Episódios do Junhão: ‘TORTA MANJEDOURA’

BRASIL CORREIO DO SERTÃO ENTRETENIMENTO INTERNACIONAL MORRO DO CHAPÉU REGIONAL

 

Mais um livro do escritor Joswilton Lima, autor dos Episódios do Junhão. Com o título de “O Cigano Violeiro” é um conto fantasioso destinado ao público adulto e juvenil que narra as superstições existentes nas comunidades rurais do interior.

O livro relata a vida simples e feliz dos personagens, mas que é totalmente alterada devido a visita inesperada na região de um indivíduo pernicioso.

A ficção da estória irá deixar os leitores surpreendidos por causa do final fantástico.

As ilustrações também são autor. A capa é uma pintura digital com o mouse, experiência nova que mesmo com toda a dificuldade da adaptação, deu um bom resultado.

As ilustrações internas são fotos de pinturas a óleo, também do autor.

O livro “O Cigano Violeiro” já foi publicado pela Editora Amazon.

Basta acessar o site – http://amazon.com – e buscar na pesquisa O Cigano Violeiro que aparece o livro na versão digital e na versão impressa.

É só clicar em cima do link amazon na mensagem acima que já vai direto. Depois é só digitar o cigano violeiro. Quando aparecer o livro, clicar em cima da capa que aparece todas as informações.

Para ver outros livros do autor é só digitar na pesquisa da http://amazon.com: Joswilton Lima.

 

 

O autor recebeu e-mail da Editora Amazon informando que seus livros (Episódios do Junhão, Enigmas da Escuridão e O Cigano Violeiro) foram qualificados para participarem no concurso do Prêmio Kindle de Literatura 2024.
Caso seja premiado, o livro terá uma versão impressa publicada pelo Grupo Editorial Record (o maior do Brasil), entre outros prêmios.

Com a retomada das atividades em nosso site, continuamos a usufruir da criatividade de amigos (as) que, por meio da sua atividade literária, presenteiam nosso leitores com textos de encher os olhos e fazer a alma viajar.

 

Assim, os Episódios do Junhão serão revisitados e começamos com a presentação do livro que esta disponível pela Amazon.com.br no endereço https://www.amazon.com.br/Epis%C3%B3dios-Junh%C3%A3o-Joswilton-Jorge-Nunes/dp/B08PQP2SF2 e você confere o novo episódio:

 

TORTA MANJEDOURA

 

JUNHÃO

Vinte e sete anos de idade. Inacreditavelmente ele acorda muito cedo, quando o dia ainda está amanhecendo; são apenas cinco horas da manhã. Havia chegado da farra um pouco antes e deitou-se para descansar um pouco. Antes que começasse a cochilar o despertador do relógio de pulso toca. O som estridente o faz se levantar da cama com um pulo e vai ligeiro para o banheiro escovar os dentes e lavar o rosto. O banho pode aguardar para depois que terminar o serviço que irá fazer, porque o tempo urge. Teme que a mãe acorde e o flagre em plena atividade. A seguir vai apressado para a cozinha.

Ele pretende compensar a mãe por ter comido o almoço dela deixando-a com fome, pouco tempo atrás. Para que consiga realizar o seu intento em segredo, o planejamento começou na noite do dia anterior, quando induziu a mãe a entornar uma garrafa de vinho tinto suave durante o jantar. Por ser evangélica, ela se recusou de modo peremptório a ingerir bebida alcoólica, mas o filho argumentou para convencê-la. Afirmou que não havia nenhuma proibição por parte da religião, quanto à ingestão de bebida alcoólica. E como prova do que estava dizendo, citou um versículo bíblico do Novo Testamento no qual Jesus realizou o seu primeiro milagre transformando água em vinho, para que os convidados de um casamento em Canaã não parassem de beber. Contudo, informou que havia realmente a proibição da religião, mas, somente para evitar a embriaguez.

Enfim, para conseguir a façanha de embriagar Ceiça, aproveita a vulnerabilidade dela fazendo muitos elogios sobre o esmero que ela tem em cuidar da família e da limpeza da casa. Essa abordagem atinge o ponto fraco da mãe que fica orgulhosa, ao saber que os seus esforços estão sendo reconhecidos. Articulado e influente na conversa, consegue deixá-la embevecida e concordar com a insistência dele para que beba um copo de vinho.

No início do jantar ele está muito solícito e gentil, iludindo Ceiça com bajulações. Cuidadosamente coloca meio copo de vinho e completa com um refrigerante escuro de marca famosa no mundo inteiro. Como essa bebida não alcoólica tem bastante gás, deixará o sabor da mistura bem suave e deliciosa. Por causa dessa artimanha, a mãe não percebe que irá ficar embriagada em pouco tempo. Depois que começou a beber, ela fica muito alegre e, não se contendo, entorna toda a garrafa com gulodice. Como se não bastasse a alta dosagem de álcool no organismo, exige outra garrafa para beber. Satisfeito porque o seu plano está dando certo, Junhão fica sorridente e se apressa em servi-la.

CEIÇA

Quarenta e sete anos de idade. Quando termina o jantar está completamente bêbada, falando bobagens muito alto e dando gargalhadas à toa. Não para de falar por um minuto sequer, sempre se gabando de que durante o dia fez uma faxina impecável no apartamento e que havia areado todos os utensílios domésticos, deixando-os brilhando. Após tagarelar muito, começa a abrir a bocarra demonstrando estar sentido muito sono e tenta se levantar da cadeira, mas as pernas fraquejam e ela cambaleia. Imediatamente Junhão a ampara e leva a mãe para o quarto para que ela possa repousar.

JUNHÃO

Elaborou o seu plano nos mínimos detalhes, motivado por um sentimento de ternura em reconhecimento ao bom tratamento que sempre recebeu da mãe e também como forma de recompensá-la por seus desatinos. Por isso resolveu fazer o almoço do domingo para agradá-la e fazer com que a mãe se esqueça dos desgostos que ele sempre dá. Como é uma surpresa para ela, embebedou-a para que não acorde cedo e ele consiga trabalhar sem nenhuma interferência. Está entusiasmado para preparar a sua famosa torta manjedoura, cuja receita inventou dias antes durante uma farra. No entanto, precisa ser rápido antes que a mãe acorde.

Correndo contra o tempo, abre a geladeira e pega o que irá usar na receita: tempero verde, tomate, pimentão, batatas, ovos, queijo muçarela, presunto, atum em pedaços, pimenta calabresa e pimenta do reino moída. Por causa da pressa em retirar os ingredientes, ao invés de pegar a pimenta calabresa, pegou por engano o frasco com pimenta malagueta. Desatencioso, não percebe o erro e continua animado na sua intenção de fazer o almoço sozinho sem a interferência dela.

Depois vai ao armário da cozinha pega o restante dos produtos que irá usar na confecção da torta: farinha de trigo, sal, batedeira, liquidificador e a assadeira. Coloca tudo em cima da mesa e começa a bagunça. Na agonia em aprontar a torta antes da mãe acordar, ocorrem alguns desastres involuntários: um ovo rola de cima da mesa e se espatifa no chão. No afã em aparar o ovo fujão, ele dá um esbarrão na mesa e a situação piora ainda mais. Outros ovos rolam juntos com as batatas e também caem no chão, assim como as panelas.

O ruído devido à queda do alumínio no chão é enorme. Para completar o distúrbio, o pacote de farinha de trigo estava aberto também cai e espalha a maior parte do produto por cima da mesa e no chão. Nesse momento ele solta um sonoro palavrão que estronda através das paredes do apartamento.

CEIÇA

Com o barulho ela acorda assustada. Teme que a sua cozinha tenha sido invadida por algum ladrão. Num ímpeto ela retira a máscara de cobrir os olhos que usa para dormir e se levanta rápida da cama. Mesmo estando ainda sonolenta e um pouco tonta, com os olhos vermelhos e olheiras acentuadas, vai à cozinha ligeiro para verificar o motivo de tanta zoada. Enquanto caminha, comenta:

– Essa barulheira infernal deve ser coisa do meliante do Júnior. O sujeito deve ter chegado agora bêbado da farra e está fazendo uma bagunça sem respeitar a minha necessidade de dormir para descansar de toda a trabalheira que tenho durante o dia nesta casa.

Quando chega à porta da cozinha e vê a desordem do filho, esbraveja:

– Mas que zorra é essa, infeliz?!!!… A gente não pode dormir em paz que esse “pilantroso” bagunça tudo!…

JUNHÃO

Pego de surpresa, arregala os olhos e fica sem reação devido ao flagrante.

CEIÇA

Irritada, continua o esporro:

– Antes de dormir eu limpei tudo. Até as panelas deixei areadas e agora olhe o estado de imundice da minha cozinha!… Esse peste ainda vai “mim” matar de desgosto!…

JUNHÃO

Estando sem alternativa, apenas murmura:

– Calma…, deixe de estresse!… Estou fazendo uma surpresa para você. Hoje eu vou cozinhar a torta manjedoura para que a minha mainha não tenha esse trabalho. Não se preocupe, porque limpo tudo depois. Você vai ter um merecido dia de rainha do lar.

Depois murmura contrariado:

– Rapaz…, que coroa forte é essa?! Nem cachaça derruba a sujeita. Ontem tomou uma dose pra derrubar elefante e agora está aí, de pé, fazendo arruaça.

Preocupado, faz planos para o futuro:

– Na próxima vez vai ser o jeito eu botar essa barraqueira pra tombar de verdade. Ela vai beber uma mistura com droga da tarja preta para ter uma boa noite Cinderela. Essa infeliz vai dormir “até dizer chega” sem me incomodar.

E conclui sorridente:

– Com certeza ela vai deixar de ser petulante e saber quem é o mais forte aqui.

CEIÇA

Por não ter ouvido o comentário pernicioso dele, fica comovida com tamanha demonstração de carinho. Lágrimas escorrem pela sua face amarrotada por causa da flacidez e das rugas. Emocionada diz com a voz melosa:

– Oh, que lindo!… Que belo!… Eu sabia que você não era ruim por gosto… Esse sim, é o meu filhinho!… Agora estou satisfeita e vou voltar pra cama para descansar à vontade. Graças às minhas preces, finalmente você “entrou nos eixos” …

Mas, ao voltar para o quarto, apesar de estar enternecida com a atitude dele, ainda desconfia das boas intenções do filho e resmunga:

– Parece que essa alma penada quer uma reza…, porque ele não dá um “prego sem estopa”.

JUNHÃO

Já que recebeu a carta-branca para continuar com a bagunça, reinicia a sua tarefa culinária despreocupadamente. Tempos depois a torta manjedoura está pronta; bem assada e com ótima aparência.

Concluída a sua tarefa, ele aproveita para limpar a sujeira feita na cozinha e também para lavar os utensílios usados. Embora a limpeza não esteja primorosa ele se dá por satisfeito. Depois vai para a sala onde irão almoçar e arruma a mesa dentro dos padrões da etiqueta social, de acordo com a sua ótica. Estando satisfeito por achar que a sua obra-prima está pronta, dá a última olhada para conferir se ainda falta algum detalhe.

Junhão pretende que o almoço seja impecável, sem nenhuma falha para não desagradar a mãe, afinal ele precisa da aprovação total dela. Após tomar banho, ele olha com admiração para a mesa arrumada, porque está orgulhoso com a perfeição do seu trabalho. A seguir, grita para ela:

– Pode vir almoçar, madame!…

CEIÇA

Quando chega à mesa onde o almoço está posto, ela observa e toma um susto agradável com a delicadeza da arrumação feita pelo filho. Fala com ternura:

– Oh, que maravilha!… Deve estar uma delícia essa torta!… Obrigada, filhinho…

JUNHÃO

Puxa a cadeira para que ela se sente à mesa. Vaidoso com o elogio e o agradecimento recebido, dirige-se à mãe e ensaia um pequeno discurso dizendo com presunção:

– De agora em diante eu vou trabalhar!… Já descobri a minha verdadeira vocação!… Vou ser chef de cozinha!… Quero o seu apoio para ter sucesso nessa profissão! O meu futuro glorioso está em suas mãos.

Junhão preparou o almoço, porém não prestou atenção ao tipo de pimenta que ele colocou à vontade na comida que preparou. Consequentemente, a torta manjedoura ficou muito apimentada, portanto, incomível por causa da ardência das pimentas colocadas por engano. Mas, como a torta está em uma travessa de vidro e com excelente aparência, é impossível detectar o ardor, apenas visualizando.

INÍCIO DO ALMOÇO

CEIÇA

Está posuda e entusiasmada com tanto prestígio repentino e aguarda que o filho sirva o seu prato. Ela tem a impressão de que finalmente ele encontrou o seu caminho. A seguir, fala contente para si:

– O Juninho é um menino de ouro, além de ser muito competente. Com certeza a torta dele é uma delícia. Por isso estou ansiando experimentar a gostosura que ele se esmerou em fazer pra mim. Ah, que menino maravilhoso!…

E completa:

– Como o meu filhinho é muito aplicado em tudo que faz, com certeza vai me superar nos temperos da cozinha. Já estou vendo o futuro grandioso dele sendo o dono de uma rede de restaurantes luxuosos.

O almoço tem início e Ceiça tem uma surpresa que a deixa desesperada. Ao dar a primeira garfada e mastigar o pedaço que levou à boca, fica estatelada. Arregala os olhos, faz uma careta terrível e cospe o bolo da comida em cima da mesa, como se estivesse vomitando. Ainda com a boca aberta, deixa a baba escorrer, porque a boca está pegando fogo por causa do ardor da pimenta. Devido ao que está sentindo, fica envolta em chamas com os olhos vermelhos e esbugalhados. Depois de tossir muito, vocifera:

– Mas, que desgraça é essa, seu “fela da puta”?!… Como você pôde fazer uma “fuleragem” dessa comigo, “miséra”?!…

JUNHÃO

Arregala os olhos sem entender o motivo da acusação. Para ele estava tudo perfeito, portanto, não havia nenhum motivo para tanta falta de educação por parte da sua mãe, ao cuspir na mesa.

CEIÇA

Continua tossindo e babando muito. Quando melhora um pouco, grita irritada:

– Você não sabe que sou alérgica a pimenta, seu peste?!… Está querendo me matar, desnaturado?!…

JUNHÃO

Continua sem entender o porquê da acusação. Abismado, balbucia:

– A senhora está exagerando. Eu fiz tudo certo de acordo com a minha receita…

CEIÇA

Escarra no chão a baba com o resto de comida que ficou nos cantos da boca. Depois rebate com energia:

– Está me chamando de mentirosa, seu corno? E ainda fica se vangloriando por causa dessa receita de merda?!… Você entope a comida com pimenta e ainda fica se achando o “mangangão” da culinária, seu “malestroso”!…

E completa:

– Ora…, onde já se viu um “oreba” igual a você, que só vive dormindo e farreando, ter capacidade de inventar uma receita culinária?!…

A seguir, ainda está brava e determina:

– Se depender de mim, você vai ser chefe da cozinha do inferno, não de minha casa, seu merda!… E ainda fica “se achando”, com uma gororoba indigesta dessa!…

JUNHÃO

Assustado, olha para os lados com cara de abobalhado, sem entender como e onde foi que errou. Está frustrado porque o seu trabalho foi perdido. Depois comenta:

– Que coroa problemática! Nada do que faço agrada a ela. Acho que deve ter um grave distúrbio mental. Que “coisinha” chata!!!…

Ainda atordoado, toma uma decisão:

– Pra me livrar do estresse dela eu vou tomar uns gorós na rua.

CEIÇA

Ficando sozinha em casa, após lavar muito a boca para aliviar o ardor, senta-se no sofá e lamenta:

– Que sujeito ordinário esse Júnior. Faz uma “bagaceira” dessa aqui e depois sai de mansinho com a cara de songamonga.

Depois busca uma solução para o filho:

– Tudo o que esse indivíduo faz é errado, mas o pediatra dele, “dotô” Ednaldo, vai dar um remédio pra curar esse distúrbio mental do Juninho, porque o sangue de Cristo tem poder.

 

Autor: Joswilton Lima

Resumo da biografia do autor:

Joswilton Lima é natural de Ilhéus-Ba, mas é domiciliado há mais de vinte anos em Morro do Chapéu. Tem formação em Ciências Econômicas, mas sempre foi voltado para as artes desde a infância quando começou a pintar as primeiras telas e a fazer os seus primeiros escritos. Como artista plástico participou de salões onde foi premiado com medalhas de ouro e também de inúmeras exposições coletivas nos estados da Bahia, Sergipe e Pernambuco. Possui obras que fazem parte do acervo de colecionadores particulares e entidades tanto no Brasil, quanto em países do exterior, a exemplo dos E.U.A, Portugal, Espanha, França, Itália e Alemanha.

Em determinada época, lecionou pintura em seu atelier no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, e foi membro de comissões julgadoras em concursos de pintura. Nesse período exerceu a função de Diretor na Associação dos Artistas Populares do Centro Histórico do Pelourinho (primitivistas e naif’s), em Salvador.

Como escritor também foi premiado em diversos concursos de contos tendo lançado um e-book com o título “Enigmas da Escuridão”, com abordagem espiritualista, tendo obtido a nota máxima de 5 estrelas de leitores do site www.amazon.com.br Outros contos e romances também estão sendo escritos.

Concomitante às atividades artísticas, sempre exerceu funções laboriosas em diversos setores produtivos e, por último, se aposentou na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, onde trabalhou por muitos anos na Fiscalização.

Agora tem o prazer de apresentar aos leitores do site www.leoricardonoticias.com.br o seriado de crônicas intituladas Episódios do Junhão, com as quais espera que tenham uma leitura agradável e de reflexão.

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