Catolicismo à baiana, devagar, quase parando: ‘A Visibilidade da Igreja!’

Catolicismo à baiana, devagar, quase parando.

Esta coluna faz parte de uma série; confira os textos anteriores:

1º – O Sentido da vida

2º – Que Deus?

3º– Que Deus²?

4º -Onde ele está?

5º -Onde ele está?²

6º -Quem é Jesus Cristo?

7º -A Divindade de Jesus: O Trilema de Lewis e o Mistério da Encarnação

8º -O que Jesus pregou e o que ele veio esclarecer?

9º O Mistério da Santíssima Trindade; Cremos em um só Deus!

10º – O Mistério da União Hipostática e a Encarnação do Verbo

11º – As Quatro Notas da Igreja: Una, Santa, Católica e Apostólica

 

 

A Visibilidade da Igreja

 

“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18). Com essas palavras, Cristo não apenas institui a Igreja, mas afirma seu caráter visível e concreto. Em meio a tantas visões subjetivistas da fé cristã, é essencial compreender que a Igreja de Cristo não é uma realidade abstrata ou meramente espiritual, mas uma instituição visível, com sinais claros de sua presença no mundo. Essa visibilidade é fundamental para a compreensão da fé católica, pois permite que a Igreja cumpra sua missão de forma objetiva e acessível a todos.

 

A Igreja como Sacramento Visível da Salvação

 

O Catecismo da Igreja Católica ensina que a Igreja é, ao mesmo tempo, uma realidade espiritual e visível (CIC §771). Como Corpo Místico de Cristo e sociedade estruturada, ela se manifesta concretamente em sua hierarquia, nos sacramentos e na comunhão dos fiéis.

 

São Cipriano de Cartago, no século III, enfatiza essa realidade ao afirmar: “Não pode ter Deus como Pai quem não tem a Igreja como Mãe” (De Catholicae Ecclesiae Unitate, 6). Cipriano escreveu essas palavras em um contexto de disputas e cismas dentro da Igreja, ressaltando que a comunhão visível com a Igreja era essencial para a unidade da fé e da salvação. Esse vínculo materno expressa que a salvação nos é oferecida através de meios concretos, institucionais e tangíveis, como a pregação, os sacramentos e a vida comunitária.

 

Além disso, Santo Agostinho reforça essa ideia ao afirmar: “A Igreja é o Cristo total” (Sermão 341). Isso significa que a Igreja não é apenas uma organização humana, mas a própria continuação da presença de Cristo no mundo. Assim, afastar-se da Igreja é afastar-se da plenitude da graça e da verdade.

 

O Concílio Vaticano II também enfatiza que a Igreja é “o Povo de Deus” (Lumen Gentium, 9), uma comunidade visível chamada à santidade e à missão. Essa noção reforça que a Igreja não é apenas um edifício ou uma instituição hierárquica, mas um organismo vivo composto pelos fiéis.

 

Os Sinais Visíveis da Igreja

  1. A Hierarquia Apostólica – Desde os tempos apostólicos, a Igreja possui uma estrutura hierárquica instituída por Cristo, com os Apóstolos e seus sucessores (os bispos) exercendo o papel de pastores legítimos do rebanho (Ef 4,11-13). Essa sucessão apostólica garante que a Igreja de hoje seja a mesma Igreja fundada por Cristo. A

 

 

visibilidade dessa hierarquia é uma garantia contra as interpretações subjetivas e a fragmentação doutrinária.

 

  1. Os Sacramentos – Sinais visíveis da graça de Deus, os sacramentos expressam a corporeidade da Igreja, tornando-a perceptível e eficaz na vida dos fiéis. Por exemplo, o Batismo, ao ser administrado com água e palavras sacramentais, torna visível a entrada de um novo membro na Igreja e sua filiação divina. A Eucaristia, por sua vez, é o ápice dessa visibilidade, pois torna Cristo realmente presente entre nós, conforme Ele mesmo afirmou: “Isto é o meu corpo… isto é o meu sangue” (Mt 26,26-28).

 

  1. A Unidade na Doutrina e no Culto – A Igreja Católica se distingue por sua doutrina coesa e pela universalidade da fé transmitida ao longo dos séculos. Essa unidade é um testemunho da veracidade da Igreja e de sua missão no mundo. Mesmo diante das diversas culturas, a celebração da Santa Missa e a profissão do Credo mantêm a mesma essência em qualquer parte do planeta.

 

  1. A Tradição e a Sagrada Escritura – A Igreja não é apenas visível em sua hierarquia e ritos, mas também em sua fidelidade à Palavra de Deus e à Tradição Apostólica. A transmissão fiel da doutrina é um dos sinais mais claros de sua autenticidade.

 

  1. A Santidade dos Santos – A presença dos santos ao longo da história demonstra a visibilidade da Igreja como meio de santificação. Eles são testemunhas concretas da graça operante na Igreja, provando que sua missão transcende os aspectos institucionais e alcança a vida dos fiéis.

 

A Realidade Concreta da Igreja na História

 

Diferente de grupos que veem a fé cristã apenas como um conjunto de crenças individuais, a Igreja sempre se manifestou visivelmente na história. Desde os primeiros séculos, comunidades cristãs se organizaram em torno dos bispos e da celebração da Eucaristia, resistindo a perseguições e heresias.

 

A sucessão apostólica, reconhecida já no século II por Santo Irineu de Lyon (Adversus Haereses, III,3,2), é um dos principais sinais visíveis da Igreja. Escrevendo contra os gnósticos, Irineu enfatizava que somente aqueles que estavam em comunhão com os sucessores dos Apóstolos podiam garantir a transmissão fiel da doutrina de Cristo. Essa continuidade do ensino e da missão apostólica assegura que a Igreja de hoje é a mesma fundada por Cristo.

 

A visibilidade da Igreja também se manifesta nas obras de caridade, nas celebrações litúrgicas e na própria arquitetura dos templos. Cada missa, cada ato de caridade, cada igreja erguida em nome de Cristo é uma proclamação visível da fé católica, um testemunho tangível da presença do Reino de Deus entre nós.

 

A visibilidade da Igreja não é apenas uma questão institucional, mas um testemunho vivo da fé. Como nos lembra São Paulo, “a Igreja é a coluna e o fundamento da verdade” (1Tm 3,15). Sua missão é iluminar o mundo com a verdade do Evangelho, sendo um sinal inconfundível da presença de Deus entre os homens.

 

A História da Igreja mostra que sempre que tentou-se obscurecer sua visibilidade — seja por perseguições externas, seja por erros internos —, a própria natureza visível da Igreja permitiu sua restauração e renovação. As ordens religiosas, os concílios ecumênicos e a evangelização ao longo dos séculos são exemplos claros de sua perenidade.

 

A missão da Igreja é tornar Cristo conhecido em todas as nações (Mt 28,19). Para isso, a visibilidade da Igreja é essencial, pois facilita o testemunho da fé. Sem uma Igreja visível, a pregação do Evangelho se reduziria a uma interpretação subjetiva, e não a uma mensagem universal e objetiva.

 

Os santos sempre compreenderam essa verdade. São Francisco de Assis, por exemplo, ao reconstruir fisicamente uma igreja em ruínas, simbolizava a restauração da própria Igreja enquanto instituição visível. Santa Teresa de Calcutá, ao se dedicar aos pobres, mostrava que a Igreja não é apenas um conceito teológico, mas uma realidade viva que toca concretamente a vida das pessoas.

 

A Igreja é visível porque Cristo quis que ela fosse assim. Sua hierarquia, seus sacramentos, sua doutrina e sua missão são sinais concretos de sua presença no mundo. Essa visibilidade não é um detalhe secundário, mas um aspecto essencial para que a fé cristã seja conhecida, vivida e transmitida.

 

Indicações bibliográficas:

LUMEN GENTIUM –SOBRE A IGREJA

DEUS CARITAS EST – SOBRE O AMOR CRISTÃO

A Igreja – Iniciação à Eclesiologia – José Perez Arangüena O Milagre da Igreja – A.-D. Sertillanges

A Igreja de Jesus Cristo, Eclesiologia hoje – Françoá Costa

 

Franklin Ricardo, Católico, esposo, pai de quatro filhos, estudante de artes liberais, filosofia e teologia, apaixonado pela cultura latina e pelos grandes clássicos da cultura ocidental; ex-ateu, converso pela graça santificante.

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