‘Junhão’ ganhou uma irmã: Anita
A família continua crescendo. Chegou Analice!
Qual não foi a nossa alegria ao saber que tem mais uma novidade para os leitores morrenses que acompanham os Episódios do Junhão de qualquer parte do planeta: Analice.
Analice é um conto que relata uma estória onde o personagem fica deslumbrado ao encontrar o amor da sua vida. Depois de estarem enamorados e ele fazer muitas promessas, será que vai conseguir cumpri-las ou ela não irá aceitar o casamento proposto?
A fantasia do conto indica que a mente humana é livre, embora muitas vezes seja cerceada, por isso a sinopse não poderá dar detalhes que poderão malograr a intenção da estória ter um final fantástico.
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O escritor Joswilton Lima registrou os seus livros na Biblioteca Nacional do Brasil e está de posse dos Certificados. Para aquisição do livro físico ou digital é só clicar na capa:
MENOR INFRATOR
CEIÇA
Sessenta anos de idade. Chega em casa muito alegre. Está rindo à toa e explana o motivo do seu contentamento gritando:
– Até que enfim consegui me aposentar!!!… Graças a Deus agora vou ter o meu dinheiro pra esbanjar do jeito que eu quiser! Não quero ninguém me dando ordem!
JUNHÃO
Quarenta anos de idade. Está deitado no sofá da sala descansando – não sei de que. Ao ouvir o que a mãe disse, demonstra surpresa e debocha:
– Mas como conseguiu se aposentar, se você nunca trabalhou?!…
CEIÇA
Faz de conta que não ouve o questionamento do filho, mas, mesmo assim, resolve retrucar:
– E o trabalho que tenho pra criar você, não conta? Ora…, “mim” deixe, viu?!…
Mas, estando muito contente, continua o relato com empolgação:
– Filhinho, veja o meu cartão magnético que o “éni-pê-éssi” mandou pra mim! Todo início de mês terei direito a um salário mínimo; é só eu ir ao banco e sacar o meu benefício!
Parecendo que nutre alguma revolta, fala:
– De hoje em diante serei a dona do meu nariz. Não vou mais precisar ficar “mim homilhando” ao seu pai pedindo dinheiro. Finalmente a minha independência financeira chegou!
E completa com fervor religioso:
– Oh, glória! Jesus é poderoso!…
JUNHÃO
Está curioso para saber como ela conseguiu tamanho feito e sugere:
– Se é assim na maciota, eu também vou me aposentar. Quero que me dê o canal de quem você subornou lá na repartição. “Me diga” o nome dos caras que fizeram esse trambique pra você.
Resoluto, anuncia cheio de esperança:
– Amanhã cedo irei à agência do INPS pra conseguir também a minha carta de alforria recheada de dinheiro todo mês. Também estou querendo a minha independência financeira.
E conclui demonstrando a sua ingratidão:
– Vivo doido pra me livrar de vocês!
CEIÇA
Fica irritada com a ofensa gratuita e rebate:
– “Peraí” mocinho, veja lá como fala comigo!… Em primeiro lugar eu não sou do seu naipe pra andar fazendo negócio escuso. Ouviu bem?!
Depois explica como adquiriu o direito à aposentadoria:
– Pra usufruir desse direito, eu paguei durante muitos anos o carnê de contribuições mensais, porque disse a eles que a minha profissão era a de cuidadora de um menino deficiente.
A seguir, debocha:
– Adivinhe quem eu citei que era o malandro deficiente que eu cuido?!…
Depois fica enfurecida e continua falando:
– Não fiz nada de errado! Além do mais sou uma mulher honesta e não aceito esse negócio de corrupção. E tem mais: se você quer se livrar da gente é só ir embora.
E conclui com veemência fazendo bico com os beiços e apontando o dedo indicador na direção da porta de saída do apartamento dizendo com rispidez:
– A porta da rua é a serventia da casa!
JUNHÃO
Fica intimidado e não responde. Pouco depois comenta baixinho:
– Já sei que a velha está cheia do dinheiro da aposentadoria. Com certeza ela vai liberar mais grana pra minhas farras. Vou aumentar o meu harém de “ficantes”.
Após pensar por momentos, conclui o raciocínio:
– É por causa da “miséra” desse tal de carnê que ela pagava, que o dinheiro andava regrado aqui em casa e eu fiquei no miserê. Mas no final tudo vai terminar bem, quando eu rapar a grana dela.
E sorri com cinismo.
CEIÇA
Está tão eufórica que continua falando sobre as suas pretensões, cheias de sonhos mirabolantes e desvarios:
– Já estou cansada de tanto trabalhar nesta casa. Afinal de contas, vida de aposentada é pra não fazer nada. De agora em diante vou viver de pernas pra cima, só viajando…
Empolgada, parecendo que ganhou uma fortuna na loteria, afirma:
– Por isso eu vou contratar diaristas pra fazer faxinas diárias no apartamento. Adoro limpeza!
Entusiasmada, continua a historiar como será a sua vida doravante:
– Com o meu dinheiro vou poder pagar uma fornecedora de marmitas pra não precisar mais cozinhar. Aos domingos, eu e você iremos fazer as refeições em restaurantes requintados.
Ainda imaginando como terá uma boa-vida, diz:
– Comprarei roupas e sapatos novos, de grife. Vou dar uma escova permanente nos cabelos pra ficar linda, mais do que já sou.
Continua com o devaneio afirmando:
– Com o meu contracheque nas mãos, vou financiar um carro popular em cento e oitenta meses pra gente viajar pelo Brasil.
Em nenhum momento a aposentada, pretensa nova rica, se lembrou em ajudar financeiramente o pobre marido caixeiro-viajante nas pesadas despesas do lar.
JUNHÃO
Continua calado ouvindo as alucinações dela. Contudo acha impossível que um salário mínimo dê para cobrir tanto gasto. Por isso ele teme que a mãe na sua loucura estoure o dinheiro a torto e a direito e não sobre grana para as suas farras.
DIA DE RECEBER O PRIMEIRO BENEFÍCIO
CEIÇA
Está acamada sem poder se levantar da cama por causa da virose de uma gripe muito forte. Chama o filho e informa:
– Filhinho, essa gripe “disgraçada” me deixou de cama. Estou toda quebrada, justo hoje, o dia que eu deveria ir ao banco para sacar a minha primeira aposentadoria.
A seguir solicita quase implorando:
– Por isso estou lhe pedindo que me faça o favor de ir ao caixa do banco pra buscar o meu dinheiro.
JUNHÃO
Não perde a oportunidade para mostrar o seu lado oportunista. Sem pestanejar, exige:
– E eu vou ganhar quanto pelo serviço?!… Também preciso de roupas e sapatos novos, sabia? Só vou se puder ir e voltar de táxi.
CEIÇA
Apesar de estar fraca, revolta-se e, muito nervosa, dita ordens entre tosses intermitentes:
– Não vou pagar táxi zorra nenhuma!… Você vai e volta de “buzú”, do mesmo jeito que vai às suas farras!
JUNHÃO
Frustrado por não conseguir efetivar o seu plano ganancioso, lança mão de outro recurso ardiloso:
– Então assine algumas folhas de papel ofício em branco porque eu irei fazer as procurações autorizando Alcebíades Júnior a receber a sua grana.
Para justificar a malandragem, diz:
– Quero tirar o seu trabalho de ir ao banco todos os meses. É só pôr a sua assinatura que o resto do serviço é por minha conta. E não se preocupe com nada, porque eu faço tudo no “zero-oitocentos”!
CEIÇA
Com a testa franzida, arregala os olhos demonstrando temor e diz incisiva:
– “Ôxi”!… E quem lhe disse que precisa de procuração?!… Pra fazer o saque do meu dinheiro no caixa eletrônico do banco basta levar o cartão magnético.
Fica enervada e dá uma repreensão:
– Não fique inventando mutreta porque eu estou com os olhos bem abertos para evitar as suas maracutaias!
A seguir informa sobre a sua decisão:
– Além do mais, no próximo mês, se Deus quiser, eu já estarei livre da “miséra” dessa gripe insuportável e irei pessoalmente buscar o meu dinheiro, pra honra e glória de Jesus.
Depois determina:
– Agora pegue o cartão e a senha e vá logo!
JUNHÃO
Abaixa a cabeça e sai calado, provavelmente maquinando alguma coisa. Mas, ao contrário de todas as perspectivas, ele age da forma correta. Quando volta do banco entrega todo o dinheiro da aposentadoria a Ceiça e reclama:
– Está vendo aí?!… A sua grana está aqui. Estou provando que sou muito honesto e você fica desconfiando de mim à toa. Pare de querer ficar me difamando, ouviu?!
Para demonstrar que a mãe pode confiar nele, gaba-se:
– Trouxe até o último centavo; não quis deixar nada lá no banco pra não dar lucro ao governo!
Para evitar alguma contestação dela, explica:
– O dinheiro que fica na conta, o banco usa para fazer empréstimos e, mesmo assim, ainda cobram taxas de armazenamento!
E conclui comentando com deboche:
– Onde já se viu, cobrar pra guardar dinheiro?… Se você quiser guardar a sua aposentadoria na minha mão, eu não cobro nada.
A seguir dá uma sonora gargalhada.
CEIÇA
Está em êxtase de contentamento. Afinal o seu filhinho cumpriu com primor a função que ela lhe delegou.
UM MÊS DEPOIS – DIA DO PRÓXIMO BENEFÍCIO
CEIÇA
Volta do banco espumando de raiva. Nervosa, está envolta em chamas. Os olhos vermelhos estão esbugalhados parecendo querer saltar das órbitas. Entra no apartamento aos berros:
– Venha cá vagabundo pra devolver o dinheiro que você “mim” roubou!!!
JUNHÃO
Sai do quarto com uma calma impressionante e indaga:
– “Peraí”, o que houve, coroa?… Que escândalo é esse?! Pra que esse bafô?!
CEIÇA
Está irritada com a situação e chora soluçando, mesmo assim continua gritando:
– Que houve o quê, sonso?!!!… Não pude sacar um centavo sequer da minha aposentadoria! A minha conta está zerada, miserável!
Mais calma, após chorar por algum tempo, ela relata o que houve:
– Fiquei muito revoltada por não poder receber o meu benefício e armei o maior barraco na gerência exigindo que eles devolvessem o dinheiro que tinham roubado da minha conta.
Estando revoltada com a confusão que ela fez, diz:
– O bafafá foi tão grande que chamou a atenção de todos os clientes da agência. Quase que chamavam os “poliça”. A agonia só não foi maior porque Jesus estava no comando.
Indignada, lamenta envergonhada:
– Mas depois fiquei com a cara no chão, quando mostraram uma procuração que dava a você plenos poderes para realizar qualquer transação bancária em meu nome. Será possível uma merda dessa, Júnior?!!!…
Com muita raiva, reclama:
– Apesar de não querer acreditar no que vi, confirmei que você falsificou a minha assinatura, sua “disgraça”! Isso é estelionato, sabia?!…
Demonstrando uma tristeza profunda, diz:
– Temendo que você fosse preso como ladrão pé-de-chinelo, eu garanti a contragosto que a firma era minha. Para que eles acreditassem no que eu dizia, precisei fazer muitas juras ajoelhada no chão.
A seguir lamenta:
– Quando descobri a verdade faltou chão embaixo dos meus pés e eu não sabia aonde esconder a minha cara de tanta vergonha. Que papelão eu fiz, meu Deus!
Muito zangada, fala:
– Por causa da sua desonestidade vou ficar sem poder receber a minha aposentadoria por quinze anos até pagar todos os empréstimos.
Tristonha, diz um ditado popular como se estivesse resignada:
– Quando Deus dá a farinha, o diabo carrega o saco.
Depois lamenta:
– E agora, o que vai ser de mim, meu Deus?!… Estou cheia de dívidas por sua causa, seu infame!
Angustiada com o problema causado pelo filho, fala:
– Confiando em receber a aposentadoria eu comprei fiado em várias lojas para pagar as prestações a partir deste mês. Como vou saldar os meus débitos?!
Chateada, faz queixa sobre o seu futuro sombrio:
– Agora estou toda arrombada por sua causa. Devido à sua gatunagem, os meus sonhos foram por água abaixo. Só Jesus na causa!…
De repente ela se lembra de algo e fala:
– Dessa vez eu não tenho salvação quando Alcebíades descobrir o desfalque que vou dar no dinheiro que ele manda. Infelizmente, é o único jeito que tenho pra cobrir os meus débitos.
Desconsolada, diz:
– E o pior é que ainda tem você com essa boca de “mim dá” pedindo dinheiro para as suas farras!
Temendo um provável castigo do marido quando ele perceber o desvio da verba destinada à manutenção do lar, diz chorosa:
– Ele vai ficar retado e vai me punir. Com certeza vou ser expulsa de casa com a fama de ladrona. Que triste sina, meu Deus!
Incisiva, ameaça o meliante doméstico esquecendo-se da idade dele:
– Você é um menor infrator! Eu vou prestar queixa no Conselho Tutelar! Lugar de ladrãozinho desnaturado é ser internado na FEBEM!…
JUNHÃO
Ele já não pode ouvi-la. Aproveitou a fragilidade do estado emocional da mãe para evadir-se do apartamento em surdina. Estando na rua, entra sorridente no seu automóvel seminovo comprado com o dinheiro surrupiado dos empréstimos. E vai contente buscar a namorada Janete para irem curtir a “segunda-feira gorda” no bairro da Ribeira. Com muito dinheiro nos bolsos, a fartura será regada a músicas do tipo “pagodão”.
Irão almoçar cozido preparado com verduras, carne de costela, de peito, músculo, charque, defumados, chouriços, pirão delicioso e molho “lambão” de pimenta malagueta. Também não irá faltar muitas cervejas geladas.
Quando estiver curtindo na farra, nem de longe ele vai se lembrar da pobre mãe que está acamada por causa do desgosto que tivera. E ela jamais irá imaginar que o seu filhinho amado está na esbórnia tirando onda de novo-rico às custas dos seus sonhos.
CEIÇA
Apesar de estar deprimida com o golpe sofrido, ainda assim tenta justificar a atitude do filho:
– O Juninho não faz por mal essas coisas erradas. É porque o coitado foi criado com o pai ausente de casa.
Apesar dos pesares, a infeliz culpa o esposo trabalhador por causas das falhas que ela própria cometeu na educação doméstica do filho.
Autor: Joswilton Lima
Joswilton Lima é natural de Ilhéus-Ba, mas é domiciliado há mais de vinte anos em Morro do Chapéu. Tem formação em Ciências Econômicas, mas sempre foi voltado para as artes desde a infância quando começou a pintar as primeiras telas e a fazer os seus primeiros escritos. Como artista plástico participou de salões onde foi premiado com medalhas de ouro e também de inúmeras exposições coletivas nos estados da Bahia, Sergipe e Pernambuco. Possui obras que fazem parte do acervo de colecionadores particulares e entidades tanto no Brasil, quanto em países do exterior, a exemplo dos E.U.A, Portugal, Espanha, França, Itália e Alemanha.
Em determinada época, lecionou pintura em seu atelier no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, e foi membro de comissões julgadoras em concursos de pintura. Nesse período exerceu a função de Diretor na Associação dos Artistas Populares do Centro Histórico do Pelourinho (primitivistas e naif’s), em Salvador.
Como escritor também foi premiado em diversos concursos de contos tendo lançado um e-book com o título “Enigmas da Escuridão”, com abordagem espiritualista, tendo obtido a nota máxima de 5 estrelas de leitores do site www.amazon.com.br Outros contos e romances também estão sendo escritos.
Concomitante às atividades artísticas, sempre exerceu funções laboriosas em diversos setores produtivos e, por último, se aposentou na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, onde trabalhou por muitos anos na Fiscalização.
Agora tem o prazer de apresentar aos leitores do site www.leoricardonoticias.com.br o seriado de crônicas intituladas Episódios do Junhão, com as quais espera que tenham uma leitura agradável e de reflexão.