Quando Tarzan, essa criatura fantástica, purgada da fantasiosa mente do americano Edgar Rice Burroughs, caía em desgraça com seus inimigos, isto nas histórias em livros ou quadrinhos, eu sabia que ele sempre iria dar a volta pelos galhos mais altos. O jugo sobre os desafetos estava logo ali, há uma página ou duas mais adiante. Tarzan era um homem poderoso. E no rastro de Tarzan, vieram também mais de uma centena de super-heróis, dotados de super poderes ou até mesmo, apenas músculos dominantes, que sobre ou debaixo de pontapés socos ou revólveres, decidiam a vida dos pobres mortais, para o bem, evidentemente.
Desde tempos imemoriais, homens poderosos cruzaram os caminhos do mundo, deixando um rastro de amor ou ódio, admiração ou sangue derramado quando a justiça dos homens falhou ou a justiça divina era esquecida por Deus.
Há poucos anos atrás, homens dominantes também, enchiam revistas e jornais de notícias de seus feitos. De quem deles ouviu falar, mereceram encantamento ou certamente foram amaldiçoados. O cinema e a TV tiveram acesso ainda a fatos e atos importantes, documentados em filmes bacentos, desde o tempo de películas em preto e branco.
Mas não é desses homens do passado a linha mestra deste simples texto. Eles ficarão na história do mundo, registrados em todos os meios de informação e permanecerão para sempre, ocupando o panteão da glória ou o poço do ódio da humanidade.
Os escritos a seguir são sobre homens que conheci pessoalmente ou tive notícias de onde viviam, notadamente na minha mocidade. Senhores que mereceram de mim e de mais pessoas, admiração por seus feitos ou ações, fossem de cunho beneficente, de busca de justiça ou até mesmo prejuízo à comunidade que habitavam, por um idealismo de negação, por capricho que a política lhes dava, infelizmente para o benefício de alguns ou felizmente para o bem de toda a sociedade.
A região noroeste do estado da Bahia era pontuada por vilas e povoados ao longo do rio jacaré, desde as nascentes próximas a Barra do Mendes, até a embocadura na vereda da América Dourada. Destes enxames de gente, alguns se tornaram cidades e os seus destinos, estão sob os auspícios de Alcaides e câmara de vereadores. São eles que decidem os rumos, que suas vidas irão seguir. São cidades de pequeno porte, excetuando Irecê, que pela sua localização previlegiada ganhou status de metrópole da região e os vizinhos Xique-Xique e Morro do Chapéu, este último, porém, já na chapada Diamantina.
Um pouco além de Barra do Mendes, na serra que descamba pros lados da cidade de Seabra, há um povoado, há muito tempo habitado, chamado Olhos d’água do Espírito Santo. Lá nos anos 60, dantes ou depois, quem dizia onde o visitante deveria colocar o chapéu, era o velho Emídio de Matos. Não o conheci pessoalmente, nem precisava. A fama do velho passava por cima das águas do açude e chegava lá nas ruas onde eu brincava. O povoado produzia pedras preciosas e era comum o transitar de garimpeiros e compradores de gemas, notadamente cristais e diamantes. Mas nada brilhava mais que os olhos argutos do velho Emídio de Matos. Deveria ser parente do Clã da família Matos, do grande chefe político Horácio de Matos, o maior caudilho do interior da Bahia.
Tomar a benção ao velho Emídio era costume dos moradores da vila.
Em Barra do Mendes, quem era apelidado de o “manda chuva” era o senhor Antônio de Odílio. Este eu conheci pessoalmente e preferia não cruzar o seu caminho. Impigia respeito.
Alto, magro, chapéu de massa escondendo os cabelos grisalhos, exibia uma dentadura saliente quando lhes vinha a gargalhada. Gargalhava mais do que sorria. Era em sua casa que dormiam, os políticos de maior referência do PR, seu partido de assentamento. Os deputados Hélio Ramos, Manso Cabral e a estrela maior de toda a região noroeste, o alto o baixo e médio são Francisco, o prestigiado deputado Manoel Novaes, que aparecia nos tempos da política, para pedir votos, a bordo de um avião teco teco, colorido, zuadento, e que mexia com as ilusões de grandeza da garotada.
Corria o boato que o…
Pertinho de Barra do Mendes, a hoje cidade de Barro Alto, também tinha seu conselheiro mor, o Sr. Osório Seixas. Moderado, sabia o melhor caminho a seguir, quando a dúvida visitava a cabeça dos menos afortunados. Não o conheci. Era o pai da nossa querida professora Valdeir Dourado. Inesquecível para mim.
Perto do Barro Alto, no povoado Gameleira do Boi um homem merecedor de citação a bem-postos, era o Sr. Tancredo Lima. Vanguardista, deu a todos os filhos, um anel de formatura. O velho Tancredo era o farol dos caminhos de muita gente naquela região.
No povoado de Salobro, um homem também tinha o direito de escutar os queixumes alheios e decidir qual rumo seguir. Era o velho Catão Carneiro, dono de um catavento barulhento, lindo quando se auto manobrava a procura de novos ares, e único na região. A função do aparelho era carregar baterias, para lhes dar o prazer de ouvir rádio, já que nas redondezas não existia luz elétrica. O programa predileto destes homens era “A voz do Brasil.” Falava da política, das decisões do governo federal e precisavam estar concisos dos rumos dos seus pensamentos.
Distrito de Morro do Chapeu, o povoado de Fedegosos abrigavam um dos mais admiráveis homens que conheci até hoje. Chamava-se Genésio Valois. Um homenzarrão de dois metros de altura, de pura decência e generosidade. As suas mais relevantes qualidades: Decência e generosidade. E difícil descrever este Belo exemplar humano. Líder natural, sem apelos, sem acertos prévios, a presença de seu Genésio impigia respeito e admiração. Extremamente justo nas suas decisões, auto didata em educação e sabedoria, era um prazer pessoal desfrutar da companhia do Sr. Genésio Valois. Com absoluta certeza, um dos homens que mais tive prazer em conhecer. Não se tomava decisões no povoado, sem antes ouvir o que ele pensava a respeito. Quebrou paradigmas, morador de um povoado, chegou ao posto máximo da sede do município. Foi um dos melhores prefeitos da cidade de Morro do Chapéu.
Por fim, a citação sobre um homem de estatura mediana que conheci quando cheguei a Morro do Chapéu. Seu nome, Jubilino Cunegundes. Olhos observadores tinha carisma suficiente pra impressionar quem lhes quisesse a presença. Político perspicaz conhecia a terra onde morava e a natureza dos seus eleitores. Qualquer decisão de cunho social tinha em suas linhas, a caneta do velho Jubilino.
A pergunta é: O que traz homens assim em suas essências? O que é preciso trazer no sangue, nos olhos, na aparência, que diferencia a sua imagem, na visão de quem está a sua frente? Como viveram a infância, homens que agora trazem, cabelos grisalhos na fronte, que diz. no discurso o que os outros querem ouvir. Em que tempo de suas vidas perceberam, que era hora de falar por si e por quem deles precisasse de ajuda. Qual o seu sentimento em relação à justiça dos homens e em relação à justiça dos céus. Exercendo uma função sem legitimidade, sem a legalidade de indicação do executivo ou eleito pelo voto, eles cumpriram o papel de Alcaides, quando as decisões tinha cunho político, quando o conflito era familiar, quando o conselho a dar, tinha peso de influência de vida. O fato é que homens desse calibre desapareceram. As lideranças agora são essencialmente políticas e nós sabemos do que o mundo político é capaz. Não há unanimidade, não há consenso nas decisões.
Alguém com certeza vai chorar as dores quando se bater o martelo, de quem tá sentado na poltrona negra, de encosto alto e alcochoado, de descansos de braços ensebados de aduladores, de parentes preguiçosos ou quem sabe talvez, de trabalhadores de verdade.
Carlos Karoá, amante de música e cinema, também tem paixão pelo universo das letras. Em 1970, deixou Morro do Chapéu com destino a Salvador, como fazia todo jovem interiorano daquela época. Hoje aposentado, retorna à nossa cidade em busca de uma vida mais tranquila. Gosta de escrever crônicas e pequenos contos, sejam eles verdadeiros ou não.