Em 7 de abril de 1831, Dom Pedro l, abdica do trono brasileiro em favor do filho Pedro de Alcântara, que contava apenas 7 anos de idade. Primaveras mais tarde seria coroado imperador brasileiro, com o título natural de Dom Pedro ll. Esta decisão, não era vazia de ambição: Voltaria a Portugal, se juntaria aos liberais e iria brigar pelo trono português, usurpado pelo irmão Miguel, após a morte do pai, Dom João Vl. Os caminhos de um reinado, quando no centro do salão de cerimônias está um trono de espaldar macio e acolchoado, são intrínsecos, curiosos, perigosos, por vezes admiráveis, mas estas vias, geralmente são vergonhosas e lamentavelmente despudoradas. De maneira contumaz, os senhores coroados, no alto das suas decisões, fazem conchavos, acertos, maracutaias, treitas, trambiques, matam, roubam, tudo isto para não deixarem de sentar a bunda nas poltronas de coxins acetinados. Esta quimera dourada, para ser o centro da reverência de um povo, vem de longe, desde que o homem se tornou criaturas civilizadas. A Europa, pela antiguidade no quesito sociedade, foi um palco maior nas contendas ambiciosas, pelo centro do poder. Têm mil historinhas para serem contadas a respeito de reinados turbulento e cheios de surpresas. Vejamos pois.
O mais longevo e famoso reinado, o império britânico, tem exemplos fatais na luta pela posse da poltrona poderosa, sendo a mais relevante, a “Guerra das rosas”, aperreação que durou de 1455 a 1485, quando Henrique Tudor foi finalmente coroado rei, dando início a esta dinastia e finalizando o conflito. A troca de “bufetes” tinha este nome, porque a “flor” era o símbolo dos brasões de ambas as famílias: Casa York rosa branca, casa Lancaster rosa vermelha. Em todas estas contestações, na maioria das vezes fraticida, as vias de fato eram brandindo espadas ou disparando canhões, mas o objetivo era único: Ter o direito reconhecido de ocupar o trono generoso, onde em seus domínios, quem passava, tinha que fazer uma reverência.
Mas, o texto aqui, não é a respeito de reinados, usei apenas para ilustrar a busca aguerrida de quem quer desfrutar das benesses que o estado brasileiro contempla a seus eleitos para cargos públicos. Quanto aos eleitores, responsáveis direto pela eleição dos afortunados, nenhuma migalha, afinal os eleitores não passam de meros detalhes.
Após o período de ditadura, de março de 1964 a março de 1985, a Câmara dos deputados, Senado Federal e outros órgãos públicos, perceberam que numa recém conquistada democracia, seria fácil meter goela abaixo do povo antes entorpecido pela falta de liberdade, leis “Self-service”, aquelas que os únicos beneficiários, seriam eles mesmos. E assim, sem nenhum pudor, passaram a aprovar medidas vergonhosas na conhecida “calada da noite”. Nas vésperas de feriados, enquanto o povo se preparava para o gozo dos dias de folga, eles se reuniam em duvidosas sessões noturnas, para aprovação de mordomias que só existem no parlamento brasiliano. E, por esta maracutaia às escuras, cobravam os nojentos e odiosos “jetons”, dividendos criados por eles, alegando trabalho fora de tempo normal de expediente.
Foram tantas as mordomias criadas, que desde então, o Brasil ocupa quase o topo no ranking das regalias administrativas em todo o mundo. Deputados, senadores, ministros e até vereadores, se locupletam com esta farra dos recursos da nação e o pior de tudo, é que nada se pode fazer, é lei, foram criadas e aprovadas por eles, é profundamente imoral, mas ilegal não é.
Recebem moradia gratuita, funcionários para servi-los, automóveis, combustível, motorista, auxílio paletó, auxílio funeral, plano de saúde extensivo a familiares, aposentadorias precoces, podendo fazer peraltices a vontade, porque um salvo conduto chamado imunidade parlamentar, os isenta de qualquer punição. Exemplo mais que perfeito de sanguessugas engravatadas. Costumam Apregoar de forma jocosa e pejorativa, que o melhor negócio do mundo é comprar um argentino pelo preço que ele vale e revendê-lo pelo preço que ele pensa que vale. Eu ainda penso que o melhor negócio do mundo, é ocupar um cargo no enlameado e combalido de virtudes, parlamento brasiliano.
A cada eleição, triplica o número de adoradores das tribunas, esfuma-se a qualidade dos postulantes, aumenta-se sem explicações admissíveis, os valores dos salários ofertados. O saque sem responsabilidade continua inevitável.
Neste cabedal de abjetas canalhices, estão ainda o direito de fazer indicações políticas, onde o sortudo pode até abiscoitar o cargo vitalício de ministro de cortes superiores, sem a necessidade de prestar concursos. Uma mandala de aberrações vergonhosas, sem a exigência mínima de capacitação profissional.
Para se pleitear cargos no executivo e legislativo nacionais, basta saber ler aquela frase das cartilhas infantis de antigamente: ” Vovô viu a uva” e nada mais.
Com exigências tão insignificantes, o nível dos candidatos despencou vergonhosamente. Os chamados “santinhos” aqueles que trazem a foto do distinto, passaram a mostrar postulantes de aparências tão esdrúxulas que chegam a arrepiar o cabelo do eleitor esperançoso de mudanças. Pode parecer preconceito, mas um senador com o pomposo nome de ” Chico da jumenta” ou um deputado apelidado de “ Mané das goiaba”, não nos parece os mais indicados para a representatividade coletiva. É preciso ser um pouco mais seletivo, apesar de o nome não indicar afirmação de caráter. E tão vantajosa esta habilitação pública, que para o cargo de vereador em pequenas câmaras de até 09 representantes, o número de postulantes em época de eleições, bate facilmente acima de uma centena. Quem consegue a proeza, está livre de problemas financeiros pro resto da vida, mesmo com apenas um mandato. Se recebem a alcunha de oportunistas, não tem a menor importância, vale a pena correr o risco.
Com esta geração que aí está, tudo vai continuar como d’antes no quartel dos meliantes. A esperança de mudanças para uma nação proba, está na mentalidade das gerações vindouras. Ideais patrióticos, mais vergonha nas decisões coletivas, mais respeito com os usuários de urnas. Somos uma terra abençoada, com este chão vermelho ou preto de massapê, que em se plantando tudo dá. Aquela canção antiga que dizia eu sou pobre, pobre de marré, marré, marré, não nos nomeia, desafina com o pente que nos penteia. O ditoso vaticínio de que somos o país do futuro, ainda vive, está latente, esperando apenas a hora de sair do chão, ou das mentes de gerações bairristas Brasilianas, que certamente virão.
Quem viver, verá.
Sugestão textual do leitor
José Raimundo Nascimento da Silva
Carlos Karoá, amante de música e cinema, também tem paixão pelo universo das letras. Em 1970, deixou Morro do Chapéu com destino a Salvador, como fazia todo jovem interiorano daquela época. Hoje aposentado, retorna à nossa cidade em busca de uma vida mais tranquila. Gosta de escrever crônicas e pequenos contos, sejam eles verdadeiros ou não.