EPISÓDIOS DO JUNHÃO em: NAS GARRAS DA “JUSTA” – Exterminador do Futuro IV

JUNHÃO

Vinte e oito anos. Indiferente aos problemas causados anteriormente por ele, está tranquilo no quarto ouvindo música. Ao som do rock, agita-se requebrando o corpo e balançando a cabeça de modo aleatório, enquanto simula tocar uma guitarra. Nem de longe tem o comportamento de um homem que já colocou quatro filhos no mundo. Está envolvido com a sua diversão esquecido do mundo exterior, quando, de repente…

MÃE

Quarenta e oito anos. Abre a porta do quarto de modo ab-rupto. Está com os olhos esbugalhados, envolta em labaredas e expelindo fogo pela boca. Muito irritada com o barulho, grita:

– Que tormento é esse?!… Esse tipo de música é “pru” diabo ouvir nos quintos dos infernos! Desliga logo a zorra desse som, vagabundo!… Você não mora sozinho nesse quarteirão! Esse barulho diabólico “tá” me matando de dor de cabeça, seu peste!…

JUNHÃO

Abaixa um pouco o som e continua dançando “na dele” sem se importar com a reclamação recebida. Nem “taí” pra nada. Para ele a vida parece ser um mar de rosas.

MÃE

Ameniza as feições. Tendo a impressão de que foi atendida ao vê-lo abaixar um pouco o volume do som, conforma-se. Volta para a sala e senta-se na poltrona da sala. Nesse momento o telefone toca. Ao atender ela ouve um homem se identificando como advogado que irá entrar com uma queixa contra ela na justiça. Na ligação telefônica ouve-se apenas o que ela fala:

– O senhor é “adevogado” da associação de mães dos filhos de Júnior? E o que eu tenho a ver com isso?!

O homem esclarece que as mulheres vão prestar queixas contra ela para que fique como responsável pelo pagamento das pensões alimentícias. Ceiça fica escandalizada com o que ouve. Exclama raivosa:

– As sujeitas deram “parte de mim”, foi?!… “Tou” vendo que hoje em dia o errado virou certo. Agora eu vi “merda aumentar de preço”!…

Ele dá uma informação que a deixa enervada. Ceiça grita assustada:

– O quêeee?!… O senhor tem certeza disso?! Então essa presepada é verdade?!… Quer dizer que as quatro malandras se uniram pra “mim” culpar na Vara de Família?

O advogado diz alguma coisa de forma incisiva e ela tenta se defender:

– Mas “dotô”, eu não fiz filho em ninguém!… Pra seu governo eu sou mulher, ouviu bem?!… Porisso não tenho que pagar pensão alimentícia a ninguém.

A seguir volta a ficar calma e começa a contar a sua versão da história, tentando avocar a razão para si:

– Vou contar a verdade como foi que iniciou essa balbúrdia em minha vida. O meu filho é um estudante inocente que está sendo vítima dessas vagabundas.

Ele a repreende e Ceiça contesta:

– É cada uma que eu vejo!… Quer dizer que eu posso responder a processo porque estou dizendo a verdade. Elas são isso mesmo que falei. Hoje em dia ninguém pode dizer nada que já vem um com a boca-mole ameaçando processar. Isso é fim de mundo!

Mas depois demonstrando uma certa humildade e argumentando sobre o fato ela continua contando:

– Olhe “dotô” Aroldo, eu sou uma mulher de prendas do lar. Portanto não tenho ocupação remunerada. Porisso não tenho condições financeiras de andar distribuindo dinheiro à torto e à direito pra essas fulanas maliciosas só porque seduziram o meu filhinho.

Angustiada com a situação, prossegue a falando:

– Primeiro chegou aqui em casa uma sujeita parideira, uma tal de Marlene, que abandonou um pivete na minha porta; dava pena de ver o “bichinho” … Era só o “osso e o couro” …

O homem volta a falar alguma coisa e ela se irrita com a interrupção e diz:

– “Peraí”, “deixa eu” falar!… Quando o pestinha “tava” gordinho de tanto comer, ela veio aqui no maior atrevimento, escanchou o menino nas cadeiras e se picou com a cara enfezada. Portanto agora ela que se vire pra dar “de comer” ao filho.

Ao se lembrar de Marlene ela sente falta de ar, começa a tremer de raiva e fala:

– Quando eu pensei que tinha me livrado dessa fulana, apareceram mais três vigaristas querendo extorquir dinheiro do meu filho.

Logo depois ela fala suplicando para defender o filho:

– Isso tudo que elas falam é mentira, moço! O meu Juninho é um aplicado estudante universitário e não tem tempo a perder andando atrás de vadias. A prova do que digo são as excelentes notas dele na faculdade de engenharia.

Novamente o interlocutor diz algo e Ceiça contesta:

– O Júnior é inocente! Se ele fez algum exame de paternidade eu não sei. A única certeza que tenho é que elas devem ter falsificado os resultados para darem positivos.

O advogado comenta sobre a lei de pensão alimentícia e ela não gosta do que ouviu e refuta:

– Pra cima de mim, não, jacaré! Então procure elas pra resolver os “pobremas” … E as mães delas não são avós também?! Então o senhor mande o Juiz obrigar as “véias” a cumprirem as obrigações delas.

Achando pouco o que diz, completa:

– E também processe todas elas por largarem as filhas à toa no mundo atrás de macho pra garantirem uma renda. Procedem dessa forma porque são preguiçosas, não querem trabalhar e ainda acham quem apoie os erros delas. Inclusive o senhor!

MÃE

O advogado diz que vai lhe impor a lei através da justiça. Quando ela percebe que será obrigada a assumir a responsabilidade, tenta sensibilizar:

– Meu senhor, eu sou apenas a avó, então porque tenho que pagar a pensão judicial a filhos que eu não fiz?… Além do mais, o meu Juninho vive desempregado, por isso ele não pode pagar pensão às quengas que fizeram filhos com ele… Nós somos dois sofredores…

MÃE

Nesse momento o advogado é firme no exercício da sua função falando coisas com as quais ela fica indignada. Esquece-se de que não é idosa, mas argui a seu favor gritando feito uma desvairada:

– Hem?!… É a lei?… Que lei é essa que não considera o Estatuto do Idoso?!… Você tá dizendo que o Estatuto do Menor é maior do que o Estatuto do Idoso-maior de idade?!… E por isso eu vou ter que pagar a pensão?! Não vou pagar nada porque quem fez a vagabundagem foram eles!…

MÃE

O homem já está nervoso com as mentiras dela e faz ameaça afirmando que irá submetê-la aos rigores da lei. Temerosa depois do que ouve, ela fica resignada e fala:

– Pode deixar que eu já entendi tudo… Infelizmente por causa dessas leis o errado virou certo.

Triste, conclui o telefonema demonstrando desgosto:

– Não se preocupe porque o responsável por essas falcatruas vai assumir o erro. Pode avisar à tal da associação. Passar bem.

MÃE

Com o telefone desligado ela fica encolerizada. Solta fumaça e labaredas por todos os lados. Está explodindo de raiva e berra desesperada:

– Venha aqui na sala, canalha!… E desligue a zorra desse som infernal!…

JUNHÃO

Não entende o motivo da convocação aflita. Desliga o som e vai para a sala aparentando estar assustado. Quando chega, está com os olhos arregalados temendo o pior.

MÃE

Está vermelha, pegando fogo. Raiventa, vocifera:

– Tome as providências, já!… Assuma os seus erros, “fela da puta”! Já “tou” cansada de tanta merda que você faz! Tudo que você faz de errado estoura nas minhas costas!

JUNHÃO

Fica calado sem entender a qual providência ela se refere. Também está tranquilo por achar que deve ser alguma piração da mãe, já que acredita não fazer nada de errado.

MÃE

Exalta-se com o silêncio dele e esculacha:

– Agora fica aí com a cara de tolo songamonga, fingindo que não entende nada! Eu “tou” dizendo pra você ir logo procurar as suas quengas pra assumir os seus filhos, entendeu agora, seu ordinário?!…

JUNHÃO

Continua fingindo não entender a angústia dela e assusta-se com o xingamento, porém permanece calado.

MÃE

Está possessa com a possibilidade de vir a ser enquadrada pela justiça. Grita colérica:

– Você quer “mim” arrombar, seu corno leviano?!… O resultado da sua esbórnia “tá” sobrando pra mim, seu peste!

JUNHÃO

Ainda confuso, arregala os olhos e olha para os lados sem parar. Está atônito tentando entender o motivo de tanta confusão.

MÃE

Está furiosa, soltando fogo pela boca. Continua gritando:

– As suas “nigrinhas” de “ponta de rua” estão querendo mandar “mim” prender na penitenciária de “Pedra Preta” por sua causa, seu desnaturado!…

Depois esbraveja determinando:

– Vá logo conversar com aquelas pestes pra amenizar a minha situação. E depois trate de arranjar um emprego, um “bico”, uma “viração” ou qualquer tipo de trabalho com urgência pra poder pagar as pensões alimentícias dos seus filhos!…

Ainda enraivada, conclui:

– Elas estão com essa picuinha comigo é porque você é um “malandrão” que fez o malfeito nelas e depois tirou o corpo fora!…

JUNHÃO

Surpreso com a declaração de Ceiça ele esbugalha os olhos demonstrando estar assustado. Fica nervoso ao ouvir a ordem para que arranje um trabalho.

MÃE

Ainda furiosa, determina:

– Ou você arranja a zorra do emprego ou vai ter que ir morar nas casas das sogras, está “mim” entendendo, Júnior?!…

Não satisfeita, debocha:

– Aí elas vão ver com os próprios olhos o “bicho preguiça” que você é!…

JUNHÃO

Fica apreensivo; olha para ela com um sorriso maroto e encolhe os ombros, como se estivesse dando pouca importância ao assunto. Deixa Ceiça falando sozinha e volta para o quarto. Despreocupado, liga o som com o volume bem alto. Depois comenta com cinismo:

– Pô! Que velha mais desgraçada… Parece que não quer que eu tenha paz. A vida dela é viver indagando sem necessidade. Agora deu para querer ficar empurrando as boncas dela pra cima de mim. É cada disparate que eu tenho que aturar dessa criatura…

A seguir diz queixoso:

– Outra pessoa vendo esses desatinos, diria que ela precisa de um tratamento psiquiátrico. Mas eu digo que esse estresse é falta do que fazer aqui em casa. Se eu não mantiver a calma sou capaz de endoidar com as maluquices dela.

Fala demonstrando satisfação:

– Uma doidona dessa que nunca trabalhou na vida agora quer me obrigar a arranjar um serviço. Ela precisa “pegar a visão” de duas coisas: que eu não sou afeito a trampo e que é obrigação dela pagar as pensões alimentícias dos netos.

Não satisfeito, continua debochando da mãe:

– Eu não pedi pra nascer; me pariu porque quis. Portanto, como ela mesma diz: “quem pariu Mateus que balance”.

E conclui:

– É a mulher mais burra que já vi; até hoje ela ainda não entendeu que eu sou um ninja!…

 

Autor: Joswilton Lima

Joswilton Lima é natural de Ilhéus-Ba, mas é domiciliado há mais de vinte anos em Morro do Chapéu. Tem formação em Ciências Econômicas, mas sempre foi voltado para as artes desde a infância quando começou a pintar as primeiras telas e a fazer os seus primeiros escritos. Como artista plástico participou de salões onde foi premiado com medalhas de ouro e também de inúmeras exposições coletivas nos estados da Bahia, Sergipe e Pernambuco. Possui obras que fazem parte do acervo de colecionadores particulares e entidades tanto no Brasil, quanto em países do exterior, a exemplo dos E.U.A, Portugal, Espanha, França, Itália e Alemanha. Possui o site www.joswiltonlima.com onde tem uma mostra de algumas de suas pinturas em diferentes técnicas e estilos, sendo visualizado por inúmeros países.

Em determinada época lecionou pintura em seu atelier no bairro de Santo Antonio Além do Carmo, em Salvador, e foi membro de comissões julgadoras em concursos de pintura. Nesse período exerceu a função de Diretor na Associação dos Artistas Populares do Centro Histórico do Pelourinho (primitivistas e naif’s), em Salvador.

Como escritor também foi premiado em diversos concursos de contos tendo lançado um e-book com o título “Enigmas da Escuridão”, com abordagem espiritualista, tendo obtido a nota máxima de 5 estrelas de leitores do site www.amazon.com.br Outros contos e romances estão sendo escritos.

Concomitante às atividades artísticas sempre exerceu funções laboriosas em diversos setores produtivos, tendo se aposentado recentemente na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, onde trabalhou por muitos anos na Fiscalização.

https://www.amazon.com.br/Epis%C3%B3dios-Junh%C3%A3o-Joswilton-Jorge-Nunes/dp/B08PQP2SF2/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&dchild=1&keywords=episodios+do+junh%C3%A3o&qid=1628416996&sr=8-1&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.6121c6c4-c969-43ae-92f7-cc248fc6181d
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