Catolicismo à baiana, devagar, quase parando: ‘A criação’

Catolicismo à baiana, devagar, quase parando.

 

A criação

 

Este texto é a primeira coluna de uma nova série; você pode conferir a série anterior a partir deste link: Do Sentido da vida a autoridade da Igreja.

 

De onde veio tudo?

 

 

Já parou para pensar de onde vem o sentido da sua própria existência?

 

No início, Deus criou o céu e a terra. Com essas palavras, a Sagrada Escritura nos introduz no mistério fundamental da existência: tudo o que há, veio do nada, por um ato soberano e amoroso do Criador. Ao longo da história, diversas filosofias buscaram explicar a origem do mundo, muitas delas recaindo em um eterno ciclo de existências ou em um universo autoexistente. No entanto, a fé cristã declara com firmeza que a criação teve um princípio e uma finalidade: Deus fez todas as coisas para manifestar Sua bondade e para que Suas criaturas participassem de Sua bem-aventurança eterna.

A criação ex nihilo – do nada – é um dogma fundamental da Igreja. Como nos ensina Santo Agostinho, “O Criador é Aquele que dá o ser a todas as coisas sem precisar de algo preexistente”. Isso significa que Deus não apenas organizou uma matéria pré-existente, mas chamou à existência tudo o que há, dando-lhe ordem e propósito. Como afirmam os Salmos: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras de Suas mãos” (Sl 19,1).

 

Essa visão difere radicalmente das concepções filosóficas e religiosas da época. Foi uma verdadeira revolução no pensamento humano. Deus revelou essa verdade ao povo judeu, que a preservou com zelo. A própria língua hebraica reflete essa singularidade: a palavra bara, que significa criar, é usada exclusivamente para Deus, o mais próximo que o homem chega disso é quando procria, quando participa junto a Deus da formação de uma nova vida, O homem e a

 

 

mulher entregam a matéria – o material genético –, e Deus dá a alma. Podemos compreender esse conceito ao perceber que o homem pode ser criativo, transformando o que já existe em algo novo. No entanto, ele não tem o poder de criar a essência das coisas. Essa é a diferença entre o poder finito do homem e o poder infinito de Deus.

 

O Deus criador é radicalmente diferente de qualquer outro, nenhuma ideia de deus pagão ou gentio se aproxima dele; Possui o poder infinito para trazer as coisas do nada para a existência, possui o conhecimento perfeito para saber como as coisas devem ser e funcionar além disso é infinitamente amoroso e bondoso pois dá algo ao que não tinha direito a nada por fim é um grande artista por ter um senso de beleza perfeito “Poemas são feitos por tolos como eu,/ Mas só Deus pode fazer uma árvore” (Joyce Kilmer).

 

Assim a criação carrega em si elementos de Deus, como já vimos anteriormente isso acarreta a consequência de que podemos conhecer elementos da natureza divina com a razão natural.

 

Compreender a doutrina da criação não é apenas um exercício intelectual; é um conhecimento que transforma nossa visão de nós mesmos e do nosso destino.

 

Assim podemos entender que somos criaturas de Deus e criados para sermos objetos de seu Amor, podemos recusar a insanidade cientificista-secular-materialista de que viemos do ocaso e para ele iremos retornar, podemos assim compreender que existe sentido para as nossas vidas e sentido para o nosso sofrimento!

 

Devemos entender que Deus não tinha a necessidade de criar o “uni-verso”, muito menos a nós! Todo este ato dele é um ato deliberado de Amor, da vontade de nos comunicar a sua glória, é o Amor sincero e desinteressado que busca o bem do ser amado!

 

Criação e evolução

 

 

Se Deus criou todas as coisas, como devemos compreender os processos naturais que observamos no mundo?

 

É necessário compreender que não existe uma negação ou uma contradição entre fé e ciência, ambas são meios de chegar a verdades, verdades de cunhos diferentes de fato mas não contraditórias e anuláveis umas as outras, a evolução biológica é uma possível explicação para

 

 

como a matéria se desenvolveu até chegarmos aqui isso não anula o fato de que é Deus quem cria a alma e a infunde no ser e é até mesmo impossível que postule isso pois a alma é um “objeto” da metafísica, não está passível aos meios dos métodos científicos para ser medida, todas as contradições que ocorrem nestas discussões são meramente aparentes, seja por falta de dados para corroborar uma tese e fundamenta-la, seja dos participantes em si da discussão por não terem domínio do status quaestionis sobre o objeto da discussão, a verdade não pode contradizer a verdade e a fé e a razão são ambos meios de se chegar lá, compreendida a harmonia entre fé e ciência, vejamos agora como Deus estruturou o universo em sua sabedoria.

 

A hierarquia da criação

 

 

Deus criou o universo de forma hierárquica: quanto mais próxima de Deus, mais a criatura reflete a perfeição. Ele é o monarca absoluto; os anjos, seus ministros; os homens, seus filhos; os animais, seus bichos de estimação; as plantas, suas decorações; os minerais, seus materiais de construção; e o tempo, sua propriedade. Todos são bons e preciosos, mas não igualmente amados – isso é o cosmos, não o caos.

 

Deus criou o universo como há uma história, ele se desenvolve no sentido de sua perfeição, assim como uma história é elaborada pelo autor para o seu final, o universo e nós nele

 

 

caminhamos para a contemplação da glória de Deus e este mesmo Deus encaminha essa história através da providência, tendo o homem como personagem principal.

 

As primeiras causas(sobrenaturais) e as segundas causas(naturais)

 

É necessário entender as consequências deste fato teológico como quando por exemplo agradecemos a Deus a comida na mesa, estamos agradecendo ao Criador, a primeira causa e as criaturas, a segunda causa, agradecemos a Deus por ter feito o alimento, mas também as criaturas por terem o produzido, é por conta de Deus que temos o que comer, mas também por conta de suas criaturas que temos acesso há aquele bem ou ainda quando um médico cura um paciente, agradecemos a Deus pela vida e ao profissional pela habilidade – a graça atua através da natureza humana.

Bom por qual motivo devemos saber e compreender isso?

 

Tudo o que é bom deve ser atribuído a Deus, devemos a ele toda a gratidão e glória percebendo que as criaturas são como estradas as quais Deus vem até nós e nós vamos até ele, está realidade de viver a “presença de Deus” na sua obra em nada diminui a dignidade das criaturas mas a realça pois Deus gosta de utilizar de suas criaturas para realizar seu trabalho, principalmente o homem, “A graça aperfeiçoa a natureza” para nós católicos não existe nenhuma rivalidade entre natureza e graça e nenhuma ofensa a soberania de Deus por ele nos usar como canal de sua vontade e exercício de seu Amor aos outros e a nós mesmos, isso é para nós uma honra e um privilégio sermos um canal de graça.

 

Então, qual o nosso lugar na criação? E dos Anjos? Que eles são? Na próxima semana iremos abordar este assunto que alimenta a imaginação dos homens e dos filmes de hollywood que por sinal são péssimos em transmitir as verdades acerca deste assunto.

 

Este texto foi escrito com base em e contém partes literais da obra – A fé católica, manual completo da doutrina da Igreja do Peter Kreeft.

 

Indicações bibliográficas –

LAUDATO SI’ – SOBRE O CUIDADO DA CASA COMUM

O Livro do Gênesis – Cadernos de Estudo Bíblico – Curtis Mitch e Scott Hahn Liberdade, graça e destino – Crisol (IX) – Romano Guardini

 

Franklin Ricardo, Católico, esposo, pai de quatro filhos, estudante de artes liberais, filosofia e teologia, apaixonado pela cultura latina e pelos grandes clássicos da cultura ocidental; ex-ateu, converso pela graça santificante.

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