Episódios do Junhão: ‘A VIGÍLIA VIGOROSA’

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O escritor Joswilton Lima registrou os seus livros na Biblioteca Nacional do Brasil e está de posse dos Certificados. Para aquisição do livro físico ou digital é só clicar na capa:

Mais um livro do escritor Joswilton Lima, autor dos Episódios do Junhão. Com o título de “O Cigano Violeiro” é um conto fantasioso destinado ao público adulto e juvenil que narra as superstições existentes nas comunidades rurais do interior.

O livro relata a vida simples e feliz dos personagens, mas que é totalmente alterada devido a visita inesperada na região de um indivíduo pernicioso.

A ficção da estória irá deixar os leitores surpreendidos por causa do final fantástico.

As ilustrações também são autor. A capa é uma pintura digital com o mouse, experiência nova que mesmo com toda a dificuldade da adaptação, deu um bom resultado.

As ilustrações internas são fotos de pinturas a óleo, também do autor.

A seguir, Episódios do Junhão I e II. Para adquirir basta clicar na imagem:

 

Joswilton Lima também é autor de ‘Enígmas da Escuridão’ e você também tem acesso ao livro para aquisição, pelo link que está na imagem, basta clicar:

 

Agora que você chegou até aqui, continuamos a usufruir da criatividade de amigos (as) que, por meio da sua atividade literária, presenteiam nosso leitores com textos de encher os olhos e fazer a alma viajar:

A VIGÍLIA VIGOROSA

 

CEIÇA

Quarenta e nove anos de idade. Sai do quarto e vai para a sala arrumada com um vestido azul-marinho com pequenas flores amarelas circundadas por folhas silvestres. Para completar o exotismo, a vestimenta é ornamentada com grandes flores de hibisco da cor vermelho carmim. Usa um cinto largo da cor verde oliva, com um fivelão dourado, amarrado acima da cintura formando um conjunto de estilo mal-amanhado. Compondo o visual usa sapatos vermelhos com cadarços azuis cerúleos. A cabeça está enormemente engrandecida devido aos bóbis presos por grampos aos cabelos e encobertos por um lenço colorido de imitação de cetim. A arrumação é grotesca, principalmente por causa dos enormes óculos escuros que tornam ainda mais minúsculo o seu rosto chocho, dando-lhe um aspecto extraterreno. Na realidade ela quer arremedar uma moda que só existe na mente dela.

Estando muito empolgada, confidencia ao filho:

– Olha Júnior, eu estou assim linda e maravilhosa, porque hoje à noite irei participar da Vigília Vigorosa das Realizações Impossíveis e só voltarei para casa às seis horas da manhã, no mínimo.

E conta aonde irá ser realizado o culto:

– Os congregantes da minha igreja irão orar pedindo bençãos a Deus nas dunas de Itapuã, porque lá tem uma elevação parecida com o Monte Sinai.

Convicta da sua fé, afirma qual será o seu propósito:

– Irei rezar muito clamando para que Jesus expulse todos os demônios da terra.

A seguir relata a ele como será a sua tarde:

– Estou indo agora para arrumar o cabelo e fazer a maquiagem, porque eu quero ser a fiel mais bonita da igreja! Quando concluir, virei em casa rápido para “mim” aromatizar com as fragrâncias dos perfumes Tabu e Madeira do Oriente que tenho guardado há anos, que foram herança do meu avô, o “véio” Dão.

Cuidadosa com o seu lar, informa o principal motivo do seu retorno:

– E também venho para verificar se está tudo ocorrendo dentro dos conformes. Só depois é que irei para a igreja cumprir com as minhas obrigações na vigília.

Resignada, diz:

– Estou indo para pedir uma graça divina para o seu futuro e, por isso, eu te peço, pelo amor de Deus, que fique aqui para tomar conta do apartamento. Tome tino e não saia de casa nem por minuto sequer, ouviu bem, Júnior?!!!…

JUNHÃO

Vinte e nove anos de idade. Levanta-se do sofá demonstrando desânimo, espreguiça-se com os braços erguidos e retruca:

– Pô, você não me dá folga!… Quer a todo custo me transformar em prisioneiro nesta casa. Pois fique sabendo que eu não sou segurança patrimonial. Vivo aqui sendo explorado, mas, pra não dizer que sou ruim, pode ir pro seu “régui” na paz que eu seguro a barra aqui…

CEIÇA

Finge não ouvir o lengalenga dele e, muito contente, diz sorridente:

– Eu sabia que você iria compreender. Já deixei tudo pronto no forno do fogão para que não sinta fome enquanto estiver se aplicando nos estudos. Lá na igreja as irmãs estão encantadas com a criação que dou a você, porque eu não “mim” canso de gabar a sua inteligência e dedicação nos livros.

Depois despede-se alegremente:

– Tchau filhinho! Enquanto eu estiver fora se cuide, ouviu?! Tudo que faço é para o seu bem. E já estou recebendo as graças divinas por ter me tornado uma crente evangélica por sua causa.

JUNHÃO

Assim que a mãe sai ele fica esperto repentinamente. Corre para o aparelho telefônico e faz diversas ligações. Para cada amigo ele diz invariavelmente a mesma coisa:

– Pois é, Caio!… Hoje à noite vou promover aqui no “apê” a festa das “Piriguetes”. A lambança vai ser de arromba! O preço do ingresso é barato: cem reais para os homens e grátis para as mulheres.

E continua empolgado para convencer o amigo:

– Não se preocupe; não vai haver nenhum problema, porque a maluca da minha coroa vai passar a noite numa tal de vigília nas dunas de areia lá em Itapuã e só vai voltar pra casa depois das seis horas da manhã.

Muito contente, ele diz:

– Aqui só vai dar “nóis”!… Diga à galera que traga as bebidas e os tira-gostos, além do dinheiro para pagar o ingresso, porque não aceito fiado.

O amigo diz alguma coisa e ele replica:

– Você está achando caro?!… Velho…, pense aí; eu já estou dando o espaço para o evento e as garotas que são as minhas convidadas. Você vai se fartar na farra. Deixe de ser pão-duro!

Ao ser perguntado sobre quem seriam as mulheres, responde rápido:

– Já confirmei a presença de mais de quinze gatas, dentre elas a Gislaine, Suélen, Cristiane, Dáfine, Patricinha galega, Luzidalva “mulatona” e também a Raquel “Bom-Bom” …  Chamei pra farra “meio mundo” delas… Tudo gata, capa de revista, pode crer!

Ainda continuando a fala – nesse momento ele demonstra um pouco de desânimo – quando afirma para o amigo:

– Pois é “brodér” … Infelizmente a farra vai ter que ser encerrada às quatro horas da matina para que eu possa arrumar a bagunça antes da velha chegar, senão ela vai pirar. Pense numa criatura bruta se ela encontrar alguma coisa fora do lugar?!…

CEIÇA

Mais tarde ela chega do salão contente com o tratamento de beleza. Encontra o dissimulado do filho deitado no sofá com aparente sonolência. Olha para ele e comenta para si:

– Que “pirão perdido”, meu Deus!… Pensei que ao chegar ia encontrar o sujeito estudando. Não sei como ele aguenta ficar deitado o dia todo.

Esperançosa, comenta:

– Mas, felizmente, com essa apatia crônica que ele tem, vai ficar quietinho dormindo até eu voltar da vigília. Por isso eu tenho a certeza de que irei encontrar a minha casa na Santa Paz. Vou orar a noite inteira para Jesus proteger o meu lar.

JUNHÃO

Finge dormir e aparenta não notar a chegada da mãe.

CEIÇA

Antes de sair para ir ao culto ela faz a inspeção no apartamento indo em todos os cômodos para verificar se estão em ordem. Depois vai ao espelho do banheiro para olhar se a maquiagem, o cabelo e a roupa estão apresentáveis para a vigília. Aprova com satisfação o visual e resolve partir. Antes de sair, olha para o filho e ordena:

– Tome conta do apartamento Juninho, porque vou demorar. Para o seu jantar fritei quatro bifes, seis ovos, cozinhei feijão, arroz, fiz farofa d’água e salada. Quando sentir fome é só esquentar a comida no micro-ondas. O refrigerante de dois litros está na geladeira. Também deixei duas jarras de suco de acerola e dez sanduíches de carne, presunto, queijo e ovos para a merenda. Se acabar a comida e mais tarde você sentir fome, telefone para o “disk- pizza” trazerem o que você encomendar. O dinheiro está na gaveta da cômoda no meu quarto.

E completa com satisfação:

– Não quero que meu filhinho passe por necessidades enquanto eu estiver fora.

JUNHÃO

Simula acordar e demonstra impaciência com tanto bolodório.

CEIÇA

Finalmente se despede para sair. Diz de modo educado e gentil:

– Até amanhã filhinho!… E comporte-se, ouviu!… Vá dormir cedo, não fique assistindo televisão até tarde. A mamãe já preparou a sua “caminha” para que tenha um bom sono e sonhe com os anjinhos, meu querido…

E sai do apartamento demonstrando satisfação. Porém, antes de fechar a porta, faz bico com os lábios e sopra vários beijinhos para o filho com as mãos em concha.

JUNHÃO

Depois de algum tempo que a mãe sai, ele liga o aparelho de som a todo volume e começa a receber os convidados. As garotas chegam com “vestidinhos” bem curtos e colados ao corpo, deixando visíveis as marcas das calcinhas do tipo “cordão cheiroso”. Os cabelos ainda estão molhados e um líquido viscoso escorre pelas costas nuas exalando um perfume malcheiroso do creme condicionador barato. Ao entrarem no apartamento, dão gargalhadas numa alegria incontida (vinda ninguém sabe de onde), fazem algazarra e se requebram ao som do “pagodão”. Enquanto isso, ele recepciona os convidados masculinos para cobrar os ingressos demonstrando satisfação. Cumprimenta-os e exclama radiante:

– Valeu Galera! A nossa “festinha” vai ser legal!… Podem começar o fuzuê! É tudo nosso!!!

DIA SEGUINTE – APÓS A VIGÍLIA VIGOROSA

CEIÇA

Está chorosa e lamuriante. Fisicamente arrasada e totalmente decaída aguardando o filho acordar para reclamar sobre o ocorrido na noite anterior. Enquanto isso resmunga:

– Que sujeito miserável e “inresponsável”!… Até hoje eu adulo esse peste como se ele ainda tivesse dez anos de idade e olhe o que recebo em troca. A gente não pode dar um “dedinho” de confiança que ele apronta algum malefício. Mas a culpa dele ser assim é das más companhias que botam ele a perder. Não sei como ele tem coragem de trazer esse zé-povinho pra dentro de casa.

Muito contrariada, reclama:

– Estou com um ódio daqueles primos que estão levando o Júnior para o mau caminho. Um deles é o Caio, filho de Camila e o outro é Bruno, filho de Charline. Basta eu dar uma bobeira que eles induzem o meu Juninho a fazer essas orgias nojentas aqui em casa.

Resoluta, afirma:

– Se elas não botarem freio naqueles meninos farristas eu vou acabar com a amizade. No dia que eu encontrar as duas no mercado vou encher elas de desaforos. Os “sujeitinhos” delas é que incentivam o meu filho a promover esses desatinos aqui em casa.

JUNHÃO

Acorda meio-dia e muito mal-humorado. Ao passar pela mãe reclama raivoso, arrogando a razão para si:

– Está vendo aí no que dá essa sua invocação por essas vigílias fuleiras!… Se você ficasse em casa de noite cuidando das suas obrigações não tinha ocorrido nada daquilo.

CEIÇA

Ao ouvir as acusações do filho, exaspera-se e rebate:

– Você é um herege! Se ainda estamos vivos é graças à minha fé!…

JUNHÃO

Ao ouvir o que a mãe lhe diz, para e retruca:

– Só que não! Se nós temos uma boa-vida é graças ao trabalho e ao dinheiro do meu pai, que é um bom caixeiro-viajante!…

CEIÇA

Finge não ouvir e continua a lamentação:

– Oh, meu Deus!!!… Onde foi que eu errei?!… Nunca senti tanta vergonha na vida!… Estou com a “cara no chão” perante a congregação que frequento.

E relata o motivo de tanta desonra:

– O Pastor fez as orações na igreja, porque resolveu transferir a vigília para outro dia. Então eu pedi para que todos viessem aqui para ungir o nosso apartamento. Na realidade eu queria mesmo era que eles vissem como o meu filhinho era bem-comportado.

De repente ela para um pouco e chora. Após enxugar as lágrimas com um guardanapo de pano, dá um longo suspiro soluçando e depois continua o relato:

– Infelizmente quando chegamos aqui encontramos o satanás imperando em meu lar!… Jamais eu vou esquecer a imagem do inferno em meu apartamento.

Lamuriosa continua contando o que encontrou em casa:

– O som horroroso estrondava no prédio inteiro. Quando abri a porta, comecei a ouvir os crentes gritando: misericórdia!… misericórdia!… misericórdia!… E desceram as escadas em desabalada carreira.

Nesse momento começa a chorar, mas logo depois reinicia o caso:

– Na hora não entendi o pavor deles, mas quando olhei para dentro do apartamento, a minha casa parecia uma Sodoma e Gomorra do livro de Gênesis. Tinha uma ruma de desocupados e vadias, todos pelados correndo picula na maior devassidão. Estavam todos endemoninhados!

Ainda relatando o motivo da sua mágoa, diz:

– Ao serem flagrados na bandalheira, ficaram correndo de um lado pro outro sem saberem aonde se esconder! Que cena horrorosa, meu Deus!

Novamente para a lamúria, enxuga as lágrimas e prossegue tristonha:

– As irmãs e os irmãos de fé ficaram horrorizados com a sem-vergonhice que viram aqui em minha casa… Não sei com que cara eu irei à igreja para encarar a congregação dos anciões no meu julgamento.

Temerosa com o seu futuro incerto na igreja, conjetura:

– Tenho certeza de que vou ser expulsa ou repreendida, por acharem que sou mentirosa por causa dos elogios que fiz a você, afirmando que era um menino de ouro.

JUNHÃO

Está impávido. Ouve calado não deixando transparecer de que foi ele o causador do desgosto da mãe. Inerte, parece estar ouvindo o relato de uma situação distante de onde moram. Enquanto a mãe chorava contando o ocorrido, às vezes dava um sorriso cínico no canto da boca achando engraçado o que havia acontecido no apartamento.

CEIÇA

Está revoltada e lamenta:

– Mas no meio daquela esculhambação Jesus me apontou a solução: de agora em diante você vai ao culto comigo pra tirar o demônio de dentro de você! Principalmente o “Zé Pilintra”, esse espírito de cachaceiro que te acompanha e faz você cometer essas loucuras.

E determina com convicção religiosa:

– Com certeza ele vai papocar “nos quintos dos infernos”, porque de agora em diante você está livre, em nome de Jesus, porque o sangue de Cristo tem poder!…

JUNHÃO

Ao ouvir isso ele age com desdém reclamando enfezado, porque a mãe ainda não tinha posto o seu desjejum à mesa. Irritado, ordena:

– Ora…, é cada uma que eu vejo!… Pare de charlar e bote a minha comida.

A seguir, conclui ciente de que será absolvido pela mãe complacente:

– Depois eu vou pensar no seu caso sobre eu frequentar a igreja. Mas acho que vou atender o seu pedido; de repente pode ser uma boa pra mim…

Apesar de aparentar ser durão, ele sabe como acalmar a mãe.

 

Autor: Joswilton Lima

Joswilton Lima é natural de Ilhéus-Ba, mas é domiciliado há mais de vinte anos em Morro do Chapéu. Tem formação em Ciências Econômicas, mas sempre foi voltado para as artes desde a infância quando começou a pintar as primeiras telas e a fazer os seus primeiros escritos. Como artista plástico participou de salões onde foi premiado com medalhas de ouro e também de inúmeras exposições coletivas nos estados da Bahia, Sergipe e Pernambuco. Possui obras que fazem parte do acervo de colecionadores particulares e entidades tanto no Brasil, quanto em países do exterior, a exemplo dos E.U.A, Portugal, Espanha, França, Itália e Alemanha.

Em determinada época, lecionou pintura em seu atelier no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, e foi membro de comissões julgadoras em concursos de pintura. Nesse período exerceu a função de Diretor na Associação dos Artistas Populares do Centro Histórico do Pelourinho (primitivistas e naif’s), em Salvador.

Como escritor também foi premiado em diversos concursos de contos tendo lançado um e-book com o título “Enigmas da Escuridão”, com abordagem espiritualista, tendo obtido a nota máxima de 5 estrelas de leitores do site www.amazon.com.br Outros contos e romances também estão sendo escritos.

Concomitante às atividades artísticas, sempre exerceu funções laboriosas em diversos setores produtivos e, por último, se aposentou na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, onde trabalhou por muitos anos na Fiscalização.

Agora tem o prazer de apresentar aos leitores do site www.leoricardonoticias.com.br o seriado de crônicas intituladas Episódios do Junhão, com as quais espera que tenham uma leitura agradável e de reflexão.

 

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