Catolicismo à baiana, devagar, quase parando.
A Divindade de Jesus: O Trilema de Lewis e o Mistério da Encarnação
O Natal é um dos momentos mais especiais do calendário cristão, quando celebramos o nascimento de Jesus Cristo, o Salvador prometido, o Verbo encarnado. Em meio aos cânticos, luzes e trocas de presentes, é fácil se perder na correria da festa e esquecer do verdadeiro mistério que estamos celebrando: a Encarnação do Filho de Deus. Mas, para entender a verdadeira profundidade do Natal, é preciso refletir sobre quem Jesus realmente é. Ele é apenas um grande mestre moral ou, como os cristãos professam, Ele é verdadeiramente Deus? Esta pergunta central é abordada de maneira fascinante por C.S. Lewis em seu famoso trilema. Ele nos desafia a considerar: diante das declarações feitas por Jesus sobre Sua identidade, há apenas três opções lógicas: Ele é um mentiroso, um lunático ou Ele é realmente o Senhor.
Antes de adentrarmos nas três opções do trilema de Lewis, é importante observar que, ao longo dos Evangelhos, Jesus faz diversas afirmações, tanto diretas quanto indiretas, sobre Sua identidade divina. No Evangelho de João, Ele se declara de maneira clara e contundente: “Eu e o Pai somos um” (João 10,30), uma afirmação que, para os judeus da época, foi considerada uma blasfêmia, pois Jesus estava se igualando a Deus. Em outra ocasião, Ele se identifica como o “Eu Sou” (João 8,58), um título que remonta diretamente a Deus, que se revelou a Moisés com esse nome no Antigo Testamento (Êxodo 3,14). Além disso, em João 14,9, Jesus declara: “Quem me vê, vê o Pai”, uma declaração direta de que Ele e o Pai são indissociáveis. Jesus também aceita as declarações messiânicas feitas por outros, como quando Tomé O reconhece como “Senhor meu e Deus meu” (João 20,28), e Ele não refuta esse reconhecimento. Essas passagens revelam que Jesus não apenas falava de Deus, mas se apresentava como a própria manifestação de Deus no mundo. O trilema de Lewis, ao nos forçar a responder se Jesus era mentiroso, lunático ou Senhor, nos apresenta uma escolha radical e clara: ou Ele era quem dizia ser, ou Sua identidade não faz sentido algum. A gravidade da questão está no fato de que, diante das palavras e ações de Jesus, não podemos tratá-Lo como alguém comum.
- Jesus é um mentiroso?
Se Jesus não fosse realmente Deus, mas estivesse ciente disso e, ainda assim, se apresentasse como o Filho de Deus, Ele seria um impostor. Isso significaria que Ele enganou de forma deliberada as multidões ao longo de Sua vida. Porém, a vida de Jesus refuta essa ideia. Como alguém que viveu em perfeita harmonia com a verdade poderia ser um mentiroso? Suas palavras, de uma profundidade incomparável, e Seu comportamento, que exemplificava a virtude e o amor, indicam que Ele não era um falso mestre, mas alguém que encarnava a própria verdade. O Natal nos lembra que, ao vir ao mundo, Ele se entregou ao sacrifício mais profundo por nossa salvação, algo que um mentiroso jamais faria.
- Jesus é um lunático?
Outra possibilidade é que Jesus tivesse uma ideia distorcida sobre Sua própria identidade, acreditando ser Deus, embora fosse, na verdade, um simples ser humano. No entanto, a sabedoria de Jesus e a clareza de Seus ensinamentos refutam essa ideia. Ele não era alguém com delírios de grandeza, mas alguém de um equilíbrio e profundidade excepcionais. O testemunho dos Apóstolos e dos primeiros cristãos, que viveram com Ele e deram suas vidas por Sua causa, confirma que Jesus era alguém completamente centrado, não um lunático. Quando celebramos Sua encarnação no Natal, reconhecemos que Ele, embora plenamente humano, era também plenamente divino.
- Jesus é o Senhor?
Considerando as duas opções anteriores, podemos ver que elas não fazem jus à profundidade e verdade da vida de Jesus. A única conclusão lógica e verdadeira é que Jesus é, de fato, o Senhor. Ele não era um mentiroso, nem um lunático, mas o próprio Deus encarnado. O Natal celebra o momento em que Deus entrou na história, assumiu a nossa carne e se fez um de nós. O Verbo, como nos ensina o Evangelho de João, se fez carne e habitou entre nós (João 1,14). A Encarnação de Jesus é o ponto de convergência entre o divino e o humano, o mistério de Deus revelado em uma criança na manjedoura. Esse é o milagre do Natal: o Criador do Universo, que não está limitado por tempo ou espaço, se faz vulnerável e acessível, vivendo entre nós, compartilhando nossa dor, nossa alegria e nossa esperança.
O Mistério do Natal e a Encarnação
A Encarnação é, portanto, o evento que nos permite compreender quem Jesus é de forma plena. Se Ele é Deus, como os cristãos creem, então o Natal não é apenas um momento de celebração de um nascimento, mas o ponto de partida para a salvação da humanidade. Deus, que criou os céus e a terra, escolheu entrar no tempo e no espaço para nos salvar. Jesus não é apenas o mestre moral que nos guia com Seus ensinamentos; Ele é o Salvador, o Deus que vem até nós para nos redimir.
Este é o grande mistério que celebramos no Natal: Deus fez-Se carne e habitou entre nós, para nos revelar o Seu amor imensurável. A Encarnação de Jesus nos desafia a olhar para Ele de maneira mais profunda do que como um simples homem. Ao refletirmos sobre Sua divindade, somos chamados a responder à Sua proposta de salvação, reconhecendo-O como o Senhor de nossa vida, o Verbo que nos dá a vida eterna.
A Resposta ao Trilema e ao Mistério do Natal
O trilema de Lewis, portanto, não é apenas um exercício intelectual, mas uma questão fundamental para nossa fé. O Natal nos convida a refletir sobre quem Jesus realmente é: Ele é o Senhor, o Deus que se fez homem para nos salvar. Nesse contexto, o Natal se torna muito mais do que um evento comemorativo; é a celebração da presença de Deus entre nós, o início de nossa redenção. Em cada luz, em cada cântico, em cada momento de adoração, somos chamados a reconhecer a divindade de Jesus, aquele que nasceu na manjedoura e, mais tarde, morreria na cruz para nos dar a vida eterna.
Neste Natal, ao olharmos para a manjedoura, que possamos lembrar: Jesus é Deus conosco, e Sua Encarnação é a chave para a nossa salvação.
Até agora, tenho apelado à sua razão e lhe mostrado que assentir, aceitar essa verdade, não fará com que você esteja abrindo mão de sua inteligência, nem que estará crendo em histórias da carochinha inventadas para ludibriar e enganar os incautos. Agora, convido você a dar o passo que só você pode dar por si mesmo: viver o Natal como o que ele realmente é, o momento na história em que o Divino toca na realidade do ser humano, em que Deus abre a possibilidade de sermos Seus filhos e de vivermos com Ele em Sua eternidade.
Isto não é um convite para aceitar Jesus de maneira abstrata, mas para encontrar-se com Ele pessoalmente. Ele se fez carne, Ele é Deus conosco, e este encontro pode transformar sua vida. A questão é: você tem fé que Jesus de Nazaré, o Cristo, é o Deus que se fez carne e habitou entre nós?
Franklin Ricardo, Católico, esposo, pai de quatro filhos, estudante de artes liberais, filosofia e teologia, apaixonado pela cultura latina e pelos grandes clássicos da cultura ocidental; ex-ateu, converso pela graça santificante