Episódios do Junhão: ‘CABEÇA DE VENTO’

O escritor Joswilton Lima registrou os seus livros na Biblioteca Nacional do Brasil e está de posse dos Certificados. Para aquisição do livro físico ou digital é só clicar na capa:

Mais um livro do escritor Joswilton Lima, autor dos Episódios do Junhão. Com o título de “O Cigano Violeiro” é um conto fantasioso destinado ao público adulto e juvenil que narra as superstições existentes nas comunidades rurais do interior.

O livro relata a vida simples e feliz dos personagens, mas que é totalmente alterada devido a visita inesperada na região de um indivíduo pernicioso.

A ficção da estória irá deixar os leitores surpreendidos por causa do final fantástico.

As ilustrações também são autor. A capa é uma pintura digital com o mouse, experiência nova que mesmo com toda a dificuldade da adaptação, deu um bom resultado.

As ilustrações internas são fotos de pinturas a óleo, também do autor.

A seguir, Episódios do Junhão I e II. Para adquirir basta clicar na imagem:

 

Joswilton Lima também é autor de ‘Enígmas da Escuridão’ e você também tem acesso ao livro para aquisição, pelo link que está na imagem, basta clicar:

 

Agora que você chegou até aqui, continuamos a usufruir da criatividade de amigos (as) que, por meio da sua atividade literária, presenteiam nosso leitores com textos de encher os olhos e fazer a alma viajar:

CABEÇA DE VENTO

 

CEIÇA

Cinquenta e seis anos de idade. Está angustiada andando de um lado para o outro dentro da residência. As sobrancelhas estão cerradas e os olhos arregalados. De vez em quando ela coça o queixo com insistência, porque está curiosa para saber se o resultado do exame de DNA já chegou. A todo instante interfona para o porteiro perguntando se tem correspondência destinada ao apartamento dela. Após receber a negativa, comenta baixo consigo:

– Que diabo de resultado demorado é esse?!… Será que o Juninho é “pobremático” até nisso! Esse peste quer “mim” endoidar de qualquer jeito. Estou agoniada por causa de tanto esperar esse bendito exame…

Depois para um pouco, franze a testa e, de modo malicioso, gira os olhos arregalados como se estivesse concluindo um pensamento. A seguir fala:

– Todos os dias eu procuro saber se o tal resultado do exame já foi entregue pelos Correios na portaria do edifício e nada!… Já estou ficando “retada” devido ao descaso desse laboratório fajuto!…

Demonstrando esperança ela comenta:

– Tomara que o Júnior tenha mandado fazer também o exame do tal Alcebíades Neto para ver se realmente é filho dele.

Contente, continua a falar:

– Tenho orado muito para que o resultado dê negativo. Só assim eu fico livre de pagar pensão alimentícia àquela maloqueira da Marlene.

Conclui rogando praga à pretensa nora:

– Tomara que não o menino não seja filho de Juninho. Por meu gosto essa fulana vai viver com uma trouxa de roupa na cabeça “lavando de ganho” pras madames, se quiser sustentar o pivete.

JUNHÃO

Trinta e seis anos de idade. Continua incomunicável no quarto. Fica deitado o tempo inteiro com os olhos fixos no teto aparentando preocupação, mas depois de algum tempo dorme profundamente. E assim prossegue a sua rotina.

CEIÇA

Finalmente chega o dia em que o porteiro entrega a ela envelopes de correspondências. Ao receber os pacotes o coração dela dispara batendo forte, porque está muito ansiosa. Esbaforida, abre um envelope com raiva. A seguir põe os óculos de grau, faz um bico com os beiços e analisa o resultado. Após a leitura do exame, imediatamente fica revoltada e retira os óculos do rosto. Depois fala com desgosto:

– É…, infelizmente, pra minha “disgraça”, o resultado deu positivo… O infeliz daqui é realmente o pai daquela criança enjoada. O exame confirmou que o tal de Alcebíades Neto é filho dele. Fico triste com a notícia porque o meu Juninho exterminou o próprio futuro.

Tristonha, fala:

– Fiquei orando para que o resultado do exame desse negativo. Ia ser uma glória conseguir “mim” livrar da pensão judicial. Mas agora eu vi que estou lascada em banda.

Ainda fazendo as suas reflexões, diz:

– É por isso que o Júnior está todo murcho. Tenho certeza de que ele já sabia que essa bomba dele ia estourar com a confirmação desse resultado maldito.

Preocupada em como irá resolver a situação insólita, comenta:

– Para que eu possa pagar a pensão do menino àquela fulana interesseira, o único jeito é eu mentir para Alcebíades.

Articulando um jeito de enganar o marido, diz:

– Vou inventar que o custo de vida aumentou sobremaneira aqui na capital e que ele mande mais dinheiro para as despesas.

Demonstrando que é esperta, conclui o raciocínio:

– O Alcebíades pai não pode jamais saber desse “pobrema” do Júnior. Mas pra tudo tem jeito: vou dizer a ele que a inflação aumentou muito e que os livros da faculdade de Juninho estão muito caros.

Confiante que o seu plano dará certo, informa:

– Assim que eu disser isso, ele vai ficar conformado. Ainda bem que o meu marido confia muito em mim…

Depois lamenta tentando demonstrar arrependimento:

– Oh, que vida ingrata eu tenho, meu Deus! Vivo mentindo para o Alcebíades, só pra encobrir os erros do Juninho. Que má sorte eu tenho por ser a mãe desse menino ingrato!…

JUNHÃO

Está na sua aflição silenciosa. Após dormir muito, acorda, levanta-se da cama e vai sorrateiro para a sala. Ao chegar, toma um susto quando vê a mãe com os resultados dos exames.

CEIÇA

Com a autoridade que avoca para si, ao vê-lo, determina:

– Pare aí e escute, seu calhorda! O resultado do tal Alcebíades Neto deu positivo! Agora, infelizmente, está confirmado que aquele baixinho comilão é mesmo seu filho. Portanto, arranje um trabalho pra sustentar a família que acabou de formar.

A seguir ordena:

– E vá morar num brongo bem longe daqui com a sua raça! Afinal, quem casa, quer casa!

E conclui enraivada:

– E não quero que depois de amancebado venha aqui “mim” visitar com a sua laia ruim! Eu não quero ver nunca mais a cara daquela fulana libertina e nem do pivete dela, ouviu bem, cabra safado?!

JUNHÃO

Ao ouvir o que ela fala, teme perder as mordomias que tem na casa dos pais. Enraivado, repele a intimidação com veemência:

– Você enlouqueceu de vez, criatura?!!!… Eu não vou me amasiar com ninguém! Não adianta querer me obrigar a casar a pulso!

Enfurecido com o objetivo da mãe, fica embrutecido e ameaça:

– E também não vou sair daqui de casa por dinheiro nenhum! É melhor você ficar pagando a pensão alimentícia para Alcebíades Neto que a obrigação é sua.

CEIÇA

Não ouve o que ele fala e continua nervosa remexendo as correspondências recebidas. De repente ela toma um susto enorme quando percebe que existem mais quatro envelopes com resultados de outros exames. Assombrada com o que vê, de repente fica com a face vermelha e os olhos esbugalham tanto que empurram os óculos para a ponta do nariz. Nervosa, abre os envelopes com pressa e verifica que neles há o nome de outras mulheres. Expelindo fogo pela boca, exclama enfurecida:

– “Népussivel” uma merda dessa!!!… Esse laboratório fuleiro errou tudo!

A seguir ajusta os óculos sobre o nariz com a ponta do dedo indicador e depois ajeita a papelada. Determinada, arruma os exames e começa a ler soletrando um a um dos resultados como se estivesse dando uma aula de redação:

– Marlene, mãe de Alcebíades Neto; deu positivo.

– Aldirene, mãe de Gregório; deu positivo.

– Josylane, mãe de Valdemar; deu positivo.

– Edelvane, mãe de Edeval; deu positivo.

– Magnoyane, mãe de Aníbal; deu negativo.

Quando conclui a leitura ela exclama demonstrando estar assombrada:

– Mas que diacho é isso?!!!… De onde surgiu esse tanto de pivetes?!

Para um tempo enquanto raciocina e depois diz:

– Vou mandar fechar esse laboratório fuleiro por incompetência! Como é que o Júnior fez apenas um exame e eles mandam cinco resultados com os nomes diferentes?!

Ainda continuando o raciocínio, ela expõe:

– Mas o pior de tudo é que em todos esses exames consta o nome de Alcebíades Júnior com duzentos por cento de certeza de que ele é o pai dessas crianças sem futuro.

De repente faz uma correção:

– Aliás, teve um “sujeitinho” nessa gangue de maloqueiros mirins que Jesus tirou dessa lista funesta, o tal do Aníbal. O resultado dele, felizmente, deu negativo!

Aparentemente fica frustrada com o fato e repreende o filho:

– Você viu isso, Juninho?!… A sujeita traiu você, meu filhinho!!!… Aquela ordinária é uma vagabunda que quis lhe enganar dizendo que o trambolho dela era seu filho!

JUNHÃO

Arregala os olhos e fica quieto coçando a cabeça sem saber o que dizer.

CEIÇA

Está fungando de raiva depois de muito analisar os resultados dos exames. Enfim, conseguiu descobrir que não houve repetição do exame, e sim, a confirmação da paternidade de quatro crianças por parte do seu querido filho. Fica desesperada e brada:

– Mas que merda é essa?!… E eu aqui, fazendo papel de bobalhona! Estava pensando que era só um exame pra ver se o Júnior era o pai daquele “pivetinho” esfomeado!…

Ignorando a presença do filho ela faz conjeturas para tentar inocentá-lo:

– Será que esse traste do Júnior não cria juízo nunca?!…

Logo depois lança uma dúvida para incriminar o filho:

– Ou será que ele é um reprodutor de vadias para fazer pivetes de montão?

Exasperada com a situação que está prevendo, sentencia:

– Agora você vai arranjar um emprego com urgência e “se pique” daqui de casa, “mangangão” de merda!…

Para novamente de falar e se abana com as mãos, aparentando que está passando mal por causa do calor que sente. Logo depois se recompõe, toma um novo fôlego e continua:

– Depois que se mudar daqui, faça o favor de levar o bando de maloqueiros mirins pra sua cafua!… Agora acabei de crer que você é o verdadeiro exterminador do futuro dessas pobres crianças…

Em seu desvario ela faz uma previsão sinistra:

– Já estou até vendo Alcebíades passeando de carro comigo pela cidade. Quando, de repente, ele tem que parar numa sinaleira. Nesse momento vai surgir uma ruma de meninos maltrapilhos gritando desesperados: vovó, vovó!

E conclui desgostosa:

– Que vergonha eu vou sentir, meu Deus!… Eu cheia de pose, desfilando com meu marido, sendo abordada por um bando de pivetes esfomeados avançando sobre o carro dizendo que sou a avó deles. Já pensou?!…

JUNHÃO

Ao ouvir isso faz uma careta de pavor, enquanto esfrega as mãos nervosamente pela cabeça. Mas, na realidade, está aterrorizado com a reação que a mãe irá ter, porque ela descobriu a verdade.

CEIÇA

Exaltada por causa da confirmação de paternidade nos resultados dos exames, grita enraivada:

– Que zorra!!!… O que eu vou fazer agora, meu Deus! Na realidade descobri agora que esse inútil tem quatro pivetes pra sustentar!…

Angustiada com a situação, lamenta tristonha:

– Por causa dos desatinos desse jumento malparido eu vivo carregando uma cruz pesada nas costas igual à que Jesus Cristo levou na Via Dolorosa. O que será de mim agora?!…

JUNHÃO

Ao ver a mãe fazendo escândalo ele fica apavorado e começa a andar nervosamente de um lado para o outro dentro da sala.

CEIÇA

Estando desesperada com a situação inesperada, ela clama:

– Ô meu Deus, dessa vez eu vou em cana por causa da tal pensão judicial!… Tenho certeza que essas vagabundas não vão ter pena de mim, uma pobre mãe devotada.

Dá um suspiro longo e grita a seguir, convocando o filho:

– Vem cá ligeiro, sua “miséra”!…

JUNHÃO

Estando perto, ele se aproxima de mansinho, sonso, e diz com a voz mansa:

– Já estou aqui, mainha. Está cega?! O que houve pra estar com esse estresse?!…

CEIÇA

Está exaltada e reclama quase gritando:

– O que houve o que, vagabundo?!… Explique que merda é essa, sua “disgraça”?!… Você achou pouco fazer um “pestinha”?!… Por que tinha que fazer mais três filhos de uma vez, seu femeeiro duma figa?!…

Está colérica envolta em labaredas e soltando fogo pela boca. Continua gritando:

– Você nunca ouviu falar de camisinha, seu “ingnorante”?!… Pelo que estou vendo você é um reprodutor de parideiras!… Eu não sei aonde foi parar o seu juízo, peste!

O coração está palpitando muito, quase saindo pela boca. Ela para um pouco para tomar fôlego. Depois lastima temerosa:

– Já estou até vendo a justiça mandar a “poliça” arrombar a porta de casa pra levar a gente preso por falta de pagamento das pensões!…

A seguir fala lamentando sobre a sorte dos netos:

– Que infortúnio para elas, meu Deus!… Os coitados vieram ao mundo para sofrerem, por terem tido a infelicidade de serem filhos de um sujeito à toa desse tipo!

JUNHÃO

Fica de cabeça baixa coçando o queixo. Depois se explica:

– Eu vou trabalhar, tenha calma. Estou aguardando o resultado dos currículos que enviei. Essas coisas demoram muito tempo.

A seguir faz uma crítica:

– Quando, por ventura, as empresas enviam respostas é alegando que eu não tenho experiência. Agora pergunto: como vou ter experiência se eles não me dão emprego?!…

CEIÇA

Ainda está desesperada com os resultados dos exames e grita:

– Calma o quê, cabra sem-vergonha!… Já estou de saco cheio de tanto currículo que você diz enviar! E cadê o resultado disso?!… Eu sei que a sua única atividade é ser rufião de quengas desocupadas!…

Continua com o desabafo ponderando para tentar se eximir do problema:

– Tenho certeza que esse tal de DNA não é certo e eu provo que é balela. O Alcebíades, seu pai, é um homem trabalhador, honrado e bom provedor da família, enquanto você é um bicho preguiça.

Parecendo não querer parar com os argumentos irados ela segue falando:

– Mas no seu caso eu afirmo que os exames estão certos; esses pivetinhos vão puxar aos pais. Isso é porque são frutos de um sapato furado com várias meias rotas.

Mas fica compadecida com as crianças e diz:

– Os pobrezinhos nasceram com seu sangue misturado ao de malandras, biscas da pior qualidade.

Ainda mostrando-se preocupada, diz:

– Como nasceram de genes defeituosos eles vão ser um bando de preguiçosos e picaretas no futuro. Mas, no fundo, eu tenho dó da sina dos bichinhos.

E continua com o lamento:

– Longe de mim estar jogando praga, mas garanto que eles vão passar muita fome quando estiverem todos amontoados no antro aonde irão morar com você e as fulanas.

Depois fala demonstrando compaixão:

– Mas, enquanto eu tiver vida, saúde, e Deus permitir, irei mandar dinheiro para comprar a comida deles.

A seguir raciocina e fica cismada duvidando do que poderá ocorrer:

– E se o dinheiro que eu mandar para a alimentação dos pivetinhos, você usar para ir curtir nas noitadas?! Pobres crianças órfãs…

Depois lamenta quase chorando:

– Oh, meu Deus, se eu não mandar o dinheiro das pensões, as fulanas vão dar queixa na justiça e vou terminar os meus dias no xilindró… O que eu fiz pra merecer isso?!

JUNHÃO

Percebendo que ela não irá parar com o falatório, sai de mansinho e volta para o quarto. Liga o som e fica sorridente assobiando a música e, ao mesmo tempo, imita o guitarrista de uma banda de rock. Demonstra despreocupação diante da enrascada em que está metido. Pouco tempo depois olha para o teto e coloca o polegar para cima indicando que está tudo ok. Contente com o desfecho, diz sorridente:

– Essa coroa gosta de fazer bafafá por qualquer coisa à toa. Mas logo depois murcha o cabo, porque sabe que não consegue dar jeito no ninja aqui. Ela pariu o Junhão porque quis.

Autor: Joswilton Lima

Joswilton Lima é natural de Ilhéus-Ba, mas é domiciliado há mais de vinte anos em Morro do Chapéu. Tem formação em Ciências Econômicas, mas sempre foi voltado para as artes desde a infância quando começou a pintar as primeiras telas e a fazer os seus primeiros escritos. Como artista plástico participou de salões onde foi premiado com medalhas de ouro e também de inúmeras exposições coletivas nos estados da Bahia, Sergipe e Pernambuco. Possui obras que fazem parte do acervo de colecionadores particulares e entidades tanto no Brasil, quanto em países do exterior, a exemplo dos E.U.A, Portugal, Espanha, França, Itália e Alemanha.

Em determinada época, lecionou pintura em seu atelier no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, e foi membro de comissões julgadoras em concursos de pintura. Nesse período exerceu a função de Diretor na Associação dos Artistas Populares do Centro Histórico do Pelourinho (primitivistas e naif’s), em Salvador.

Como escritor também foi premiado em diversos concursos de contos tendo lançado um e-book com o título “Enigmas da Escuridão”, com abordagem espiritualista, tendo obtido a nota máxima de 5 estrelas de leitores do site www.amazon.com.br Outros contos e romances também estão sendo escritos.

Concomitante às atividades artísticas, sempre exerceu funções laboriosas em diversos setores produtivos e, por último, se aposentou na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, onde trabalhou por muitos anos na Fiscalização.

Agora tem o prazer de apresentar aos leitores do site www.leoricardonoticias.com.br o seriado de crônicas intituladas Episódios do Junhão, com as quais espera que tenham uma leitura agradável e de reflexão.

 

 

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