EPISÓDIOS DO JUNHÃO

DIA-A-DIA ENTRETENIMENTO INTERNACIONAL MORRO DO CHAPÉU

Com a retomada das atividades em nosso site, continuamos a usufruir da criatividade de amigos (as) que, por meio da sua atividade literária, presenteiam nosso leitores com textos de encher os olhos e fazer a alma viajar.

Assim, os Episódios do Junhão serão revisitados e começamos com a presentação do livro que esta disponível pela Amazon.com.br no endereço https://www.amazon.com.br/Epis%C3%B3dios-Junh%C3%A3o-Joswilton-Jorge-Nunes/dp/B08PQP2SF2 e você confere o nosso episódio inicial:

Os “Episódios do Junhão” é um seriado de crônicas onde os capítulos relatam dramas familiares. O enredo das estórias se desenvolve com humor onde há discussões acaloradas entre uma mãe e o filho criado sem limites. Durante a infância ela satisfez todas as vontades como forma de compensar a ausência do pai que é um vendedor e viaja muito para poder manter a família. Criando o filho sozinha, ao ficar adulto ele se acha cheio de direitos tornando-se insolente e preguiçoso sempre querendo obter vantagens indevidas. Sem ter a quem recorrer, a mãe tem que aturar os abusos psicológicos de um filho irresponsável dentro de casa. O enredo é hilariante quando a mãe fica quase enlouquecida por causa dos desatinos cometidos pelo filho. Mas, apesar das confusões, Ceiça é complacente e o Junhão sempre escapa sem punição. Quanto ao marido, Alcebíades, por estar sempre trabalhando desconhece as tramoias que ocorrem em seu lar, porque a esposa esconde os malfeitos do filho.Apesar do conteúdo apresentar semelhanças com determinados fatos, no entanto são meras coincidências.

 

A seguir:

AULA VAGA

 

Local onde se passa a cena:

Em um apartamento de dois quartos, de classe média-média, situado no bairro da Pituba, comprado com muito esforço pelo chefe da família no tempo das “vacas gordas” (época em que havia fartura). Alcebíades ganha a vida trabalhando como caixeiro-viajante, por isso passa muito tempo fora de casa percorrendo várias cidades do sertão da Bahia para vender materiais de construção em lojas do seu roteiro habitual de trabalho. Portanto, estando sempre longe do lar, o encargo da criação do seu único filho, o Alcebíades Júnior, ficou sob a supervisão da esposa Ceiça. Alcebíades, ainda novo, numa das suas viagens pelo interior do estado encontrou uma jovem franzina, de cabelos alourados, e logo se enamoraram. Em pouco tempo resolveu esposá-la e foram morar em Salvador.

Não demorou muito e nasceu um rebento robusto. A mãe, sendo semianalfabeta, criou o filho sozinha com muita complacência por ser um estudante, que a seu ver, é um letrado. Mas, aos poucos ela começa a perceber a índole do sujeito rechonchudo, indolente e mentiroso.

E assim começou a estória do sofrimento de Ceiça que, ao mimá-lo demais, não terá sossego pelo resto da vida. Porém, como uma boa mãe, irá acobertar todos os malfeitos do filho.

Como diz um ditado popular: o mal do protegido é o protetor. Devido à criação sem limites dada pela mãe nasceu o nosso personagem, o Junhão, apelido que a galera da rua colocou por ser ele um indivíduo corpulento. Mas que, devido aos mimos da mãe, foi forjado para ser um mau-caráter, oportunista e sem empatia, criado para viver exclusivamente do ócio, sempre explorando os pais em benefício próprio.

Apesar dos defeitos, o Junhão é um personagem simpático, boa-praça e bajulador, quando é do seu interesse. As artimanhas que ele apronta nas estórias farão com que os leitores riam muito dos episódios e, também, passem a odiá-lo bastante por causa das tramoias que ele pratica contra a mãe.

Contudo, Ceiça também não escapará da análise crítica dos leitores que sentirão por ela um misto de compaixão e de raiva por ser uma mãe super protetora, sendo, portanto, a causadora dos desatinos praticados pelo filho.

Este, no decorrer das estórias e com o avançar da idade, irá aprimorar cada vez mais os golpes contra a mãe ou contra quem estiver ao seu alcance.

JUNHÃO

Dezoito anos de idade. São nove horas da manhã e ele ainda está no quarto deitado em sua cama. Dorme profundamente como se estivesse desmaiado. Ainda está vestido com as roupas que foi para a farra na noite anterior. Não tirou nem os tênis antes de se deitar. Devido ao excesso das misturas alcoólicas que consumiu, sentiu tanto calor durante a noite que empurrou o edredom para o chão. De vez em quando ressona e exala um mau odor terrível de álcool que “incendeia” o quarto.

O despertador toca diversas vezes até parar por completo. O seu sono está tão pesado que nem mesmo o som estridente da campainha do relógio conseguiu acordá-lo.

CEIÇA

Trinta e oito anos de idade. Usa um vestido barato com florezinhas em tom pastel. Os cabelos mal amanhados estão presos de forma displicente por enormes bobes. E para concluir a desarrumação, usa um lenço de seda barata que cobre a cabeçorra dando-lhe a aparência de um ser extraterrestre zanzando dentro do apartamento. A sua ocupação diária é cuidar da cozinha, da limpeza da casa e do filhinho querido. Sempre avexada, faz comida, passa um pano aqui, uma vassoura acolá, e assim preenche o seu dia.

Porém, na realidade, a sua ocupação principal é cuidar do filho, um jovem folgado, espaçoso, se achando cheio de direitos, porque foi criado desde a tenra infância sem saber o que é limites. Cresceu sendo satisfeito em todos os seus desejos sem saber quais eram os seus deveres; na realidade um senhor absoluto de seus gostos. E a mãe se esforça para atende-lo em todas as suas vontades. Em determinado momento Ceiça se lembra do filho ao olhar as horas no relógio na parede da sala e toma um susto ao ver que o horário dele sair de casa para ir à aula já está ultrapassado. Nesse momento as suas feições mudam arregalando os olhos, solta fumaça pelo nariz e orelhas, joga a vassoura de lado e vai ligeiro para o quarto dele. Está enfurecida porque ainda não viu nenhum movimento que indicasse que ele já havia se levantado da cama. Muito nervosa, grita:

– “Ô criatura”, você não ouviu o despertador tocar, seu merda?!… Levanta logo da cama porque já passou da hora de ir pra faculdade!…

JUNHÃO

Está ressonando sem ouvir nada. De vez em quando solta uns puns tão altos que estrondam no apartamento parecendo que está havendo um terremoto.

CEIÇA

Quando chega junto à cama dele, esbugalha os olhos e solta fogo pela boca. Fica desesperada ao ver que ele está dormindo à sono solto e nem se mexe. Vocifera raivosa:

– Misericórdia!!!… Que fedor miserável de cachaça é esse?!… O quarto está empesteado com o seu bafo de onça!… “Crém-Deus-Pade”, que homem fedorento!

JUNHÃO

Continua inerte, dormindo, apesar da zoadeira que a mãe está promovendo dentro do quarto.

CEIÇA

Continua brava, soltando fogo e fumaça por todos os poros do corpo. Percebendo que ele não se levanta, esbraveja:

– Ô seu folgado, levanta logo da cama porque senão perde o horário da aula!… Acorda, cachaceiro “duma figa”!

JUNHÃO

Depois de muito barulho ele abre os olhos remelentos e acorda. Mas, ao contrário do que a mãe espera, ele muito lentamente se estica, espreguiçando-se na cama. Tenta se levantar e não consegue porque a cabeça está “rodando” de tão tonto que está devido ao uso exagerado de bebida alcoólica. Percebe que está com ressaca da bebedeira do dia anterior. Por isso continua deitado e, tranquilamente, volta a dormir.

CEIÇA

Irritada com a demora dele em se levantar, grita:

– “Ô miséra”, você é surdo?! Não “tá” “mim” ouvindo não, é?!… Levante logo traste, porque senão eu vou ser obrigada a te quebrar no pau!…

A seguir completa:

– Se eu estivesse dizendo que tinha uma “piriguete” desocupada te telefonando, você levantaria correndo para atender, mas como é para os estudos fica aí na “espinha mole”, sem querer se levantar.

JUNHÃO

Está sonolento, mas, à muito custo, acorda devido ao bolodório alto no seu “pé do ouvido”. Tenta aparentar calma e responde com a voz rouca:

– Já acordei… Não vou levantar, porque hoje é aula vaga.

CEIÇA

Muito nervosa, esbraveja:

– Aula vaga o quê, preguiçoso!… Cara de pau! Já liguei pra faculdade e disseram que hoje tem aula, sim! – Mente para obriga-lo a sair da cama.

JUNHÃO

Acreditando no que ela disse e sentindo que a sua desculpa falhou, dissimulado, tenta arranjar outra saída:

– Devo ter me enganado com a data da aula vaga…

CEIÇA

Zangada, contesta:

– Engano nada, malandro!… Você perdeu a noite na farra e deve “tá” com ressaca, pinguço!…

Depois comenta lamuriando:

– Não sei a quem esse “pé-de-cana” “puxou”. Deve ter aprendido esse vício maldito com as más companhias dos colegas. Um menino criado com tanto zelo… E não foi por falta de aviso, porque eu sempre adverti: cuidado com certas amizades… “Taí” o resultado, não adiantou de nada os meus conselhos!

E continua se lamentando:

– Olhe o troco que recebo depois de tudo que fiz por você: um biriteiro; um sujeito a caminho de ter o “pé inchado” de cachaça; um sem futuro!… Ainda bem que seu pai, coitado, trabalha viajando, porque senão morreria de desgosto ao ver você nesse estado todos os dias.

JUNHÃO

Acuado, argumenta:

– Eu cheguei cedo essa noite; às vinte e duas horas já estava em casa e fui dormir.

Enraivado contesta a mãe:

– Está vendo aí que você é uma “barraqueira” que fica armando confusão?!… O motivo disso tudo é porque gosta de ficar levantando falso testemunho contra a minha pessoa.

CEIÇA

Está irada e contesta de imediato:

– Mentira sua, “cabra” sem-vergonha!!!… Eu esperei por você até às três horas da madrugada!… E quando fui dormir você ainda não tinha chegado!…

JUNHÃO

Flagrado na mentira, como é fingido, inventa outra desculpa na maior calma:

– Então esse relógio meu deve estar com defeito. É isso que acontece com esses relógios baratos do Paraguai que você compra pra mim. Além do mais, estou com muita dor de cabeça.

CEIÇA

Ao ouvi-lo queixar-se de dor, o rosto dela transmuda de imediato mostrando um semblante tristonho, pesaroso, decaído. Angustia-se com a dor simulada por ele. Fala resignada:

– Coitadinho, por que não falou logo… Não precisa se levantar. Quero que fique quieto aí, porque vou fazer um “chazinho” pra te dar, meu filhinho…

JUNHÃO

Ao ouvir isso, continua sonso, deitado. Quando a mãe sai do quarto ele vibra comemorando a vitória balançando simultaneamente os braços e as pernas pra cima. Está radiante por ter enganado a besta da mãe. Depois fica quieto aguardando a mãe voltar com o remédio. Certamente irá enganá-la mais uma vez, quando, ao invés de ingerir o chá, irá aproveitar uma oportunidade para jogar fora o líquido pela janela do quarto e voltará a dormir tranquilamente para curar a sua ressaca.

Afinal ele precisa descansar bastante, porque à noite a farra irá continuar.

 

Autor: Joswilton Lima

 

Resumo da biografia do autor:

 

Joswilton Lima é natural de Ilhéus-Ba, mas é domiciliado há mais de vinte anos em Morro do Chapéu. Tem formação em Ciências Econômicas, mas sempre foi voltado para as artes desde a infância quando começou a pintar as primeiras telas e a fazer os seus primeiros escritos. Como artista plástico participou de salões onde foi premiado com medalhas de ouro e também de inúmeras exposições coletivas nos estados da Bahia, Sergipe e Pernambuco. Possui obras que fazem parte do acervo de colecionadores particulares e entidades tanto no Brasil, quanto em países do exterior, a exemplo dos E.U.A, Portugal, Espanha, França, Itália e Alemanha.

Em determinada época, lecionou pintura em seu atelier no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, e foi membro de comissões julgadoras em concursos de pintura. Nesse período exerceu a função de Diretor na Associação dos Artistas Populares do Centro Histórico do Pelourinho (primitivistas e naif’s), em Salvador.

Como escritor também foi premiado em diversos concursos de contos tendo lançado um e-book com o título “Enigmas da Escuridão”, com abordagem espiritualista, tendo obtido a nota máxima de 5 estrelas de leitores do site www.amazon.com.br Outros contos e romances também estão sendo escritos.

Concomitante às atividades artísticas, sempre exerceu funções laboriosas em diversos setores produtivos e, por último, se aposentou na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, onde trabalhou por muitos anos na Fiscalização.

Agora tem o prazer de apresentar aos leitores do site www.leoricardonoticias.com.br o seriado de crônicas intituladas Episódios do Junhão, com as quais espera que tenham uma leitura agradável e de reflexão.

 

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