutos depois ele passa para o banheiro com um mau humor terrível. Os cabelos estão desgrenhados, barba por fazer, olhos vermelhos parecendo brasas, olheiras acentuadas e a voz rouca. Na realidade está todo amarrotado. É o seu retrato fiel de mais uma noitada na farra. Ao ver a mãe explode de raiva:

– Mas, rapaz!… Você não tem jeito. Que zorra é essa?!… Será que ninguém pode dormir em paz nesta casa?!… Você não mora sozinha pra ficar fazendo baderna de madrugada! Parece que é doida varrida?! Vou dar queixa ao paizão por causa dessa perturbação fora de hora que você faz aqui em casa.

CEIÇA

Por instantes ela fica zonza com o esporro acompanhado de ameaça contra ela e arregala os olhos ao ouvir tamanha inversão de valores. A seguir reage embrutecida:

– “Peraí, cabra safado”!… Eu “tou” entalada com você até aqui na garganta! – nesse momento ela espalma a mão, junta os dedos e passa rápido no pescoço para mostrá-lo até aonde está o nível da sua raiva.

Depois completa demostrando ira:

– Ah, se estou!… Vem “pracá” com a sua má-criação que você vai ver, vagabundo ordinário! Você está pensando que é quem “no jogo do bicho”, pra ficar reclamando comigo?!!!

JUNHÃO

Ao vê-la enraivecida, ele finge inocência e desconversa:

– Não me diga que você está com raiva só porque eu pedi paz para poder dormir tranquilo sem essa zoada sua…

CEIÇA

Ri com deboche. A seguir grita com toda a sua fúria:

– Oh seu filho duma jumenta, não se faça de sonso! Eu estou falando que se você quisesse ter boa vida pra dormir até a hora que quisesse, teria aceitado o casamento com Eugênia, a filha do coronel Clemente, seu peste malparido!

JUNHÃO

Ele olha assustado para a mãe e logo a seguir usa da sagacidade para a sua defesa. Dá uma risada sonora e argumenta em proveito próprio:

– Ora, o seu estresse é por causa disso?!… Porque não falou antes?!… Simplesmente não noivei, porque não rolou química entre mim e a “sujeitinha” tonta lá do interior; ou eu sou obrigado a realizar todos os seus desvarios?

CEIÇA

Com a cabeça fumaçando através dos bóbis ela cerra as sobrancelhas, arregala os olhos, coloca uma mão nas cadeiras e a outra no queixo. Está enfezada fazendo bico com os beiços e em silêncio observando o filho detidamente com o olhar de recriminação. Demonstra nervosismo balançando a ponta de um dos pés que não está apoiado totalmente no chão. Percebe que poderá explodir de raiva a qualquer momento. Está espumando de ódio a ponto de perder as estribeiras. Mas, tentando aparentar estar calma, relata com a voz severa o motivo da sua angústia:

– As notícias a seu respeito não são boas, ouviu mocinho?!… Fiquei sabendo de outra bomba sua, seu nojento! Hoje pela manhã a minha amiga Nerinha “mim” telefonou contando o salseiro que você praticou durante a viagem de volta.

JUNHÃO

Ao ouvir o nome Nerinha ele fica revoltado e a interrompe reclamando:

– Ah, lá vem você de novo com fuxico dessa fulana mal-amada! Já lhe disse que essa sua amiga é do mal, porque é muito fofoqueira. Diga a essa coroa carcomida pra “desencarnar de mim”; “largar do meu pé”; “mim errar”. Essa sujeita não tem outro assunto pra comentar?!… Agora eu virei o Cristo pra ela querer ficar me condenando?!…

Para por instantes e, com raiva, volta a se queixar da amiga da mãe:

– Já não basta o mexerico que essa fulana fez quando fui jantar na casa do coronel Clemente?!… Agora ela aparece com mais uma fofoca. Será que essa mulher não tem nada pra fazer?! Parece que vive fuçando a minha vida só pra fuxicar com o meu nome!…

Determinado, afirma:

– Ela contou uma versão distorcida do que fiz naquele maldito jantar que me convidaram; com certeza essa conversa é mais outra invenção dela. Estou pra ver uma criatura maldosa igual a ela…

Mas, curioso para saber até aonde ia o conhecimento da mãe sobre a sua viagem de volta, pergunta:

– Mas diga aí, qual foi o babado dessa vez?!…

CEIÇA

Está perplexa com a dissimulação do filho e começa a repreendê-lo:

– Oh seu cabeça de bagre!… Você sabe perfeitamente que não foi à casa do coronel Clemente simplesmente para jantar. Quem é você pra ser o convidado de honra de gente importante só pra comer?!

E continua lamentando:

– Você é um menino desavergonhado que só “mim” dá desgosto, ao invés de orgulho. Hoje poderia estar muito bem na vida com o “burro na sombra”, vivendo no meio dos ricaços e com uma grande possibilidade de se tornar um deles. Mas, como quer viver feito um maloqueiro, jogou tudo pro alto, porque esbagaça tudo o que eu arranjo pra você ter um futuro glorioso.

Depois fala com desgosto:

– Só sendo um elemento fuleiro da “cabeça de vento” pra deixar a Eugênia, uma moça formosa, na “rua da amargura” …

A seguir resolve começar a dizer o motivo do seu engasgamento causado pelo filho:

– Mas você é um ingrato! A pobre da Nerinha continua sofrendo porque quis ajudar você. Agora, sem a menor cerimônia, vive esculhambando a coitada. Todo mundo que teve contato com você nessa sua malfadada viagem tem uma queixa. Inclusive eu, que nem lá eu fui!

Complacente, resmunga:

– Estou pra ver um menino desajuizado igual a esse…

Logo após o comentário, continua raivosa:

– Até o motorista do ônibus que trouxe você de volta pra Salvador contou a Nerinha sobre os seus desatinos durante toda a viagem. O coitado ameaçou até abandonar a profissão se você continuar viajando com ele.

E completa lamentando:

– O coitado depois que lhe transportou está fazendo tratamento com uma psicóloga, porque todas as noites tem pesadelos terríveis com você aparecendo feito um zumbi para aterrorizar a mente dele. O pobre homem disse a Nerinha que está a ponto de endoidar, porque os passageiros quando ingressam no ônibus ele vê todos com a sua cara e fica temendo que irão fazer uma grande confusão no coletivo durante a viagem.

Ainda falando sobre o motorista ela diz:

– Inclusive o coitado disse que está vendo a hora de ser despedido da empresa, porque durante as viagens ele muitas vezes não para nos pontos da estrada porque enxerga as pessoas com o seu semblante e fica com medo das balbúrdias que poderão promover.

E conclui revoltada:

– “Tá” vendo aí, o resultado das suas artes?!… Você deixou o motorista traumatizado.

JUNHÃO

Interrompe a fala da mãe e responde com rispidez:

– Ah, então é isso?!… Agora apareceu mais outro fofoqueiro safado! Quer dizer que fizeram um complô contra mim naquela cidadezinha, não é?! Eu devia não ter feito aquela viagem! Eu estava muito bem aqui, mas você ficou fustigando o meu juízo com a sua prosa ruim…

Nesse momento ele entorta a boca fazendo careta e amolece a língua para arremedar a mãe:

– Juninho, meu filhinho querido, você vai se dar bem na vida porque irá casar com uma moça rica e muito bonita. Você não quis estudar, portanto eu já ajeitei o seu futuro, meu anjo. O pai da moça é gente boa e vai lhe amparar.

De repente ele para com a imitação grotesca, engrossa o tom de voz e diz irritado:

– Gente boa, uma zorra!!!… Amparar merda nenhuma! Aquele velho botou os capangas armados para que me enxotassem de lá da fazenda sem ter nenhum motivo.

Para por instantes, em seguida reclama:

– Vocês estão chateadas comigo só porque eu não quis casar com aquela loirinha desmilinguida, insossa, “sem sal e sem açúcar” e tirada a grã-fina. E por causa disso virei o inimigo público número um de todo mundo! Agora me aparece até o diabo de um motorista de ônibus contra mim!

Em seguida, acusa:

– Esse indivíduo deve ter recebido propina do tal “coroné” pra ficar me caluniando!

CEIÇA

Cada vez mais fica assustada com as palavras difamatórias do filho sobre as pessoas. Num ímpeto resolve continuar contando o que está deixando-a aborrecida com referência ao comportamento do filho durante a viagem. Autoritária, diz:

– Você lá tem moral pra falar de ninguém, sujeito sem compostura! E não fique “defamando” a Eugênia, a nora dos meus sonhos, porque ela não é nada disso do que você falou! Nerinha disse que ela é a moça mais linda e cobiçada pelos rapazes ricos da região! E o coronel Clemente deu a preferência a você, porque atendeu ao pedido dela. E olha aí o resultado da sua vagabundagem!

Continua a fala com irritação:

– Tome vergonha na cara e pare de ficar caluniando o coronel Clemente! Ele não é da sua laia pra ficar dando dinheiro aos outros para fazerem algo de errado, porque é um homem muito direito e jamais iria se sujar por causa de um zé-ninguém igual a você!

Depois profere enfezada:

– Deixa de ser cara-lisa, “cabra safado”! Você é quem mais sabe dos seus malfeitos! Todo mundo que lhe conheceu viu como você é um desmantelado e sem costumes!

A seguir continua:

– O motorista disse a Nerinha que você transformou a viagem do ônibus num inferno. Muito espaçoso, ficou todo espojado, na maior folga, querendo ocupar o espaço de duas poltronas. Aos poucos você foi se expandindo e empurrando um velhinho que estava sentado ao seu lado. O velho foi cedendo até ficar todo encolhido num cantinho.

Ainda revoltada com o ocorrido, relata:

– Você estando com o rabo cheio de cachaça, começou a roncar muito alto e a soltar gases estrondosos incomodando os vizinhos de poltrona com a fedentina. O pobre senhor ficou revoltado com mais esse abuso e reclamou alto da sua falta de educação e a resposta malcriada que você deu foi a de que os incomodados que se mudem.

Lembrando-se de mais um fato, relata:

– Uma mocinha que estava sentada numa poltrona do outro lado do corredor levantou-se e fez o maior bafafá apontando para você. Gritou alto para todos os passageiros com a voz fanhosa por causa do nariz tapado: acorda, gente! aquele sujeito ali está podre!

Ainda se referindo à mocinha, conta como foi o escândalo promovido aos gritos:

– “Vixe, Maria”!… Misericórdia!!!… Ele comeu carniça!… Vamos orar pra ver se consegue salvar a alma, porque o corpo já está podre!

Continua relatando os berros da mocinha:

– Não tem um ser vivente que aguente sobreviver junto a um esgoto desse! Acordem logo pra não morrerem todos sufocados!

Muito zangada, Ceiça prossegue com o assunto:

– Mas a mocinha não sabia que você tinha jantado uma ótima refeição e que o fedor dos gases era por causa da sua “cachaçada”. “Tá” vendo aí o resultado das suas bebedeiras?!…

Para um pouco e senta-se à mesa. Está com os olhos vermelhos de tanto chorar. Então apoia o rosto com a mão e volta a narrar a funesta viagem:

– Como se não bastasse essa sem-vergonhice, você se levantou ligeiro da poltrona e gritou para o velhinho empurrando com brutalidade as pernas do coitado para conseguir chegar no corredor: sai da frente coroa, porque estou apressado!

Mesmo estando horrorizada com as queixas sobre o filho ela continua a expor:

– Com essa zoada que você fez, quem ainda estava dormindo, acordou. Já estando no corredor do coletivo foi ligeiro para o mictório gritando feito um alucinado: sai de baixo que lá vai bomba! E começou a expelir vômitos para o alto melando tudo por onde passava. Até o teto do coletivo ficou todo respingado com o melaço asqueroso escorrendo. Inclusive, nem as poltronas e nem os passageiros que estavam perto do corredor por onde você passou escaparam dos jatos da sua meleira.

Muito irritada, continua relatando o ocorrido:

– Ao sofrer a agressão devido aos empurrões no joelho, o pobre velho começou a gritar chamando pela neta que estava sentada um pouco atrás: me acode Ester, porque esse sujeito “tá” maluco!

Enquanto ela fala o Junhão sorri com cinismo, possivelmente se vangloriando do tumulto que causou no coletivo. A mãe continua a contar o que ouviu da amiga Nerinha:

– O velho fez um escarcéu tão grande que o alvoroço se estabeleceu dentre os passageiros das poltronas dianteiras querendo saber o que estava ocorrendo no ônibus. E todos ficaram desassossegados por sua causa. Apesar disso o motorista prosseguiu com a viagem fingindo não perceber nada, mas estava aflito com a confusão; afinal ele tinha horário a cumprir.

Enraivada, continua:

– Mas você não tinha horário e nem limites, porque o seu negócio é badernar por onde passa parecendo um “biribano”! Por estar muito afobado, não conseguiu abrir a porta do sanitário do ônibus. Nesse momento você tornou o coletivo num inferno gritando: venham acudir ligeiro, porque a porta está travada e eu “tou” me borrando!!!…

A seguir ela conta:

– Então, logo depois você berrou chamando um homem forte pra arrombar a porta, porque senão, ia despejar tudo no chão do corredor!

Junhão dá uma gargalhada, orgulhoso do seu feito. Isso revolta ainda mais a mãe que grita para ele:

– Isso ficou bonito pra sua cara?!… E você, que diabo de homem é que precisa chamar por outro?!… Um sujeito que não faz nada na vida, come de tudo, do bom e do melhor, é forte, bem nutrido e dorme o tempo inteiro… Que fraqueza é essa?!…

A seguir pergunta com indignação:

– Por que precisa fazer escândalo chamando um homem pra abrir uma portinha do sanitário de um ônibus? Mas, para alívio dos outros passageiros, um cidadão solícito destravou a porta no intuito de obter o sossego para poder dormir durante o restante da viagem.

Para um pouco e depois continua:

– Mas não adiantou a gentileza dele, porque quando você saiu do sanitário os passageiros não conseguiram ter paz. A fedentina empestou todo o coletivo, pois um defeito impediu que a portinhola fosse fechada novamente. E também porque desde o chão do corredor até vaso onde era pra urinar você breou tudo de merda. Como se não bastasse isso tudo, ainda teve o fedor do vômito espalhado por onde você passou.

Para por instantes enquanto suspira forte e depois continua contando:

– Por isso todos os passageiros exigiram que o ônibus fosse levado para fazer a limpeza do coletivo em Feira de Santana. Tiveram de esperar por horas na garagem da empresa de viação do ônibus até que lavassem e desinfetassem todo o veículo. Ao invés ter ficado envergonhado perante as pessoas e pedido desculpas pelo malfeito, você foi para um boteco tomar mais cachaça. Ah, sujeito!…

E complementa:

– Enquanto você bebia aparentando que estava tudo bem, alguns passageiros, coitados, tiveram de ir a uma pia para lavar as roupas que você sujou com a sua imundice…

A seguir comenta:

– Estou começando a acreditar no que as pessoas sempre “mim” dizem de que você é um caso sem jeito.

Mais uma vez ela para; afinal estava se desengasgando de tanto malfeito do Junhão. Nesse momento o filho abaixa a cabeça como se estivesse refletindo sobre o assunto, mas, ao contrário disso, continua com um riso cínico no canto dos lábios. A mãe continua com a sua revolta:

– Depois do ônibus totalmente lavado e higienizado seguiram viagem e tudo parecia normal. As pessoas voltaram a dormir tranquilas, mas você não, porque estava endemoninhado! O “Zé Pilintra” continuava incorporado em você ditando os malefícios para o doidão do Júnior executar os malfeitos sem se preocupar com o bem-estar dos outros passageiros…

A seguir continua relatando:

– O dia já tinha amanhecido com o ônibus finalmente chegando em Simões Filho, quando você, ordinário, gritou a plenos pulmões para acordar os cidadãos que estavam cansados por causa das suas perturbações: “motô”!… para o “buzú”! volte pra Feira de Santana porque o velhinho que estava sentado na poltrona ao meu lado ficou esquecido lá na garagem!

JUNHÃO

Resolve se pronunciar. Argumenta para tentar convencer a mãe:

– Lógico que eu tinha de cuidar do pobre velho. Na hora eu fiquei compadecido porque me lembrei do meu pai que também é idoso.

CEIÇA

Fica indignada e rebate revoltada:

– Você pensa nada em seu pai, seu merda! Idoso zorra nenhuma, seu picareta! Alcebíades só tem cinquenta e três anos! Isso é idade de idoso, seu peste?!… Se você pensasse nele já teria terminado os estudos e estaria trabalhando para aliviar a carga pesada que ele tem para continuar levando nas costas um jumento igual a você!

Depois fala rancorosa:

– E também se pensasse nele teria aceitado o casamento com Eugênia…

A seguir completa a fala:

– O velho estava viajando com a neta! Ela que cuidasse do avô e não você, seu babaca.

E conclui:

– Eu ainda vou no colégio pedir pra eles imprimirem o atestado de burro que te deram. Quero fazer várias cópias pra toda hora esfregar uma delas na sua cara. Você vai ver, sua “miséra”!

 

JUNHÃO

Está com o semblante tranquilo e resolve se pronunciar:

– Ora!… A neta do velhinho, a tal de Ester, estava o tempo inteiro com fones no ouvido curtindo músicas e não se preocupava com o avô. O velho foi o culpado do tumulto porque, ao invés de se sentar novamente junto a mim, resolveu ir para outra poltrona bem longe de onde eu estava. Por causa disso terminei me esquecendo do velhote e só me lembrei dele quando já estava perto de salvador.

CEIÇA

Fica revoltada com o filho e reclama lamentando:

– Não sei mais o que fazer pra botar juízo em sua cabeça. Você causou tanto rebuliço dentro do ônibus por causa do velho que o motorista retornou até a garagem em Feira de Santana. Quando chegaram lá descobriram que o velhinho estava dormindo dentro do coletivo.

Desolada, comenta:

– Com o atraso na viagem todos os passageiros ficaram revoltados e queriam linchar você em plena viagem na volta para Salvador. Por causa dessa viagem tumultuada o pobre do motorista foi repreendido e recebeu uma suspensão de trinta dias pelo atraso no horário e por ter desperdiçado tanto combustível sem necessidade.

A seguir justifica:

– O pobre estava tão transtornado com a desordem que você promoveu que retornou imediatamente para Feira de Santana, sem ter antes conferido os passageiros pela lista que ele tinha. Esse é o resultado da sua petulância!

Ainda demonstrando amargura, reclama:

– Você é mesmo um cínico. Pelo que eu soube, o único que estava sem se preocupar com nada era você. Se você tivesse se comportado feito gente na casa do coronel Clemente, poderia ter noivado e ficado lá por uma semana, no mínimo, cheio de mordomias e teria evitado todos esses “pobremas” pra mim.

Depois conclui chorosa:

– Mas “quem quer ser da lama não aceita cama” … Infelizmente o seu pai não vai ficar sabendo de nada dos malfeitos que você vive aprontando e essa cruz pesada continua ficando em minhas costas.

A seguir lamenta:

– Oh, meu Deus!… Quando é que vai acabar esse meu tormento?

JUNHÃO

Continua tranquilo. De repente engrossa a voz e ordena:

– Como é rapaz?!… Deixe de lengalenga, porque já está tudo resolvido entre nós. Tomei o café da manhã e agora bote ligeiro o meu rango porque estou com fome e adoro fazer uma sesta após o almoço.

Muito sorridente, afirma:

– Não tem coisa melhor do que tirar uma soneca depois de comer.

CEIÇA

Mesmo enfezada, ao ouvir as ordens do filho se apressa em colocar a comida na mesa. Apenas comenta injuriada:

– “Crém Deus Pade”! Só Jesus na causa pra tirar a folga desse menino.

JUNHÃO

Vai para o quarto descansar após o almoço. Ao se deitar, reclama:

– Ah, mulherzinha aloprada!… Ela parece uma sanguessuga em meu juízo. Nunca vi alguém gostar tanto de fuxico e confusão. Esse é o estilo dela só para tirar a minha paz de espírito!

CEIÇA

Estando sozinha, comenta sem ânimo:

– Ainda vou ter que orar muito pra ver se consigo retirar esse espírito maligno que é o encosto que está prejudicando a vida do meu filhinho.

E conclui com fervor:

– Com a força das minhas orações, esse excomungado vai deixar o corpo e a mente do meu Juninho em paz….

 

Autor: Joswilton Lima

Joswilton Lima é natural de Ilhéus-Ba, mas é domiciliado há mais de vinte anos em Morro do Chapéu. Tem formação em Ciências Econômicas, mas sempre foi voltado para as artes desde a infância quando começou a pintar as primeiras telas e a fazer os seus primeiros escritos. Como artista plástico participou de salões onde foi premiado com medalhas de ouro e também de inúmeras exposições coletivas nos estados da Bahia, Sergipe e Pernambuco. Possui obras que fazem parte do acervo de colecionadores particulares e entidades tanto no Brasil, quanto em países do exterior, a exemplo dos E.U.A, Portugal, Espanha, França, Itália e Alemanha.

Em determinada época, lecionou pintura em seu atelier no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, e foi membro de comissões julgadoras em concursos de pintura. Nesse período exerceu a função de Diretor na Associação dos Artistas Populares do Centro Histórico do Pelourinho (primitivistas e naif’s), em Salvador.

Como escritor também foi premiado em diversos concursos de contos tendo lançado um e-book com o título “Enigmas da Escuridão”, com abordagem espiritualista, tendo obtido a nota máxima de 5 estrelas de leitores do site www.amazon.com.br Outros contos e romances também estão sendo escritos.

Concomitante às atividades artísticas, sempre exerceu funções laboriosas em diversos setores produtivos e, por último, se aposentou na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, onde trabalhou por muitos anos na Fiscalização.

Agora tem o prazer de apresentar aos leitores do site www.leoricardonoticias.com.br o seriado de crônicas intituladas Episódios do Junhão, com as quais espera que tenham uma leitura agradável e de reflexão.

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