No norte da África, mais precisamente no Saara Argelino, um grupo de mercadores Tuaregues, nômades, negociantes da Argélia até às areias do Marrocos, se preparam para mais uma jornada do dia que naquela hora, ainda não amanheceu.
Verificam os arreios dos camelos de carga e montaria e vão à cata de apetrechos do acampamento ao redor do oásis que lhes alivia a dureza da trilha. Observam por alguns instantes, a ponta amarelada do sol que desponta no oriente e muçulmanos que são se preparam para as orações do nascer do astro rei, antes de arribar acampamento.
Algumas tendas já foram desarmadas e numa delas, ainda a tremelissar no vento, guardada está uma preciosa carga. Trata-se de uma jovem escrava branca, prometida a um rico comerciante de sedas, daquele lado do mundo.
A jovem apenas espera. Quieta, aguarda a vez de ser levada a uma liteira, adornada de ricas almofadas e vigiada por eunucos, armados de longos punhais e afiadas cimitarras. A temperatura naquele alvorecer está em vagarosa evolução. No pico do calor solar vai beirar os 50 graus. Na noite anterior, os termômetros se lá houvessem, estariam negativos. Com o alçar lá longe do astro rei, a certeza que existe é que logo logo o disco amarelado de ouro, vai estar brilhando tremelusente no alto dos céus.
Há milhares de quilômetros distantes dali, no noroeste do estado da Bahia, no Brasil, também no verão, as temperaturas diárias são inclementes, porém bem mais amenas. Mas incomodam. Incomodam sobremaneira aqueles que não têm resfriadores eletrificados, na sagrada hora de sonhar.
Irecê nesta região é a maior cidade. Um cinturão de interesses socioeconômicos lhes abraça desde as barrancas do rio São Francisco em Xique-Xique, até cidade de Morro do Chapéu que fica na Chapada Diamantina.
Uma curveta grandiosa de cidades e Povoados, numa extensão generosa de sertão, fecha o círculo deste abraço desde a vereda do rio Romão Gramacho em Barra do Mendes, até a passagem destas águas na cidade de Cafarnaum.
Toda está área, quando chega o verão, é um desassossego bem dentro do corpo todo, não só do coração como diz o velho Dominguinhos no seu xote dançador.
Durante o dia, o sol escaldante não permite temperaturas ambientes abaixo dos 32 graus. Dentro de casa, também nos escritórios, os ventiladores ou ar-condicionados não são considerados luxo. É uma necessidade. O torso nu, de quem pode assim estar, não é uma deselegância indumentária, é uma busca aflitiva de um pouco de conforto.
Em todas estas cidades sertanejas, onde o barro vermelho está presente, nos rodapés das paredes do lado de fora, nas paredes de dentro, o clima tem que ser amenizado de alguma forma ou na hora de pregar as pestanas, a busca do sono será um desconfortante martírio. Nesta época de sol inclemente, logo no início das manhãs, o luminar relevante, dar indícios de como será o restinho da claridade solar. Como toda moeda tem duas faces, a cantilena dos homens também tem harmonias diferentes. Se é dia de trabalho os queixumes são de heróis enfrentando sacrifícios. Mas se os mesmos dias quentes forem feriados, a toada generalizada é de bênçãos celestes para quem não merece tanto. Gente vai ser gente até o final dos tempos, se Deus do céu, o todo poderoso, algum dia assim o desejar.
Praticamente no centro do estado da Bahia, está a chapada Diamantina. Aproximadamente 400 km separam este pedaço de chão da capital do Estado. Duas dezenas de cidades lhes dão o suporte confortável da boa estadia. Se a aridez do deserto, tem no oásis o lenitivo gratuito pro viajante, a sombra da palmeira pro descanso, a terra argilosa da chapada Diamantina, é a mitigação nas temperaturas do cinturão de barro vermelho que lhes arrodeia.
Lençóis ganhou o status de portal de entrada da região, talvez pela importância histórica no Estado. Em sua bagagem de cidade turística, oferece ao viajante, uma rede hoteleira de aconchegos para bolsos pequenos, médios e alongados. Atrações para manter o distinto ocupado e um aeroporto de médio porte que a diferencia das outras aglomerações de gente das terras dos diamantes.
Em todo o território o clima é ameno.
Com termômetros abaixo dos 12 graus no inverno, nas estações seguintes as elevações de quentura se mantém estáveis. Durantes os dias, às vezes se usa um casaquinho, mas a noite quando o sol vai embora, uma brisa marota diz que está chegando a hora do seu passeio noturno. Pra quem gosta de cachecol e gorrinhos de frio no cucuruto da cabeça, as terras frias da chapada, têm o calçadão perfeito pra se colocar as notas.
Há um registro natural e geográfico, pertencente à cidade de Piatã. É a cidade de maior altitude do nordeste brasileiro, com uma elevação de 1.280 m. Também a mais fria. Mas fama tem quem chega primeiro e este título na zona dos diamantes pertence a Morro do Chapéu.
Talvez por estar parede e meia com a região noroeste do estado e esta ser bem calorosa, ser esta parte de chão vermelho bastante quente na maior parte do ano, Morro do Chapéu granjeou fama como a cidade do frio. Glacial quase o ano inteiro, as variações térmicas podem chegar a quatro distinções desde o amanhecer, até a hora do ângelus. É uma festa para os pezinhos de uva. Quem é plantador, quem administra vinícolas é quem faz está ditosa afirmação.
O clima de Morro do Chapéu é uma benção dos céus. Sem a carência do ar condicionado, largamente consumido no baixo sertão, ou a demanda por calefação necessária no sul do país, devida as baixas temperaturas, este meio termo de calor e frio é por demais relevante na hora de trabalhar, passear e principalmente na hora de dormir. Afinal, o aconchego debaixo de cobertores, incita a palavrinhas e cochichos maliciosos, quem sabe de significados extremosos, que ninguém mais precisa ouvir.
Carlos Karoá, amante de música e cinema, também tem paixão pelo universo das letras. Em 1970, deixou Morro do Chapéu com destino a Salvador, como fazia todo jovem interiorano daquela época. Hoje aposentado, retorna à nossa cidade em busca de uma vida mais tranquila. Gosta de escrever crônicas e pequenos contos, sejam eles verdadeiros ou não.