Carlos Karoá escreve: ‘A magia das telas’

Francis Ford Coppola chegou ao ápice. Galgou o topo, beijou a abóboda dos céus do cinema do mundo, deixou os colegas de direção de películas nos pés dos postes, a luz brilhando lá em cima, era ele.

Quando lhes chegou às mãos, o romance ficcionista de Mário Puzo, The Godfather, a Paramount Pictures se rendeu aos desejos de Coppola na elaboração do cast, e o resultado foi a maior trilogia cinematográfica de todos os tempos. “O poderoso Chefão” deixou de ser apenas uma obra do cinema. É um altar, onde rezam cinéfilos do mundo inteiro.

No final do século XlX, alguns inventos ligados à projeção de imagens, foram criados, inventados propriamente ditos, em países europeus notadamente a França. Não há dúvida quanto à importância histórica, mas não há importância decorativa, num texto cuja única intenção é o entretenimento pessoal. Em sendo assim, vale o registro apenas da invenção do cinematógrafo dos irmãos Luis e Auguste Lumiere, em 1895, quando uma pequena projeção de apenas 45 segundos, deu o passo inicial para está fenomenal fábrica de sonhos, emoções, lágrimas e ódio e principalmente dinheiro, dinheiro aos montes, dinheiro pra dedéu, merecidamente, é bom que se faça este registro.

Como todo empreendimento privado, onde a finalidade com razões de sobra é o lucro, com o cinema não foi diferente, As primeiras salas de projeção surgiram na Europa, França pra ser mais exato. Mas não floresceram como deviam. Os motivos poderiam ser a natureza dos empreendedores, o relevo geográfico oferecido, o clima frio europeu e as chuvas. Não se podia filmar em campo aberto, só dentro de áreas cobertas. Assim, não bastava apenas uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Fazer cinema de qualidade demandava insumos naturais, beleza plástica construída, gente bonita ou feia que possuísse carisma e gerasse curiosidade, que fosse pelo menos interessante, porque o cenário é o esteio base, pra quem está, ou vai à busca de diversão numa tela de parede.

Assim que está novidade chegou à América, nos Estados Unidos, encontrou terra plena pro seu florescimento. O americano tem no sangue o DNA do show business. Com uma só voz eles fazem um grupo de coral, com uma só nota musical eles organizam uma orquestra. Mas, perceberam que nos grandes centros cosmopolitas daquela época, Nova York e Chicago, não serviriam para implementar estúdios de cinema. A intensa pluviometria, não permitiria também, filmagens fora de áreas que não tivesse cobertura e isto inviabilizaria qualquer projeto neste sentido. Mas, foi numa cidadezinha da costa oeste, nos arredores de Los Angeles, que eles encontraram um porto seguro para lentes de câmeras e roteiros fantasiosos, com histórias reais ou frutadas da imaginação de admiráveis sonhadores. Hollywood, a cidade dos sonhos, tinha sol o ano inteiro, clima temperado, acesso a terras de baixo custo, florestas, áreas semi-desertas e também as praias da Califórnia. Um paraíso na terra.

Nenhuma indústria de fazer rir ou chorar conseguiu arrebanhar maior número de devotos em todo o mundo. Não há no planeta, maior veículo de produzir emoções. Desde o tempo do cinema mudo, quando o inglês Charles Chaplin, o maior gênio individual das telas, pode exibir pra humanidade, sua arte encantada, desde os anos 30, até os dias de hoje. Com amor e com louvor, saudemos, pois Charles Chaplin, o maior artista individual das telas de cinema do mundo, inteiro o eterno palhaço Carlitos.

Depois dos anos 70, quando o acervo mundial cinematográfico, atingiu números bastante expressivos, várias plataformas de pesquisas começaram a aparecer, em livros e revistas do gênero. De cunho meramente especulativo, listavam os 10, 20, ou 50 maiores filmes de todos os tempos, os galãs mais bonitos, as mais belas atrizes ou as maiores bilheterias. As bilheterias têm o suporte matemático, não há erros. Mas os outros itens têm tudo a ver com gosto pessoal e gosto pessoal já dizia minha vó, não se discute.

Com um elenco de astros e estrelas, elevados a status de semideuses, permearam o mundo físico dos continentes, com salas de exibições onde quer que houvesse gente. Tudo que beirava o universo cinematográfico era consumido com avidez, curiosidade e zelo. Revistas, bottons, fotos, jornais, objetos decorativos, uma infinidade de produtos que a indústria de entretenimento, não se esgotava em criatividade e por consequência o abençoado lucro. Impossível mensurar as cifras movimentadas nós circuitos das telas em todo mundo, mesmo que por um período de um mês. Imaginemos, pois, as cifras de diretores, produtores, atores, atrizes, cenário, roteiros, trilhas sonoras, figurinos, até os da rabeira propriamente dito, os figurantes. Nenhuma outra indústria Mundial conseguiu sequer arranhar os cadernos de despesas, deste monstro de consumo e encantamento de pessoas de todas as idades ao redor da terra. Nenhuma ousa sequer fazer comparações. Comparar lucro também seria perda de tempo.

Conheci este criador de miragens, na minha infância, na minha cidade, Barra do Mendes, porque lá havia igual a mim, um homem que adorava sonhar. Um admirável sonhador. Sr. João Nunes França. Construiu uma sala de projeção de filmes, equipada com bancos de madeira e com iluminação própria com incidência luminar lateral. Com tela simples de abertura de 16 milímetros, logo logo aumentou a tela pra 32 milímetros, para os chamados filmes de cinemascope. Era o cinema se inovando, tentando frear a concorrência ferrenha de outro monstro encantado, que lhe ameaçava a titularidade da magia adquirida, a duras penas, desde o tempo do velho Carlitos. A Televisão.

O cinema trouxe para os meus olhos, em delírio permanente, às ruas de Nova York, a dureza do velho oeste americano com seus cow-boys estilizados, os mistérios dos oceanos, a beleza gélida dos campos de neve, o calor sufocante do deserto africano, culturas inimaginadas de povos que eu nem sabia que existiam, documentou fatos que a história não poderá esquecer jamais, mesmo pra servir de exemplo.

Hoje, lamentavelmente, o cinema caminha em passinhos demorados, não para o fim, mas para uma mudança de estilo, uma roupagem diferente, sem o glamour estrelado, das eras iluminadas de doirado, da velha Hollywood. A juventude de hoje não se encanta com pessoas, sabe da humanidade de cada uma, sabe que fora das telas têm a normalidade de todo ser humano. Mais fácil se encantar com a tecnologia fantástica dos dias de agora. Com carros ou aviões, ou até mesmo com os celulares, que além da fala fácil, faz coisas que nem mesmo o cinema foi capaz de imaginar.

Quando cheguei a Morro do Chapéu, pra residir, não havia salas de exibição de filmes. Confesso que foi surpresa para mim, pois vinha de uma cidade menor, que caprichosamente possuía um cinema de tamanho admirável. Alguns abnegados, devotos da sétima arte, e ela é chamada de sétima arte porque engloba as outras seis, pintura, escultura arquitetura, música, dança e poesia, faziam a locação do teatro Odilon Gomes para a exibição de filmes. Alugar um local para exibir filmes, onde os frequentadores tinham que levar seus próprios assentos, não é um cinema, é um arremedo. Um projeto de futuro tão incerto naquela época, quanto incerto é o futuro do cinema de agora. A gestação de morte de películas dos moldes de outrora, caminha em saltos pequeninos mas constantes. Milhares de salas de exibições foram desativadas em todo o território brasileiro. Só os shoppings, insistem neste segmento que lamentavelmente está dizendo adeus prós seus milhões de apaixonados.

A TV, cada vez mais colorida e absoluta em polegadas, será com certeza a telona da parede dos cinéfilos do mundo inteiro.

A magia do cinema tem luz própria, não se apagará jamais. O glamour das suas hostes permanecerá  no   coração de quem adorava sorrir de alegria ou chorar de emoção. Admito por fim, sem nenhum constrangimento, o sofá da sala como o lugar de derrear os olhos para ver um bom filme. Sem a necessidade de estacionar o carro, sem flanelinhas, sem assalto, sem as coisinhas que nos aborrecem, mas também sem as coisonas que nos encantavam. O salão lindamente encadeirado, com pessoas pedindo passagem, lanterninhas, pipoca, as mãoss macias da namorada e aquela tela imensa que eu adorava ver, adoro até hoje e vou adorar até o pano se fechar, ou aparecer aquelas três letrinhas mágicas, que a gente nem queria ler, bem no centro daquele sagrado manto branco de ilusões. FIM

Carlos Karoá, amante de música e cinema, também tem paixão pelo universo das letras. Em 1970, deixou Morro do Chapéu com destino a Salvador, como fazia todo jovem interiorano daquela época. Hoje aposentado, retorna à nossa cidade em busca de uma vida mais tranquila. Gosta de escrever crônicas e pequenos contos, sejam eles verdadeiros ou não.

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