Carlos Karoá escreve: ‘AS ELEIÇÕES’

BRASIL DIA-A-DIA ENTRETENIMENTO MORRO DO CHAPÉU REGIONAL

O início do mundo civilizado, naturalmente com um monte de restrições, está ou estava na Europa. Digo isto porque não acho civilizado andar de tangas e descalços como se vivia na África, nus como se vivia nas Américas, ou sob regimes imperialistas praticados rigidamente em boa parte da Ásia habitada.

E estes moldes confortáveis, para quem ocupava o topo da pirâmide, bem lentamente foram sofrendo mudanças, com o avanço do conhecimento, com o fechamento de ciclos de vida, com as coisas criadas ou inventadas, que saiam das cabeçinhas pensantes mais evoluídas da época. Não adianta parar pra pensar, porque nada neste mundo dura para sempre. Já avisei isto aqui um milhão de vezes.

A independência americana é datada de 04 de julho de 1776, quando as treze colônias não suportaram mais o jugo inglês sobre os seus destinos. Nesta época, os Estados Unidos da América não ditavam regras no mundo e o fato não teve relevância por estas bandas, por isso é a revolução francesa de 1789, o estopim como agente de semear novas ideias, para o desejo de libertação de povos submissos, mais precisamente nas terras do novo mundo.  Percebe-se neste episódio, a importância do lugar onde ocorreu o fato e a Europa neste tempo, era o continente mais cosmopolita das povoações da terra. O Brasil emergia como nação e não poderia ficar indiferente, nossa independência, em gotinhas insistentes, tava espiando na janela.

No final do século XIX e início do século XX, a Europa era pontuada de principados e reinos seculares, mas com algumas povoações ensaiando eleições indiretas, para eleger os representantes que iriam apontar o norte das suas vidas.  Ásia e Europa mantinham impérios longevos, com dinastias segurando as rédeas sob chicotes e espadas, para manter os tronos debaixo dos pés. Nem sempre as cabeças eram um descanso seguro para coroas adornadas de pérolas e pedras luzidias. O poder também tem o seu lado de risco de vida passeando por corredores e alcovas perfumadas.

O maior império do planeta, em todos os sentidos, longevidade, tamanho terrestre, importância socioeconômica, fama e aceitação dos seus súditos, é sem nenhuma objeção, o império britânico. Ainda hoje, alguns países que têm a obrigação de hasteamento de sua bandeira em seus mastros, o fazem sem titubeios ou gritos de discórdia. O império é simbólico na sua essência, é emblemático também por intrigas, mas legitimado por espadas e canhões. Não se pode desafiar impunemente o poderio bélico da velha Inglaterra.

A dinastia D’ Orleans e Bragança, aquela que nos sugou por quase doloridos 400 anos, encerrou de vez o direito ao café da manhã, almoço e janta a custo zero, no finalzinho do século XlX mais precisamente no ano de 1889. O imperador brasileiro D. Pedro II, açoitado pelo látego da revolução republicana, foi impiedosamente, literalmente tangido como mula de carga, na noite de 15 de novembro de 1889. As mudanças de regime, quando ocorrem, quase sempre são trágicas. O imperador deposto apesar de tudo teve sorte. Na Rússia, toda a família do último Czar, Nicolau II e a Czarina Alexandra da dinastia Romanov, junto a cinco filhos, foram assassinados.

Com a república estreando em palácios brasileiros, também vieram as eleições. Discretas, com arestas pontudas precisando de tesouras, teve em 1891, seu primeiro batismo em urnas tupiniquins. Sufrágio por voto indireto, só deputados depositavam nas urnas, as suas escolhas em suspeitos pedacinhos de papel. Os postulantes à poltrona lustrada foram o alagoano Deodoro da Fonseca e ituano Prudente de Morais. Ganhou o marechal das Alagoas, líder da revolução que destituiu do poder o imperador Pedro II, mandatário por 58 anos.

A primeira eleição direta no país, agora mais democrática, quando o povo tem direito a escolhas, ocorreu em março de 1894. O laureado na contenda foi desta vez o ituano, advogado e constituinte Prudente de Morais. Nesta eleição, a intenção de dias melhores para o povo brasileiro estava em um governo civil, sem os vícios erros ou acertos do militarismo de antes. É o começo da república de interesses oligárquicos, com cafeicultores paulistanos segurando a nota do cruzeiro numa ponta e os produtores da bacia leiteira de minas gerais segurança na outra. Está festança de alternância de poder, conhecida como a política do café com leite, vai perdurar entre eles, até o ano de 1930, quando o gaúcho Getúlio Vargas, começa a usar as suas botas no palácio do Catete. Vai implantar seu regime ditatorial por longos 15 anos. Termina no final da segunda guerra em 1945.

Dizem as más línguas, que o melhor negócio do mundo é comprar um argentino pelo preço que ele vale e vendê-lo pelo preço que ele pensa que vale. E naturalmente um modo de ofensa a nossos herma nos da terra do fogo, mas brincadeiras pejorativos dificilmente combinam com a realidade. O que é perceptivo e real por aqui, é que o melhor negócio neste chão, é ostentar um cargo público em qualquer nível do legislativo nacional. Municipal, estadual ou federal, é a receita pro sucesso em pouco tempo de tribuna. Mas convenhamos, não é fácil chegar lá. O patamar do eleitor brasileiro está muito aquém infelizmente, de padrões aceitáveis no dito mundo civilizado. O voto, que é um recurso pra escolhas acertadas, ganha status de vale tudo. Pode ser um saco de cimento, um pneu de carro velho, um motor de geladeira, menos o interesse por uma escola pintadinha, merenda escolar de qualidade, carteiras bem limpinhas e professores com a dignidade respeitada.

Por conveniência, me tornei arredio quando o assunto entre amigos é a política nacional. Hoje, beira as raias da incompreensão. Desde o fim da ditadura, o regime implantado em março de 1964, finito em 1985, o poder legislativo federal, deu início em sessões noturnas e fora de horários considerados normais, em aprovação de leis em benefícios pessoais. Criaram os famigerados jetons, triplicaram salários, aprovaram mordomias que só existem no parlamento brasileiro, mas mesmo assim, sendo do conhecimento de todos, a idolatria por estes pulhas continua.

O STF, Supremo Tribunal Federal, com apenas 11 membros, tem em sua serventia, mais de 2.200 funcionários. Não existe no planeta, tamanha discrepância em lugar nenhum. Mas, apesar desta assimetria, deputados e senadores nada fazem em favor do estado. Mesmo assim, vergonhosamente, a idolatria dos eleitores por estes homens continua.

Há uma polarização perigosa em compasso de espera, na próxima eleição presidencial. Em ambos os lados, o bojo político oferece uma mandala recheada de denúncias, comprovadas, fundeadas em atos, fatos, vídeos escancarado roubos, corrupção, desvios de conduta, tudo vagueando diuturnamente em redes sociais, mas mesmo assim, diante de tanta falta de pudor, a idolatria por estes homens continua. Acredito que em países sérios, estes deméritos de águas sujas, não Cruzariam a ponte do decoro e da honradez. Nós eleitores, também carregamos a culpa da omissão e da cumplicidade. Por tudo isto, o certo é que em meu país, infelizmente a política continua e acredito que continuará por muito tempo, sendo lamentavelmente, cinicamente, despudoradamente, uma VERGONHA.

Carlos Karla, amante de música e cinema, também tem paixão pelo universo das letras. Em 1970, deixou Morro do Chapéu com destino a Salvador, como fazia todo jovem interiorano daquela época. Hoje aposentado, retorna à nossa cidade em busca de uma vida mais tranquila. Gosta de escrever crônicas e pequenos contos, sejam eles verdadeiros ou não.

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