EPISÓDIOS DO JUNHÃO apresentam: O REGRESSO DO NOIVO BOMBA

JUNHÃO

Vinte e seis anos de idade. Três dias após voltar do interior onde frustrou todas as expectativas da mãe, Junhão segue com a sua vida rotineira. Ceiça está inconsolável porque esperava ardentemente que o filho noivasse na viagem que fez à Floresta Azul. Em seus desejos o casamento viria logo depois. Sonhava com a união matrimonial do filho com uma moça rica e de boa família, pois ela ansiava que o seu Juninho tivesse um futuro esplendoroso.  No entanto, indiferente à mágoa que causou à mãe, ele dorme o “sono dos justos” às onze horas da manhã.

MÃE

Quarenta e seis anos. Está na cozinha preparando o almoço e o café do filho. Apesar do desgosto que tivera, ela se esmera em pôr na mesa o desjejum para o seu rebento. Coloca diversos tipos de frutas, já descascadas; frita quatro ovos caipiras usando manteiga de garrafa e grelha dois peitos de frango cobertos de parmesão ralado. Também põe na mesa fatias de: queijo, presunto de parma, presunto de porco, salame e de pernil de porco. A seguir passa manteiga vinda do interior em seis pães “cacetinhos”; frita dois bifes, ferve um litro de leite e faz o café. Ela se esmera porque sabe que o filho é muito exigente. Junhão reclama de tudo que não esteja do seu agrado. Depois comenta injuriada:

– E um “fio da peste” desse ainda vai pra casa dos outros parecendo um esfomeado que está morrendo de fome! Ah, que raiva estou sentindo desse sujeito!…

Apesar de estar envolvida nas tarefas domésticas, olha repetidas vezes para o relógio de parede colocado estrategicamente na cozinha. Ceiça fica nervosa quando vê o tempo avançar e ele continuar dormindo. Está ansiosa para ver quando o filho preguiçoso vai se levantar da cama. Na última espiada que olha as horas, ela esbugalha os olhos e solta fumaça pelo nariz quando percebe que só faltam quinze minutos para o meio-dia. Nesse momento ela fica irritada e bate repetidas vezes com força uma panela de alumínio na pia de inox, fazendo um barulho enorme.

JUNHÃO

Poucos minutos depois ele passa para o banheiro com um mau humor terrível. Os cabelos estão desgrenhados, barba por fazer, olhos vermelhos parecendo brasas, olheiras acentuadas e a voz rouca. Na realidade está todo amarrotado. É o seu retrato fiel de mais uma noitada na farra. Ao ver a mãe explode de raiva:

– Mas, rapaz!… Você não tem jeito. Que zorra é essa?!… Será que ninguém pode dormir em paz nesta casa?!… Você não mora sozinha pra ficar fazendo baderna “de madrugada”! Vou dar queixa ao paizão por causa dessa bagunça que você faz aqui em casa pra “mim” incomodar.

MÃE

Por instantes ela fica zonza com o esporro acompanhado de ameaça contra ela e arregala os olhos ao ouvir tamanha inversão de valores. A seguir reage embrutecida:

– Peraí, cabra safado!… Eu tou entalada com você até aqui na garganta! ¬ nesse momento ela espalma a mão e a coloca perpendicular no pescoço para mostrar até aonde está a sua raiva.

Depois completa demostrando ira:

– Ah, se tou!… Vem “pracá” com a sua “malcriação” que você vai ver, vagabundo ordinário! Você está pensando que é quem, pra ficar reclamando comigo?!!!

JUNHÃO

Ao vê-la enraivecida ele finge inocência e desconversa:

– Não me diga que você está entalada de raiva só porque eu pedi paz para poder dormir tranquilo sem essa zoada sua…

MÃE

Muito nervosa ela ri com deboche. A seguir grita com toda a sua fúria:

– Oh, seu filho “duma jumenta”! Não se faça de imbecil! Eu tou falando que se você quisesse ter boa vida pra dormir até a hora que quisesse, teria aceitado o casamento com Cacinha, a filha do coronel Clemente, seu peste malparido!

JUNHÃO

Ele olha assustado para a mãe e usa da sagacidade para a sua defesa. Dá uma risada sonora e argumenta em proveito próprio:

– Ora, o seu estresse é esse?! Porque não falou antes?!… Simplesmente não noivei, porque não “rolou” química; ou eu sou obrigado a cumprir todos os seus desvarios?

MÃE

Com a cabeça fumaçando através dos bóbis ela cerra as sobrancelhas, arregala os olhos, coloca uma mão nas cadeiras e a outra no queixo. Em silêncio, fica observando o filho detidamente com o olhar de recriminação, enquanto demonstra nervosismo balançando a ponta de um dos pés que não está apoiado totalmente no chão. Percebe que poderá explodir a qualquer momento. Está espumando de raiva a ponto de perder as estribeiras. Mas, tentando aparentar estar calma, relata com a voz severa o motivo da sua angústia:

– As notícias a seu respeito não são boas, ouviu mocinho?!… “Tou” sabendo de mais uma bomba sua, seu nojento! Hoje pela manhã a minha amiga Nerinha me telefonou contando o salseiro que você praticou durante a viagem de volta…

JUNHÃO

Ao ouvir o nome Nerinha ele fica revoltado e a interrompe reclamando:

– Ah, lá vem você de novo com fuxico dessa fulana! Já lhe disse que essa sua amiga é do mal porque é muito fofoqueira. Diga a ela pra “desencarnar de mim” e “largar do meu pé”. Essa sujeita não tem outro assunto pra comentar?!… Agora eu virei o Cristo pra ela querer ficar me condenando?!…

Para por instantes e, com raiva, volta a se queixar da amiga da mãe:

– Já não basta o mexerico que essa sujeita fez quando fui jantar na casa do coronel Clemente?!… Agora ela aparece com mais uma fofoca. Será que essa mulher não tem nada pra fazer?! Parece que vive fuçando a minha vida só pra fuxicar com o meu nome!…

Determinado, afirma:

– Ela já contou uma versão distorcida do que fiz naquele maldito jantar que me convidaram; com certeza essa conversa é mais outra invenção dela. “Tou” pra ver uma “sujeitinha” maldosa igual a ela…

Mas, curioso para saber até aonde ia o conhecimento da mãe sobre a sua viagem de volta, pergunta:

– Mas diga aí, qual é o babado dessa vez?!…

MÃE

Está perplexa com a dissimulação do filho e começa a repreendê-lo:

– Oh, seu cabeça de bagre! Você sabe perfeitamente que não foi à casa do coronel Clemente simplesmente para jantar. Quem é você no “jogo do bicho” pra ser o convidado de honra de gente importante só pra comer?!

E continua lamentando:

– Você é um menino desavergonhado que só “mim” dá desgosto, ao invés de orgulho. Hoje poderia estar muito bem com o “burro na sombra”, vivendo no meio dos ricaços e com uma grande possibilidade de se tornar um deles. Mas, como quer viver feito um maloqueiro, jogou tudo pro alto. Já vi que é um caso sem jeito, porque esbagaça tudo o que eu arranjo pra você se dar bem na vida.

Depois fala com desgosto:

– Só sendo um elemento fuleiro com a “cabeça de vento” pra deixar a Cacinha, uma moça rica e formosa, na “rua da amargura” …

A seguir resolve começar a dizer o motivo do seu engasgamento com relação ao filho:

– Mas você é um ingrato! A pobre da Nerinha continua sofrendo porque quis ajudar você. Agora, sem a menor cerimônia, vive esculhambando a coitada. Todo mundo que teve contato com você nessa malfadada viagem tem uma queixa sua. Inclusive eu, que nem lá eu fui!

Complacente, resmunga:

– “Tou” pra ver um menino desajuizado igual a esse…

Logo após o comentário, continua raivosa:

– Até o motorista do ônibus, seu Alfredo, que trouxe você de volta pra Salvador contou a Nerinha sobre os seus desatinos durante toda a viagem. O coitado ameaçou até abandonar a profissão se você continuar viajando com ele.

E completa lamentando:

– O coitado depois que lhe transportou está fazendo tratamento com uma psicóloga, porque todas as noites tem pesadelos terríveis com você aparecendo feito um zumbi para aterrorizar a mente dele. O pobre homem disse a ela que está a ponto de endoidar, porque os passageiros quando ingressam no ônibus para viajar ele vê todos com a sua cara e fica temendo que irão fazer uma grande confusão no coletivo durante a viagem.

Ainda falando sobre o motorista ela diz:

– Inclusive disse que está vendo a hora de ser despedido da empresa porque durante as viagens ele muitas vezes não para nos pontos da estrada porque enxerga as pessoas com o seu semblante e fica com medo das balbúrdias que poderão promover.

E conclui:

– “Tá” vendo aí, o resultado das suas artes?!… Você deixou o motorista “traumatizado”.

JUNHÃO

Interrompe a fala da mãe e responde com rispidez:

– Ah, então é isso?!… Agora apareceu mais outro fofoqueiro! Quer dizer que fizeram um complô contra mim naquela cidadezinha, não é?! Eu devia não ter feito aquela viagem! Eu estava muito bem aqui, mas você ficou fustigando o meu juízo com a sua prosa ruim…

Nesse momento ele entorta a boca, faz careta e amolece a língua para arremedar a mãe:

– Juninho, meu filhinho querido, você vai se dar bem na vida porque irá casar com uma moça rica e muito bonita. Você não quis estudar, portanto eu já ajeitei o seu futuro, meu anjo. O pai da moça é gente boa e vai lhe amparar.

De repente ele para com a imitação grotesca, engrossa o tom de voz e diz irritado:

– Gente boa, uma zorra!!!… Amparar merda nenhuma! Aquele velho botou os capangas armados para que me enxotassem de lá da fazenda sem ter nenhum motivo.

Para por instantes, em seguida reclama:

– Vocês estão chateadas comigo só porque eu não quis casar com aquela loirinha desmilinguida, insossa, sem sal e sem açúcar, totalmente sem gosto e tirada a grã-fina. É por isso que virei o inimigo público número um de todo mundo! Agora me aparece até o diabo de um motorista de ônibus contra mim!

Em seguida, acusa:

– Esse indivíduo deve ter recebido propina do tal “coroné” pra ficar me caluniando!

MÃE

Fica cada vez mais assustada com as palavras injuriosas do filho sobre as pessoas. Num ímpeto resolve continuar contando o que está deixando-a aborrecida com referência ao comportamento do filho. Autoritária, diz:

– Você lá tem moral pra falar de ninguém seu “descomposturado”! E não fique “defamando” a Cacinha, porque ela não é nada disso que você falou! Nerinha disse que ela é a moça mais cobiçada pelos rapazes ricos da região! E o coronel Clemente deu a preferência a você porque atendeu ao pedido dela. E olha aí o resultado da sua imperícia!

Continua a fala:

– Tome vergonha na cara e pare de ficar caluniando o coronel Clemente! Ele não é da sua laia pra ficar dando dinheiro aos outros para fazerem algo de errado. O homem é um senhor muito direito e jamais iria se sujar com uma coisa dessa!

Depois profere enfezada:

– Deixa de ser cara-lisa, “cabra safado”! Você é quem mais sabe dos seus malfeitos! Todo mundo que lhe conheceu viu como você é desmantelado e sem costumes!

A seguir continua nervosa:

– O motorista disse a Nerinha que você transformou a viagem do ônibus num inferno. Muito espaçoso, ficou todo “esponjado” na maior folga, querendo ocupar o espaço de duas poltronas. Aos poucos você foi se expandindo e empurrando um velhinho que estava sentado ao seu lado. O velho foi cedendo até ficar todo encolhido num cantinho. Com o “rabo cheio” de cachaça você começou a roncar muito alto e a soltar gases estrondosos incomodando os vizinhos de poltrona com a fedentina. O pobre senhor ficou revoltado com mais esse abuso e reclamou alto da sua falta de educação e a resposta mal-educada que você deu foi a de que os “incomodados que se mudem”.

Pouco depois se lembrando de mais um fato, relata:

– Uma mocinha que estava sentada numa poltrona do outro lado do corredor levantou-se e completou a zoada apontando para você enquanto gritava com a voz fanhosa por causa do nariz tapado: acorda, gente! aquele sujeito ali está podre!

Ainda se referindo à mocinha escandalosa ela conta a continuação dos gritos:

– “Vixe, Maria”!… Ele comeu carniça!… Vamos rezar pra ver se consegue salvar a alma, porque o corpo dele não tem mais jeito!

Continua relatando os berros da mocinha:

– Não tem um ser vivente que aguente sobreviver numa fedentina dessa! Acordem logo pra não morrerem todos sufocados!

Ceiça prossegue com o assunto:

– Mas a mocinha não sabia que você tinha jantado uma ótima comida e que o fedor dos gases era por causa da sua “cachaçada”. “Tá” vendo aí o resultado das suas bebedeiras?!…

Para um pouco e senta-se numa cadeira. Está com os olhos vermelhos de tanto chorar. Então coloca o cotovelo na mesa e apoia o rosto com a mão espalmada. Desanimada, volta a relatar:

– Como se não bastasse essa sua sem-vergonhice, você se levantou ligeiro da poltrona e gritou para o velhinho: sai da frente “coroa”, porque eu estou me borrando!

Mesmo estando horrorizada com as queixas sobre o filho ela continua a expor:

– A seguir você empurrou as pernas do ancião com brutalidade para poder passar para o corredor. Com essa zoada que você fez, quem ainda estava dormindo, acordou. Depois saiu correndo e gritando feito um alucinado em direção ao mictório. Enquanto corria, jorrava vômitos melando tudo por onde passava. Até o teto do coletivo ficou todo respingado com o melaço asqueroso escorrendo. Inclusive, nem as poltronas e nem os passageiros que estavam perto do corredor por onde você passou escaparam dos jatos lançados a esmo.

Continua relatando o ocorrido:

– Ao sofrer a agressão devido aos empurrões no joelho, o pobre velho começou a gritar pela neta que estava sentada um pouco atrás: me acode Ester, porque esse moço “tá” maluco!

Enquanto ela fala o Junhão sorri com cinismo, possivelmente se lembrando do tumulto que causou no coletivo. A mãe continua a contar o que ouviu da amiga Nerinha:

– O velho fez um escarcéu tão grande que virou em alvoroço com os passageiros querendo saber o que tinha ocorrido. Ao saberem do ocorrido todos ficaram desassossegados por sua causa. Apesar disso o motorista continuou a viagem fingindo não perceber nada, mas estava aflito com a confusão; afinal ele tinha horário a cumprir e estava doido para chegar ao destino pra se livrar do “pobrema”.

Enraivada, continua a reclamar:

– Mas você não tinha horário e nem limites! Pensando que ainda era uma criança que não podia ser contrariada, por estar afobado não conseguiu abrir a porta do mictório do ônibus. Nesse momento você tornou o coletivo num inferno gritando: gente, eu “tou” me borrando!!!…

A seguir ela conta:

– Então, logo depois você berrou chamando um homem forte pra arrombar a porta, porque senão, ia despejar tudo no chão do corredor!

Junhão dá uma gargalhada, orgulhoso do seu feito. Isso revolta ainda mais a mãe que grita para ele:

– Isso ficou bonito pra sua cara?!… E você, que diabo de homem é, que precisa chamar por outro?!… Um sujeito que não faz nada na vida, come de tudo, do bom e do melhor, é forte, bem nutrido e dorme o tempo inteiro… Que diabo de fraqueza é essa?!…

A seguir pergunta:

– Por que precisa fazer escândalo chamando um homem pra abrir uma portinha do sanitário de um ônibus? Mas, para alívio dos outros passageiros, um cidadão foi lá e destravou a porta no intuito de obter o sossego para poder dormir durante o restante da viagem.

Para um pouco e depois prossegue:

– Mas não adiantou a gentileza dele, porque quando você saiu do sanitário os passageiros não conseguiram mais ter paz. A fedentina empestou todo o coletivo, pois um defeito impediu que a portinhola do sanitário fosse fechada novamente. E também porque desde o chão do corredor até onde era pra urinar você breou tudo de merda. Como se não bastasse isso tudo, ainda teve o fedor do vômito espalhado por onde você passou.

Para por instantes enquanto suspira forte e depois continua expondo:

– Devido à sujeira que você fez todos os passageiros exigiram que o ônibus fosse levado para fazer a limpeza do coletivo em Feira de Santana. Ao chegar, os coitados tiveram de esperar por horas na garagem da empresa de viação do ônibus até que lavassem e desinfetassem todo o veículo.

Ainda angustiada ela censura o filho:

– E o “discaradão” ao invés ter ficado envergonhado perante as pessoas e pedido desculpas pelo malfeito, você foi para um boteco tomar mais cachaça. Ah, sujeito!…

E complementa injuriada:

– Enquanto você bebia aparentando que estava tudo bem, alguns passageiros tiveram de ir ao sanitário para lavar as roupas que você sujou com a sua “imundice” numa pia, coitados…

A seguir comenta:

– Estou começando a acreditar no que as pessoas sempre “mim” dizem de que você é um caso sem jeito. Das duas, uma: ou você é um amalucado que não tem empatia por ninguém ou então é um menino sem noção.

Desorientada devido aos absurdos cometidos pelo filho ela se pergunta:

– Onde foi que eu errei, meu Deus?!… Mas tenho certeza de que Ele vai “adevogar” em meu favor.

Mais uma vez ela para; afinal estava se desengasgando de tanto malfeito do Junhão. Nesse momento o filho abaixa a cabeça como se estivesse refletindo sobre o assunto, mas, ao contrário disso, ele continua com um riso cínico no canto dos lábios. A mãe continua com a sua revolta:

– Depois do ônibus totalmente lavado e higienizado seguiram viagem rumo à Salvador. Tudo parecia normal. As pessoas voltaram a dormir tranquilas, mas você não! Estava endemoniado!!! O “Zé Pilintra” continuava incorporado em você ditando os malefícios para o doidão do Júnior executar sem se incomodar com o bem-estar dos outros passageiros…

A seguir continua relatando:

– O dia já tinha amanhecido com o ônibus chegando em Simões Filho, quando o meu filhinho, que criei com tanto zelo, grita a plenos pulmões acordando os passageiros que estavam cansados por causa das suas perturbações: motô! para o buzú! volte pra Feira de Santana porque o velhinho que estava sentado na poltrona junto de mim ficou esquecido lá na garagem!

JUNHÃO

Resolve se pronunciar. Argumenta para tentar convencer a mãe:

– Lógico que eu tinha de cuidar do pobre velho. Na hora eu fiquei compadecido porque me lembrei do meu pai que já está idoso.

MÃE

Fica indignada e rebate:

– Você pensa nada em seu pai, seu merda!!! Idoso “zorra” nenhuma, seu picareta! Alcebíades só tem cinquenta e um anos! E isso é lá idade de idoso, seu peste?!!! Se você pensasse nele já teria terminado os estudos e estaria trabalhando para aliviar a carga pesada que ele tem em continuar levando nas costas um jumento igual a você!

Depois fala rancorosa:

– E também se pensasse nele teria aceitado o casamento com Cacinha…

A seguir completa a fala:

– O velho estava viajando com a neta! Ela que cuidasse do avô dela e não você, seu babaca.

E conclui raivosa:

– Eu ainda vou na faculdade pedir pra eles imprimirem o atestado de burro que te deram. Quero fazer várias cópias pra toda hora “isfergar” uma delas na sua cara. Você vai ver, seu “oreba”!

JUNHÃO

Está com o semblante tranquilo. Resolve se pronunciar:

– Ora!… A neta, a tal de Ester, estava o tempo inteiro com fones no ouvido e não se preocupava com o avô. A culpa do último tumulto foi do velho porque, ao invés de se sentar novamente junto a mim, resolveu ir para outra poltrona bem longe de onde eu estava. Por causa disso terminei me esquecendo do velhote e só me lembrei dele quando já estava perto de salvador.

MÃE

Fica revoltada com o filho e reclama lamentando:

– Não sei mais o que fazer pra botar juízo em sua cabeça. Você causou tanto rebuliço dentro do ônibus por causa do velho que o motorista retornou até a garagem em Feira de Santana. Quando chegaram lá descobriram que o velhinho estava dormindo dentro do coletivo.

Desolada, comenta:

– Com o atraso na viagem todos os passageiros ficaram revoltados e queriam linchar você em plena viagem na volta para Salvador. Por causa dessa viagem o pobre do motorista foi repreendido e recebeu uma suspensão de quinze dias pelo atraso no horário e por ter desperdiçado tanto combustível sem necessidade.

A seguir fala penalizada:

– O pobre do seu Alfredo estava tão transtornado com a desordem que você promoveu que retornou imediatamente para Feira de Santana sem ter antes conferido os passageiros pela lista de viagem que ele tinha. Esse é o resultado da sua impertinência!

Ainda demonstrando amargura, reclama:

– Você é mesmo um cínico. Pelo que eu soube, o único que estava sem se preocupar com nada era você. Se você tivesse se comportado “feito gente” na casa do coronel Clemente, poderia ter noivado e ficado lá por uma semana, no mínimo, cheio de mordomias e teria evitado todos esses perrengues pra mim.

Depois conclui chorosa:

– Mas “quem quer ser da lama não aceita cama” … Infelizmente o seu pai não vai ficar sabendo de nada dos malfeitos que você vive aprontando e essa cruz pesada continua ficando em minhas costas. Alcebíades não pode nem sonhar que eu sou a culpada desses seus desatinos, porque vivo encobrindo todos os seus malfeitos.

A seguir lamenta:

– Oh, meu Deus!… Quando é que vai acabar esse meu sofrimento?

JUNHÃO

Continua tranquilo. De repente engrossa a voz e ordena:

– Como é rapaz?!… É melhor você deixar de lenga-lenga, porque já tá tudo resolvido. Já tomei o café da manhã e agora bote ligeiro o meu rango porque eu gosto de tirar uma soneca depois de comer. Adoro fazer uma sesta para descansar.

MÃE

Mesmo enfezada, ao ouvir as ordens do filho se apressa em colocar a comida na mesa.

JUNHÃO

Vai para o quarto descansar após o almoço. Ao se deitar, reclama:

– Ah, mulherzinha aloprada!… Ela parece uma sanguessuga em meu juízo. Fica apertando a minha mente porque ela gosta de ouvir fuxico pra fazer confusão. Esse é o estilo dela só para tirar a minha paz de espírito!

Depois fala com determinação:

– Mas, “quem tem com que me pague, não me deve nada”. Ela ainda vai me pagar toda essa perturbação que está fazendo o meu juízo arder com tanta prosa ruim.

MÃE

Estando sozinha comenta sem ânimo:

– Ainda vou ter que orar muito pra ver se consigo retirar esse espírito maligno que é o encosto que está prejudicando a vida do meu filhinho.

E diz com fervor:

– Com a força das minhas orações, esse excomungado de vulgo “Zé Pilintra” vai deixar o corpo e a mente do meu Juninho em paz…. Tenho fé em Deus!

A seguir fala com raiva planejando a sua vingança:

– Esse capeta miserável vai ter que encher o rabo dele de cachaça sozinho nos quintos dos infernos! E o meu filhinho vai escapulir dele porque o sangue de Cristo tem poder!

Autor: Joswilton Lima

Joswilton Lima é natural de Ilhéus-Ba, mas é domiciliado há mais de vinte anos em Morro do Chapéu. Tem formação em Ciências Econômicas, mas sempre foi voltado para as artes desde a infância quando começou a pintar as primeiras telas e a fazer os seus primeiros escritos. Como artista plástico participou de salões onde foi premiado com medalhas de ouro e também de inúmeras exposições coletivas nos estados da Bahia, Sergipe e Pernambuco. Possui obras que fazem parte do acervo de colecionadores particulares e entidades tanto no Brasil, quanto em países do exterior, a exemplo dos E.U.A, Portugal, Espanha, França, Itália e Alemanha. Possui o site www.joswiltonlima.com onde tem uma mostra de algumas de suas pinturas em diferentes técnicas e estilos, sendo visualizado por inúmeros países.

Em determinada época lecionou pintura em seu atelier no bairro de Santo Antonio Além do Carmo, em Salvador, e foi membro de comissões julgadoras em concursos de pintura. Nesse período exerceu a função de Diretor na Associação dos Artistas Populares do Centro Histórico do Pelourinho (primitivistas e naif’s), em Salvador.

Como escritor também foi premiado em diversos concursos de contos tendo lançado um e-book com o título “Enigmas da Escuridão”, com abordagem espiritualista, tendo obtido a nota máxima de 5 estrelas de leitores do site www.amazon.com.br Outros contos e romances estão sendo escritos.

Concomitante às atividades artísticas sempre exerceu funções laboriosas em diversos setores produtivos, tendo se aposentado recentemente na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, onde trabalhou por muitos anos na Fiscalização.

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