Carlos Karoá escreve:: ‘O ÓDIO’

Tava raiando o dia, quando Adão, abriu a porta dos fundos da sua casa, para ir lá atrás na plantação da morada, buscar uma abóbora para o sagrado desjejum do começo da manhã. Sua esposa Eva, também já estava de pé, permanecia no quartinho de banho do casal, escovando os dentes com folhas de juá. Os dois filhos, ambos varonis, dormitavam nos catres em quartos separados, porque privacidade desde aquele tempo, já era um desejo fraternal. Religiosos ao extremo, não lhes aprazia ir pro roçado capinar ervas daninhas, abrir covas pro plantio do feijão ou quaisquer outras labutas, que lhes fizessem tomar sol no cocuruto das cacholas. Gostavam de abater cordeiros, colocá-los numa pira, recitar alguns breves e inteligíveis mantras e fazer uma oferenda pro criador. Foram acostumados com estes rituais desde a mais tenra idade.

Um detalhe que chamava a atenção do garoto Caim, irmão do outro garoto chamado Abel, era que a fumaça emanada da pira do seu sacrifício, revoluteava pelo chão, como se alguma coisa mais forte a impedisse de alçar vôos para os céus, ao passo que a fumaça da oferenda do seu irmão Abel, em espirais sinuosas e do mais puro azul celeste, ganhava as alturas, mal o fogo lhes lambesse a bunda. E esta particularidade já estava começando a irritar profundamente o filho genioso do velho Adão e da velha Eva.

Na bíblia sagrada, o livro Gênesis conta esta história tresloucada, de que o menino Caim, em ninho de maldade e repulsão, ceifa precocemente a vida do irmão Abel, tendo por motivos unicamente a inveja, o ciúme e sobretudo o ódio. O ódio é um animal de caninos vorazes, que guardamos dentro de nós. Não devemos alimenta-lo, pois podemos criar impulsivamente uma besta poderosa e extremamente perigosa. Foi o primeiro fratricídio da história. Também não se tinha notícias, de que por aquelas bandas tivessem outros moradores, vivendo em casinhas doadas pelo dono do condomínio e só pra ficarem bem informados, o local era conhecido como “O jardim do Éden. Não se pagava aluguel naquela época.

O ódio, este sentimento perigoso, começava a habitar os corações vulneráveis, de quem vivia neste mundo no comecinho das eras.

Em primeiro de setembro de 1939, o austríaco Adolf Hitler, ordenou a invasão da Polônia. Como tinha antes anexado a pequena Áustria ao poderoso império germânico e nenhum governo europeu questionou está ousadia ou brutalidade entre vizinhos, a ocupação foi feita dando assim, o início da segunda guerra mundial. O ódio de Hitler e a sua trupe por judeus, ciganos, gays, negros ou qualquer outro indivíduo que não tivesse correndo nas veias, o mais puro sangue ariano, tirou do solo de vários países da Europa, aproximadamente 40 milhões de civis e 20 milhões de militares. Obcecados por supremacia branca, nem mesmo a dura lição sofrida com a derrota na primeira grande guerra, demoliu do povo alemão, a sanha entorpecida de dominar a Europa. Só o ódio, esta bestialidade sanguinária e desumana, seria capaz de tamanha barbárie. Positivamente, lamentavelmente, espantosamente, o ódio pelo seu pragmatismo, pode construir, destruir, ou realizar feitos de tamanha grandiosidade de causar espanto nos mais incrédulos mortais.

E, não há distinção de raças, pode aquartela-se em corações onde sentimentos mais nobres, não tenham guarida.

O santo ofício ou para ser mais explícito a inquisição católica, foi um manto vermelho de sangue, purgados de corpos inocentes, capitaneado pelo poder eclesiástico, na Europa do século XlV. Noticia-se, que a Inquisição espanhola, a mais cruel dentre elas, foi a mais contundente no quesito ceifar a vida de quem a insultasse com ideias ou atos, que não constasse da sua cartilha.

Estima-se em 39.000 vidas punidas com a espada no pescoço ou fogueiras punitivas.

Como exemplo de um cristianismo respeitoso, era essa vergonha, fincada em pilares de ódio e escamoteada pela igreja, como se nas histórias do mundo, os registros de atrocidades e crueldades exacerbadas, tivessem tintas voláteis, como as fumaças revoluteadas das suas piras. Só o ódio, aninhado em atraso e mentes carcomidas, seria capaz de tamanha ignomínia. “Vá de retro Satanás” está evocação latina de apelo a tempos de tranquilidade espiritual, cabia bem naquela época de intolerância e falta de benevolência por parte da igreja.

Em 1948, uma antipatia entre oriente e ocidente, leia-se Rússia e EUA, vai se tornar um ódio crescente, latente e pulsante como uma bomba relógio, tão perigosa quanto uma cobra num lençol. Alimentada por americanos vaidosos e russos osso duro de roer, essa disputa de mostrar pro mundo quem tinha mais neurônios ou cartuchos com espoletas em espera, iria trazer um pragmatismo tecnológico na corrida espacial e até em exibições públicas das mais poderosas mentes enxadristas, tendo pelo lado russo, Gary Kasparov e pelo lado americano o jovem Bobby Fischer. Buscavam, em quase todos os segmentos sociais, a supremacia ideológica, mesmo com a vergonha do muro de Berlim, mostrando que a democracia e a liberdade, passavam bem longe dos portões do Kmer vermelho.

Ainda não tem utilidade prática, mas no dia 20 de julho de 1969, depois de se gastar milhões de dólares do contribuinte, os astronautas Neil Armstrong e Buzz Aldrin, sapateiam no solo lunar e fincam a bandeira Americana, em sinal de superioridade e afirmação etniana. Sem esse ódio, purgado dos sonhos de grandeza e ensinado nas escolas vermelhas e em salas do Tio Sam, a conquista do nosso satélite ainda dormitavam em gavetas do Kremlin e da Casa Branca. Palmas discretas para as ideologias do partido comunista e para a vaidade racional dos senhores do capitalismo.

A América já sofreu duras penas pelo hábito antipático de ingerência na casa de Naninha. Ignoram o conceito de que a casa de Naninha, às vezes, não é a casa de mãe Chica, onde todo mundo mete aquela coisa que a gente usa pra comer.

Centenas de seus cidadãos, já foram sequestrados mundo afora, com excelência maior no oriente médio, para servirem de moeda de troca, por outros prisioneiros ou para resolverem questões alheias ao bom senso ou que beiravam as raias da insanidade.

Mas, apesar de reveses tão relevantes, asseverar o título de maior potência econômica do planeta, lhes fecha os olhos para os riscos que podem lhes chegar, nas soleiras das suas portas.

Exemplo de preço, onde não existe balcão de negociação, foi no dia 11 de setembro de 2001, quando uma insanidade envelopada em fanatismo e bestialidade, sacode os alicerces do mundo civilizado, com a derrubada crepitosa das torres gêmeas na cidade de Nova York. O baque é enorme. Acusam o golpe como um happer perfeito e enfurecidos pra valer, mas cautelosos e pacientes, resolvem dar o troco, executando o ditador Saddam Hussein e seus dois filhos, acusados de estarem por trás do atentado.

O único motivo de real importância nesta história era e é o ódio inesgotável que habita os corações e mentes muçulmanas, pelas cores azul vermelha e branca dos Estados Unidos da América do Norte.

O ódio tem as mãos banhadas em sangue, desde que se tem notícia de que a vida humana apareceu por aqui. E as vezes, as lágrimas derramadas ou os queixumes de protestos, são dos inocentes, porque lamentavelmente, o bojo em que borbulha a uma insanidade ou a estupidez, está num cantinho escuro do corpo de um dito humanoide e respeitável cidadão. Não há retórica capaz de mudar os rumos dos pensamentos envoltos em névoas de odiosidade. É bela a verve, mas de nada serve, quando na panelinha do ódio, ferve o juízo da maldade.

As raízes do não querer bem, encontram fertilidade até nos roçados de ideologias partidárias que pelas suas individualidades, carecem do respeito alheio. Mas aqui não é assim. Brasil afora, duas correntes de pensamentos políticos diferentes, digladiam-se em arenas odientas da incompreensão.  Apesar das mazelas governamentais estarem escancaradas pela incompetência, vergonhosas que chegam a causar nojo no brasileiro que se preza, lá nos gabinetes do Planalto, os donos de canetas e tribunas, refestelam-se em acordos, conchavos, acertos, treitas e maracutaias, sob os beneplácitos dos chamados, estúpidos da idiocracia.

Carlos Karoá, amante de música e cinema, também tem paixão pelo universo das letras. Em 1970, deixou Morro do Chapéu com destino a Salvador, como fazia todo jovem interiorano daquela época. Hoje aposentado, retorna à nossa cidade em busca de uma vida mais tranquila. Gosta de escrever crônicas e pequenos contos, sejam eles verdadeiros ou não.

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