Episódios do Junhão: ‘FANTASIA MISERÊ’ e novo livro do autor

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Mais um livro do escritor Joswilton Lima, autor dos Episódios do Junhão, será publicado em breve pela Editora Amazon. Com o título de “O Cigano Violeiro” é um conto fantasioso destinado ao público adulto e juvenil que narra as superstições existentes nas comunidades rurais do interior.

O livro relata a vida simples e feliz dos personagens, mas que é totalmente alterada devido a visita inesperada na região de um indivíduo pernicioso.

A ficção da estória irá deixar os leitores surpreendidos por causa do final fantástico.

As ilustrações também são autor. A capa é uma pintura digital com o mouse, experiência nova que mesmo com toda a dificuldade da adaptação, deu um bom resultado.

As ilustrações internas são fotos de pinturas a óleo, também do autor.

O livro “O Cigano Violeiro” já foi publicado pela Editora Amazon.

Está disponível na amazon.com (o livro impresso) e na amazon.com.br (a versão digital).

 

 

Com a retomada das atividades em nosso site, continuamos a usufruir da criatividade de amigos (as) que, por meio da sua atividade literária, presenteiam nosso leitores com textos de encher os olhos e fazer a alma viajar.

 

Assim, os Episódios do Junhão serão revisitados e começamos com a presentação do livro que esta disponível pela Amazon.com.br no endereço https://www.amazon.com.br/Epis%C3%B3dios-Junh%C3%A3o-Joswilton-Jorge-Nunes/dp/B08PQP2SF2 e você confere o novo episódio:

 

FANTASIA MISERÊ

 

JUNHÃO

Vinte e quatro anos de idade. Entra contente no apartamento carregado de embrulhos e vai direto para o quarto. Está tão empolgado com as compras que ao se isolar esquece de trancar a porta. A seguir abre os pacotes e coloca o que adquiriu sobre a cama. Cuidadosamente estende um vestido vermelho de chita com o tecido estampado de grandes flores coloridas. Na barra da saia, encimando a bainha, estão sobrepostas tiras de rendas de ponto cheio, dando um toque brega à vestimenta. Depois ele coloca junto da roupa um cachecol de tafetá que complementa o traje. Para compor a vestimenta tem uma peruca loura, uma caixa de maquiagem e um par de sapatos feminino de salto alto, tipo plataforma.

Também expõe sobre a cama uma meia longa, sexy, rede de peixe, de malha grande, da cor negra. Completando a arrumação da moda grotesca, frascos de purpurinas coloridas são harmoniosamente dispostos de acordo com a tonalidade. Por fim, em cima do criado-mudo, coloca batom e esmalte da cor carmim.

Após dispor as compras, Junhão esfrega as mãos com ansiedade e depois alisa o queixo, enquanto olha o calendário pendurado na parede do quarto para ver quantos dias ainda faltam para começar o carnaval. Depois fica absorto admirando a fantasia que irá usar nos festejos. Está se imaginando que durante a alegria momesca irá pular nas ruas ao som de trios elétricos famosos.

Apesar da indumentária feminina, sonha em arranjar inúmeras namoradas durante a festa. Pelo menos foi isso que os amigos do grupo garantiram, devido à frivolidade que irá reinar. Eis que, inesperadamente, toma um susto enorme ao ouvir um grito estridente que estronda às suas costas. Olha para trás e vê a mãe com os olhos vermelhos, esbugalhados e totalmente fora de si.

CEIÇA

Quarenta e quatro anos de idade. Quando entra no quarto do filho sem que ele perceba, imediatamente franze as sobrancelhas, fica vermelha de raiva e envolta em labaredas. Como se não bastasse, fica enlouquecida e coloca os antebraços sobre a cabeça. A seguir grita nervosa:

– Uai, meu Deus!!!… Mas que diabo é isso?!… De quem é essa roupa de nigrinha, seu merda?!… “Népussivel” que uma desgraceira dessa esteja ocorrendo em minha casa e bem debaixo do meu “fucinho”!

Ela ficou desconfiada de que o filho estava fazendo algo errado desde a hora em que ele entrou no apartamento com as compras. Mas como passou presunçoso por ela sem lhe dar atenção, ficou curiosa. Porém, devido ao modo arrogante do filho, ela não ficou à vontade para perguntar qual o motivo daquelas sacolas. Por não conseguir desvendar o segredo do esbanjamento de tanto dinheiro, entra no quarto para descobrir qual é a tramóia dele.

JUNHÃO

Com o susto, os olhos dele ficam arregalados de pavor. Mesmo estando atemorizado com o flagrante, tenta manter a calma e responde com a voz trêmula:

– Tenha calma… Eu posso explicar…

CEIÇA

Irritada com a desfaçatez do filho ela vocifera:

– Explicar o que, seu “fela da puta”!!!… Você tem lá condição de explicar zorra nenhuma! Você quer “vim” com “cheiro-mole” pra “mim” enrolar, seu safado?! Você acha que existe alguma explicação pra uma merda “dessa”?!… Hem, Júnior?!!!…

JUNHÃO

Fica temeroso, mas responde de modo tímido:

– É apenas uma fantasia, porque a turma me chamou pra brincar no carnaval…

CEIÇA

Furiosa, a cabeça começa a fumaçar e esquenta tanto a ponto dos bóbis pipocarem e se desprenderem dos cabelos. Muito exaltada ela pergunta:

– Essa turma chamou você pra “quêeee”, seu cabeça de vento?!!!… E se essa tal de galera “lhe chamar” pra você se atirar de cima do Elevador Lacerda, você se joga, seu cabeça de bagre?!…

JUNHÃO

Mesmo sem graça ele tenta continuar com a explicação:

– É que o nosso grupo resolveu sair num bloco de travestidos durante o carnaval…

CEIÇA

Fica enlouquecida com o que ouve e dramatiza:

– Bloco de “quêeee”?!!!… Será que eu ouvi direito, ou eu “tou” surda?!… Misericórdia! “Crém Deus Pade”! O sangue de Cristo tem poder! Você não vai participar de uma “miséra” dessa, Júnior!!!… E você sabe o que é travestido, seu ordinário!

A seguir reclama:

– Só Jesus na causa. Eu nunca vi um menino ser tão desajuizado igual a esse! O sujeito nasce homem e agora quer sair na rua vestido de mulher. Vê se pode uma merda dessa?!…

Preocupada com o futuro do filho, determina:

– Vou levar ele ao pediatra “dotô” Ednaldo pra operar o juízo dele. Vou exigir que ele faça uma lobotomia pra corrigir esse desvio do Júnior. Só assim esse menino vai voltar a ser o que era antes, nem que seja a pulso! Eu tenho fé em Deus!

JUNHÃO

Mesmo acuado tenta minimizar a situação:

– Calma, “coroa” … Você está exagerando… Não tem nada demais. Eu só vou brincar e aproveitar para passar o rodo no mulherio durante os festejos! Vou pegar mulher à beça!

CEIÇA

Aparenta não lhe dar ouvidos, porém está encolerizada com a calma do filho e isso a deixa ainda mais irritada. Fala enraivada:

– Que desgosto, meu Deus! Se Alcebíades sonhar com essa catástrofe dentro do nosso lar…, não quero nem pensar qual seria a reação dele. “Tá amarrado”!

E faz a previsão:

– Se ele souber de uma “miséra” dessa vai ter um infarto fulminante. E o que será de mim, meu Jesus? Se ele morrer eu vou passar fome junto com esse endemoniado, da cabeça de camarão, porque só tem merda no miolo mole.

JUNHÃO

Continua calmo e explica:

– Mas é só uma fantasia pra gente brincar durante o período carnavalesco… É só uma diversão… Não tem nada a ver com o que a senhora está pensando…

CEIÇA

Enfurecida, esbraveja:

– E se você gostar da brincadeira, hem?!… Já pensou no que os parentes e a vizinhança “vai” dizer? Vão “mim” esculhambar toda. Eu não vou ter mais sossego com o povo “mim” acusando de coiteira. Tudo que você faz de errado respinga em mim, como se eu fosse a culpada!

Continua com as queixas:

– Você não pensa nas consequências, seu “inresponsável”?! Vestido de mocinha pulando atrás dos blocos carnavalescos, dançando parecendo uma sirigaita, pode aparecer um indivíduo pervertido querendo te atacar. Você já pensou nessa possibilidade?!…

Inconformada, fala buscando explicações:

– Aonde você vai dar queixa contra o assédio? Na delegacia da mulher não pode, porque você é homem; e na delegacia do homem também não pode, porque está vestido de mulher. E aí?!… Hem, Júnior?!!!

Ainda enraivada, afirma:

– E quando estiver enrascado na bronca, não adianta “mim” telefonar pra resolver o seu “pobrema”, porque não vou “pagar vexame” diante dos “puliças” por ser mãe de uma pessoa ridícula, ouviu bem, Júnior?!

E conclui amargurada:

– Esse tipo de brincadeira eu acho engraçado nos outros, mas, na minha casa não, jacaré!

JUNHÃO

Senta-se na cama e coloca os cotovelos sobre os joelhos e apoia o queixo com as mãos. Não fala mais nada. Apenas arregala os olhos, faz bico com os beiços e fica movendo as sobrancelhas.

CEIÇA

Muda as feições e as lágrimas escorrem pelo seu rosto miúdo. Começa a se lamuriar:

– Eu pensei que esse menino quando crescesse iria se formar “numa” boa faculdade. Ao terminar o curso faria concurso para um bom emprego público… Depois, estando trabalhando e bem empregado, iria ajudar nas despesas da casa.

JUNHÃO

Continua calado balançando negativamente a cabeça, desaprovando as atitudes da mãe.

CEIÇA

Lastima a decepção que está sentindo:

– Recebendo um excelente salário, o meu filhinho querido iria “mim” levar para almoçar e jantar em restaurantes finos… Pagaria as minhas despesas em salões de beleza da moda… E também iria custear a minha frequência numa academia de ginástica grã-fina pra eu fazer exercícios de aeróbica, pilates, crossfit e tudo a que eu tivesse direito…

Frustrada, fala com desgosto:

– Mas deu tudo errado. Onde foi que eu errei, meu Deus?!…

Explodindo de raiva continua falando com amargura:

– Mas você, inseto, faz questão de fugir do meu controle. Ao invés de estudar para ser gente na vida, esse infeliz da cabeça oca, quer curtir o tal do período momesco travestido.

Revoltada com a pretensão do filho, fica injuriada e determina:

– Eu, Maria da Conceição, não vou liberar esse peste pra cair na gandaia nessa esbórnia. Com certeza vou ser ridicularizada, porque a vizinhança vai apelidar esse infeliz de Junhonha, a filha de Ceiça. Que vergonha, meu Deus!

E dramatiza demonstrando tristeza:

– Que sina horrível essa minha… Já estou vendo o meu futuro: ficar velha e sem netinhos pra eu adular…

Depois finaliza amargurada:

– Eu queria tanto ver a casa cheia de pestinhas desobedientes perturbando o meu juízo…, mas Jesus vai “adevogar” em meu favor.

JUNHÃO

Fica calado observando a mãe se lastimar. Depois exclama com indignação:

– Você só sabe esculachar!… Fique sabendo que eu sou jovem e preciso me divertir!… A minha galera não tem nada a ver com o seu pensamento difamatório… A gente é macho pra caramba, sabia? Apenas só queremos nos divertir no carnaval.

CEIÇA

Ao ouvir a opinião do filho se revolta e diz incisiva:

– E isso é lá diversão de homem de respeito?! Onde já se viu um cidadão de bem achar que está se divertindo só porque está vestido de mulher?! Júnior, Júnior, tome tino nessa cabeça de vento…

A seguir dá a sua versão do que é masculinidade, de acordo com a norma latente que existe no matriarcado antigo:

– Homem se diverte no carnaval é se embriagando a ponto de ficar trôpego, arranjando confusão, trocando murros com os desafetos, paquerando, agarrando as mulheres a pulso, namorando, beijando, ouviu bem, criatura?!…

Depois, chorosa, lastima a sua frustração:

– Eu estou sem saber mais o que fazer pra botar você nos trilhos. Sempre imaginei que o meu filho seria um sujeito honrado. Que se casaria com uma moça decente, teria filhos e, principalmente, alugaria um apartamento pra “se picar” da minha casa…

Pensa um pouco, suspira fundo e almeja:

– Aliás, esse ainda é o meu maior desejo: quero que você se case ou se amanceba com urgência. E depois se escafeda levando embora a sua preguiça e a sua maloqueira daqui de casa!…

E continua falando das suas aspirações e lamúrias por um longo período de tempo.

JUNHÃO

Embora esteja impaciente, fica em silêncio ouvindo os prantos da mãe. Quando finalmente ela se cala, pega o telefone e fala baixo com um amigo:

– “Sujou”!… Não vai dar pra ir… A velha chata pirou quando descobriu que eu ia brincar no carnaval. Por causa desse flagrante não vou poder participar do nosso bloco.

O amigo diz algo e ele rebate:

– Claro, Naldo! O fuzuê aqui foi grande com o bolodório irascível dela. Não tem argumento que acalme a sujeita. Foi tanto bate-boca que fiquei sem alternativa e também porque a perversa tem a cabeça-dura.

Depois lamenta sobre a desistência:

– Infelizmente a megera já determinou que irei com ela passar o período do carnaval em um retiro espiritual num mosteiro católico lá em brotas.

O amigo fala alguma coisa e ele responde:

– Pois é, velho… Eu não sei qual é a inclinação religiosa dela. A miserável é tão desorientada que vive pulando de galho em galho. Não demora ela invocar e manifestar um santo na macumba.

A seguir, sorri e informa:

– Mas, de qualquer sorte, avise à galera que o meu carnaval mixou. Infelizmente pra mim, durante os festejos carnavalescos vai ser só reza e bênção junto com essa abençoada, pra não dizer o contrário…

Depois faz um pedido:

– Veja se alguém da turma quer comprar a minha fantasia. É uma pechincha: vendo tudo por menos da metade do preço e ainda lhe dou uma boa comissão. Eu preciso me desfazer rápido dessa bagulhada antes que essa alma sebosa volte a infernizar o meu juízo.

Depois se despede, recomendando:

– Valeu!… Não se esqueça de avisar à galera!… Tchau!

Quando termina o telefonema ele fica triste. Está parado com os olhos fixos no vazio da parede. Depois vai calado para o quarto. Senta-se na cama e medita um pouco. Depois exclama com raiva:

– Pô!… “Tou” pra ver uma coroa chata igual a essa!… A sujeita gruda em mim parecendo um carrapato que transmite a febre maculosa. Ela é uma desmancha-prazeres!…

E conclui tristonho:

– Perdi de namorar com meio mundo de gatas por causa dessa bruxa velha que vive me perseguindo. Mas, Ceiçona que me aguarde, porque vai ter troco…

 

Autor: Joswilton Lima

Resumo da biografia do autor:

 

Joswilton Lima é natural de Ilhéus-Ba, mas é domiciliado há mais de vinte anos em Morro do Chapéu. Tem formação em Ciências Econômicas, mas sempre foi voltado para as artes desde a infância quando começou a pintar as primeiras telas e a fazer os seus primeiros escritos. Como artista plástico participou de salões onde foi premiado com medalhas de ouro e também de inúmeras exposições coletivas nos estados da Bahia, Sergipe e Pernambuco. Possui obras que fazem parte do acervo de colecionadores particulares e entidades tanto no Brasil, quanto em países do exterior, a exemplo dos E.U.A, Portugal, Espanha, França, Itália e Alemanha.

Em determinada época, lecionou pintura em seu atelier no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, e foi membro de comissões julgadoras em concursos de pintura. Nesse período exerceu a função de Diretor na Associação dos Artistas Populares do Centro Histórico do Pelourinho (primitivistas e naif’s), em Salvador.

Como escritor também foi premiado em diversos concursos de contos tendo lançado um e-book com o título “Enigmas da Escuridão”, com abordagem espiritualista, tendo obtido a nota máxima de 5 estrelas de leitores do site www.amazon.com.br Outros contos e romances também estão sendo escritos.

Concomitante às atividades artísticas, sempre exerceu funções laboriosas em diversos setores produtivos e, por último, se aposentou na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, onde trabalhou por muitos anos na Fiscalização.

Agora tem o prazer de apresentar aos leitores do site www.leoricardonoticias.com.br o seriado de crônicas intituladas Episódios do Junhão, com as quais espera que tenham uma leitura agradável e de reflexão.

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