Catolicismo à baiana, devagar, quase parando: Os sacramentos: a cola da restauração da imagem rachada

Catolicismo à baiana, devagar, quase parando.

 

Você pode conferir a série anterior a partir deste link: Do Sentido da vida a autoridade da Igreja.

 

Este texto é parte de uma nova série: 1º Por que Jesus fez tudo isso?

A Criação

Os seres espirituais

O Pecado e o Mal: Uma Criação Angélica

O que é o mal?” – Uma anatomia da ausência.

Pecado: o mal escolhido

A imagem rachada

Restaurandonos pela graça

 

Os sacramentos: a cola da restauração da imagem rachada

 

(Pascomsoledade)

 

 

Somos salvos pela graça, assim professa a Igreja Católica e ensina aos fiéis de Cristo! Mas como essa graça chega até nós? Quais os meios que Deus usa para que sua graça frutifique em nossa vida? No texto anterior, vimos que a graça é um dom real, interior e transformador, dado gratuitamente por Deus para nossa salvação. Agora, damos um passo adiante: por quais caminhos Deus escolheu nos conceder esse dom?

 

A resposta é clara: é pelos sacramentos. Eles são os meios visíveis e eficazes que Cristo instituiu para comunicar sua graça ao longo da história, por meio da Igreja. Se o pecado rachou a imagem de Deus impressa em nossa alma, os sacramentos são como a “cola” com que Cristo, o novo Adão, vai restaurando essa imagem ferida, unindo as partes partidas, dando novamente unidade, beleza e firmeza ao que foi quebrado.

 

O que é um sacramento?

 

O Catecismo da Igreja Católica define assim: “Os sacramentos são sinais sensíveis e eficazes da graça, instituídos por Cristo e confiados à Igreja, pelos quais nos é dispensada a vida divina. Os ritos visíveis pelos quais os sacramentos são celebrados significam e realizam as graças próprias de cada sacramento. Dão frutos naqueles que os recebem com as disposições exigidas” (CIC 1131).

 

Ou seja: os sacramentos não são apenas símbolos ou gestos humanos de devoção. Eles fazem acontecer aquilo que significam. O Batismo não é apenas um sinal de purificação: ele purifica de fato. A Confissão não é apenas um desabafo: ela perdoa os pecados. A Eucaristia não é apenas uma lembrança: ela é o próprio Corpo e Sangue de Cristo, alimento da alma.

 

Cristo, o sacramento primordial

 

Para entender isso, é preciso lembrar que o primeiro e maior sacramento é o próprio Cristo. Ele é o sacramento do Pai, porque n’Ele a realidade invisível de Deus se torna visível. Como diz São Paulo: “Cristo é a imagem do Deus invisível” (Cl 1,15). É Ele quem inaugura a nova e eterna aliança entre Deus e os homens, e é por Ele que temos acesso ao Pai (cf. Jo 14,6).

 

É por isso que os sacramentos não têm poder por si mesmos, nem pela santidade do ministro, mas porque é Cristo quem age neles. Ele é o verdadeiro sujeito de cada sacramento. Como ensina São Leão Magno: “Tudo o que o Senhor realizou durante sua vida mortal, Ele continua a operar hoje por meio de seus sacramentos”.

 

A Igreja como sacramento universal de salvação

 

Cristo confiou à Igreja os sacramentos, porque ela é o seu Corpo Místico. É nela que Ele continua presente e atuante até o fim dos tempos. Por isso, a Igreja é chamada de “sacramento universal da salvação” (cf. Lumen Gentium, 48). Tudo o que a Igreja faz como mãe e mestra está a serviço da comunicação da graça.

 

É importante entender isso para não cairmos em individualismos espirituais. Deus quer nos salvar como membros de um Corpo, e não como ilhas isoladas. Por isso, os sacramentos são celebrados sempre na comunhão da Igreja, ainda que alguns sejam recebidos de modo individual.

 

Os sete sacramentos: sete obras da redenção

 

Cada sacramento é como uma “ferramenta” específica no plano de restauração da imagem de Deus em nós:

 

 

•     Batismo: nos purifica do pecado original, nos torna filhos de Deus, membros da Igreja e templos do Espírito Santo.

 

•     Confirmação: nos fortalece com os dons do Espírito para vivermos e testemunharmos a fé.

 

•     Eucaristia: nos alimenta com o próprio Cristo, unindo-nos a Ele em comunhão vital.

 

•     Confissão (Penitência): restaura a graça perdida pelo pecado mortal e reordena a alma.

 

•     Unção dos enfermos: nos fortalece e consola nas enfermidades graves, unindo nosso sofrimento ao de Cristo.

 

•     Ordem: configura o homem a Cristo Cabeça, Pastor e Esposo da Igreja.

 

•     Matrimônio: une o casal com uma graça própria para viver o amor fiel, fecundo e santificador.

 

Cada um desses sacramentos atinge uma dimensão concreta da nossa existência. A graça de Deus é como um rio; os sacramentos são os canais por onde esse rio irriga o solo seco da nossa alma.

 

Sacramentos e vida espiritual

 

Sem os sacramentos, a vida cristã torna-se frágil, ressequida, insegura. A própria caridade, como ensina o Catecismo, “tem necessidade dos sacramentos da fé, especialmente da Eucaristia, para nutrir-se, crescer e se fortalecer” (CIC 2010).

 

Infelizmente, muitos católicos hoje vivem alheios à vida sacramental. Há uma fé popular que, embora bem-intencionada, está marcada por superstições, práticas místicas sem fundamento e um distanciamento das fontes reais da graça. Trocam-se os sacramentos por bênçãos ocasionais, objetos religiosos, promessas genéricas ou devoções que não se enraízam na vida da Igreja. A confissão torna-se rara, a Eucaristia é recebida sem consciência, o matrimônio é ignorado ou tratado como formalidade social. Tudo isso revela uma grave urgência pastoral: é preciso evangelizar os batizados, formar o povo para os sacramentos, devolver à vida cristã sua fonte e seu centro.

 

A fé católica não é uma colcha de retalhos de práticas piedosas: é um caminho objetivo de salvação, fundado na Revelação de Cristo e sustentado pelos sacramentos. E por mais que Deus possa agir fora deles, nós não temos o direito de ignorar os meios ordinários que Ele mesmo instituiu. Quem abandona os sacramentos por negligência, superstição ou ignorância está abandonando os canais pelos quais Cristo quis nos curar.

 

Uma vida restaurada

 

O pecado nos rachou. A graça nos alcança. Os sacramentos nos restauram. Essa é a bela economia da salvação. Neles, não apenas somos curados, mas somos inseridos no dinamismo do amor de Deus, que nos refaz e nos torna capazes de amar como Cristo amou.

 

Por isso, a pergunta não é apenas se cremos em Deus, mas se vivemos a vida de Deus que nos é dada nos sacramentos. Quantos cristãos vivem afastados da confissão, da Eucaristia, da vida da Igreja, e depois se perguntam por que sentem a fé fraca, a alma vazia, o coração inquieto.

 

 

Uma vida restaurada passa necessariamente por uma vida sacramental. É ali que a imagem rachada volta a se tornar imagem e semelhança do Filho, que é imagem perfeita do Pai (cf. Rm 8,29).

 

Conclusão

 

Um vaso quebrado só pode ser restaurado por mãos hábeis e colas fortes. Na obra da redenção, a cola é a graça, mas as mãos são os sacramentos. Deus não nos salva magicamente, nem nos abandona a nossos próprios esforços. Ele age. Ele toca. Ele restaura.

 

Por isso, ao longo das próximas colunas, vamos nos debruçar com calma sobre cada um dos sete sacramentos, compreendendo sua origem, seu efeito, seu significado e sua beleza. Só assim entenderemos de verdade como Deus quer nos salvar — não por ideias, mas por sinais visíveis, reais, profundos.

 

Cristo está vivo. E Ele nos espera, de sacramento em sacramento, para colar as rachaduras da alma e devolver-nos a inteireza da graça.

 

Indicações bibliográficas:

 

SACROSANCTUM CONCILIUMSOBRE A SAGRADA LITURGIA

REDEMPTIONIS SACRAMENTUM Sobre algumas coisas que se devem observar e evitar acerca da Santíssima Eucaristia

Conversando sobre Liturgia e Sacramentos Margarida Hulshof Para entender os sete sacramentos Felipe Aquino

Teologia da Perfeição Cristã Antonio Royo Marin O.P.

Franklin Ricardo, Católico, esposo, pai de quatro filhos, estudante de artes liberais, filosofia e teologia, apaixonado pela cultura latina e pelos grandes clássicos da cultura ocidental; ex-ateu, converso pela graça santificante.

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