Episódio inédito: ‘VOU ME ESBALDAR NA FESTANÇA DA VIRADA!!!’

VOU ME ESBALDAR NA FESTANÇA DA VIRADA!!!

JUNHÃO

41 anos de idade. Hoje é o esperado dia 31 de dezembro. Enfim o réveillon irá acontecer e, com certeza, ele irá se esbaldar na festa do ano-novo que a cidade vai promover. Mas, indiferente às preparações dos festejos, o Alcebíades Júnior ainda dorme para aguentar a noitada de curtição que por certo será excelente para o bon vivant – afinal, que mal lhe vem?

De repente o enorme relógio pendurado na parede da sala de visitas começa a movimentar o pêndulo e uma zoada estridente soa badalando para anunciar que já são quinze horas. Porém, apesar da barulheira, ele continua dormindo no quarto contíguo e ressonando alto dando a impressão de que ainda é plena madrugada.

MÃE

61 anos de idade. Ceiça está toda largada sentada no sofá da sala porque está tirando uma madorna após o almoço e acorda assustada quando ouve o som agudo. Nesse momento ela se levanta com um salto, mas está desnorteada por não saber de imediato o que teria perturbado o seu sono. Ainda atordoada ela caminha com passos incertos até a mesa e tateia sobre o móvel até encontrar os grossos óculos de grau. Após coloca-los no rosto, vai até o relógio para ver as horas ao ouvir os roncos do filho. Nesse momento os seus olhos quase saltam das órbitas e espuma de raiva porque fica indignada ao verificar o horário. Então fica muito revoltada e esbraveja:

                – Mas que “miséra” é essa?!!!… Já são três horas da tarde e o inútil ainda dorme o sono dos justos! Vou lá agora para acabar com a patifaria desse sujeito folgado!

E parte rápida com muita raiva em direção ao quarto do filho.

JUNHÃO

Enquanto ele continua dormindo, Ceiça esmurra a porta do quarto com tanta violência parecendo querer arromba-la. Com a demora em atende-la, a mãe fica mais irritada ainda. Por causa da lerdeza dele em abrir a porta, os brados e batuques se sucedem cada vez mais com maior intensidade por parte da mãe. Só depois de muito tempo, gritos e zoadeira ele consegue acordar. A contragosto Junhão se levanta da cama com morosidade e, irritado, pronuncia em voz alta alguns palavrões incompreensíveis para ela por causa da parede. Está muito enfezado por ter tido o sono interrompido. Estando em pé ele caminha ligeiro até a porta, enquanto limpa a remela dos olhos vermelhos devido à farra da noite anterior. Encolerizado, está decidido a dar um esporro na mãe a fim de que ela pare com aquela histeria. Ele detesta a impertinência da mãe em querer invadir o seu espaço, principalmente quando está dormindo com ressaca. Quando abre a porta está fulo de raiva e, antes que ela pronuncie alguma palavra, ele começa o esculacho com a voz rouca e o hálito com bafo de onça:

                – Oh, rapaz!!!… Você é uma criatura sem noção; precisa aprender a respeitar a minha privacidade! Por acaso é da polícia pra querer invadir os meus aposentos?!… Não viu que cheguei com o dia amanhecendo e que preciso dormir para recuperar o meu sono?!

Depois ele para de falar por instantes. Ceiça está revoltada e tinha vontade de lhe dizer umas verdades, mas diante da reação dele, emudece e fica sem ação porque está boquiaberta ao ver tamanha inversão de valores. Assenhoreado da situação, Junhão reinicia a bronca:

                – Ao invés de você ficar aqui dando faniquito vá logo pra cozinha preparar o meu desjejum. Quero café com pouco açúcar, leite desnatado por causa do colesterol, seis ovos fritos na manteiga vinda do interior, bacon, salame, presunto e bastante queijo. Também faça uma jarra de suco de manga. E ande ligeiro, porque se tem força pra querer derrubar a porta, vai ter força pra trabalhar.

Assim que ele para com as determinações ela se vira para ir cumpri-las fielmente. Por causa dessa atitude da mãe em virar-lhe as costas ele fica irritado e, como se não bastasse a comilança pretendida, continua ditando as ordens:   

– “Peraí, rapaz”!… Preste atenção no serviço porque ainda não terminei de falar! Veja bem: quando eu terminar de tomar o “café da manhã” pode pôr imediatamente na mesa o meu almoço que é mocotó, pirão, arroz e molho lambão. Também coloque cervejas no freezer para que fiquem tipo véu de noiva. Eu quero terminar o ano e iniciar o próximo fazendo tudo a que tenho direito para ser um bem-aventurado no ano vindouro.

MÃE

Nesse momento Ceiça perde as estribeiras e brada fumaçando de ódio:

                – Mas será o Benedito?!!!… Parece que fizeram um feitiço para o exu das sete encruzilhadas “mim” mandar esse encosto pra “vim” perturbar o meu sossego! Esse espírito ruim está alojado no lombo do Júnior e não vai embora nem com reza braba.

Ainda contrariada, continua planejando um jeito de resolver o problema que a aflige:

                – O único jeito vai ser eu ter que recorrer ao livro de São Cipriano da capa preta para buscar orientações satânicas. Vou mandar embora o encosto junto com o bicho preguiça que dorme o dia inteiro e ainda se acha cheio de direitos.

JUNHÃO

Percebendo que poderá perder o domínio da situação, ele sorri de soslaio e determina com a voz engrossada para amedronta-la:

                – Escute!…, hoje só vou usar roupas brancas pertinentes à data. Por isso quero que passe à ferro um bermudão, meias e aquela camiseta regata que tem o emblema do meu time tricolor. Quero que todos saibam que sou torcedor do “Baêa”. Se o tênis branco estiver sujo de barro, lave ligeiro e deixe enxuto; coloque atrás da geladeira para secar. Sabe como é, devem estar imundos, porque tem umas “bocadas” na cidade que a administração pública não cuida e deixa tudo à toa, com ruas cheias de buracos e lama. Mas eu tenho que ir impecável para festejar a passagem para ano-bom.

Depois, de forma arrogante, ele determina:

                – E prepare grana à beça porque preciso curtir a vida como um nababo. Afinal de contas eu sou merecedor!

MÃE

Não tolerando ouvir tantos desaforos fica muito enraivada e contesta o filho, mas de modo benevolente:

                – Pelo que eu sei, quem festeja a chegada do ano-novo são pessoas responsáveis, que trabalham, que têm bons empregos, com boas condições financeiras e não um pé-rapado que nem você, sem um tostão no bolso.

Aos poucos ela vai aumentando o tom da reclamação:

– Você é um homem que vive sem pensar no futuro. Ao invés de economizar, quando pega em dinheiro a primeira coisa que faz é correr pra cair na gandaia e “fica duro” em pouco tempo. Na sua mão o dinheiro evapora que nem gás, seu “inresponsável”!

E as queixas não param:

                – Veja se é certo uma “miséra” dessa?!… Um sujeito na sua idade precisar que eu fique bancando a sua esbórnia? Isso é um absurdo?!!!…

Ainda inconformada ela continua:

E como se isso não bastasse, vivo com medo de você ser preso a qualquer momento por causa da tal lei da pensão alimentícia. Por isso ainda tenho que ficar mandando dinheiro de vez em quando para os quatro malandrinhos que você fabricou junto com quatro quengas das cabeças de vento. A minha vida é orar para que elas não prestem queixa contra você.

Magoada ela completa:

                – Se fosse ao contrário e os pivetes estivessem sendo criados aqui, duvido muito que essas fulanas mandassem um tostão para ajudar a sustentar os bastardos.   

Para um pouco para retomar o fôlego e depois prossegue:

                – Pelo meu gosto você vai continuar aí deitado com a sua dormência infame e não ir pra merda de comemoração nenhuma. Pelo que “mim” consta você não perdeu nada lá.

JUNHÃO

Ao perceber a alternância de humor de Ceiça ele resolve amenizar:

                – “Peraí” mainha, assim você está “jogando duro”!… Você precisa me dar a grana para eu ir curtir a minha farra; afinal é a passagem de ano. A minha galera vai estar lá festejando.

Para ser mais incisivo ele parte para o ataque:

– Você já se esqueceu de que está com um débito alto comigo?

MÃE

Ao ouvi-lo fazer a cobrança, fica furiosa e indaga aos gritos:

                – Eu estou lhe devendo o que?!… Devendo o quê, Júnior?!!!… Tome vergonha na cara, “cabra” sem-vergonha, que eu sou lá “mulé” de dever a ninguém! E muito menos a um parasito de pais idosos que nem você, seu ordinário!!!

JUNHÃO

De repente fica triste e, ao contrário da arrogância inicial, abranda o tom de voz para falar quase suplicando:

                – É como dizem…, pão comido é esquecido. No natal desse ano você se esqueceu de me dar o presente de Papai Noel… Por isso eu digo e repito que você está me devendo dinheiro e não é pouco, porque tem os juros do capital referentes à compra não efetuada. O débito é devido por ter negligenciado o seu filho.

MÃE

Não aguentando os desatinos do filho com a tentativa de extorsão ela explode enfurecida:

                – Presente de natal o que, sua “disgraça”!!! Você acha que tem que idade, hem Júnior?!!!… É cada uma presepada que “mim” aparece na vida… Um mondrongo velho desse quer virar criancinha atrás de Papai Noel. Ah, sujeito!…

A seguir ela fica sufocada em ressentimentos e com o rosto em brasas. Rápida, pega um pedaço de papelão para se abanar porque não está aguentando o calor devido à pressão que o filho está lhe dando. Assim que alivia a quentura que sentia ela reinicia a fala lamentando:

– A gente vivendo no aperto por causa de uma pandemia mandada pelos “cãos dos infernos” e você nem taí e nem vai chegando. O seu pai ficou durante todo o período sem conseguir trabalhar porque fecharam o comércio e você indiferente à crise que passamos continuou aqui feito um sanguessuga “mim” extorquindo pra ir farrear! Agora vem com a boca-mole querendo o dinheiro de um presentinho de natal? Ora, “mim” faça uma garapa, ouviu, malandro?!

Para por instantes, toma um fôlego e depois continua ofegante:

                – Eu disse que não devia nada a ninguém, mas menti. Por causa das suas esbórnias eu desviei o dinheiro das despesas e agora estou devendo vários meses de condomínio, água, luz, mercadinho, padaria, açougue e “os cambau”. Mas você é insensível e não quer saber de nada; só quer o venha nós, ao vosso reino, nada.

A seguir para um pouco e depois, complacente, abranda a voz para aconselhá-lo:

                – Você está numa idade que tem que tomar um tino na vida meu filho, porque do jeito desajuizado que anda até mesmo o seu pai vai ser forçado a roubar para lhe dar as mordomias que você exige. Eu já estou toda complicada dando desfalques pra ficar lhe bancando. Nós, os seus pais, já estamos idosos pra fazer alguma coisa errada por sua causa e irmos parar na cadeia.

Depois ela inquire:

– Agora eu lhe pergunto: e se isso ocorrer, você vai viver como?!… Quem vai lhe dar comida?!… E se a gente morrer?!… Você já parou pra pensar na sua vida como será?!!!

Ao vislumbrar um futuro desastroso para o filho ela desanda a chorar e diz num tom lamentoso:

                – Oh, meu Deus, a gente não pode morrer!… Depois de tanto zelo que tive durante a vida cuidando dessa criatura, ter que deixar um filhinho ao léu no mundo, sem eira nem beira, “mim” deixa em pranto. Só de pensar no sofrimento que vai ser a vida desse menino sem os pais, acho que a morte pra mim vai ser um alívio…

JUNHÃO

Ouve calado o bolodório da mãe sem demonstrar nenhum tipo de afeição pelos pais. Permanece o tempo inteiro de cabeça baixa simulando preocupação. Mas, na realidade, o seu intuito é exclusivamente articular como conseguir convencê-la a lhe dar dinheiro para ir curtir o réveillon. Enquanto pensa buscando atingir o seu objetivo, os olhos estão arregalados e giram sem parar. Quando ela silencia a fala, ele já tem a solução para o problema que o atormenta. Então começa o lamento fingindo estar choramingando:

                – Essa minha vida é ingrata… Eu já não aguento mais, minha mainha, ficar ouvindo aqueles meus falsos amigos ficarem me esculhambando. Eles falam pra todo mundo ouvir que os pais deles são bem de vida, enquanto que o meu é um pobretão que vive às custas do auxílio emergencial do governo. E digo mais! Os sujeitos maus-caracteres afirmaram também que a senhora cata latinhas nas ruas durante a noite para poder sobreviver.

Ainda choroso a fim de convencê-la, reafirma demonstrando estar penalizado:

                – Já pensou mainha, a senhora magrinha do jeito que está, com um enorme saco nas costas perambulando pelos bares para catar latinhas? Isso me dói na alma só de imaginar…

Ele sabe como ferir os brios da mãe. E para completar a sua farsa, ao terminar de falar ele simula um choro convulsivo abrindo um berreiro para que Ceiça fique mais revoltada ainda.

MÃE

Ao sentir-se agredida em sua dignidade ela coloca as mãos nas cadeiras, os olhos ficam esbugalhados e as ventas lançam chamas. Explodindo de raiva, vocifera:

                – Mas que atrevimento é esse desses maloqueiros, hem Júnior?!… Quer dizer que andam “mim defamando” por aí, dizendo que eu, dona Ceiça, esposa matrimoniada no padre e no civil com o senhor Alcebíades, um homem honrado e trabalhador, vivo perambulando nas madrugadas catando latinhas de cerveja?!!!

Nesse momento ela sacode os ombros se balançando toda e diz com deboche:  

– Ah, há!… Os vagabundos “pegaram pesado” comigo! Quer dizer que eu vivo quieta em meu lar e os pestilentos ficam “mim” esculhambando a torto e a direito em tudo que é lugar?!… Mas deixa estar, malandragem, que vocês vão saber com quem estão se metendo! Comigo “o buraco é mais embaixo” porque eu não sou o Júnior que é um bocó.

Apesar de querer aparentar que está calma com a ofensa que sofreu, ela está muito nervosa e começa a sentir palpitações no peito. Concomitante, o rosto fica muito vermelho parecendo estar pegando fogo. Agoniada, começa a se abanar com as mãos e ordena ao filho quase gritando:

                – Juninho, vá ligeiro na cozinha buscar um copo de água porque estou entalada com falta de ar para respirar; parece que vou ter um treco!

Ao ouvir o pedido de socorro, Junhão teme que a mãe venha a ter um infarto por causa da sua mentira e vai correndo buscar a água. Enquanto isso Ceiça senta-se no sofá e está se corroendo de tanto ódio. Por causa da raiva que sente as veias do pescoço estão a ponto de estourar. A boca está com muita espuma branca parecendo visgo nos cantos. Quando Junhão retorna e entrega-lhe o copo, ela dá um gole e imediatamente cospe no chão da sala como se estivesse lançando um jato de vômito. Muito nervosa, na mesma hora grita reclamando:

                – Mas que diabo de água morna é essa, sua “disgraça”?! Pra mim você traz água da torneira! Enquanto você, o “barãozinho” daqui de casa, só bebe água mineral e se for gelada! É por causa desse seu descaso comigo que os vagabundos estão dizendo que eu cato lixo!

Imediatamente Junhão tenta se redimir:

                – Mas isso ocorreu por causa da pressa em lhe socorrer… Pensei que estava morrendo.

Ainda revoltada Ceiça o repreende:

                – Pressa nada, seu cabeça de bagre! Quem está pra morrer é a sua madrinha! Isso é porque você não se importa com a sua mãezinha e só faz as coisas pra mim a pulso.

Novamente ele vai correndo para buscar a água mineral gelada. Estando sozinha, ela fica resmungando e, ao mesmo tempo, fazendo caretas e esmurrando a palma da mão – talvez esteja jurando ou ameaçando os caluniadores. Quando Junhão retorna e entrega-lhe o copo ela sorve todo o líquido, lambe os beiços e retoma a conversa com a autoridade que só ela tem:

– Agora “mim” diga o nome desses meliantes da alma sebosa, porque vou quebrar eles no pau! Onde já se viu querer “mim defamar”! Ai, ai… A partir de agora o “bicho vai pegar”. Eles vão ver com quantos paus se faz uma cangalha!

JUNHÃO

Percebendo que a sua fraude poderá tomar um rumo desastroso com Ceiça querendo atacar os seus amigos, apressa-se em engendrar uma forma a fim de livrá-los da temível vingança. Enfático ele insiste na sua mentira:

                – Calma mainha que agora eu vou dizer o nome daqueles miseráveis: foi o Topi e o Gijo, os irmãos que difamaram a senhora. São dois maus elementos da pior qualidade.

MÃE

Ao ouvir a informação ela fica desconfiada, coça a cabeça com o dedo indicador por entre os bóbis e pensa por instantes olhando para o filho. Depois diz reticenciosa:

                – Aqui pra nós, esses gaiatos não serão a mesma pessoa? Júnior, Júnior… não tente “mim” enrolar, porque eu lembro muito bem de quando era molecota que existia um programa na tv com um boneco assanhado e o nome do sujeitinho era Topogigio.

Ainda remoendo e suspeitando sobre o que o filho lhe disse ela cruza as pernas, os braços e apoia o queixo com uma das mãos. Depois cerra as sobrancelhas, franze a testa, faz bico com os beiços e fica observando-o com o olhar fixo arregalado, a fim de observar a reação dele.

JUNHÃO

Ao perceber a atitude de desconfiança por parte da mãe, ele reafirma a sua estória demonstrando convicção. Quer a todo custo que ela acredite na sua versão dizendo empolgado:

                – Foram eles sim, mainha, eu garanto! Juro por Deus! Quero ver a senhora morta se eu estiver mentindo!

A mãe permanece calada e ainda na mesma posição. Sentindo-se acuado ele fica aflito e continua argumentando para amedronta-la:

                – O que estou lhe dizendo é a mais pura verdade! Eu não sei o nome daqueles miseráveis! Só sei desse apelido porque os dois têm as orelhas grandes e o narigão. Soube que a família deles vieram de outro estado e são bandidos, gente “barra pesada”. Não vá se meter com eles, porque o pai é perigoso e faz trambiques na ilha dos ratos.

MÃE

Fica contrariada ao saber que o filho tem amizades de baixa estirpe, mesmo assim aconselha-o de modo indulgente a escolher melhor as suas amizades:

                – Juninho meu filho, já cansei de falar para você não andar em meios ruins. Se saia dessa laia de focinhudos porque não valem nada. Você é um menino do bem, direito, honesto, portanto, tem que procurar a companhia de pessoas do seu nível. Ficar se misturando com gente que não presta dá nisso. E o pior é que meu nome “vai de bolo”; justo eu que só saio de casa num caso de necessidade.

Depois de analisar a situação determina empolgada:

                – Já tomei a minha sábia decisão! Não vou deixar que qualquer um “homilhe” o meu filhinho. Por isso vou lhe dar um dinheiro que tenho guardado a sete chaves para que você possa esbanjar na farra do réveillon. Quero que se exiba com esnobismo como um rapaz rico para verem que não somos pedintes.

A seguir ela corre para o quarto e volta rápido trazendo consigo um enorme maço de cédulas embrulhado em um lenço amarelado pelo tempo. Afetuosamente lhe entrega o pacote dizendo:

                – Tome meu filhinho, esse dinheiro é todo seu; pode gastar a rojão. Hoje eu quero que você ostente pra todo mundo ver.

JUNHÃO

Ao ouvir as palavras mágicas ele quase desfalece. Era tudo o que queria ouvir. Então, rapidamente embolsa o pacote sem conferir o montante por medo que ela se arrependa e o tome de volta. Com o dinheiro enfiado no bolso ele fica muito contente e ajoelha-se no chão com os braços erguidos e agradece:

                – Muito obrigado meu Deus! Muito obrigado minha querida mãezinha! Eu tinha certeza de que você não ia me “deixar na mão”! Por isso eu sempre disse à galera que você é a melhor mãe do mundo!!!

Refeito do ato de gratidão e, apesar de estar muito satisfeito, ele volta a ficar bruto e ordena:

                – Agora vá providenciar a comida que pedi, porque essa lenga-lenga me deixou com mais fome ainda. Vou tomar banho enquanto você prepara a comida. Portanto, seja rápida!

Após ter se banhado ele é atendido em todas as suas solicitações e fica empanturrado. Mas, indiferente a esse fato, às nove da noite sai faceiro, todo arrumado e perfumado – conforme o seu gosto pessoal. Com o dinheiro bem guardado no fundo do bolso para financiar a farra, ele parte rumo à festa. Como ainda tem uns trocados prefere não usar nenhuma cédula que está guardada no pacote, porque quer preservar toda a grana para gastar na farra. Então usa o dinheiro que já tinha e embarca em um táxi para não perder tempo. Ao chegar no local do encontro os amigos Guto e Nando aguardam-no ansiosos e o cumprimentam efusivos:

                – Poxa Junhão, pensei que você ia falhar com a gente! Demorou pra caracas! As gatas estão aqui ansiosas aguardando a sua presença. Trouxemos a Janysleide, a Gleidyslene, a Suzylane e a Katylori.

Junhão justifica-se:

                – Demorei muito porque a velha lá em casa ficou embaçando para poder liberar a grana da farra.

Estando satisfeito com o final do imbróglio em casa ele resolve contar a sua epopeia de como conseguiu o dinheiro para a farra:

– Vocês acreditam que aquela velhota da cara murcha ficou “presepando” o máximo que pôde?!… Rapaz, a sujeita é muito ranzinza e avarenta. Para liberar uma grana ela armou um verdadeiro circo. Foi preciso eu ter tido muita paciência para aguentar o calundu dela. Teve momentos que pensei que não ia conseguir arrumar a grana para vir curtir a noitada do réveillon.

Depois ele diz sorridente:

– Mas, graças a Deus, quando eu estava a ponto de explodir de raiva a infeliz teve um flash de bondade naquela mente tacanha que fez ela liberar o dinheiro, que é meu por direito. Isso foi depois de muito “kaô”. Na hora fiquei espantado quando me entregou uma “pacoteira” de muito dinheiro que só vou ver o montante da grana na hora de pagar a conta.

Demonstrando desconfiança ele lança dúvidas:

– Aqui pra nós, estou desconfiado de que ela praticou um grande assalto! A vida dela é ficar reclamando que está na pindaíba, que está falida e, de repente, aparece com uma montoeira de dinheiro mandando eu estourar tudo na farra. É coisa pra analisar…, mas acho que nem Freud explica a mente dela.

Depois de expor a sua vida familiar ele grita com fanfarronice para os amigos:

– Por causa da graça alcançada, hoje todas as despesas da farra são por minha conta. Ninguém paga nada aqui; é tudo meu, galera!!!

Todos ficam alegres com a decisão dele e comemoram. A seguir ele chama os dois e ordena:

                – Como hoje eu sou o rei da balada, quero ficar com duas daquelas “nêgas”: a Janysleide da cor de jambo e a galega Katylori que é loura a pulso e tem o cabelo de chapinha. As duas têm umas ancas que é uma loucura, meu Deus do céu!… Quanto a vocês, que se virem com as que restaram, Firmeza?!

Imediatamente os amigos assentem, afinal quem irá pagar as contas da farra é ele. O Junhão estando poderoso continua determinando:

                – Agora vocês vão lá falar com o gerente do restaurante para dizer que eu quero um garçom servindo exclusivamente a minha mesa. E mandem que ele sirva à Junhão somente gim burnett francês, em doses generosas com água tônica, bastante gelo e três rodelas de limão taiti. E recomendem que todas as porções da bebida sejam servidas em copos altos de cristal fino.

Assim que os amigos recebem as ordens e viram as costas para ir atender as exigências dele, Junhão fica enfezado e grita para eles:

                – Oxente, que desordem é essa?!… Ainda não terminei de falar e vocês já querem se picar sem ouvirem o restante?! Digam que tragam cinco garrafas de champanhe para que sejam estouradas exatamente à meia-noite na virada do ano.

Demonstrando muita arrogância ele continua ditando o cardápio:

                – Digam que eu quero que sirvam um peru inteiro assado, chester, arroz branco com uvas passas, salada tradicional de maionese e leitão assado no forno à lenha. Exijam que tragam costela de boi assada na cerveja, pernil de porco assado, lombo de bacalhau à Zé de Pipo e salada fria de bacalhau desfiado com frutas secas do tipo damascos, ameixas, uvas, figos e tâmaras. Lembrem-se de que para completar a comilança é necessária uma farofa de cuscuz úmida com caldo de frango cozido, pedacinhos de bacon, presunto, calabresa defumada, ovos cozidos esfarelados, frutas cristalizadas e tempero verde.

MÃE

Está sozinha em casa curtindo a sua solidão, mas nem tanto porque está se distraindo em frente à televisão. Nesse mesmo tempo o restaurante está servindo todos os pedidos de Junhão e dos convivas dele. Muito animado com as músicas que tocam no ambiente ele se esbalda de tanto comer e beber sempre abraçado e sambando com as duas gatonas. Enquanto isso Ceiça está sentada no sofá comendo pipocas e assistindo à programação televisiva da virada do ano. Entusiasmada, ela torce para que um brasileiro ganhe para algum etíope a maratona de São Silvestre. Porém, no final, fica frustrada com o resultado da corrida e se conforma. Finalmente chega a hora da contagem regressiva para anunciar o fim do ano velho. Num ímpeto ela fica de pé e bate palmas repetindo em voz alta os números ditados pelo locutor para declarar a chegada da zero hora e dar início ao novo ano. Quando os fogos eclodem ela fica contente, dá pulos de alegria e grita eufórica: “Vai-te embora “miséra” com essa ruma de vírus!!!”. Enfim o ano-novo chega trazendo novas esperanças. Então ela faz orações fervorosas pedindo a Deus e a todos os santos para que o seu filho se aprume na vida, porque deseja ardentemente que ele se regenere.

Passado o momento de euforia ela volta a se sentar no sofá para continuar assistindo às comemorações e uma tristeza profunda emerge do seu âmago. Sofre porque o seu esposo não conseguiu ligar para desejar-lhe um feliz ano-novo. Justifica dizendo para si que possivelmente ele deverá estar em alguma localidade que tem dificuldade com o sinal telefônico. Mas, apesar dos pesares, continua assistindo as reportagens para ver a festa. Fica assustada com a enorme quantidade de pessoas nas ruas e lamenta:

                – Oh, meu Deus! Proteja o Juninho porque deve estar espremido no meio dessa bagunça, nesse mundo cão, coitadinho dele…

Depois ela vai dormir tristonha.

JUNHÃO

São seis horas da manhã do dia primeiro de janeiro. As ruas estão repletas de bêbados. Alguns deles mal conseguem andar de tão trôpegos, enquanto outros, rendidos pelo álcool dormem nas calçadas. Ali ou acolá se vê alguém deitado sobre o próprio vômito, não importando se é homem ou mulher. Ao ver essas pessoas ébrias largadas nas sarjetas, imundas e amarrotadas, nem de longe se parecem com aquelas que saíram alegres de casa na véspera bem-arrumadas de branco. Nas ruas o lixo está espalhado e a imundície é geral mostrando o triste início de ano.

No entanto, o Junhão continua sentado à mesa do restaurante e, apesar de estar bêbado, mantém-se aparentemente altivo devido à sua arrogância. Apesar dos olhos estarem decaídos e vermelhos iguais a brasas, com a voz embolada dando o aspecto de estar bem grogue, ele está atento e observando tudo do seu posto. De repente ele vê quando os amigos pedem mais comida e bebida para ser serem desperdiçadas, porque já não conseguem consumir mais nada. Nesse mesmo tempo as garotas estão exigindo montes de marmitex para levarem para os familiares em casa. Então Junhão fica revoltado vendo os absurdos sendo cometidos e se levanta da cadeira a muito custo e esbraveja:

                – Já chega!!!… Ninguém aqui pede mais nada às minhas custas! Vou pedir ao meu serviçal para trazer a conta porque já vou embora. Fora daqui sua cambada de aproveitadores!

Com a expulsão, a galera se retira cabisbaixa. O garçom já cansado de tanto servi-lo corre para atender a ordem com urgência. Quando retorna entrega-lhe a vultuosa conta. Junhão, embriagado, ao receber a nota, estende o braço ao máximo que pode para tentar enxergar o que está escrito. Pelejando para ver o valor total dos gastos ele faz beiço e fecha um dos olhos. Apesar dos esforços não consegue e, revoltado, devolve a nota junto a um esporro humilhante com a voz pastosa:

                – Por acaso eu lhe perguntei quanto foi a despesa, seu incompetente?! Eu disse apenas que quero pagar e pronto! Cabe a você que está aqui nesse empreguinho mixuruca, trabalhar e cumprir a sua função. Portanto, exerça-a!!!

Apesar de menosprezado, o garçom nada diz e apenas espera que esse sujeito grosseiro, antes um ilustre cliente, também cumpra a sua função que é o pagamento daquilo que foi consumido.

Junhão volta a se sentar, arrota alto e dá seguidos soluços dando a impressão de que poderá vomitar sobre a mesa a qualquer momento. Depois, com baba escorrendo no canto da boca e o olhar decaído, ele vê o garçom parado ao seu lado e indaga:

                – Ah, já sei!… Você está aí carrancudo é porque quer a minha grana. Não se preocupe que vou pagar tudo tim-tim por tim-tim do que gastei nesse pardieiro fuleiro.

Alcoolizado, sem muito domínio sobre o que faz, enquanto fala ele remexe os bolsos com dificuldade procurando o dinheiro enrolado no lenço que a mãe lhe dera. Com a longa demora o garçom fica apreensivo imaginando que o cliente não tenha dinheiro suficiente para pagar a enorme despesa e por isso está tapeando. Então fica imaginando no azar que teve ao ser designado para servir a um picareta pançudo. Por isso perdeu de ganhar muitas gorjetas de outros clientes decentes. Mas logo despreocupa-se ao vê-lo, após muito esforço, puxar do fundo do bolso um pacote enorme que presume ser de dinheiro. Com a voz arrastada, mas imperiosa, Junhão continua ditando as ordens:

                – Estou lhe entregando esse pacote de dinheiro. Tome cuidado, ouviu bem! Não desembrulhe aqui porque pode ter ladrão à espreita. Fique esperto porque o que mais tem nessa cidade é larápio. Por isso leve a grana para contar lá dentro no escritório e tire o valor do pagamento da conta. Depois pegue uma gorjeta gorda para você e para os seus colegas. Dê também ao gerente que foi gente boa comigo e traga o troco. Não se esqueça disso porque eu quero o meu de volta!

O garçom continua parado porque está pasmo com tamanha confiança e generosidade daquele “sujeitão” boçal e analisa o quanto poderá pegar de dinheiro para si. Ao vê-lo ali parado, Junhão fica enraivado e grita cuspindo baba para todos os lados:

                – Chispa daqui sujeito! “Se pique” e vá fazer o que mandei! Já estou enjoado de ver a sua cara perto de mim a noite inteira! Se fosse uma garçonete, tudo bem…

Assim que o garçom sai ligeiro ele olha para a mesa e percebe que a sua galera já havia saído de fininho sem se despedir dele. Devido ao uso excessivo da bebida alcoólica, esqueceu-se de que havia expulsado os amigos da sua mesa e todos foram embora envergonhados. Enfim o Junhão está sozinho e comenta tristonho:

                – A velha Ceiça, a minha mãezinha querida, tem razão quando diz que eu devo escolher melhor as minhas amizades… Veja se ela não tem razão? Até as mulheres que estavam dizendo o tempo todo que me amavam, sumiram de repente…

Solitário e devido à embriaguez ele fica emotivo e começa a chorar quando se lembra da mãe com ternura. Inesperadamente se vê cercado por vários seguranças acompanhados do gerente e do garçom. Na mesma hora enxuga as lágrimas e, sem demonstrar qualquer receio, pergunta imperioso:

                – “Qualé” a de mesmo, “parças”?!… Vieram agradecer as gorjetas que dei? E cadê o troco?! Estou esperando, avia!

O gerente está explodindo de raiva e diz:

                – Ninguém aqui é parceiro seu porque você é um vagabundo! Um salafrário!

Nesse momento Junhão se levanta rápido da cadeira e reage enérgico:

                – “Peraí”, eu sou um cidadão e exijo respeito! Vou mandar fechar essa espelunca amanhã!

Ainda enraivado o gerente revida:

                – Você tem lá condições de fechar coisa nenhuma seu falsário!

Mais uma vez sentindo-se ofendido o Junhão reage:

                – Quero que você, que é uma coisinha à toa, um bostela, prove o que está dizendo.

O gerente já está se cansando com tanta conversa-fiada, então resolve esclarecer a situação, apesar de achar que ele é sabedor de tudo:

                – Você chegou aqui “de boa” tirando onda de playboy, de filhinho de papai e trouxe a sua gangue que se escafedeu e deixou você de “boi de piranha” para tentar enganar a gente. Isso depois de darem um “baque” financeiro enorme aqui no comércio comendo e bebendo tudo do bom e do melhor.

Nesse momento Junhão retruca:

                – Que culpa eu tenho se os amigos “se picaram”, já que o pagamento da conta é de minha responsabilidade? E por falar nisso eu quero o meu troco!

Então o gerente afirma:

                – Que troco, vagabundo?!… Você tentou pagar a conta com cédulas antigas sem valor nenhum: são notas de cruzeiro, cruzado e cruzado novo. Depois de se esbaldarem você teve a cara de pau de querer pagar a conta com cédulas falsas. Como se isso não bastasse ainda esculhambou com o estabelecimento e com o garçom que lhe serviu.

Junhão fica abismado e solicita com humildade:

                – Rapaz, eu não acredito nisso… Ligue para a minha mãe que ela esclarece tudo. Foi ela quem me deu o dinheiro.

Novamente o gerente retruca:

                – Não vou ligar pra ninguém, malandro! Lá na delegacia você pede para ligar para a sua comparsa. Se prepare porque a polícia está chegando para resolver o parangolé e lhe dar o troco, seu vigarista!

Sentindo que a sua situação está piorando Junhão implora:

                – Espere aí, senhor! Não precisa de nada disso… Pra quê envolver a polícia nisso? Basta falar com Ceiça que é a verdadeira culpada…

Nesse momento os policiais chegam e se inteiram da situação. A seguir algemam Junhão e o embarcam no camburão. Nesse momento notam que ele está com a calça toda urinada. Não sabem se foi por medo da prisão ou por preguiça dele em ir ao mictório enquanto estava bebendo. Depois de trancafiado na pequena cela da viatura saem em desabalada carreira com as sirenes ligadas. Desconfortável onde está, Junhão fica espumando de raiva e com um ódio mortal da mãe. Enquanto é transportado ele resmunga destilando o seu veneno contra ela de modo ferino:

                – Mas que mulherzinha ordinária essa tal de Ceiça! A sujeitinha da cara de sagui é falsa que dói! Ela fez o “cerca Lourenço” e terminou armando essa “crocodilagem” pra me arrombar!

 Muito contrariado e rancoroso afirma:

– Se ela estava sem dinheiro, que fosse sincera, honesta e me dissesse, e não fazer uma “fuleragem” dessa me dando dinheiro falso. Ela vai me pagar por causa desse vexame que estou passando. Quem viver verá!

Revoltado, ainda comentando, ele entorta a boca e amolece a língua para arremedar Ceiça:

                – Filhinho, pode gastar todo o dinheiro e ostentar bastante. É todo seu!

Depois endireita a boca e lamenta raivoso:

– Pura falsidade dela e eu caí feito um patinho.

A seguir ele fica conformado quando tem uma ideia miraculosa:

                – Mas eu me saio dessa numa boa na audiência de custódia. O juiz, doutor Adalgiso, é tio do meu amigo Lelinho e eu falo pra ele que foi a Ceiça quem mandou eu passar o dinheiro falso. Com certeza ela vai me pagar por essa maldade e vai ser punida pela lei.

Instantes depois a viatura estaciona na porta da delegacia e ele é conduzido algemado com as mãos para trás. A sua embriaguez já evaporou faz tempo. Anda ligeiro em direção à repartição com o corpo dobrado para frente e o rosto penso quase arrastando no chão porque ele teme ser filmado ou fotografado pelos repórteres. Ele não quer aparecer nos noticiários como um grande falsário e chefe de quadrilha por culpa da genitora.

MÃE

Enquanto isso em um determinado apartamento na Pituba, Ceiça, a zelosa mãe e dona de casa, cuida dos afazeres domésticos reclamando da ausência do filho:

                – Misericórdia, meu Deus!!!… Esse menino não tem jeito. Todo mundo que curtiu a confraternização de fim de ano já está em casa com as suas famílias.

Revoltada com o sumiço dele, critica:

– Mas ele não; o sujeito é insaciável e só sai na bagaceira do fim da festa. Só vem embora quando acabar o dinheiro que lhe dei.

Depois fala amenizando o desvario do filho:  

– Também pudera, a culpa é minha porque fui encher os bolsos dele com muita grana… Endinheirado e posudo do jeito que é, deve estar sendo assediado onde estiver.

Mas para ela o Junhão não tem defeitos e sempre culpabiliza alguém para encobrir os erros do filho. A seguir se exime da culpa e comenta chateada:

                – Eu sei que o menino é assim porque as quengas ficam dando em cima dele por ser lindo e maravilhoso. Ah sujeito relaxado, não sei a quem puxou!… – Conclui satisfeita.

Findo os comentários ela vai ocupar o tempo arrumando a casa. Primeiro espana o seu quarto, porém quando vai trocar os lençóis da cama fica surpresa ao levantar o colchão para forrá-lo. Quase desmaia ao perceber que havia cometido um terrível engano na noite do dia anterior. No afã de adular o seu filhinho querido, quando correu apressada para pegar o dinheiro embaixo do colchão, apanhou o pacote errado por engano. Havia entregue a ele o lenço onde guardava as cédulas antigas que coleciona, ao invés daquele onde guarda as economias.

Ao perceber o engano ela se desespera e exclama agoniada:

                – Mas que menino desajuizado! Ele fica tão louco pra ir farrear que esqueceu o celular em casa. E agora meu Deus?!… Como vou localizar ele no meio daquele mundaréu de gente pra ir levar o dinheiro?

Sem saber como resolver o problema ela põe as mãos na cabeça e começa a correr pela casa de um canto para outro gritando feito uma louca e fazendo escândalo:

                – “Mim” acode Jesus e socorre o meu Juninho!!!… Ligeiro Senhor!!!

Ceiça está doida varrida porque não tem como se comunicar com o filho para ir socorrê-lo. Enquanto isso o Junhão está na delegacia sofrendo as agruras da lei por causa da falta da atenção de uma mãe subordinada. – Aqui pra nós, será que Ceiça é a única culpada neste episódio?

Autor: Joswilton Lima

NOTA DO AUTOR:

Apresento aos leitores dos “Episódios do Junhão” o meu livro de contos “Enigmas da Escuridão”. São quatro estórias com finais surpreendentes. Os contos relatam com minúcias situações dramáticas de seres humanos e, às vezes, divertidas. Esse livro obteve a nota máxima de leitores do site amazon, por isso acredito que será uma boa leitura para todos. Para ler, acesse o link abaixo:

Joswilton Lima é natural de Ilhéus-Ba, mas é domiciliado há mais de vinte anos em Morro do Chapéu. Tem formação em Ciências Econômicas, mas sempre foi voltado para as artes desde a infância quando começou a pintar as primeiras telas e a fazer os seus primeiros escritos. Como artista plástico participou de salões onde foi premiado com medalhas de ouro e também de inúmeras exposições coletivas nos estados da Bahia, Sergipe e Pernambuco. Possui obras que fazem parte do acervo de colecionadores particulares e entidades tanto no Brasil, quanto em países do exterior, a exemplo dos E.U.A, Portugal, Espanha, França, Itália e Alemanha. Possui o site www.joswiltonlima.com onde tem uma mostra de algumas de suas pinturas em diferentes técnicas e estilos, sendo visualizado por inúmeros países.

Em determinada época lecionou pintura em seu atelier no bairro de Santo Antonio Além do Carmo, em Salvador, e foi membro de comissões julgadoras em concursos de pintura. Nesse período exerceu a função de Diretor na Associação dos Artistas Populares do Centro Histórico do Pelourinho (primitivistas e naif’s), em Salvador.

Como escritor também foi premiado em diversos concursos de contos tendo lançado um e-book com o título “Enigmas da Escuridão”, com abordagem espiritualista, tendo obtido a nota máxima de 5 estrelas de leitores do site www.amazon.com.br Outros contos e romances estão sendo escritos.

Concomitante às atividades artísticas sempre exerceu funções laboriosas em diversos setores produtivos, tendo se aposentado recentemente na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, onde trabalhou por muitos anos na Fiscalização.

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