Jesus ser Deus nos responde de forma categórica qual a religião correta, é o Cristianismo, são seus ensinos e seus esclarecimentos sobre a lei de Deus que nos ajudam a compreender que tipo de vida devemos levar para vivermos com ele na eternidade.
Em Jesus temos o culminar do ensino de Deus, o fim de sua revelação divina que começa em Adão e Eva e continua em seus descendentes esses que posteriormente serão chamados de povo de Deus.
O que ele vem esclarecer? O que ele vem ensinar? Como podemos ter certeza sobre o que ele ensinou? É comum quando respondemos uma pergunta que de sobressalto novas e mais difíceis e complexas sejam feitas, só que agora temos um norte para nos guiar que é a pregação e o exemplo de Jesus, Heidegger um dos grandes filósofos do séc XX afirma de forma acertada que o primeiro passo para resolver bem um problema é fazer as perguntas corretas sobre este.
O que Jesus pregou e o que ele veio esclarecer?
Como vimos a alguns dias Jesus era um Rabi, um mestre da lei, é o Deus encarnado e já sabendo o mínimo sobre ele a partir da revelação natural entendemos que Jesus não pode mentir, por isso podemos confiar de forma segura em seu ensino acerca da salvação pois nele não há atalhos e os percalços estão devidamente advertidos.
Para compreender bem está pergunta e a resposta que a ela se segue precisamos entender um pouco mais de história e do período em que Cristo Jesus pregou o a boa nova:
Contexto Geopolítico e Cultural Domínio Romano
Jesus nasceu e viveu durante o período do Império Romano, sob o governo de Augusto no
início de sua vida e, mais tarde, de Tibério. A Judeia, onde Jesus passou períodos significativos, especialmente no final de sua vida pública, era uma província romana diretamente governada por prefeitos (ou procuradores) como Pôncio Pilatos, após a deposição de Arquelau em 6 d.C. Já a Galileia, onde Jesus cresceu e iniciou a maior parte de seu ministério, era governada por Herodes Antipas, filho de Herodes o Grande e um tetrarca cliente de Roma. As tensões entre o povo judeu e os romanos não eram apenas políticas, mas também culturais e religiosas: o monoteísmo judaico era incompatível com a adoração ao imperador romano, uma prática comum no império, particularmente ofensiva em Judeia e Galileia. Aqui, a resistência ao culto imperial era forte, visto como uma afronta direta à fé única em Deus, conforme ensinado nas Escrituras.
Diversidade Cultural
A terra onde Jesus viveu era um verdadeiro mosaico cultural. Apesar de ser predominantemente judaica, a influência helenística, herdada das conquistas de Alexandre o Grande, ainda era evidente, especialmente nas cidades helenizadas, como Séforis e as da Decápole, uma liga de cidades helenísticas. Roma trouxe infraestrutura, leis e a presença militar, mas também impôs pesados impostos, o que gerava descontentamento generalizado entre os judeus. A Galileia, com sua população diversificada, incluindo judeus e gentios, permitia que a mensagem de Jesus, frequentemente expressa através de parábolas que refletiam a vida cotidiana, fosse acessível a uma audiência mais ampla, prefigurando a inclusão que seria central no cristianismo posterior.
Contextualização da Galileia
A Galileia era uma área rural, com uma economia baseada na agricultura e pesca. Embora ainda estivesse sob a influência romana, a Galileia desfrutava de uma certa autonomia cultural e religiosa, o que permitia a Jesus desenvolver suas ideias e ensinamentos fora do escrutínio direto das autoridades de Jerusalém. Essa autonomia cultural facilitava a aceitação das mensagens de renovação espiritual propostas por Jesus, que eram percebidas de maneira mais acessível pelas comunidades locais, longe das tensões políticas e religiosas do centro de poder em Jerusalém.
Religião e Sociedade Judaica
Expectativas Messiânicas
Na época de Jesus, o povo judeu nutria grande expectativa pela vinda do Messias, um libertador prometido que restauraria Israel. Contudo, havia diferentes interpretações sobre o que seria esse Messias. Alguns grupos, como os Zelotes, esperavam um líder político e militar que derrotasse os romanos e restaurasse a independência de Israel. Outros, como os Essênios, aguardavam um renovador espiritual que purificaria o povo de Israel e o prepararia para a chegada do Reino de Deus. Além disso, os Fariseus, comprometidos com a Lei, tinham suas próprias expectativas messiânicas. Jesus, no entanto, não se encaixava exatamente nas expectativas de nenhuma dessas facções, o que foi parte de sua singularidade. Sua entrada em Jerusalém montado em um jumento, por exemplo, era um ato simbólico e intencional de se apresentar como o Messias da Paz, não como um conquistador militar.
O Templo de Jerusalém e as Tensões Políticas
O Templo de Jerusalém, reconstruído e ampliado por Herodes o Grande, era o centro da vida religiosa judaica, mas também um foco de tensões. A elite sacerdotal colaborava frequentemente com os romanos, o que gerava ressentimentos entre o povo. O Templo não era apenas um lugar de culto, mas também um símbolo do poder religioso e político. Durante as grandes festas, como a Páscoa, o Templo se tornava um local de potencial revolta. O incidente de Jesus expulsando os mercadores do Templo, questionando as práticas comerciais e a autoridade religiosa, é um exemplo claro de seu desafio tanto ao status quo comercial quanto ao poder político e religioso.
Sinagogas e Comunidades Locais
Fora de Jerusalém, a vida religiosa se concentrava nas sinagogas, que funcionavam não só como locais de oração, mas também como centros de ensino e convivência comunitária. As sinagogas eram pontos de resistência cultural, preservando a tradição judaica em face da crescente influência helenística e romana. Jesus frequentemente ensinava, curava e realizava milagres nessas sinagogas, o que evidenciava sua proximidade com as comunidades locais e sua estratégia de evangelização. Ele usava essas oportunidades para confrontar e reinterpretar a Lei de Moisés de maneiras que fossem mais acessíveis e compreensíveis para o povo comum.
Fatos que Influenciaram a Vida de Jesus
Nascimento e Infância
O censo romano mencionado em Lucas (Lc 2,1-6) foi o motivo pelo qual José e Maria viajaram para Belém, cidade natal de Davi, conforme a profecia messiânica. Após o nascimento de Jesus, o massacre dos inocentes, ordenado por Herodes o Grande, levou sua família a fugir para o Egito (Mt 2,13-15), antes de se estabelecerem em Nazaré, na Galileia. O retorno à Galileia, especificamente para Nazaré, acontece devido a profecia de que o Messias não viria de um lugar de poder ou prestígio, mas de um ambiente humilde.
Ministério de João Batista
O ministério de João Batista foi um evento crucial na vida de Jesus. Com sua mensagem de arrependimento e batismo, João preparou o caminho para Jesus, que realizou nele o batismo de arrependimento no rio Jordão para dar exemplo aos seus seguidores do batismo sacramental, marcando o início de sua vida pública. A prisão e execução de João Batista por Herodes Antipas teve um impacto significativo sobre Jesus, foi o alerta de que a pregação de Jesus chamaria a atenção das autoridades e prefigura seu próprio destino.
Ocupação Romana e Opressão
A presença romana na Judeia e na Galileia era uma fonte constante de tensão. Impostos exorbitantes, repressão militar e interferência na vida religiosa irritavam profundamente o povo judeu. A mensagem de Jesus sobre o Reino de Deus, com sua ênfase no amor, justiça e misericórdia, contrastava com os poderes terrenos e desafiava tanto os romanos quanto as autoridades judaicas. Esta mensagem causou divisões até entre seus seguidores, alguns dos
quais esperavam uma libertação física e imediata.
Cultura Oral e Escrita
A sociedade judaica da época de Jesus era predominantemente oral, o que significa que os ensinamentos de Jesus foram inicialmente transmitidos por meio de relatos verbais, repetidos e memorizados dentro das comunidades. Essa tradição oral não era novidade: as Escrituras judaicas e os ensinamentos rabínicos também eram amplamente preservados dessa forma. No entanto, registros escritos existiam e desempenhavam um papel importante.
Por exemplo, a Mishná, compilada no século II d.C., é uma coleção de tradições rabínicas que funciona como um compêndio das interpretações e aplicações das Escrituras, algo comparável a um Código de Direito Canônico ou ao Catecismo da Igreja Católica para os cristãos. Já o Talmud Babilônico, concluído entre os séculos V e VI d.C., é uma vasta obra em 30 volumes que reúne as crenças e debates rabínicos; numa analogia cristã, ele se assemelha ao papel desempenhado pelos Pais da Igreja, que preservaram, interpretaram e transmitiram os ensinamentos apostólicos nas gerações posteriores.
Outro exemplo significativo são os comentários conhecidos como Midrash Rabbah (“O Grande Comentário”), que interpretam os textos do Antigo Testamento, de forma similar a obras exegéticas cristãs modernas, como a Bíblia de Navarra ou a Bíblia de Estudos Ignatius. Esses comentários não eram simples exposições literais, mas interpretações profundas que refletiam o contexto e a tradição judaica.
Além disso, havia os Targumim, que eram traduções/adaptações das Escrituras Hebraicas para o aramaico, a língua falada pela maioria dos judeus comuns da época. Durante as leituras nas sinagogas, as Escrituras eram recitadas em hebraico, seguidas da leitura de um Targum em aramaico, para que fossem compreendidas pela população. Esses textos iam além da simples tradução: expandiam o significado original, adicionando explicações baseadas na tradição e na cultura judaicas, de forma similar ao que fazem os lecionários litúrgicos nas missas católicas, embora com um grau maior de interpretação.
Assim, o contexto cultural judaico, com sua rica tradição oral e os registros escritos que a complementavam, foi essencial para preservar tanto as Escrituras quanto os ensinamentos de Jesus. Antes de serem registrados nos Evangelhos, que começaram a ser escritos décadas após a ressurreição de Cristo, a maior parte de Sua mensagem foi transmitida oralmente de geração em geração. Essa tradição oral foi crucial em uma sociedade onde a alfabetização era limitada, garantindo que os ensinamentos se mantivessem vivos e acessíveis a todos.
“Jesus Pregando na Sinagoga” de Gustave Doré
Divisões Religiosas e Políticas
A sociedade judaica da época era marcada por profundas divisões internas, como os Fariseus, os Saduceus, os Essênios e os Zelotes. Jesus ofereceu uma alternativa unificadora com sua mensagem de amor, perdão e um Reino de Deus que transcendia as divisões sectárias, propondo uma renovação espiritual que incluía todos, independentemente de filiação ou status. Suas críticas à hipocrisia religiosa e seu ensino sobre um Deus que busca a unidade e a pureza do coração fizeram dele uma figura controversa. Ao mesmo tempo, ele introduziu uma nova forma de comunidade religiosa que não dependia de templos ou sacrifícios, mas de uma relação direta com Deus.
Conclusão
Em meio ao domínio romano, à diversidade cultural e às tensões políticas e religiosas, Jesus prega o Reino de Deus que desafiava as expectativas messiânicas da época. Sua mensagem não se limitava a uma solução política ou militar, mas oferecia uma renovação espiritual que
buscava transformar os corações e criar uma comunidade unificada, superando as divisões sociais e religiosas.
Agora que entendemos um pouco mais sobre o contexto em que Jesus veio ensinar, vamos partir para seu ensino em si.
Franklin Ricardo, Católico, esposo, pai de quatro filhos, estudante de artes liberais, filosofia e teologia, apaixonado pela cultura latina e pelos grandes clássicos da cultura ocidental; ex-ateu, converso pela graça santificante.