Episódios do Junhão: ‘LAMBANÇA NO APÊ’ e novo livro do autor

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Mais um livro do escritor Joswilton Lima, autor dos Episódios do Junhão, será publicado em breve pela Editora Amazon. Com o título de “O Cigano Violeiro” é um conto fantasioso destinado ao público adulto e juvenil que narra as superstições existentes nas comunidades rurais do interior.

O livro relata a vida simples e feliz dos personagens, mas que é totalmente alterada devido a visita inesperada na região de um indivíduo pernicioso.

A ficção da estória irá deixar os leitores surpreendidos por causa do final fantástico.

As ilustrações também são autor. A capa é uma pintura digital com o mouse, experiência nova que mesmo com toda a dificuldade da adaptação, deu um bom resultado.

As ilustrações internas são fotos de pinturas a óleo, também do autor.

O livro “O Cigano Violeiro” já foi publicado pela Editora Amazon.

Está disponível na amazon.com (o livro impresso) e na amazon.com.br (a versão digital).

https://a.co/d/aVyvBid

O autor recebeu e-mail da Editora Amazon informando que seus livros (Episódios do Junhão, Enigmas da Escuridão e O Cigano Violeiro) foram qualificados para participarem no concurso do Prêmio Kindle de Literatura 2024.
Caso seja premiado, o livro terá uma versão impressa publicada pelo Grupo Editorial Record (o maior do Brasil), entre outros prêmios.

Com a retomada das atividades em nosso site, continuamos a usufruir da criatividade de amigos (as) que, por meio da sua atividade literária, presenteiam nosso leitores com textos de encher os olhos e fazer a alma viajar.

Assim, os Episódios do Junhão serão revisitados e começamos com a presentação do livro que esta disponível pela Amazon.com.br no endereço https://www.amazon.com.br/Epis%C3%B3dios-Junh%C3%A3o-Joswilton-Jorge-Nunes/dp/B08PQP2SF2 e você confere o novo episódio:

LAMBANÇA NO APÊ

 

CEIÇA

Quarenta e quatro anos de idade. Pela manhã vai ao salão de beleza para cuidar da aparência. Mas, como não sabe a hora que irá retornar, antes de sair deixa um prato feito com o almoço do filho no forno do fogão. Chega no salão cheia de pose e manda pintar as unhas dos pés e das mãos com esmalte vermelho. Também dá luzes nos cabelos e faz as sobrancelhas. Depois de se achar linda e maravilhosa vai visitar algumas lojas no shopping para comprar roupas novas, presentes, batons e uma caixa de maquiagem. Após algum tempo chega em casa cansada da andança que fez. Depois do almoço, toma banho e vai para o quarto se arrumar. Demora um tempão e, perto de escurecer, sai pronta irradiando um forte aroma floral de perfume adocicado.

Chega na sala esfuziante porque irá viajar para visitar os parentes no interior. Coloca no chão uma mala com as roupas, uma bolsa grande contendo documentos, carteira com dinheiro, óculos escuros e de grau, lenços de seda para a cabeça, bóbis, além de batons, caixa de maquiagem, chaves diversas, quinquilharias e muitos papéis velhos sem importância. Depois vai algumas vezes no quarto para buscar as muitas caixas contendo presentes que irá levar para todos da família. Ela quer aparentar para os familiares que está indo muito bem de vida na capital. Ao se despedir do Junhão diz tristonha:

– Olhe filhinho, estou indo viajar com o coração partido. Vou morrer de saudades de você quando estiver por lá. Eu reforcei as compras para deixar a despensa repleta para que não lhe falte nada. Fique comportado e se cuide, porque a mamãe não irá demorar.

A seguir conclui esperançosa:

– Só não lhe peço pra “mim” ajudar a carregar toda essa bagagem até a rodoviária, porque sei que você vai ficar estudando com dedicação. E também não quero que fique cansado para não atrapalhar os seus estudos.

JUNHÃO

Vinte e quatro anos de idade. Após os abraços chorosos por parte de Ceiça, ela parte com a enorme carga em direção ao ponto de ônibus urbano. Pouco tempo depois que a mãe sai, ele se senta no sofá e faz diversas ligações telefônicas para alguns amigos. Muito animado informa a eles para que venham ao seu apartamento para participarem de uma farra que irá durar três dias. Conversa com satisfação:

– E aí Beto, beleza?!… O seguinte é esse: vou fazer uma festa rave aqui em casa. O som vai ser no estilo “paredão” com muita zoada e alegria. Vou comemorar a minha liberdade por uns dias sem que a velha chata esteja aqui para perturbar o meu juízo.

Como é ganancioso, continua a falar de modo a convencer o interlocutor:

– Porém, eu vou cobrar uma grana dos homens para cobrir as despesas de comida e bebida. Não vou cobrar das garotas porque elas só vivem sem dinheiro. Mas, se as gatas não comparecerem, eu cancelo a farra, porque sem elas não tem graça.

O amigo diz alguma coisa e ele esclarece:

– Fique tranquilo, porque a criatura despótica não vai estar aqui. Por isso eu afirmo que não vai haver problema nenhum durante a nossa baderna. Isso eu garanto!

Em todos os telefonemas ele diz a mesma coisa, porém alguns amigos estão reticentes em aceitarem o convite temendo encontrar a megera da mãe dele. Apesar dos esforços para tranquilizar, os colegas contra argumentam pressentindo a possibilidade de que possa advir alguma situação constrangedora durante a festa. Mas Junhão rebate tudo e insiste:

– Não, rapaz!… É claro que a minha mãe não vai estar aqui! Ela viajou para visitar as irmãs e primas que moram no interior. Você sabe como é reunião de família…, ela vai demorar visitando toda a parentada. Enquanto isso a lambança vai correr solta aqui no “apê”!

Muito contente ele continua falando:

– Por isso vou aproveitar para encher o apartamento de gatas. Já convidei todas as nossas amigas. Vem “meio mundo” delas para cair na gandaia! Aqui vai ser uma loucura total!

Apesar dos seus esforços, os amigos com os quais conversa continuam renitentes para não participarem da festança. Porém, Junhão continua insistindo:

– Claro que a Ceiça vai demorar! Confie em mim… Ela está longe, quase no fim do mundo. Com certeza a coroa não vai estar aqui para armar barraco… Pode vir tranquilo!…

Para demonstrar que é um bom anfitrião e animar os amigos, diz:

– Já preparei tudo dentro dos conformes, até os tira-gostos. Tem diversos tipos de queijos, azeitonas, presunto, mortadela, salame, brusquetas, fatias de lombo e de cupim assado de boi que a coroa deixou pronto.

De repente ele fala animado:

– Tem também uma panela enorme repleta de feijoada com tudo dentro que é uma delícia. Ela é feita com feijão mulatinho e todos os ingredientes normais. Porém antes de ferver adiciona bucho, tripa e mocotó que foram pré-cozidos no tempero de lombo. Após serem misturados, são cozinhados juntos.

Continuando a receita que viu a mãe preparar, acrescenta:

– E para completar esse manjar dos Deuses, acompanha um molho lambão feito só com a essência de pimenta malagueta e de cheiro, extraída através de álcool de cereais, que é comestível.

Contente com a fartura, reconhece o benefício feito pela mãe e diz:

– Vai dar para a gente se fartar durante os três dias da farra e ninguém vai passar fome aqui. A coroa é ruim por um lado, mas é gente boa por outro; deixou tudo pronto.

Ainda muito alegre, informa:

– As gatas toparam na hora quando fiz o convite. Só não estão aqui agora, porque estão se arrumando. À noite elas vão chegar lindas!

O colega continua contestando, porém, a ânsia em realizar a festa não arrefece o ânimo do dono da casa. Convicto, ele fala das estratégias delituosas que irá efetuar para que o uso de bebidas alcoólicas seja desregrado:

– Eu pensei em tudo; o goró está garantido pra todo mundo. O Paizão tem um estoque grande de uísque e vodca. Ele só bebe quando recebe a visita de algum amigo de uma confraria de pedreiros da qual ele faz parte.

O amigo questiona e ele justifica:

– Não “bróder”, nada disso!… O coroa não vai perceber nada. Depois da farra eu reponho com água as garrafas e deixo tudo no mesmo nível em que estavam antes.

O amigo intervém mais uma vez fazendo uma pergunta e ele responde raivoso:

– “Pô” cara! Deixa esse problema comigo que resolvo. O Alcebíades é um velho abestalhado que não nota nada. Se ele for tomar uns uísques com um colega da irmandade e desconfiar do gosto ou da cor da bebida, na mesma hora eu digo que a validade do produto está vencida.

E fala sorrindo:

– Para me salvar do problema, Ceiça “entra em campo” e apoia tudo o que digo. Inclusive, ela vai correr na hora para o mercado e comprar outra garrafa; assim ninguém descobre nada e eu me safo.

O amigo continua indagando e ele diz enraivado:

– Você é um cara medroso! Ora…, venha se quiser!… Só sei que vai perder a maior festa da sua vida. Vou encher aqui de mulher e vai ter muita zoeira. As gatinhas estão todas assanhadas e doidas para participarem da esbórnia.

O rapaz ainda tem medo, mas Junhão o convence:

– Não se preocupe com isso! Quando a velha voltar da viagem o apartamento vai estar todo bem arrumado. Ela é uma abobalhada e não vai perceber o que houve aqui. Traga o dinheiro em espécie, porque aqui só entra pagando adiantado o consumo.

Um outro amigo questiona e ele afirma:

– A barulheira que iremos fazer não é problema nosso. Já vi tudo em minha mente. Quando a coroa chegar, a vizinhança vai dar queixa a ela sobre a balbúrdia no apartamento. Furiosa, ela vai reclamar comigo, me esculachar, mas depois fica calma. Você acha que Ceiça vai deixar de dar razão ao filhinho dela ou vai ficar do lado dos vizinhos fofoqueiros?!…

A seguir se vangloria:

– Eu conheço a mãe que tenho. Está vendo aí que sou o gênio da curtição?!

OS CONVIDADOS

À noite os amigos chegam acanhados para a lambança. Enfileirados, eles pagam o ingresso e entram desconfiados no apartamento olhando para todos os lados temerosos de que a ardilosa Ceiça esteja escondida em algum canto preparando um flagrante. No entanto, Junhão está satisfeito com o lucro auferido para realizar a festança.

Quando os parceiros estão certos de que Ceiça não está em casa, ficam entusiasmados e enlouquecidos de alegria. Bruno, pega a guitarra para simular que está tocando rock pesado; Guto, liga o som bem alto com músicas de axé; Naldo, coloca as garrafas de uísque e copos sobre a mesa e Dênis vai buscar o gelo e os tira-gostos. Caio e os outros amigos bebem e se divertem aguardando ansiosos as garotas chegarem.

A algazarra é generalizada e ninguém consegue ouvir nada devido ao som estar muito alto. As doses generosas de uísque rolam soltas. Eles badernam, gritam com estridência e pulam feitos doidos. Junhão está alegre porque os dez amigos convidados compareceram e ele ganhou um bom dinheiro.

Enquanto a folia corre solta no apartamento, um ônibus procedente do Nordeste de Amaralina para na esquina e mais de quinze garotas “periguetes” desembarcam alegres. Saltitantes e fazendo a maior algazarra, caminham ligeiro na rua em direção ao prédio onde Junhão mora. Gritam de forma cadenciada:

– “Ah rá”!… “Ah rú”!… o Junhão é meu guru!… “Ah rá”!… “Ah rú”!… o Junhão é meu guru!…

Os berros das mocinhas desvairadas chamam a atenção dos transeuntes que se perguntam intrigados: quem será esse guru Junhão? Indiferentes ao espetáculo que estão promovendo, elas continuam fogosas e urrando até chegarem no apartamento dele. Junhão ao recebe-las sorri contente demonstrando satisfação, principalmente ao ver as garotas usando roupas minúsculas. Não muito tempo depois, estavam todas na maior bagunça, bebendo, comendo e correndo picula dentro do apartamento.

CEIÇA

Houve um imprevisto e ela chega da viagem antes da data prevista. Aliás, ela sequer chegou a embarcar para viajar, porque devido à lentidão no trânsito, quando conseguiu chegar à rodoviária o ônibus intermunicipal do horário programado já havia partido. Ficou aguardando em vão por horas para ver se haveria um ônibus extra. Já passa das duas horas da madrugada quando ela resolve voltar para casa.

Estando cansada e desiludida por não ter conseguido viajar, resolve pegar um coletivo urbano. O retorno é embaraçoso por causa da enorme bagagem que estava levando para a família. Fadigada por causa da espera, ela fica praguejando durante o trajeto devido à lentidão dos veículos causada pelos inúmeros engarrafamentos. E lamenta irritada:

– Que cidade infernal, meu Deus! A gente não pode assumir um compromisso com horário marcado, porque não consegue cumprir devido a esse maldito trânsito congestionado. Por isso a marinete anda parecendo uma tartaruga.

Nervosa e agoniada, grita raivosa para o motorista:

– Tira o pé do bolso, “motô”!

Enquanto isso no apartamento…

Por causa da demora de Ceiça em voltar para casa, os convivas têm a impressão de que realmente ela esteja viajando rumo ao interior. Com isso se sentem liberados e aumentam a zoada ao máximo, acreditando estarem impunes. Todos estão alegres e fazendo o que querem, transformando o apartamento num verdadeiro pandemônio.

Após muitas horas perdidas no transporte coletivo, finalmente Ceiça chega no portão do edifício onde mora. Faz caretas estranhando a zoadeira do som, risadas e gritaria que ecoam por toda a extensão da rua. Escandalizada com o barulho, exclama:

– Misericórdia!!!… Será que morri e cheguei no inferno?! Eu nunca vi uma zorra dessa aqui na rua onde moro.

Preocupada, reclama tristonha:

– Coitado do Juninho… O menino não deve ter conseguido dormir. Ele deve estar morto de sono. E também não deve ter estudado nem um tiquinho, por causa dessa zoada infernal.

Buscando sossego se apressa em chegar logo no apartamento. Puro engano, porque ao sair do elevador fica horrorizada quando vê a muvuca reinando dentro da sua casa que está com a porta aberta. Na mesma hora para com os olhos esbugalhados e o corpo tremendo de raiva. Muito enfurecida ela dá um brado ensurdecedor que ecoa por todo o quarteirão. E, no mesmo tom, dá um esporro no filho:

– Mas que “disgraceira” é essa, seu debilóide?!!!… Que fuzuê é esse na minha casa?!… Eu não posso dar um “pulinho” ali que você aproveita pra “mim” desmoralizar, seu ordinário!… O que essa ruma de homem vadio faz aqui?!

E gritando estabanada, totalmente enlouquecida, busca auxílio divino:

– “Mim” acode Jesus!… E bote juízo na cabeça desse menino!

JUNHÃO e CONVIDADOS

Ao ouvirem aqueles berros estridentes, todos os amigos imediatamente ficam paralisados. Estão aterrorizados com o aparecimento súbito de Ceiça que está enfurecida e envolta em labaredas. Eles temiam esse desfecho, por isso resistiram para não participarem da farra.

CEIÇA

Está com os olhos esbugalhados e cuspindo fogo para todos os lados. Continua com os esculachos aos gritos que ultrapassam o barulho do aparelho de som:

– A minha sorte foi não ter conseguido viajar devido à proteção divina! Jesus permitiu que eu visse com os meus próprios olhos essa esculhambação! Imagine se eu viajo…, por certo o satanás estaria imperando em meu lar.

Sente falta de ar por causa da afobação e para por alguns segundos. Após tomar um fôlego, continua a reclamação:

– Quando eu voltasse da viagem pretendida essa degradação moral já teria destruído a minha reputação perante os vizinhos! Você é indigno da minha confiança, seu peste! E mande embora daqui essa corja de maloqueiros, ouviu bem, Júnior?!!!…

JUNHÃO

Fica manhoso de repente e, com a voz mansa, tenta amenizar a situação:

– Calma!… Eles não são vagabundos… São colegas, meus amigos… Estava tudo na maior paz até você chegar para armar esse barraco… Só estava rolando um “uisquezinho” que meu pai não bebe… E também um pouco de alegria por causa da nossa confraternização. Apenas isso, nada demais.

CEIÇA

Reage com indignação:

– Não são, um cacete!… É tudo da sua laia ruim!… Tudo malandro!… São um bando de oportunistas que se aproveitaram da sua inocência, só porque eu viajei!

Depois completa:

– Tenho certeza que essas “miséras” forçaram você a se desviar dos estudos!

JUNHÃO

Observa o escândalo de Ceiça balançando a cabeça negativamente inconformado com a acusação. Os amigos estão pasmados com a agressividade dessa mulher miúda e franzina. Assustados, temem pelo pior e se aglomeram em torno de Junhão buscando proteção. Mas, apesar do bafafá de Ceiça, as mocinhas tresloucadas chegam na sala seminuas, alegres e fazendo o maior barulho. Afinal foram convidadas para uma festa onde teria a liberação total. Tomam um susto enorme quando se deparam com a mãe de Junhão espumando de raiva.

CEIÇA

Nesse momento, quando ela vê as moças alvoroçadas, grita apavorada:

– Mas que zona é essa?!!!… Quem são essas nigrinhas endemoniadas?! Será que hoje abriram a porta do inferno e soltaram as diabinhas?! Eu quero saber o que essas biscates juvenis vieram fazer aqui em minha casa! “Mim” acode Jesus, porque estou tendo uma visão do inferno em vida!

Mas uma das mocinhas é debochada e retruca com arrogância afirmando que elas são convidadas de Junhão, o dono da casa. A soberbia da afronta irrita Ceiça ainda mais. A seguir ela se exalta gritando:

– Fora daqui suas “porrinhas” à toa! Vão fazer farra lá na FEBEM que é o lugar de vocês! Saiam todas daqui, porque a minha casa não é bordel!!! Vocês não têm família?!!!…

Incisiva e muito nervosa, ordena para todos os convidados de Junhão:

– “Se piquem” daqui cambada de desordeiros!… E voltem pro esgoto de onde vieram!

De repente ela identifica um dos convivas no meio do grupo de mãos dadas com uma das mocinhas e exclama:

– Caio!!!… O que é isso, menino?! Deixa de papo com a garota, porque eu estou falando!

Irritada com o fato de ver um menor de idade no meio da bagunça, ameaça-o:

– Vou contar à sua mãe Camila e também à sua tia Beatriz, minhas amigas, que você anda farreando no meio de uma galera de maloqueiros barra-pesada. Quando eu fuxicar, você vai tomar uma surra daquelas!

Aparentando não se incomodar com a ameaça, Caio fica parado olhando-a. Ao vê-lo ainda no local, fica irritada e explode de raiva:

– Eu já lhe mandei ir pra casa! Ainda não foi porquê?! Avia, menino!

Calmo, ele responde:

– Estou aguardando que me devolva o dinheiro que paguei para participar da farra.

Ceiça fica enfurecida na hora e fala cuspindo fogo:

– E você pagou alguma coisa a mim, hem?!!!… Chispa daqui logo, antes que eu esqueça de quem você é filho e lhe quebre no pau!

Percebendo que até os adultos estão com medo daquela mulher, Caio fica intimidado e sai de mansinho levando a paquera embora. Contudo, Ceiça não esmorece e, entusiasmada, vangloria-se de saber como se cria um filho:

– Misericórdia! Fico abismada de imaginar como é que pode aquelas duas, Camila e Beatriz, não conseguirem controlar um adolescente. Enquanto que eu, sozinha, coloco o Juninho debaixo de ordens, na rédea curta, porque o meu sistema é bruto e tenho o controle total dele. Consegui esse feito graças à minha determinação de educá-lo dentro dos bons costumes. – É impossível entender como gira o juízo de Ceiça que, mesmo vendo o fuzuê dentro de casa promovido pelo filho, ainda procura se engrandecer.

As mocinhas desaforadas começam a contestar, após verem Caio questionar. Estão revoltadas com a interrupção da farra e fazem finca-pé para não irem embora. Exigem a continuação da festa prometida por Junhão. Ou, então, o ressarcimento do dinheiro que haviam gasto por terem comprado roupas e acessórios na Baixa dos Sapateiros e nos camelôs da Avenida Sete. Também querem receber a grana que pagaram para fazer “chapinhas” nos cabelos.

Ao perceber o princípio de motim Ceiça fica enfurecida, pega um cabo de vassoura e olha com raiva para os convidados de Junhão. Enfezada, faz bico com os beiços, enruga a testa e franze as sobrancelhas, enquanto bate a madeira levemente na palma da mão observando todos os convidados da farra. A intenção dela é expulsá-los do apartamento à força. Depois grita feito uma louca:

– Fora daqui seus “cãos” dos infernos! E vocês, suas infames de menor, vão tirar as suas “caçolas” longe da minha casa, porque aqui não é motel, suas pervertidas mirins! Vão cuidar dos filhos que deixaram em casa!

Depois diz enraivada:

– Tenho certeza que vocês saem para farrear e abandonam em casa um bando “pivetinhos” barrigudos, perebentos, malnutridos e com os narizes escorrendo catarro. Seus filhos não ficam sozinhos entregues à própria sorte, porque as bestas velhas, que são mães de vocês, tomam conta deles nos barracos onde moram.

Ainda não satisfeita com a repreensão, completa a fala:

– Agora as desocupadas dissimuladas, vêm com a cara-lisa para anarquizar em minha casa fingindo serem mocinhas que nunca pariram. Eu conheço muito bem o tipinho de vocês!

A seguir, Ceiça, totalmente adoidada, começa a distribuir cacetadas a torto e a direito em quem encontra pela frente com o cabo de vassoura. Para conseguir o seu intento ela corre atrás dos convidados para espancar com violência. As mocinhas ao receberem as primeiras pancadas, fogem desarvoradas. Furiosa, enquanto tenta moralizar a sua casa, ela grita desvairada:

– Fora daqui bando de safados!!!… Digam à mãe de vocês que estão lapeados de cabo de vassoura porque eu bati! E mandem elas virem aqui reclamar da surra que levaram, porque vou quebrar todas elas na porrada pra que ensinem a vocês terem compostura numa casa de família!

E depois de botar todos para fora conclui dizendo:

– Eu educo bem o meu filhinho, mas essas más companhias ficam botando o coitado a perder. Só Jesus na causa…

Após o término do caos e a ordem ser restabelecida com a debandada dos convidados tentando se vestirem durante a fuga, Ceiça sente-se vitoriosa. Afinal havia conseguido expurgar o mal da sua casa.

Em dado momento ela percebe que havia pessoas espionando a baixaria dela no corredor do prédio, através dos olhos mágicos nas portas dos apartamentos. Então, fica revoltada com a curiosidade e, antes de entrar em seu apartamento, dá língua para os vizinhos, fecha a mão e mostra o dedo médio empinado como vingança por estarem espiando o vexame dela. A seguir empina o nariz, dá as costas rápido e entra no apartamento com altivez.

JUNHÃO

Apesar de estar com a cabeça um pouco abaixada, observa a mãe espumando de raiva. Os olhos dele estão arregalados demonstrando que está aterrorizado e com medo das consequências.

CEIÇA

Esquecida de que havia insultado os vizinhos com gestos obscenos, está lamuriante e comenta:

– Oh, meu Deus! Quanto transtorno por sua causa! Depois dessa bagunça que você fez aqui em casa, com que cara eu vou encarar os meus vizinhos?!…

Depois completa angustiada:

– Eles vão fazer uma reunião de condomínio pra me expulsarem daqui. Vão alegar que permito que o meu apartamento seja transformado num antro de perversão e bebedeiras. Se isso ocorrer, o meu marido irá pensar que eu não soube dar uma boa criação ao filho. O que será de mim se Alcebíades me largar?!…

JUNHÃO

Está aterrorizado com o castigo severo que por certo virá e continua emudecido.

CEIÇA

Depois de toda a ocorrência ela resolve pronunciar a sentença para punir o filho. Mas, apesar dos pesares, na hora ela fica esmorecida e apenas diz:

– Não sei mais o que fazer pra botar juízo nessa sua cabeça de jumento! Mas a culpa de você ser assim é dessa tal de galera do mal que fica botando você no erro. Eu tenho fé em Deus que Ele vai lhe dar um livramento. Com certeza Jesus vai te botar no bom caminho.

E para demonstrar a rigidez da sua punição, repete bem alto:

– “Tá mim” ouvindo, Júnior?… Dessa vez você está perdoado porque foi um inocente útil dos maus-caracteres nessa libertinagem.

JUNHÃO

Fica calado e vai para o quarto sorrindo de cabeça baixa. Está muito contente porque irá desfrutar da impunidade mais uma vez. Deita-se na cama e exclama satisfeito:

– Essa é a minha mainha!… Para me defender ela vira bicho. Até os vizinhos curiosos tiveram o que mereceram.

A seguir faz um comentário com um sorriso sarcástico:

– A Ceiça é braba; bateu em todo mundo, menos em mim, por isso eu gosto dela. A galera vai querer o dinheiro de volta, mas vão se arrombar porque eu não tenho culpa do imprevisto que houve.

Contente com o desfecho por causa do ganho financeiro, diz:

– Eles não vão rapar um centavo do Junhão. Se vierem me cobrar eu mando pegarem o dinheiro na mão de Ceiça. Com medo das vassouradas, duvido muito que venham.

Depois continua se justificando:

– Também pudera!… Eles não têm direito a nada porque deram um baque grande no uísque; bebiam parecendo água. As “piriguetes” então, nem se fala… Pareciam um bando de camelos abastecendo as corcovas antes de atravessarem um deserto.

E lamenta:

– As esfomeadas beberam muito e comeram tudo que viram pela frente com avidez. Pareciam que não nunca tinham visto comida na vida. Acho que até os guardanapos elas comeram.

Depois faz uma crítica ácida sobre as convidadas:

– As miseráveis pareciam uma praga de gafanhotos avançando sobre a comida da casa. Além do mais, na fuga, correram levando para casa sacolas entupidas de comida. Rapaz…, que raça esfomeada e ladrona são essas “periguetes”. Vieram só para explorar…

E comenta temeroso:

– A “coroa” vai explodir de raiva quando verificar que as sujeitas comeram tudo que tinha na geladeira e limparam a despensa. Como a velha Ceiça é amalucada, vai terminar sobrando para mim, como se eu tivesse culpa da fome sem limites daquelas criaturas…

De repente fica com raiva e fala:

– As miseráveis pulverizaram toda a comida que era para passar o mês inteiro em poucas horas.

A seguir fala sorrindo:

– A velha vai pirar, porque fez compras no supermercado para abastecer a casa antes de viajar. E amanhã vai ter que ir comprar tudo de novo. Mas, como ela já disse que a culpa é da galera, por isso eu “tou de boa”.

Depois fica enfezado e conclui:

– A coroa não vale o que o gato enterra. Quando eu consigo um jeito de ganhar um dinheiro fácil ela entra pelo meio e esbagaça com tudo o que eu faço. Depois fica com a boca-mole mandando eu arranjar um trampo…

Conclui enraivado e jurando se vingar da mãe:

– Ah, mulherzinha despótica, insuportável! Mas o dela está guardado.

 

Autor: Joswilton Lima

 

Resumo da biografia do autor:

Joswilton Lima é natural de Ilhéus-Ba, mas é domiciliado há mais de vinte anos em Morro do Chapéu. Tem formação em Ciências Econômicas, mas sempre foi voltado para as artes desde a infância quando começou a pintar as primeiras telas e a fazer os seus primeiros escritos. Como artista plástico participou de salões onde foi premiado com medalhas de ouro e também de inúmeras exposições coletivas nos estados da Bahia, Sergipe e Pernambuco. Possui obras que fazem parte do acervo de colecionadores particulares e entidades tanto no Brasil, quanto em países do exterior, a exemplo dos E.U.A, Portugal, Espanha, França, Itália e Alemanha.

Em determinada época, lecionou pintura em seu atelier no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, e foi membro de comissões julgadoras em concursos de pintura. Nesse período exerceu a função de Diretor na Associação dos Artistas Populares do Centro Histórico do Pelourinho (primitivistas e naif’s), em Salvador.

Como escritor também foi premiado em diversos concursos de contos tendo lançado um e-book com o título “Enigmas da Escuridão”, com abordagem espiritualista, tendo obtido a nota máxima de 5 estrelas de leitores do site www.amazon.com.br Outros contos e romances também estão sendo escritos.

Concomitante às atividades artísticas, sempre exerceu funções laboriosas em diversos setores produtivos e, por último, se aposentou na Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia, onde trabalhou por muitos anos na Fiscalização.

Agora tem o prazer de apresentar aos leitores do site www.leoricardonoticias.com.br o seriado de crônicas intituladas Episódios do Junhão, com as quais espera que tenham uma leitura agradável e de reflexão.

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