Catolicismo a baiana, devagar, quase parando.
Que Deus? ³
Um Deus que necessariamente possui esses atributos aos quais as outras coisas não possuem responde a muitas coisas. A começar pelo fato de que, sem o desejo de buscá-Lo, as coisas e até mesmo as pessoas parecem, num primeiro momento, suprir o sentido da vida. No entanto, o que muitos não fizeram ainda é refletir sobre o que realmente desejam do fundo de seus corações. E é justamente por isso que tantas vezes encontramos frustração, ansiedade e depressão: são frutos da falta de esperança do homem em relação à satisfação do motivo pelo qual ele vive.
Mas há em Deus coisas que possuímos? Afinal, seria bom se houvesse, pois seria um motivo para me aproximar d’Ele, manter contato e ter um relacionamento real. Agora também entendo que, se houver algo em comum, esses atributos não estão em Deus da mesma forma que estão em mim, pois os próprios atributos negativos d’Ele implicam na perfeição desses atributos positivos que Ele compartilha comigo.
Então, o que eu tenho que Deus também tem? Ou melhor, por uma questão de respeito, o que Deus tem que eu também tenho?
Eu percebo que sou capaz de fazer algumas coisas. Tenho em mim potência, capacidade para agir, embora limitada. Sendo Deus perfeito, nele isso é absoluto: Ele pode fazer tudo. Isso é a onipotência. Porém, para fazer algo, preciso saber que esse algo existe, ou ao menos que posso fazê-lo. Esse conhecimento — ainda que parcial em mim — em Deus é onisciência, o saber de tudo. Quem sabe de algo tem inteligência; e quem sabe de tudo é absolutamente inteligente. Para saber e fazer algo, eu também preciso estar presente em algum lugar. Em Deus, isso se torna onipresença: Ele está em todos os lugares e tempos.
Nesse momento, compreendo algo ainda maior: se Deus é inteligente, Ele tem vontade própria. Ele é capaz de entender, analisar e tomar decisões com base em Sua compreensão perfeita. Inteligência é a capacidade de buscar e entender a verdade. Assim, a verdade é o objeto da inteligência, da mesma forma que a luz é o objeto do olhar. Sem luz, não enxergamos; sem verdade, não há o que discernir. Da mesma forma, a vontade sempre busca o bem — mesmo que, em nós, seja por vezes apenas um bem aparente. Para Deus, o bem é absoluto e inseparável de Sua essência. Como Deus é simples, não há diferença entre o que Ele é e o que Ele quer. Ele é a suma bondade e a verdade absoluta: o bem supremo de que todos os outros “bens” derivam, a verdade fundamental de que todas as outras são partes.
Essa reflexão traz à tona outra realidade: Deus não deseja o bem aparente ou a verdade superficial. Como Ele é onisciente, é capaz de discernir com perfeição entre o verdadeiro e o falso, entre o bem real e o ilusório. E quem deseja o bem e a verdade para si e para os outros, ama. Amar é desejar a completude do outro, que ele atinja sua perfeição como aquilo que é. É desejar que o outro alcance o fim para o qual foi criado. Assim, Deus, do fundo de Seu ser, deseja isso para todos nós. Por isso, Ele é amor. E esse amor é puro, fruto de uma bondade e uma verdade imaculadas — ou seja, livres dos erros, das inconstâncias, das aparências, das mesquinharias. O termo que descreve essa realidade é santidade: Deus é Santo e fonte de toda santidade.
Ao refletir sobre essas características que possuímos de forma limitada e que em Deus alcançam a perfeição, percebemos um “parentesco” que nos conecta a Ele. Deus compartilha
conosco, de maneira limitada, aquilo que Nele é infinito e absoluto. Esses atributos, que chamamos de positivos, revelam não apenas quem Ele é, mas também como somos chamados a participar de Sua essência.
Onipotência: Enquanto seres humanos, temos a capacidade de realizar coisas, mas de maneira limitada e condicionada por nossas circunstâncias e habilidades. Deus, por outro lado, é a fonte de todo poder. Ele é capaz de fazer tudo o que é logicamente possível e que não contradiz Sua própria natureza. Isso não apenas reflete Sua soberania, mas também é um convite para confiarmos que nenhuma dificuldade está além do poder de Deus.
Onisciência: Assim como buscamos conhecimento e entendemos parcialmente o mundo, Deus possui um saber absoluto e perfeito. Ele conhece todas as coisas, desde os eventos mais grandiosos até os mais íntimos. Essa onisciência divina responde ao desejo humano de compreender o propósito da existência e encontrar sentido em meio às complexidades da vida.
Onipresença: Enquanto estamos restritos a um lugar e a um momento, Deus é universalmente presente. Sua presença em todos os lugares e em todos os tempos reforça a certeza de que nunca estamos sozinhos. Mesmo nos momentos de maior escuridão, Ele permanece conosco, sustentando-nos com Sua proximidade constante.
Inteligência: Nossa capacidade de raciocinar e planejar é reflexo da inteligência divina, que é suprema e perfeita. Toda a ordem e harmonia do universo revelam o intelecto de Deus. Para nós, isso é uma confirmação de que o mundo foi criado com propósito e sabedoria, e não é fruto do acaso.
Bondade: O desejo pelo bem que habita em nós reflete a bondade infinita de Deus. Ele é a fonte de todo o bem, e Seu ser é a perfeição da bondade. Isso nos convida a buscar sempre o que é justo, belo e virtuoso, sabendo que tais coisas encontram sua plenitude no Criador.
Verdade: Assim como aspiramos pela verdade, Deus é a própria verdade absoluta. Nele não há erro, engano ou contradição. Sua verdade é a base que sustenta toda a realidade, sendo um farol para aqueles que buscam compreender e viver de acordo com o que é verdadeiro.
Amor: O amor que experimentamos em nossa vida é uma sombra do amor perfeito que Deus é. Ele não ama por necessidade, mas porque Sua natureza é o próprio amor. Esse amor é puro, desinteressado e ilimitado, desejando sempre o bem supremo de Suas criaturas.
Santidade: Por fim, a santidade de Deus representa Sua total pureza e separação de tudo o que é imperfeito. Ele é o padrão de perfeição moral e espiritual. Somos chamados a refletir essa santidade, purificando nossas intenções e ações para nos aproximarmos mais Dele.
Foi como se um raio tivesse partido minha cabeça! Um turbilhão de pensamentos invade minha mente. De onde vêm? Não fui eu sozinho que os concebi! Pego uma folha de papel e vejo que escrevi 15 atributos simplicidade, infinitude, imutabilidade, eternidade, unidade, invisibilidade, inefabilidade, onipotência, onisciência, onipresença, inteligência absoluta, bondade suprema, amor incondicional e santidade. Eles necessariamente compõem esse Deus
que é o sentido da minha vida, mas não O esgotam. Pelo contrário, abrem a possibilidade de compreendê-Lo sem negar que Ele é, ao mesmo tempo, totalmente incompreensível.
Isso me faz ter certeza de algo: não há ninguém ao meu redor que seja assim. Deus está presente, mas não da forma que eu antes imaginava. E agora, uma nova pergunta emerge, um novo chamado à busca: Onde encontro esse Deus?
Meu coração anseia por encontrá-Lo, para que eu possa retribuir tudo o que Ele fez por mim. Todo esse tempo, Ele esteve me sustentando, me dando forças — e eu nem havia notado.
Ó verdade tão antiga e tão nova, onde estás?
Alguém em algum momento na história da humanidade encontrou essa resposta! É um anseio humano, não sou só eu que desejo encontrar a Deus, todos querem por mais que não entendam ou façam isso espontaneamente!
Onde eles o encontraram? Não pode um Deus de amor permitir que aqueles que o encontraram o escondam de todos, eu no lugar deles estaria anunciando ao mundo inteiro, convidando a todos, por mais louco que eu soasse aos ouvidos e aparentasse aos olhos dos outros, eu de feliz e bom grado os convidaria a essa loucura.
Onde?
Respiro fundo, está na hora de passar o café, percebo que a filosofia não pode me mostrar onde por mais que ela me diga como Deus pode ser, ela não me diz quem, não me diz onde, ela só atiça meu coração, ela me instiga a procura-lo.
Pensando bem, quem costuma falar de Deus? Os religiosos, esse povo fanático…, me olho no espelho e lembro do que acabei de falar, que eu de bom grado chamaria os outros a viver essa “loucura”.
É então a religião o caminho para encontrar esse Deus? Mas qual delas?
Franklin Ricardo, Católico, esposo, pai de quatro filhos, estudante de artes liberais, filosofia e teologia, apaixonado pela cultura latina e pelos grandes clássicos da cultura ocidental; ex-ateu, converso pela graça santificante