Episódios do Junhão: ‘O “CONCURSEIRO”’

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Mais um livro do escritor Joswilton Lima, autor dos Episódios do Junhão, será publicado em breve pela Editora Amazon. Com o título de “O Cigano Violeiro” é um conto fantasioso destinado ao público adulto e juvenil que narra as superstições existentes nas comunidades rurais do interior.

O livro relata a vida simples e feliz dos personagens, mas que é totalmente alterada devido a visita inesperada na região de um indivíduo pernicioso.

A ficção da estória irá deixar os leitores surpreendidos por causa do final fantástico.

As ilustrações também são autor. A capa é uma pintura digital com o mouse, experiência nova que mesmo com toda a dificuldade da adaptação, deu um bom resultado.

As ilustrações internas são fotos de pinturas a óleo, também do autor.

O livro “O Cigano Violeiro” já foi publicado pela Editora Amazon.

Está disponível na amazon.com (o livro impresso) e na amazon.com.br (a versão digital).

 

O autor recebeu e-mail da Editora Amazon informando que seus livros (Episódios do Junhão, Enigmas da Escuridão e O Cigano Violeiro) foram qualificados para participarem no concurso do Prêmio Kindle de Literatura 2024.
Caso seja premiado, o livro terá uma versão impressa publicada pelo Grupo Editorial Record (o maior do Brasil), entre outros prêmios.

Com a retomada das atividades em nosso site, continuamos a usufruir da criatividade de amigos (as) que, por meio da sua atividade literária, presenteiam nosso leitores com textos de encher os olhos e fazer a alma viajar.

 

 

Assim, os Episódios do Junhão serão revisitados e começamos com a presentação do livro que esta disponível pela Amazon.com.br no endereço https://www.amazon.com.br/Epis%C3%B3dios-Junh%C3%A3o-Joswilton-Jorge-Nunes/dp/B08PQP2SF2 e você confere o novo episódio:

 

O “CONCURSEIRO”

 

CEIÇA

Quarenta e seis anos de idade. Está cuidando dos afazeres domésticos na cozinha enquanto aguarda o filho acordar. Ansiosa, consulta a todo o momento as horas no relógio de parede. Com o avançar do horário ela fica impaciente e começa a andar nervosa pela casa verificando para ver se tudo está limpo e no devido lugar. Após a inspeção, senta-se no sofá para aguardar o seu reizinho se levantar da cama.

Enquanto espera, está revoltada com a vida desregrada que o filho está levando sem se preocupar com o futuro. Já são onze e meia da manhã quando, de repente, tem um sobressalto ao ouvir um barulho e se levanta num ímpeto. Percebeu que o filho já havia acordado e se dirige até a porta do quarto dele. Está angustiada e irá reclamar sobre a preguiça dele em não querer se levantar cedo para ir procurar trabalho.

JUNHÃO

Vinte e seis anos de idade. Quando abre a porta do quarto e vê a mãe quase impedindo a sua passagem fica com raiva. Sem dar uma palavra, ele sai empurrando a mãe com rispidez para o lado e passa fingindo não perceber a presença dela. Os olhos dele estão vermelhos iguais a brasas e tem pressa em ir para o banheiro. As olheiras escurecidas dão um aspecto decaído e o mau hálito denuncia uma noite de bebedeira. Está com um aspecto horrível por causa da ressaca misturada com uma noite maldormida.

CEIÇA

Ceiça está revoltada e espumando de raiva por causa do modo grosseiro do filho. Reclama quase gritando:

– “Peraí”, rapazinho!… Que “ingnorância” é essa, sujeito?!… Você não está me vendo aqui?! Pelo menos dê “boa tarde”, seu malcriado! Já é meio-dia! Isso é hora dum homem acordar?!… E ainda se levanta da cama com rompante que até parece gente importante.

JUNHÃO

Ao ouvir o que a mãe lhe diz, ele para e olha enfezado. Segundos depois resolve falar demonstrando estar contrariado:

– Pô!… Você não me dá trégua! Não vê que estou cansado e não quero papo com ninguém?!… A sua vida é ficar me estressando. Não sabe de nada e já vem esculachando. Estou pra ver uma criatura incompreensível igual a você!

CEIÇA

Fica indignada com o modo rude do filho. Estando contrariada, põe as mãos nas cadeira e exige explicações:

– Cansado de quê, seu ordinário?!… Nunca ouvi dizer que dormir cansa alguém. Cadê o dinheiro que eu te dou para fazer as inscrições nos concursos públicos? Quero saber aonde foi parar a dinheirama, porque não vejo você estudando e nem fazendo as provas.

E conclui enraivada:

– Com certeza você está estourando toda a grana na cachaça com as quengas nessas farras! Ah, sujeito folgado!…

JUNHÃO

Ele interrompe a reclamação da mãe e diz acusando:

– Vamos falar usando de honestidade. Você não trabalha, portanto não tem dinheiro para me dar. O dinheiro quem lhe dá é meu pai! E o velho nunca fez questão de nada.

A seguir aproveita o momento para reverter a situação e sugere:

– Pensando bem, como você não faz nada o dia inteiro, deveria trabalhar como diarista nos apartamentos daqui na vizinhança. É só fazer cartões de visita informando que Ceiça faz uma faxina bem-feita e colocar o número do telefone.

Depois ordena com império:

– Vá entregar a propaganda nos edifícios da vizinhança que vai chover freguesia. Você vai ganhar um bom dinheiro com essa ocupação e quando você estiver me dando da sua grana, poderá continuar com a sua chiadeira insuportável alegando que me dá dinheiro.

CEIÇA

Ao ouvir o que o filho disse, ela explode de raiva. A cabeça fumaça por entre os bóbis e grita enfezada:

– Você quer “mim homilhar”, seu “fela da puta”!!!… Quem precisa trabalhar é você, seu peste!

A seguir comenta injuriada:

– Eu não preciso trabalhar porque tenho um bom marido que mantém a casa. Esse menino é um sem noção. Já não basta o trabalho que tenho aqui, agora o malandro quer ficar dormindo enquanto eu vou fazer faxina na casa dos outros. É “cada uma” que eu vejo…

Ainda zangada, conclui:

– Esse mau elemento nem se preocupa que, se eu fizer o que ele quer, vou sofrer discriminação aqui no prédio. O pessoal daqui é tirado a rico e não vão querer ser vizinho de uma faxineira. Parece que ele só quer vantagem para si; os outros que se arrombem.

JUNHÃO

Não dá ouvido ao que a mãe fala e acusa-a, sugerindo:

– Está vendo aí a prova de que você é preguiçosa?!… Se não quer fazer faxina, então vá vender os produtos da Javon, da Brauticáro ou da Fequiti. E não se esqueça de me dar o dinheiro das comissões que ganhar. Quem precisa de grana sou eu, que estou jovem.

Depois muda o semblante e diz demonstrando satisfação:

– Com referência às minhas farras, não fique com essa conversa-fiada, porque eu estava comemorando a minha aprovação no concurso! Pode me dar os parabéns, porque agora o seu filho é um funcionário público!

E continua falando sorridente:

– Quando vi as perguntas fáceis nas provas que fiz, respondi tudo bem rápido. Como estava fazendo muito calor eu entreguei os gabaritos preenchidos em pouco tempo. Até o pessoal da coordenação do concurso ficou abismado com a rapidez com que terminei as provas.

A seguir se justifica dizendo:

– Concluí ligeiro porque a sala não tinha ar-condicionado e o calor estava insuportável parecendo que eu estava “numa” sauna. Por causa disso e das questões com pergunta idiotas, precisei ir refrescar a mente indo tomar umas cervejas num barzinho do outro lado da rua.

E continua orgulhoso do seu feito dizendo:

– Velho…, a galera ficou admirada com o pouco tempo em que resolvi todas as questões. Também pudera, eles são uma cambada de burros. Um dos que fizeram as provas na minha sala foi aquele “carinha” que é todo molenga, o filho da sua amiga Iêda.

Continua falando para recriminar o filho da amiga da mãe:

– Quando ele saiu do colégio foi no barzinho onde eu estava para comprar água mineral. Imagine, o sujeito queria água mineral?!!… Já pensou?!… O tonto não aceitou a cerveja que ofereci, porque disse que preferia ir pra casa estudar. Acabou de fazer a prova e já queria ir correndo para continuar estudando!…

E fala de modo a desmerecer o rapaz, sentindo-se superior:

– Estou pra ver um sujeito burro igual a ele.

Junhão está revoltado porque o rapaz é muito estudioso e não aceitou ser o seu parceiro de farra. Sem saber que o rapaz estava inscrito em outros concursos, ele continua esculachando o rapaz:

– O “fulaninho” disse que só entregou o gabarito das provas quando encerrou o tempo do concurso. Segundo ele, estava revisando a prova para ver se precisava corrigir alguma coisa. Essa é a maior prova da burrice dele ao demonstrar não ter confiança no que fez.

Depois faz uma crítica desejando o mal ao rapaz:

– De que adianta ele querer ser “cê-dê-éfi” porque é tão abestalhado que mesmo que passe “arrastado” no concurso vai ser reprovado nas provas do psicoteste, digo isso com certeza.

E fala sorridente, gabando-se da vitória:

– O único que está aprovado sou eu, o seu filhinho querido.

CEIÇA

Ao ouvir a boa notícia da aprovação do filho no concurso público ela quase desmaia de alegria. Reage parecendo ter ouvido as palavras mágicas com as quais sonhou e aguardou por muito tempo. A seguir fica enlouquecida pulando dentro do apartamento e dando urros para demonstrar a alegria que sente. A zoada que faz é enorme, a ponto de ser audível por todo o quarteirão. Depois para e, enternecida, grita com fervor religioso:

– Oh, glória!!!… Jesus ouviu as minhas orações! Finalmente o Juninho está engajado no serviço público e terá o futuro garantido, graças ao meu bom Deus!

Para de glorificar e diz com entusiasmo:

– Vou contar pra todo mundo o seu sucesso! Primeiro vou contar ao seu pai e depois vou dizer a todas as minhas amigas que o meu filhinho agora é uma autoridade do governo!

Apesar de estar empolgada, deseja se vingar das amigas por causa do falatório acerca do filho:

– Elas vão ficar morrendo de inveja, principalmente aquelas fulanas que ficam fazendo fuxico dizendo que você é um “pra nada” na vida e um explorador dos pais.

JUNHÃO

Nesse momento ele arregala os olhos e berra:

– “Peraí”, rapaz!… Você tem um “bocão” da zorra! Não vai dizer nada a ninguém. Vamos aguardar o resultado do concurso sair primeiro… Por enquanto essa comemoração é só nossa.

CEIÇA

Não entende a reticência dele e o interpela:

– Ué?!… E essas comemorações que você fez ontem à noite?! Cadê a sua aprovação no concurso? Você não disse que já um funcionário?!… “Tou” pra ver uma criatura cheia de “nó pelas costas” igual à essa!

JUNHÃO

Ouve em silêncio, enquanto articula a sua defesa. A seguir, imperioso, diz a sua verdade:

– O seguinte é esse: eu fiz provas excelentes; acredito que acertei todas as questões. Tenho o primeiro lugar garantido, mas ocorre que o serviço público não é ágil. É uma burocracia retada de lerda.

CEIÇA

Fica confusa com tanta conversa enrolada. Atônita, inquire:

– Mas que diabo é isso?! Afinal, você passou ou não no concurso?!… Se foi aprovado, por que não pode começar a trabalhar logo?

Incisiva, pergunta vaidosa:

– Agora “mim” diga, você concorreu pra qual cargo no concurso?! Foi pra ser o diretor de alguma empresa do governo? Ah, filhinho…, você “mim” dá um orgulho tão grande!…

JUNHÃO

Fica embaraçado com a curiosidade da mãe e responde baixo como se estivesse envergonhado:

– Eu fiz o concurso para o cargo de auxiliar de serviços gerais…

CEIÇA

Fica revoltada de repente com o que ouve e exclama exaltada:

– “Népussivel” uma merda dessa!… Quer dizer que eu “mim” desgraço gastando dinheiro nos seus estudos e agora você vem com a cara-lisa dizer que fez concurso pra ser faxineiro?!… Será possível uma burrice dessa?!… Já vi que tenho em casa um cabeça de bagre!

JUNHÃO

Está revoltado com o questionamento da mãe e argui:

– Você é mesmo uma abobalhada, por isso não entende nada. Eu vou entrar como auxiliar de serviços gerais, mas depois de pouco tempo trabalhando, serei promovido para um cargo superior devido à minha alta capacidade intelectual. Simples, assim!

CEIÇA

Está abismada com a sabedoria do filho. Para ela tudo que o Junhão faz está certo. Embora esteja magoada, diz para si:

– Só porque ele é super inteligente fica se achando no direito de “mim” chamar de tola. Só Deus sabe como “mim” sinto mal com essas agressões dele.

JUNHÃO

Mesmo percebendo que está convencendo Ceiça, ele está a ponto de estourar de raiva com tanta indagação dela. Sisudo, continua a conversa afirmando:

– O mais importante de tudo isso é que eu fiz uma prova “show de bola”, com probabilidade de ser aprovado em primeiro lugar. Devido a isso, já posso me considerar um funcionário público com estabilidade total.

Para evitar que a mãe depois não o acuse de nada, diz com reticência:

– O único problema é que para ser nomeado para o cargo são “outros quinhentos”. Por isso tenho que arranjar um pistolão forte para começar a trabalhar.

A seguir continua lamentando:

– A gente passa num concurso, mas depois tem que sair com uma cuia na mão mendigando na politicagem para conseguir ser nomeado. Se o aprovado tiver uma família grande, com muitos votos, talvez o sujeito minta dizendo que fará o possível. Falam isso no “cheiro mole” porque esses caras não ligam para ninguém; só querem saber dos nossos votos.

CEIÇA

Ao sentir a amargura do filho ela fica enfezada e esbugalha os olhos. Está revoltada com a informação e exclama com a boca espumando de raiva:

– Mas que merda é essa?!… Quer dizer que estudo e inteligência não vale nada pra essa gente?!… Só porque demos um “votinho” à essa laia ruim eles ficam pensando que são os donos do mundo?!… “Destá, jacaré, porque a lagoa deles vai secar”, tenho fé em Jesus Cristo! Se depender de mim, esses “malestrosos” vão papocar nos quintos dos infernos!

JUNHÃO

Após falar o que queria para induzir a mãe, ele se acha cheio de razão e diz:

– Apesar da sua pouca escolaridade, no entanto o seu raciocínio está certo quando diz que não deveria haver essa necessidade humilhante.

Depois determina:

– Agora se não for demais da sua parte em me dar licença, preciso ir buscar a minha gata pra gente continuar comemorando a minha aprovação. Hoje a farra vai ser em dobro!

E conclui sorridente:

– Não é todo dia que podemos comemorar uma vitória!

CEIÇA

Estando ofendida em seu brio por não ter sido convidada para a comemoração, fica ressentida e apenas murmura consentindo:

– Tem toda a licença, meu senhor…

Estando sozinha, fica acabrunhada e senta-se no sofá. Os pensamentos invadem a sua mente com muitas recordações queixosas. Diz para si, demonstrando mágoa:

– Que arrependimento, meu Deus!… Fiquei sofrendo nove meses carregando na barriga um “pedaço de cavalo”. Quantas noites eu perdi com essa criança… Quantos dias eu levei esse menino adoentado nas clínicas pediátricas… Hoje eu vejo que foi um tempo perdido.

Depois lamenta com tristeza:

– Quantas mentiras eu fico dizendo ao meu marido para esconder os malfeitos desse peste… E agora, que já está adulto, vira esse brutamontes que vive desfazendo de mim só porque tem estudo. Só Jesus na causa…

E continua relatando o seu desgosto:

– Olha aí o resultado da minha dedicação como mãe: o pestilento quando consegue um bom emprego me chama de abobalhada e vai alegre farrear com uma quenga. Na realidade, para ele eu não tenho valia.

Tristonha, comenta:

– Quem é a boa pra ir comemorar o sucesso dele é uma “fulaninha” qualquer. Por isso lembro do que a minha mãe sempre dizia: filho criado, trabalho dobrado… O exemplo “taí” com o Juninho.

Depois conclui demonstrando sofrimento:

– E o pior de tudo é que as “miséras” vão comemorar o resultado do concurso esbanjando o meu dinheiro. Vão comer, encher o rabo de cachaça, darem risadas, enquanto isso eu fico em casa “roendo os cotovelos” de raiva. Mas ele vai pagar essas ruindades que faz.

JUNHÃO

Após se arrumar ele sai radiante, todo perfumado. Está exalando um cheiro inebriante porque encharcou o corpo todo com perfume francês. Passa arrogante pela mãe com o queixo erguido e o nariz empinado; não lhe dá sequer um até logo.

CEIÇA

Assim que o filho sai, ela passa de imediato do estado de tristeza que a deprimia para o de euforia. A seguir corre para telefonar para as amigas anunciando a novidade. Talvez por uma doce vingança, já que ele a proibiu de que contasse o fato a alguém. Entusiasmada, sistematicamente diz a mesma coisa para todas as amigas. À primeira delas inicia a fofoca:

– Pois é Hortência, depois de muitas orações eu alcancei uma graça divina: o meu Deus vivo iluminou os caminhos de meu filho. Ele foi aprovado num bom concurso público. E passou em primeiro lugar! O meu Juninho quando for nomeado vai assumir um grande cargo no governo.

A amiga faz um elogio e ela continua:

– Pois é, minha amiga!… Também pudera, o menino tem uma inteligência superior porque foi muito bem criado. Eu chegava a ser enjoada exigindo muito dele nos estudos.

A amiga faz um comentário e ela completa:

– E não é isso, menina?!… Graças a Deus eu vou tirar esse fardo pesado das minhas costas. Mas no final Jesus foi meu “adevogado”. E pior é que agora o infame está praticamente amasiado. Pelo que estou vendo ele vive enrabichado atrás de uma “fulaninha”.

Novamente a amiga diz algo e ela concorda. Logo depois, comenta:

– E não é, querida?!… Pelo que estou vendo é a “tampa e o balaio”. Ou melhor: “é a meia rota com o sapato furado”. Mas agora a situação dele vai mudar e eu já estou odiando essa sujeita oportunista.

De repente fica chateada e fala:

– Depois de muita luta minha pra botar ele nos trilhos e chegar a minha hora de curtir a vida, aparece uma mequetrefe e leva a melhor. É como dizem: “quando Deus dá a farinha, o diabo carrega o saco”.

E continua revoltada fofocando:

– Eu não sei onde ele arranjou esse estrupício. Só sei que o “ex-vagabundo” daqui de casa, “tá arriado os quatros pneus e o socorro” por essa lambisgóia. Ouvi dizer que o nome da desditosa é Janete e que mora numa tal de comunidade, mas não sei aonde fica.

Depois, vangloriando-se diz:

– Pelo que percebi, os dois começaram esse descaramento tem pouco tempo. Essa sem-vergonhice deles é porque homem não pode ver um rabo de saia. Mas graças a Deus, que Alcebíades, o meu marido, não é dado a essas aleivosias.

A seguir dá uma gargalhada de contentamento. Hortência comenta algo e ela conclui mentindo:

– É isso mesmo, amiga!… Não vai demorar ele largar essa sirigaita, porque hoje ele “jurou de pés juntos” que ao ser nomeado a minha vida será a de uma rainha. Disse que vai “mim” dar tudo do bom e do melhor. Glória a Deus, amada!

E despede-se satisfeita. Depois liga para outras amigas com o mesmo teor da conversa.

Dias depois após sair o resultado do concurso

JUNHÃO

Nove horas da manhã. Ele dorme a sono solto, ronca e se revira na cama por estar sentindo muito calor devido à grande ingestão de bebidas alcoólicas. A noite insone devido à gandaia deixou-o totalmente amolecido e nada perturba o seu descanso. A não ser quando a mãe ataca a porta do quarto com baques e gritos alucinados.

Inconformado com o incômodo, levanta-se atordoado reclamando:

– Rapaz…, que coroa chata! Eu não tenho paz nesta casa!

CEIÇA

Está enfurecida em tempo de endoidar. Tem os olhos vermelhos, esbugalhados e saindo fogo pelas ventas. Após o escândalo que fez aguarda o filho aparecer com a cara de songamonga.

JUNHÃO

Mas, ao contrário do que ela espera, chega na sala revoltado porque a mãe foi acordá-lo antes do meio-dia. Aproveita para dar um esculacho nela:

– “Qualé” coroa? Que “nóia” é essa?!… Isso é um abuso de autoridade, ouviu?! Você é uma sem noção! Vem me acordar de madrugada sem motivo, só pra bagunçar a minha vida! Vou me mudar daqui assim que for nomeado.

CEIÇA

Está envolta em chamas de tanta raiva. Não se contém e explode gritando os motivos da sua fúria:

– Miserável! Vigarista! Desumano! Você não é “qualidade de gente”! Vai se mudar daqui só se for “pru” inferno, sua “miséra”! E vai ser nomeado só se for pra ser o “criado-mor” do satanás!

Muito revoltada continua com o esporro:

– Hoje eu falei com as minhas amigas e todas disseram que o resultado do concurso já saiu e pesquisaram o seu nome! Você não foi aprovado em zorra nenhuma e “mim” fez passar por mentirosa.

Para demonstrar que está com ódio, exclama:

– E não “mim” diga nada porque hoje eu estou com a “pá virada”!

A seguir se joga no sofá fingindo estar passando mal. Abana-se nervosamente com um pedaço de papelão e logo finge desmaiar.

JUNHÃO

Indiferente à situação da mãe, mesmo estando acuado tenta se defender:

– Mas o concurso que eu fiz teve um problema e o resultado para o cargo que me candidatei foi adiado e não souberam informar quando irá ser publicado. Suas amigas são mentirosas! Não sei o que eu fiz a essas bestas-feras pra ficarem fuxicando com o meu nome.

CEIÇA

Imediatamente se recupera do piti que estava tendo e parte para o ataque. Com a veia carótida a ponto de explodir ela brada:

– Tome vergonha na cara, seu peste! Arnolfo, aquele garoto que é filho da minha amiga Iêda, ao contrário do que você disse, é muito inteligente. Ele fez o concurso para assistente administrativo e foi aprovado. Já foi nomeado e começa a trabalhar no próximo mês.

E continua expondo a sua raiva dizendo:

– O filho de Salete, o Adauto, que você esculhambou chamando o coitado de burro, também foi aprovado para trabalhar na área de informática do governo e já vai começar a trabalhar. Eles não precisaram pedir nada a ninguém. Enquanto isso você fica mentindo pra mim dizendo que pra ser faxineiro precisa de pistolão! Cabra safado!…

Logo depois começa a sentir falta de ar e se abana com uma toalha de rosto. A seguir fala espumando de raiva:

– Enquanto você, que se acha o maior sabichão do mundo, inclusive pra ficar “mim” chamando de burra, não consegue ser aprovado em nenhum concurso, nem pra ser servente da limpeza. Ah, “mim faça uma garapa”, ouviu?!…

JUNHÃO

Insensível à desilusão que a mãe teve, continua mentindo e repete a sua versão com a voz firme:

– Só se saiu o resultado para eles, porque o meu ainda não saiu. Esse povo mente muito, só pra se vangloriar. Mas você é uma tonta e acredita em tudo que lhe dizem.

Enraivado, afirma:

– Essas fofoqueiras querem saber mais do que eu, que fiz o concurso!

CEIÇA

Ao ouvi-lo na sua renitência em continuar mentindo, desmaia de vez e fica inerte.

JUNHÃO

Apático, deixa a mãe desfalecida no sofá e sai do apartamento resmungando:

– Essa coroa não acredita em nada do que falo. Ora, se ela não fosse tão sem noção iria saber que eu não tenho culpa da desorganização do concurso.

A seguir fala se justificando:

–A velha é amalucada e fica insistindo para que eu faça o que não quero. Ela é tão burra que até hoje não entendeu que detesto trabalhar. Mas, o “tempo é o senhor” e ainda vou dobrar a Ceiça.

Depois diz sorridente:

– O mais certo agora é eu ir buscar a minha Janete pra gente ir tomar “umas canas”, porque ela é a única pessoa que me entende nesse mundo. Estou fissurado pela mulatinha…

 

Autor: Joswilton Lima

 

Resumo da biografia do autor:

Joswilton Lima é natural de Ilhéus-Ba, mas é domiciliado há mais de vinte anos em Morro do Chapéu. Tem formação em Ciências Econômicas, mas sempre foi voltado para as artes desde a infância quando começou a pintar as primeiras telas e a fazer os seus primeiros escritos. Como artista plástico participou de salões onde foi premiado com medalhas de ouro e também de inúmeras exposições coletivas nos estados da Bahia, Sergipe e Pernambuco. Possui obras que fazem parte do acervo de colecionadores particulares e entidades tanto no Brasil, quanto em países do exterior, a exemplo dos E.U.A, Portugal, Espanha, França, Itália e Alemanha.

Em determinada época, lecionou pintura em seu atelier no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, e foi membro de comissões julgadoras em concursos de pintura. Nesse período exerceu a função de Diretor na Associação dos Artistas Populares do Centro Histórico do Pelourinho (primitivistas e naif’s), em Salvador.

Como escritor também foi premiado em diversos concursos de contos tendo lançado um e-book com o título “Enigmas da Escuridão”, com abordagem espiritualista, tendo obtido a nota máxima de 5 estrelas de leitores do site www.amazon.com.br Outros contos e romances também estão sendo escritos.

Concomitante às atividades artísticas, sempre exerceu funções laboriosas em diversos setores produtivos e, por último, se aposentou na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, onde trabalhou por muitos anos na Fiscalização.

Agora tem o prazer de apresentar aos leitores do site www.leoricardonoticias.com.br o seriado de crônicas intituladas Episódios do Junhão, com as quais espera que tenham uma leitura agradável e de reflexão.

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