O REINO DOS CÉUS
Em nome do pai, do filho e do espírito santo…O padre, meu confessor, fez o sinal da cruz com as mãos riscando os ares e terminou assim um dos sacramentos da igreja católica, comigo sentadinho do lado de fora do confessionário. Esperou por alguns segundos que eu completasse a frase com a palavrinha “amém”, mas como eu permaneci calado, ele mesmo fez a sagração da minha confissão e me decretou a minha penitência de apenas um pai nosso e uma ave Maria.
Com uma penazinha tão leve, pelos meus pecados confessados, é fácil seduzir o quanto angelical, bonzinho, inocente puro e besta eu era, naqueles benditos tempos de minha infância e inquieta puberdade.
Confesso que ao ouvir a sentença, fiquei em lamúrias de decepção pelo tempo perdido, pois havia adquirido um livrinho de catecismo e me preparado para o ato de contrição, decorando
“O CREDO
Creio em Deus todo poderoso, ……..
“EU PECADOR
Eu pecador, me confesso a Deus todo….
“SALVE RAINHA
Salve Rainha mãe da misericórdia….
Mas a minha punição, foi muito levinha, talvez por ser apenas um menino, que podia mijar atrás de um poste, sem despertar a ira das autoridades ou a insinuosa a curiosidade feminina. Quem sabe?
A proposta de troca de favores do cristianismo, daquele agregado ao catolicismo, é de uma incongruência que beira o disparatado, estúpida para ser mais exato. Cabe a nós “pecadores”, cumprir os mandamentos da sua cartilha, trabalhar, produzir, aceitar os seus sacramentos, tipo batismo, crisma, primeira comunhão, confessar, casar na igreja e naturalmente pagar pelo ordenamento dos atos. Também recomendar a doação de um dízimo, acompanhado da frase “quanto mais generoso melhor”. Em troca, nos afirma uma passagem sem paradas em estações de correção purgativa de possíveis erros de conduta e a felicidade por séculos seculoreum, nos jardins e arredores da mansão do criador do mundo. Mas toda essa ventura, só depois da morte propriamente dita.
A promessa de um paraíso ” pós morte”, nunca me foi um cantinho de conforto espiritual, apesar de acreditar que tudo que existe, tem a essência de um espírito. Algo complicado de explicar, por isto vamos pular está parte.
Mas, a quem imaginava eu, questionar as dúvidas de poder desfrutar de um olimpo celeste, com chances relevantes de pura virtualidade? Se o corpo ficou lá embaixo, em decúbito frontal e mãos crispadas pela ausência de vida, como eu iria lá nos céus, poder cumprimentar um velho amigo, abraçar parentes e quem sabe poder prosear com uma ex de qualquer coisa, que por infortúnio desta vida, tivesse partido pro Éden Divino, antes de mim? Além do mais, a culinária é uma das coisas belas da vida, como seria possível degustar um “bolinho de anjo”, um pãozinho de Santo Antônio, se a boca e os dentes tinham ficado Grudados na boca lá embaixo? Como ir de um lugar para outro, visitar os riachos de mel e outras maravilhas do céu, tão decantadas nos ouvidos dos pilotos Kamicazes da segunda guerra e dos suicidas do terrorismo internacional, que as vezes nos chegam, com a origem no fanatismo, ignorância e brumas da incompreensão?
Também grandona e mais graficamente correto dizer, relevantíssima, é a dúvida de onde seria ou é mesmo localizado o Éder Celeste?
A Bíblia nos diz, que Jesus Cristo no terceiro dia após sua morte (Ainda não sei como é que um Deus pode morrer), subiu aos céus. Tem até um desenho ilustrativo para este ato de ascensão, lindo e impressionante como sempre são, as coisas do mestre. Em sendo assim, o paraíso divino fica no alto dos céus, sem dúvida alguma. Debaixo do chão não é com certeza. Mas como mensurar a altitude deste Empírico Abismal?
Sabe-se que a 2.000 e 3.000 pés de altura, existem linhas imaginárias de voos comerciais. São as chamadas linhas aéreas. Para maior ilustração e detalhes informativos, um “pé” de altura, corresponde a 30,48 cm, logo nesta altitude, podemos descartar qualquer possibilidade de condomínio celeste por lá. Os aviões estariam a cada minuto, perturbando a tranquilidade dos hóspedes, principalmente em épocas festivas tipo, Natal, Revelion, Ação de graças, e por aí vai. Se subirmos um pouco mais, temos os satélites tecnológicos, mandando informações do tempo, da chuva, da internet, da telefonia, cruzando os céus 24 horas por dia, porque foram feitos para isto. Galgando mais uns palmos de estiramento, temos o caminho lunar, pois a lua é um satélite da terra e faz este passeio pelos céus, desde tempos que nem mesmo sou capaz de imaginar. Por tantas coisas sabidas, é difícil imaginar onde se abanca, o esplendor das moradas luminescentes, desta hospedaria eterna do nosso criador.
Uma coisinha também me varruma os miolos vez em quando: Se este play ground gigantesco existe e é realmente um paraíso, porque aqueles que já estão de posse das suas “Indulgências”, tipo Padres, Bispos, Arcebispos, Cardeais, Papas e outras autoridades eclesiásticas, não aceitam ou não querem fazer uma visitinha rápida antes da hora? Preferem este purgatório terrestre onde os “pepinos” são tão abarrotadinhos de mazelas, as vezes angustiantes pra dedéu. Por enquanto, eu vou ficando por aqui, mantendo a minha reserva de quartinho dos fundos em suspensão temporária. Quem sabe, meu registro do livro se apaga por algum motivo e posso por muito tempo me debulhar em labutas e canseiras, por séculos seculoreum neste vale de lágrimas e prazeres, porque de ferro, a única coisa que tenho hoje em dia, é a vontade de ficar por aqui.
Carlos Karoá, amante de música e cinema, também tem paixão pelo universo das letras. Em 1970, deixou Morro do Chapéu com destino a Salvador, como fazia todo jovem interiorano daquela época. Hoje aposentado, retorna à nossa cidade em busca de uma vida mais tranquila. Gosta de escrever crônicas e pequenos contos, sejam eles verdadeiros ou não.