Episódios do Junhão: ‘O ABONO MIRACULOSO’

O escritor Joswilton Lima registrou os seus livros na Biblioteca Nacional do Brasil e está de posse dos Certificados. Para aquisição do livro físico ou digital é só clicar na capa:

Mais um livro do escritor Joswilton Lima, autor dos Episódios do Junhão. Com o título de “O Cigano Violeiro” é um conto fantasioso destinado ao público adulto e juvenil que narra as superstições existentes nas comunidades rurais do interior.

O livro relata a vida simples e feliz dos personagens, mas que é totalmente alterada devido a visita inesperada na região de um indivíduo pernicioso.

A ficção da estória irá deixar os leitores surpreendidos por causa do final fantástico.

As ilustrações também são autor. A capa é uma pintura digital com o mouse, experiência nova que mesmo com toda a dificuldade da adaptação, deu um bom resultado.

As ilustrações internas são fotos de pinturas a óleo, também do autor.

A seguir, Episódios do Junhão I e II. Para adquirir basta clicar na imagem:

 

Joswilton Lima também é autor de ‘Enígmas da Escuridão’ e você também tem acesso ao livro para aquisição, pelo link que está na imagem, basta clicar:

 

Agora que você chegou até aqui, continuamos a usufruir da criatividade de amigos (as) que, por meio da sua atividade literária, presenteiam nosso leitores com textos de encher os olhos e fazer a alma viajar:

 

O ABONO MIRACULOSO

 

JUNHÃO

Trinta e sete anos de idade. Levanta-se da cama perto de meio-dia e vai para o banheiro. Ao passar pela mãe na cozinha finge não notar a sua presença. Está enfezado com ressaca e não quer prosa com ninguém.

CEIÇA

Cinquenta e sete anos de idade. Apenas observa indignada o filho passar cambaleando e nada diz. Continua nos seus afazeres domésticos para preparar o almoço. Pouco depois ela se assusta e esbugalha os olhos ao ouvir barulhos estrondosos vindo do banheiro. Para o serviço e comenta:

– Pelo que estou vendo esse menino não tem mais fígado. Todos os dias quando acorda ele bota os fatos pra fora e depois eu tenho que ir lavar a sujeira no banheiro.

Depois lamenta:

– Que sina, meu Deus! Não sei a quem este indivíduo puxou com essa gana por cachaça!

JUNHÃO

Depois de muito tempo vomitando, sai fatigado e se senta à mesa. Está com um semblante deplorável, os olhos estão bem vermelhos e remelentos. Mas o mau humor continua o mesmo.

CEIÇA

Olha de relance para ele e permanece em silêncio. Mas, não aguentando ver o aspecto asqueroso dele, num ímpeto, reclama:

– Deixa de ser porco, criatura! E volte logo pra lavar esse rosto nojento. Aliás, tome um banho, porque preciso falar de um assunto importante com você. Portanto, esteja apresentável.

Quando ele volta do banho, a mãe fica alegre e elogia ao vê-lo arrumado:

– Agora sim…, você tomou jeito de gente. Aqui não é a casa da mãe Joana!

JUNHÃO

Torna a se sentar na mesa e, com a voz enrouquecida, indaga curioso:

– Qual é a de mesmo?!… Não venha com conversa-fiada só pra encher a minha paciência! Já estou de saco cheio dos seus lengalengas!

CEIÇA

Fica revoltada com o que ouve e responde com raiva:

– Eu é que já não aguento mais os porres dessa “cachaçada” sua! O que eu gostaria era que o sujeito aí, tivesse um pouco de paciência pra ouvir a sua mãezinha.

Depois fica empolgada e diz:

– Tenho uma excelente notícia pra te dar!

JUNHÃO

Está irritado com a demora em receber a notícia e diz de modo rude:

– Desembuche logo, porque não tenho tempo a perder com você fazendo suspense!

Depois coloca os cotovelos sobre a mesa e apoia o rosto com as mãos. A seguir fica com o olhar fixo na mãe aguardando para saber o que ela vai falar.

CEIÇA

Abranda o semblante e fala com serenidade:

– Eu vi na tv que, por causa desse pandemônio vindo dos infernos, o governo aprovou um abono emergencial para quem está desempregado.

Esperançosa, diz contente:

– Então eu fiz a sua inscrição para que você obtenha esse benefício maravilhoso.

JUNHÃO

Antes do início da conversa demonstrava estar desinteressado, mas, ao ouvir a mãe falar em dinheiro, fica entusiasmado e diz sorridente:

– Beleza, mãezinha! É por isso que eu gosto da minha velha; está sempre preocupada comigo. Qual é o valor da grana que vou receber?

CEIÇA

Alegre por estar agradando o filho, diz com entusiasmo:

– São seiscentos reais por mês!

JUNHÃO

Fica insatisfeito com o valor a receber e fala com raiva:

– Só essa merreca?!!!…

CEIÇA

Fica revoltada e diz incisiva:

– Se você quer mais dinheiro, porque não vai trabalhar?!

Depois se acalma e informa:

– Amanhã você acorda cedo e vai na agência bancária para desbloquear o código, receber o cartão magnético e sacar o seu merecido dinheiro, porque a lei é para todos.

JUNHÃO

Arregala os olhos ao ouvir a mãe e contesta:

– “Peraí, velho!” … E os meus estudos?! Não posso perder tempo em fila de banco. Quem vai lá é você que tem atendimento prioritário, por causa da sua idade.

CEIÇA

Fica conformada com o argumento dele e assente:

– Está bom, filhinho. Amanhã irei buscar o seu abono, viu?

JUNHÃO

Quando a mãe vai tomar banho ele corre para o telefone e fala com um amigo:

– Você não vai acreditar, Joelson! A velha Ceiça descobriu que o governo quer me dar um abono pra cachaça. E tem mais: ela é quem vai buscar o dinheiro pra mim.

Entusiasmado com a grana extra, faz um convite:

– Amanhã vou ficar rico com um crédito de seiscentos contos pra estourar na farra. Só vai “nóis” na noitada. Convide as periguetes e pode deixar que eu assumo a conta toda.

A seguir determina:

– Vou atrasar um pouco, mas quando chegar lá no bar do gordo, quero encontrar você com as garotas já farreando.

Depois recomenda:

– Não esqueça de chamar a Karina. Podem pedir para comer e beber o que quiserem, porque tudo é por minha conta!

CEIÇA

No dia seguinte ela vai bem cedo para fazer o saque no banco para o filho. Mas ao chegar percebe que o filho a enganou dizendo que ela seria beneficiada. Lá descobriu que ainda não tinha idade suficiente para fazer jus ao atendimento prioritário. E fica abismada ao perceber que irá perder muito tempo na fila interminável, pois a frente do estabelecimento bancário está repleta de idosos que, mesmo não tendo nada a fazer durante o dia, amanhecem na porta dos bancos em busca de atendimento.

JUNHÃO

Acorda meio-dia contrariado. Ao passar pela cozinha não vê a mãe desde o dia anterior. Está com um aspecto horrível, pior do que nos outros dias. Resmunga mal-humorado:

– Essa velha sem noção está passando dos limites. Foi buscar o meu abono e aproveitou para sumir de casa. Tem dois dias que estou passando fome por causa dela.

Está irritado com o descaminho da mãe e reclama:

– Se a sujeita pegou a minha grana e caiu na gandaia por aí, vai se arrepender de ter nascido. Ai dela se gastou um centavo do meu dinheiro.

Após o lamento, bebe um copo d’água para amenizar a fome, deita-se no sofá para descansar e remoer a sua zanga.

APÓS DOIS DIAS NA FILA DO BANCO

CEIÇA

É perto das dezoito horas quando ela chega em casa exausta, por causa do tempo que levou aguardando atendimento no banco para conseguir o abono do filho. Senta-se na poltrona e se queixa:

– Misericórdia, meu Deus! Não vou noutra empreitada dessa nem que “mim” paguem!

JUNHÃO

Ao vê-la reclamando, levanta-se imediatamente do sofá e se dirige a ela com o dedo em riste:

– Oh rapaz!!! Que merda é essa?!… Você some no mundo e me deixa aqui com fome! Que desconsideração é essa?! Vamos logo, passe a minha grana!!!

Muito zangado, dá um esculacho na mãe:

– Por causa da sua irresponsabilidade e negligência, agora estou na maior enrascada da minha vida. Quero o dinheiro todo agora para poder cumprir com os meus compromissos. A galera deve estar azeda comigo por sua culpa.

CEIÇA

Está esmorecida com a cabeça pendente para um lado e os cabelos estão desalinhados. Os braços estão sem forças, caídos sobre os apoios da poltrona. Apenas balbucia:

– Infelizmente não consegui receber o tal abono.

JUNHÃO

Fica revoltado e arregala os olhos vermelhos. Exclama raivoso:

– “Peraí”, coroa!… Quer dizer que você passa esses dias sumida e agora aparece aqui com as mãos abanando?! Passe já a minha grana, porque eu não estou acreditando no que diz!

CEIÇA

Muito abatida, relata a sua malfadada ida para sacar o abono dele:

– Eu deveria ter desistido de ir lá na hora que embarquei no ônibus. Na viagem começou uma confusão quando uma maloqueira entrou sem máscara. A sujeita tossia, babava e dizia que estava com o vírus da pandemia.

E continua contando como foi o seu sofrimento:

– Virou um inferno dentro do coletivo; umas pessoas tentavam se esconder com medo da doença, enquanto outras entravam em luta corporal para expulsar a sujeita do ônibus.

Amargurada, demonstra alívio dizendo:

– Orei muito na hora do tumulto temendo que não aparecessem ladrões para assaltar os passageiros. Já vi que ninguém tem sossego nessa cidade.

Para um pouco o relato. Junhão sorri da situação sem se importar com o vexame pelo qual a mãe passou. Depois ela reinicia:

– Apesar do tumulto, consegui finalmente chegar na agência bancária. Aí piorou tudo quando tomei um susto enorme porque a fila de acesso à agência estava quilométrica e pouco andava.

Revoltada com a situação continua o relato:

– A desorganização era tão grande que nem Jesus na causa resolvia a baderna! As pessoas não tinham educação e nem respeito pelas outras pessoas mais velhas, furando a fila na base de empurrões.

Novamente ela para e Junhão continua sorrindo ao saber que a mãe estava metida em confusões. Logo ela retoma a fala contando o seu sofrimento:

– Toda hora tinha desavenças que se resolviam na base da porrada. Eu tinha que ficar encolhida no canto com medo de ser agredida e perder a minha vaga.

A seguir diz zangada:

– Não tinha responsáveis para organizar nada. Quando aparecia algum funcionário era para informar que as senhas haviam acabado e que a gente voltasse no dia seguinte.

Fala esboçando um choro:

– Para não perder a minha vaga na fila, preferi aguardar dormindo no relento.

E lamenta tristonha:

– Fiz todo esse esforço e sofri muitas humilhações por sua causa. E você, seu malparido, dormindo aqui no bem-bom, foi incapaz de ir lá me substituir para que eu viesse descansar um pouco. Sequer teve a preocupação de levar um lanche pra mim.

E conclui amargurada:

– Pois fique sabendo que ingratidão tira afeição. Depois desse ocorrido acabei de crer que você é um menino muito ruim. Não sei por quê eu te protejo tanto…

JUNHÃO

Está impaciente com a lamúria da mãe. Pergunta de modo ríspido:

– Sim, e daí?!… Vamos ao que interessa: não recebeu a minha grana porquê?!

CEIÇA

Responde com tristeza:

– Quando consegui ser atendida o funcionário pesquisou no computador e informou que você não tinha direito ao abono porque nunca havia trabalhado.

Envergonhada com o que ouviu depois da decisão, fala:

– Fiquei com a cara no chão quando ele comentou fazendo gozação que não era possível que um indivíduo na sua idade nunca tinha exercido nenhuma atividade laboriosa.

JUNHÃO

Fica revoltado e fala com raiva:

– A opinião desse cara não me interessa porque ele não tem nada a ver com a minha vida. Agora estou arrombado por causa da picuinha desse desgraçado! O governo manda dar o dinheiro e esse sujeito acha que vai sair do bolso dele.

Temendo pelo pior, ordena à mãe:

– Vou ficar isolado no quarto. Se telefonarem pra mim diga que precisei viajar com urgência para o interior. Se perguntarem o motivo invente uma mentira.

CEIÇA

À noite atende a uma ligação e vai ao quarto do filho espumando de raiva:

– Júnior seu “fela da puta”!!!… Tem um amigo seu na portaria junto com a galera de um tal de gordo e eu disse que você está escondido aqui em casa!

Muito zangada, informa:

– Vieram aqui porque querem que cumpra o compromisso que assumiu. Disseram que a sua farra de ontem com a galera custou a bagatela de dois mil e oitocentos reais.

Revoltada com o assunto, reclama explodindo de raiva:

– Quer dizer que eu passei por tudo aquilo pra você pagar farra para a malandragem?! Isso é lá marca de filho?…

JUNHÃO

Assombrado ao saber que os credores estão subindo para receber o dinheiro, exclama:

– Esses caras são amigos do satanás, não meus! É um bando de oportunistas. Autorizei só seiscentos e eles estouraram dois e oitocentos. São ladrões, esses vagabundos!

Tremendo de medo, comenta:

– Essa velha só faz merda! Descobri agora que ela é uma X-9, uma alcagueta, uma fuxiqueira que quer me jogar aos lobos gananciosos.

Depois fica mais calmo e fala:

– Estou trancado no quarto e não saio daqui de jeito nenhum.

Após alguns segundos de reflexão, diz:

– Ela que resolva sozinha o problema causado por causa da incompetência dela.

E finaliza ressentido:

– Se bem que Joelson poderia ter resolvido tudo com o Gordo, mas parece que ele gosta de me ver avexado… Isso é lá amigo aonde?

 

Autor: Joswilton Lima

Joswilton Lima é natural de Ilhéus-Ba, mas é domiciliado há mais de vinte anos em Morro do Chapéu. Tem formação em Ciências Econômicas, mas sempre foi voltado para as artes desde a infância quando começou a pintar as primeiras telas e a fazer os seus primeiros escritos. Como artista plástico participou de salões onde foi premiado com medalhas de ouro e também de inúmeras exposições coletivas nos estados da Bahia, Sergipe e Pernambuco. Possui obras que fazem parte do acervo de colecionadores particulares e entidades tanto no Brasil, quanto em países do exterior, a exemplo dos E.U.A, Portugal, Espanha, França, Itália e Alemanha.

Em determinada época, lecionou pintura em seu atelier no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, e foi membro de comissões julgadoras em concursos de pintura. Nesse período exerceu a função de Diretor na Associação dos Artistas Populares do Centro Histórico do Pelourinho (primitivistas e naif’s), em Salvador.

Como escritor também foi premiado em diversos concursos de contos tendo lançado um e-book com o título “Enigmas da Escuridão”, com abordagem espiritualista, tendo obtido a nota máxima de 5 estrelas de leitores do site www.amazon.com.br Outros contos e romances também estão sendo escritos.

Concomitante às atividades artísticas, sempre exerceu funções laboriosas em diversos setores produtivos e, por último, se aposentou na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, onde trabalhou por muitos anos na Fiscalização.

Agora tem o prazer de apresentar aos leitores do site www.leoricardonoticias.com.br o seriado de crônicas intituladas Episódios do Junhão, com as quais espera que tenham uma leitura agradável e de reflexão.

 

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